quinta-feira, 4 de junho de 2020

Os Estados Unidos pegam fogo em plena epidemia: Donald Trump perde ou ganha?

Vejo que a esquerda no Brasil se anima com os conflitos que aconteceram nos Estados Unidos, depois da morte por asfixia de George Floyd, pela polícia de Minneapolis. Em parte, esta animação por aqui é estimulada pela esperança de que o impacto dos acontecimentos revolva as cinzas do desânimo brasileiro e encontre ao menos uma pequena brasa que reacenda a esperança de uma mudança de rumo, com a população brasileira estimulada a expressar seu descontentamento.

Por enquanto, os ecos dos embates de rua nos Estados Unidos aqui em nossa terra não faz crer que o governo de Jair Bolsonaro seja atingido, pelo menos não com o vandalismo e a violência tomando as ruas, num repeteco imbecil do que a própria esquerda fez lá atrás, em 2013, com o PT ainda no poder. Aquilo serviu de estímulo para que uma ampla parcela de brasileiros que já não suportava mais o governo petista fosse para as ruas, na explosão verde-amarela que infelizmente depois resultou na eleição do governo mais estúpido que este país já teve, da mesma falta de qualidade do PT no poder.

Uma esquerda estimulada por distúrbios que aparentemente vão abalar Trump serve como demonstração de insaciável hipocrisia, já que durante os dois mandatos de Barack Obama não se viu por aqui nenhuma compreensão da nossa esquerda com os avanços do primeiro negro eleito presidente dos Estados Unidos. Ao contrário, foi uma pauleira esquerdista contra Obama. Só faltou um “Fora Obama”. Mas, em paralelo à hipocrisia corre ligeiro também o tradicional oportunismo, com a tentativa esquerdista de turbinar a pauta racialista, transferindo para cá o conteúdo racial das manifestações dos americanos, que ao contrário do que se pensa, pode favorecer Trump.

Sobre os Estados Unidos, não se deve fechar os olhos para o risco de que o presidente Donald Trump possa se fortalecer para sua reeeleição, aproveitando o clima de violência e vandalismo para trabalhar em torno de algo essencial nas eleições americanas: fazer o eleitor votar. Desde o início das manifestações o discurso de Trump é do atiçamento de conflitos, de onde ele sempre soube tirar proveito. Seu eleitor não será estimulado a votar em um Trump pacificador, mas em um presidente que impõe a ordem. O velho discurso da lei e ordem, sempre funcional e ainda mais persuasivo quando aparecem militantes fazendo o gesto revolucionário do punho fechado. Do outro lado, a grande dúvida é o que fará depois essa juventude que foi às ruas, com alguns quebrando tudo, tocando fogo e saqueando. Se não forem em massa votar, Trump ganha.

E quem pensa que o sentimento da proteção por um governo forte e conservador é exclusivo dos brancos baseia-se numa ilusão antiga, que alinha o oprimido preferencialmente entre os progressistas, além de ter um conceito equivocado sobre a preferência política dos negros americanos. Por este raciocínio apressado, devido a uma injusta condição social os negros teriam uma rejeição natural ao conservadorismo ou mesmo à direita.

Trump ganhou sua primeira eleição com o perfil de que tem a determinação e força para resolver com precisão qualquer problema. No governo ele manteve essa imagem. Claro que isso é um fake news. Não tenho dúvida de que ele é o mais despreparado dos presidentes do país na história recente, porém mesmo assim seu índice de popularidade continua alto entre o eleitorado que é do seu interesse. Sua incompetência durante a pandemia do coronavírus é um provável empecilho para sua reeleição, no entanto essa violência que explode a cinco meses das eleições pode servir para desviar o foco da calamidade do Covid-19, agravada bastante pelos seus erros de avaliação pessoal da pandemia e a dificuldade do governo em lidar com o problema.

Até agora já são mais de 100 mil americanos mortos por coronavírus. Mas talvez Trump consiga explorar o temor popular criado com as grandes cidades do país em pé de guerra. Na sua primeira eleição, ele demonstrou ser tremendamente capaz não só de criar falsos inimigos como também do convencimento de que era ele o mais capacitado para enfrentá-los. Desta vez, ele tem até um cenário explosivo para criar uma realidade e se colocar como quem deve mudá-la.
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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

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