sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Homenagem contra o agraciado

A ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro, desabou novamente. A ciclovia é a mesma que teve um desabamento em janeiro de 2016 que matou duas pessoas, em outro trecho, junto ao mar. O desabamento ocorreu poucos dias depois da obra ter sido inaugurada pelo então prefeito Eduardo Paes e agora teve este outro, felizmente sem vítimas.

É lamentável pela memória do cantor Tim Maia, que merecia ser lembrado por coisas melhores. Mas homenagem no Brasil pode ter este fim. Esta é a terra em que até a Ordem de Rio Branco foi desmoralizada. Na maioria das vezes uma homenagem é um mico que pode fazer da pessoa homenageada uma vítima eterna. Ser nome de ciclovia, rua, praça ou qualquer outro lugar público é uma aventura muito arriscada.

Com o descaso e a incompetência na administração pública que assola este país a tendência de uma homenagem é se encaminhar para um desastre parecido com esta ideia de dar o nome de Tim Maia à ciclovia. A pessoa pode acabar sendo lembrada pelos buracos da rua, o abandono da praça, as enchentes, os assaltos e demais encrencas das cidades brasileiras, talvez até por alguma tragédia, como aconteceu com o cantor, que aliás jamais teve algo a ver com bicicletas.

Receber homenagem em vida, então, pode ser ainda mais arriscado. Um título de cidadão honorário, doutor honoris causa, uma comenda ou qualquer outra veleidade mundana, pode com o tempo acabar com o autor da homenagem sendo acusado ou até condenado por corrupção ou qualquer outro problema ético. A homenagem então acaba virando algo grotesco, marcada por esta referência a uma grande sem-vergonhice.
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POR José Pires

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