quinta-feira, 18 de julho de 2019

O México livre enfim de El Chapo

O narcotraficante mexicano Joaquin Guzmán, conhecido como “El Chapo”, foi condenado à prisão perpétua nos Estados Unidos. E por lá, como todo mundo sabe, cumpre-se de fato a pena. Ser extraditado para o México é o grande medo de todo chefão mexicano e mesmo El Chapo fez de tudo para não enfrentar essa parada. Ele foi muito poderoso no México, onde chegou a fugir pelo menos três vezes de prisões de alta segurança, sendo que na última fuga, em julho de 2015, usou um túnel de cerca um quilômetro e meio de extensão construído pela sua quadrilha até sua cela.

O criminoso ficou menos de seis meses em liberdade e sua recaptura acabou tendo o envolvimento involuntário do ator americano Sean Penn, que permitiu que forças de segurança do México obtivessem pistas do foragido. O ator, que é admirador de Hugo Chávez, foi ao México fazer uma entrevista com El Chapo para a revista Rolling Stone. A entrevista é sórdida, com Sean Penn dando uma imagem benéfica ao criminoso. Teve a utilidade, porém, de servir para a polícia vigiar o ator e seus contatos mexicanos e chegar até El Chapo.

Não sei se Sean Penn poderá conseguir permissão para visitar o criminoso condenado, talvez para uma segunda entrevista com o assassino que ele parece ter como um Robin Hood latino-americano, mas isso parece improvável. Nem a mãe de El Chapo conseguiu visto do governo americano para ver o filho fora-da-lei, que não sairá mais da cadeia.

Sua sentença será cumprida em uma penitenciária de segurança máxima em Florence, no Colorado, conhecida como ADX Florence, de onde ninguém conseguiu fugir desde sua inauguração, em 1994. Por lá, a rotina é tediosa: 23 horas por dia fechado na cela, em regime de solitária. Como exemplo de punição, pode ser visto como um forte desconvite ao crime.

Com certeza, agora El Chapo não dará mais trabalho. Ficará preso até o final da vida, sem nenhuma chance de manter o comando de seus negócios criminosos a partir do presídio, como acontece em vários países, inclusive no México, onde o presidente Andrés Manuel López Obrador teve uma reação surpreendente ao saber da sentença de prisão perpétua.

El Chapo era um bandido temível, com um grau espantoso de violência mesmo para um país como o México, que vive em estado de terror com a extrema crueldade de criminosos, onde são muitas as histórias terríveis de torturas, chacinas, com a bandidagem agindo de forma extremamente sanguinária.

Mesmo diante do histórico assustador do criminoso, em entrevista coletiva nesta quinta-feira, López Obrador disse o seguinte sobre a sentença dada a El Chapo: "Lamento muito que haja casos desse tipo. Não quero que ninguém fique preso, que ninguém sofra. Sou um idealista".

"Quando todas essas coisas que acontecem terminam em condenações como essa, uma condenação para ficar na prisão o resto da vida, em uma prisão hostil, dura, desumana, sim, isso me comove", disse o político eleito em julho do ano passado com uma plataforma política de esquerda. É interessante como a esquerda é muito parecida em todo o mundo.

Imaginem as facilidades que um bandidão como El Chapo não teria em um país como o Brasil. Talvez até tivesse da nossa esquerda uma manifestação sentimental como a do mexicano López Obrador, até porque El Chapo era um chefão do tipo populista, bem do gosto de esquerdista brasileiro. Era capaz até de aparecer jornalista vazando mensagens surrupiadas por algum hacker, com diálogos de malvados promotores articulando-se para encontrar um jeito de meter el pobrecito na cadeia.
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POR José Pires

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