sábado, 5 de setembro de 2020

Perpetuação no poder: o eterno desejo da classe política brasileira

A reeleição foi uma das criações mais nefastas do nosso sistema eleitoral, com uma influência de tal forma negativa nas relações políticas no Brasil, que será para sempre uma grave nódoa na história de Fernando Henrique Cardoso, mesmo constando na história pessoal do ex-presidente o Plano Real, o plano econômico mais importante da história moderna brasileira. Como os planos econômicos vão ficando para trás, aplastrados pelas conveniências da política, pode ser que mais à frente aconteça de apenas a reeleição — esta sim, uma herança maldita — ficar colada à sua imagem.

 

Ninguém duvida do destaque desse plano em nossa história, porém Fernando Henrique Cardoso carregará no currículo a feitura dessa coisa horrorosa que foi a reeleição,  arrancada do Congresso, por sinal, de forma suspeita. Penso até que, tolamente, com a reeleição o ex-presidente tucano instituiu um grave complicador para um instrumento essencial do Plano Real; a responsabilidade fiscal.

 

Com prefeitos, governadores e também o próprio presidente excitados na ambição de mais um mandato, criou-se um ambiente político que sempre joga para segundo plano o zelo na administração do dinheiro público. Todo mundo sabe como é: o primeiro mandato não passa de um palanque para conquistar o segundo.

 

De dois em dois anos, os brasileiros são colocados de frente com a desgraça que é a reeleição. O espetáculo grotesco pode ser assistido nesses dias, quando, mesmo em meio a uma pandemia e sem ter concluído metade de seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro faz qualquer coisa — chegando até a imitar o Lula — para estar bem em uma eleição que só acontecerá dentro de dois anos.

 

É óbvio que a classe política deveria estar atuando para eliminar essa praga, mas como se faz para o convencimento dos próprios beneficiários do sistema, para que eles acabem com algo que desmoraliza a própria representação política? Pois no Senado se faz o contrário, com o atual presidente Davi Alcolumbre manipulando para passar por cima do regimento interno da Casa e da própria Constituição, tentando faturar com a instituição da reeleição dele próprio.

 

Não é surpresa, mas é sempre triste: parte influente da classe política está sempre procurando o retrocesso em vez de cumprir a obrigação de trabalhar para que o Brasil avance.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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