segunda-feira, 7 de maio de 2018

Os tarefeiros da resistência de Lula

Com a prisão do ex-presidente Lula completando um mês, o acampamento de apoio em Curitiba está bem fraco, como era previsível. Conforme informação do site do Estadão, todos os dias a Polícia Federal avalia com um drone o movimento do local. O acampamento já teve cerca de 500 manifestantes e atualmente não passa de 70 pessoas. O nome do pequeno amontoado de barracas mostra bem o nível conceitual da coisa: Acampamento Marisa Letícia. Dessa forma, a falecida mulher de Lula vem somar-se à extravagante idolatria ideológica da esquerda que junta no mesmo saco Karl Marx, Zumbi dos Palmares, Marighella, Che Guevara, Nelson Mandela, Hugo Chávez, Fidel Castro e, claro, o sex symbol Lula.

É óbvio que o acampamento de Lula só não acabou porque vem sendo mantido pela militância profissional, com visitas ocasionais de esquerdistas curiosos nos finais de semana, principalmente sindicalistas. Não era difícil prever o fiasco, que vai piorar conforme for aumentando o tempo de prisão do chefão do PT. Este acampamento é obra típica dos chamados tarefeiros, tipo de militante que é um perigo em qualquer movimento político. Figura habitual na história da esquerda, o tarefeiro é de grande utilidade nas atividades práticas, mas pode ser um perigo quando passa a ser determinante na condução do movimento e na criação de atos com o propósito de propaganda ou expressão política.

Já faz algum tempo que nota-se um peso marcante do estilo tarefeiro em muitas ações importantes que envolvem as encrencas de Lula e o próprio destino do PT. Como não podia deixar de acontecer, o resultado vem sendo desastroso. Mesmo o impeachment de Dilma teve em grande parte a influência negativa do espírito tarefeiro dos defensores do mandato da petista, tendo à frente no Senado figuras impagáveis como Gleisi Hoffmann e Lindbergh Farias, além da única senadora do PCdoB, Vanessa Grazziotin, que encenaram uma sucessão de patacoadas em plenário. Acabaram acelerando o processo em vez de evitá-lo.

A proposta do acampamento de Curitiba não resistiria a um debate preliminar, numa breve reunião de políticos e assessores com experiência política calcada no bom senso. Pois é exatamente o que falta a Lula, que foi perdendo quadros capacitados no seu círculo de apoio, devido ao hábito de ir largando e desprezando aliados e mesmo companheiros antigos, conforme sua conveniência pessoal. É claro que ele pensa que isso é da maior esperteza. Lula se acha auto-suficiente, mas não teve a capacidade de perceber como essa falha de caráter foi desmontando gradativamente a linha de apoio que o levou ao poder e foi sua sustentação durante anos. O acampamento de Curitiba é um belo exemplo desse desajuste fatal, como consequência da falta de gente capacitada para ajudar o chefão no planejamento político.

O projeto de invadir um espaço público e manter um número grande de manifestantes não tinha como dar certo. De qualquer modo, seria de difícil sustentação e não teria como não se tornar algo muito incômodo. É o que está ocorrendo, agravando ainda mais a situação do partido em ano eleitoral. Isso é para ter uma ideia de como tarefeiro é um perigo. Falta-lhes a consciência da própria ruína, por isso vão de cabeça nos projetos mais inviáveis. Além de trazer de volta uma imagem dos piores tempos do PT, o acampamento criou uma confusão cotidiana com a população. Piorou a situação do PT paranaense, que já tinha uma péssima imagem entre os paranaenses. Será enorme o peso negativo na performance eleitoral, com efeito desastroso especialmente na disputa para a Assembleia e o Congresso Nacional.

Gleisi Hoffmann já nem pensava mais em tentar a reeleição para o Senado. Agora terá dificuldade até para se eleger deputada federal. Durante o furdunço vermelho armado em Curitiba eles ofenderam pacatos cidadãos que desejavam apenas se ver livres da perturbação diária, que inclui dezenas de militantes idiotas dando bom dia e boa noite por alto-falantes para o condenado por corrupção e lavagem de dinheiro. Os vídeos da bagunça correm na internet, inclusive postados por eles com um orgulho muito besta. Na boca da militância petista, o povo da capital do Paraná foi acusado até de ser fascista. É um estranho diálogo com as pessoas que vivem no lugar onde está o maior eleitorado do estado. Não é o que se pode chamar de uma boa estratégia política, ainda mais na véspera de uma eleição. Mas é desse modo que movimentos políticos costumam acabar quando tarefeiros assumem o comando.
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POR José Pires

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