quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Fernando Haddad e o modo petista de fazer as coisas

O ex-prefeito Fernando Haddad, que perdeu feio no segundo turno a eleição presidencial para Jair Bolsonaro, anda atarefado nos últimos tempos procurando ocupar espaço na mídia, tentando ao mesmo tempo manter uma posição destacada dentro do PT, pois o partido está num arranca-rabo entre suas lideranças, em conflito atiçado por Lula para manter-se sempre por cima entre seus companheiros.

Algum especialista deve ter alertado Haddad que sua imagem sofre de um problema muito sério, afetada pela confusão que costuma ocorrer no limite entre o pragmatismo e o sujeito parecer um banana. Para um petista isso pega muito mal, o que faz às vezes um ou outro capacho de Lula erguer o tom para provar aos companheiros que baixa a cabeça quando o chefão ordena, mas em seu peito não bate um coração tucano.

É o que vem ocorrendo com Haddad, que alterou bastante seu discurso, saindo do perfil do professor correto, compreensivo com o que os outros pensam, passando a descer a lenha em Jair Bolsonaro, inclusive com ataques pessoais. Não estou fazendo juízo de valor sobre o que ele anda falando do presidente, apenas pontuo a mudança do discurso.

>Haddad vem interpretando este novo papel nas redes sociais, dando violentas tuitadas no governo, buscando também encaixar frases agressivas em entrevistas, que trazem uma pauta bem definida de assuntos pelos quais ele acredita poder fortalecer este lado malvadeza que provavelmente algum marqueteiro o avisou que é absolutamente vital para que ele ganhe um realce dentro e fora de seu partido.

No sábado, o petista deu uma entrevista ao site UOL, com boas pancadas no ministro Paulo Guedes, em críticas que em boa parte subscrevo, afinal Guedes é um inimigo nosso em comum, sem que isso evidentemente faça de Haddad meu amigo, o que já está devidamente comprovado pelo que aconteceu no enfrentamento eleitoral entre ele e Bolsonaro, quando foi exigido pela honestidade e o bom senso que não se escolhesse nenhum.

Não vou entrar nas críticas que Haddad levantou, mas tenho que apontar uma expressão muito interessante, um lapso do discurso professoral do ex-prefeito que perdeu a reeleição em São Paulo no primeiro turno, em que ele sintetiza de forma magistral a posição política e administrativa dele e dos companheiros que o cercam. É um trecho de crítica à famosa fala do ministro Paulo Guedes, que tachou os funcionários públicos de “parasitas”. O petista diz que Guedes nunca fez nada de útil na vida, no que tem toda a razão, mas o que me chamou a atenção foi a expressão que usou. Haddad diz que Guedes “nunca pregou um parafuso”.

Achei perfeito. O partido de Haddad é exatamente isso na política, na economia e nas demais tarefas exigidas em um governo. O PT é um partido que prega parafusos.
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POR José Pires

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