Existe uma grande diferença entre humorismo e chacota. O que se faz hoje em dia no Brasil é em sua maioria apenas chacota, com a intenção de zombar de uma pessoa ou de uma situação. É apenas zoação, como se costuma dizer nas redes sociais. Ao contrário do humor, a chacota não incomoda o poder, nada traz de questionamento profundo do assunto tratado e por isso mesmo este falso humor é bem aceito pelos políticos.
“PIB? PIB? O que é PIB? Pergunta o que é PIB”, foi o que o presidente Jair Bolsonaro mandou o comediante Carioca dizer aos jornalistas que o esperavam em frente ao Palácio do Alvorada na manhã desta quarta-feira. Carioca é conhecido por uma imitação que faz do presidente desde que Bolsonaro ainda estava em campanha. É uma encenação tão vergonhosamente favorável que durante a campanha Bolsonaro chegou até a comparecer a um show de Carioca e agora ainda cedeu ao comediante um veículo oficial para a apresentação diante dos jornalistas.
Carioca estava no Alvorada para gravar uma entrevista com Bolsonaro, que deve ser apresentada na estréia de seu programa na TV Record — onde mais poderia ser? Claro que existe uma curiosidade sobre o que sairá de bobagens da conversa entre os dois, mas dificilmente nada será mais desastroso do que os acontecimentos dessa lamentável manhã, que foi de dar vergonha alheia.
Ao lado do imitador do presidente, desembarcou do carro o chefe da Secom, Fabio Wajngarten, que acompanhou a performance de piadas fáceis, como a da tentativa de distribuição de bananas aos jornalistas, que se recusaram a participar da encenação sem graça e despropositada.
Carioca é um legítimo representante da chacota nacional, um dos que se fazem passar por humorista, mas que na verdade apenas faz gracinhas que não incomodam os poderosos.
Desta vez errou feio, passando para o lado do personagem que representa, usando inclusive aparatos oficiais, além do equívoco de tentar fazer graça logo no dia da divulgação do pibinho do governo de Bolsonaro, quando todo o Brasil esperava explicações sobre o fiasco da política econômica, depois da alta expectativa criada pelo próprio presidente em torno da suposta eficiência de um ministro que ele prometeu que seria um Posto Ipiranga.
O chacoteiro Carioca foi tão infeliz que ficará marcado por este dia em que a criatura assumiu em público o poder sobre o criador. Executando o que Bolsonaro mandava fazer, repetindo frases como um cachorrinho em obediência ao dono da voz, o pretenso humorista quebrou a cara ao tentar aliar sua imagem a um governante tão desmoralizante que é capaz de esculachar até sua própria piada.
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POR José Pires
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Imagem- Bolsonaro e seu imitador que virou piada
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