sexta-feira, 2 de outubro de 2020

A Covid-19 fortalecida no Brasil pelos erros e a má-fé de Bolsonaro

A responsabilidade direta de Jair Bolsonaro na desastrosa gestão federal do combate ao coronavírus pode ser medida na comparação com a visão de outras autoridades, primeiro, é claro, na sua confrontação absurda com Luiz Henrique Mandetta, enquanto ele esteve à frente do Ministério da Saúde. No livro escrito sobre esta convivência no começo da pandemia, Mandetta conta que viu o chefe ir adquirindo gradativamente todos os sintomas psicológicos de um paciente grave, de início com a negação da doença, a seguir passando a odiar o médico, até cair na ilusão da crença do milagre da cloroquina.

Bolsonaro tem sua credibilidade diminuída em cada paralelo, como ocorre na sua relação com governadores e prefeitos, contras os quais ele não só manifestou-se agressivamente desde o início da pandemia, como também praticou um boicote com o uso da máquina federal e atuando pessoalmente, criando aglomerações públicas e incitando a população contra dirigentes públicos com visão divergente da sua no combate à Covid-19.

Um comparativo que torna muito clara a responsabilidade de Bolsonaro com os trágicos números da pandemia no Brasil — já se aproximando de 150 mil mortes — pode ser feito com as ações do Supremo Tribunal Federal, que teve que agir para evitar que o presidente avançasse ainda mais em seus propósitos irresponsáveis de desestabilização do trabalho sério de contenção da contaminação feito por prefeitos e governadores. Em várias ocasiões, essas ações de Bolsonaro chegaram a configurar-se em ilegalidades, contidas de pronto pelos ministros do tribunal.

Este presidente de comportamento estúpido e de colossal ignorância até em noções básicas para o exercício do cargo só deixou de tentar concretizar ações ainda mais nefastas porque sentiu pela enérgica ação do STF que adentrava um terreno político muito perigoso e também pelo temor de sanções legais, sobre as quais é provável que tenha sido alertado por colaboradores próximos.

Bolsonaro não tem sensibilidade nem pelo sofrimento do próximo, sendo uma nulidade até para adquirir conhecimento empírico, no aprendizado trazido naturalmente com o passar dos anos, na experiência pessoal chamada de “escola da vida”, cujas lições ele parece ter cabulado em seus mais de 60 anos.

O presidente não teve sequer a capacidade de observar os efeitos trágicos do coronavírus em países europeus — assolados pela doença logo depois do vírus afetar pesadamente a China —, fazendo uma associação com a nossa condição, projetando o que poderia acontecer quando o vírus chegasse ao nosso país.

Um raciocínio nesta ocasião feito pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF, ainda no estágio inicial da doença em território brasileiro, demonstra como já existiam dados e condições de tratar com segurança a questão, podendo servir também como referência da extrema incapacidade de Bolsonaro para o estudo e avaliação de situações essenciais para a segurança e o desenvolvimento do país, mostrando que ele é um sujeito que não serve nem para perceber perigos iminentes que colocam em risco a saúde de seus compatriotas.

Ainda no dia 18 de março, em sessão do Supremo, Barroso fez a seguinte explanação: “No vigésimo dia após os primeiros casos, a Itália tinha 3 diagnósticos confirmados. O Brasil já soma 291 confirmações. A conclusão é que o quadro aqui é pior que na Itália”.

A perspicaz avaliação em perspectiva feita pelo ministro foi no mesmo período em que Bolsonaro desmerecia os esforços dos que se preocupavam com o avanço da doença entre os brasileiros. Neste mesmo mês de março, este sujeito sem noção fazia suas piadas idiotas sobre um vírus mortal que já estava matando muita gente e abalando a economia na Europa, depois do horror ter começado na China.

Bolsonaro fazia pouco caso dos alertas sobre o perigo, minimizando o enorme risco, nesses mesmos dias em que Barroso já apontava como poderia ser grave o efeito da doença no Brasil, usando para sua equação acertada um registro de apenas 291 confirmações. No mesmo mês de março, o presidente zoava dos avisos sobre a necessidade de prevenção: ele chegou a garantir que o número de mortes no Brasil não passaria de 800.

É claro que tanto Barroso como Bolsonaro demonstraram completa segurança na própria capacidade, com projeções totalmente diferentes um do outro, também com divergência total sobre o que deveria ser adotado no enfrentamento da Covid-19. Pois a realidade aí está, como um fato inquestionável para que se compreenda o absurdo erro que foi a eleição desse sujeito para o comando do país.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


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