domingo, 9 de fevereiro de 2020

A lição de cinema do documentário "Indústria americana".

Os documentários “Indústria americana” e “Democracia em vertigem” são duas obras que se enfrentam nesta noite de domingo na festa do Oscar, por isso cabe uma comparação entre os estilos muito diferentes de Steven Bognar e Julia Reichert, diretores do primeiro, e de Petra Costa, autora do documentário brasileiro, que os petistas já acolheram como queridinha do PT, na sua afoiteza prejudicando a imagem de independência que se pretendia para o filme. Petra é uma das figuras mimadas pela militância petista. Críticas ao filme são repudiadas com agressividade, como se o partido do Lula tivesse poder de veto sobre quem coloca em dúvida esta joça.

Na minha visão, “Democracia em vertigem” está encaixado em categoria errada no Oscar. É uma obra de ficção, pautada, dirigida e montada de forma tão manipuladora que dá até vergonha alheia. Os petistas nem escondem a torcida pelo seu sucesso, pois na visão deles seria um reforço e tanto para a narrativa falsa sobre a situação do Brasil que buscam emplacar internacionalmente. Já “Indústria americana” é um filme que não depende da sua sorte na premiação desta noite. Já tomou seu lugar na história do cinema e tem uma larga carreira pela frente. Steven Bognar e Julia Reichert criaram uma obra-prima, tecnicamente perfeita, tratando de um tema de extrema importância não só para os Estados Unidos, mas para o mundo todo.

O documentário americano parte da instalação de uma fábrica pela China em uma cidade no interior americano para debater de forma inteligente os graves problemas do capitalismo no Ocidente e a entrada da poderosa economia chinesa nos Estados Unidos, tentando impor um modelo de produção tremendamente explorador da mão de obra, com pesado arrocho nos salários e a quebra de direitos básicos dos trabalhadores, além do desrespeito ao meio ambiente e a eliminação de regras de segurança coletivas e individuais. É o comunismo, quem diria, buscando submeter trabalhadores a um domínio dos sonhos do conservadorismo americano.

O documentário trata do choque cultural entre trabalhadores chineses e americanos e da dificuldade da implantação da mentalidade chinesa, com seu modo comunista de produção que tromba até com regras muito simples do capitalismo, como o uso de de aparelhagem de proteção. Porém, ao contrário do que fez a brasileira Petra Costa ao tratar do choque político entre a oposição e o PT, os cineastas americanos não foram invasivos politicamente nem procuraram amoldar a realidade em nenhum sentido ideológico ou partidário. Os diretores americanos desenvolvem o assunto abrindo amplos espaços para a compreensão própria de cada espectador, respeitando a inteligência das pessoas, sem manipular o que filmaram e muito menos atuando com pauta política pré-determinada.

“Indústria americana” é o contrário de “Democracia em vertigem”, do ponto de vista técnico e da arte do documentário. E deixo claro que faço a comparação apenas porque os dois filmes estão neste domingo no Oscar. O filme de Petra Costa é de um nível de qualidade inferior demais ao documentário americano e não digo isso apenas pela mentirada que ele contém. É uma obra tecnicamente tão fraca que não consegue alcançar nem seu objetivo como propaganda política de um partido tomado por ladrões e liderado por um corrupto que já pegou até cadeia por seus crimes contra o país.

O filme dos americanos Steven Bognar e Julia Reichert merece ser visto e discutido com atenção, até pelo fato de que o Brasil também vem sofrendo a invasão do tirânico poder econômico da China, mas também porque o documentário estimula o debate de muita coisa importante no campo do trabalho, da política e da globalização que tomou conta de tudo. É um exemplo de inteligência artística e respeito pela capacidade de cada um pensar e tomar decisões por sua própria cabeça. O filme de Petra Costa também merece atenção, mas neste caso é porque representa absolutamente o contrário disso.
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POR José Pires

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