quarta-feira, 4 de março de 2020

Olavo de Carvalho e seus discípulos bagunçam o casamento de Bolsonaro com Regina Duarte

Os seguidores de Olavo de Carvalho estão de novo com um arranca-rabo no governo Bolsonaro. A implicância agora é com Regina Duarte, depois dela demitir seis olavistas da Secretaria da Cultura. Um dos demitidos é Dante Mantovani, que ficou conhecido por dizer que o rock é um ritmo satânico que leva à droga e ao aborto.Os olavistas estão otimizando seus métodos: os ataques para derrubar a ex-atriz da Globo vieram antes dela assumir. Sua nomeação foi assinada nesta quarta-feira pelo presidente Jair Bolsonaro, que lhe deu carta branca para demitir os discípulos de Olavo.

Indignados com as demissões, os olavistas agitaram o Twitter com um “Fora Regina”. A atriz virou comunista de uma hora pra outra. Nas redes sociais, andam dizendo que “Regina Duarte é um fantoche esquerdista dentro de um governo de direita”. Também a acusam de estar alinhada com a deputada comunista Jandira Feghali e Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano Veloso e sua empresária. Regina também é acusada de colocar gente do deputado de extrema-esquerda Marcelo Freixo em sua equipe.

O mestre dos insatisfeitos já deu seu veredito no Twitter, dizendo que fez “cagada” ao aplaudir a indicação de Regina. Claro que também estão dizendo que as atitudes da nova ocupante da Secretaria de Cultura vai impedir a luta contra o “marxismo cultural”, seja lá o que seja isso, mas a verdade é que o alvoroço tem uma causa muito mais simples.

Sou muito mais novo que Olavo de Carvalho, mas também passei por outras épocas. No meu tempo isso tinha uma definição muita clara: é briga por boquinha. É isso que olavistas vêm fazendo, desde o início do governo Bolsonaro, metidos em briga por cargos desde a primeira balbúrdia provocada no Ministério da Educação, que levou à queda de Vélez Rodríguez, que virou ministro por indicação de Olavo. E o mais chato para os olavistas é que eles passaram mais de um ano brigando por boquinhas menores. Não se vê uma participação decisiva deles na criação de políticas públicas nas pastas que tentam aparelhar.

Mas alguém sabe o que Olavo de Carvalho e sua turma querem objetivamente? Fazem muito ruído, mas não conseguem estabelecer nada de prático no governo, sem alcançar também uma influência importante na sua organização política. Olavo de Carvalho fez um mea culpa grosseiro em um assunto localizado, ao lamentar o apoio à indicação de Regina Duarte, mas se for para falar de “cagada” o guru de Bolsonaro vem descuidando há muito tempo de suas obrigações.

Olavo não tem definida uma visão clara e objetiva sobre cultura e educação. Nos últimos anos desperdiçou em polêmicas de pouco proveito intelectual um tempo que na sua idade é cada vez mais escasso. Com isso, deixou de escrever e editar, de forma organizada e acessível, seu pensamento filosófico e político, com uma visão clara e abrangente, trazendo um conteúdo que fosse além da crítica ao que ele chama de marxismo cultural.

O que ele distribuiu a seus discípulos são lições de como atazanar o próximo, que servem no máximo para criar encrencas como esta, com Regina Duarte. Nem vou exigir de Olavo a criação de um sistema filosófico próprio, pois ele só pode ser chamado de filósofo em razão da generalização que permite dar essa definição a qualquer professor de filosofia. Mas se ele dispusesse de ideias mais amplas e objetivas sobre educação e cultura, isso poderia ter sido aproveitado para um projeto conservador com alguma qualidade intelectual. O que ele propõe é apenas ruído e é isso que vai ficar de seu legado.
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POR José Pires

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