quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Mandetta: um biógrafo da pandemia e dos desatinos de Bolsonaro

Ainda não li o livro escrito por Luiz Henrique Mandetta sobre sua experiência no trabalho com Jair Bolsonaro no meio de uma pandemia, mas já deu para saber de muita coisa revelada pelo ex-ministro da Saúde e também do efeito causado pelas revelações, que pode ser observado no ódio de Bolsonaro ao seu ex-colaborador, que aumentou bastante com a publicação do livro, com o título “Um paciente chamado Brasil”.

Publicado pela editora Companhia das Letras, o livro chegou há poucos dias nas livrarias trazendo na capa uma chamada explicativa: “Os bastidores da luta contra o coronavírus”. Bem, não estaria errado quem acrescentasse: “luta contra o coronavírus e o pior aliado da doença: Jair Bolsonaro”.

Claro que o presidente do país em questão é também um paciente analisado pelo médico Mandetta e não poderia gostar do que leu — se é que leu: como Bolsonaro não parece ser alguém capaz de ler um livro inteiro é provável que tenham marcado para ele os trechos essenciais da obra.

Munindo-se até do que sabe de psiquiatria — ele cursou um ano dessa matéria, até se decidir pela ortopedia —, Mandetta traçou um perfil exato de Bolsonaro, nas reações de um paciente atingido por um diagnóstico difícil de encarar, no caso a Covid-19.

São as três fases que já são conhecidas. Pela ordem: negação, raiva do médico e a busca por um milagre. Primeiro, “uma gripezinha”, a raiva de Mandetta, que que lhe passava as más notícias, e por fim o milagre, com a cloroquina.

Com sabemos, o paciente Bolsonaro não vai nada bem e o país que ele comanda corre o risco de cair em uma UTI sem respirador, por conta dos atropelos na economia causados pelo seu negacionismo e antes da pandemia, por Paulo Guedes, o ministro que levou semanas até ser convencido por sua equipe que sua visão ortodoxa não cabia na situação inédita criada pelo vírus.

Ressalto aqui que quando o inacreditável Guedes teimava com suas lições chilenas de economia, da Europa a trágica experiência de vários países já mostrava que o mundo havia mudado, com a Covid-19 demolindo de forma inapelável certezas de economistas imobilizados em uma única receita.

Não o nosso Guedes, é claro. Um dos momentos impagáveis do livro é o Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro botando ordem na casa, quando surgiu a necessidade de adiar a remarcação do preço dos remédios. Isso feriu os brios liberais de Guedes, que foi  categórico. “Não admito tabelamento”, ele disse.

O ministro que Bolsonaro vendeu ao eleitor como o melhor economista do mundo não sabia que o preço de medicamentos é tabelado no Brasil. Bem, como se costuma dizer, baixem o pano. E bem rápido.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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