quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Os bolsonaristas e a tarefa cada vez mais difícil de passar pano

Todos sabem que hoje em dia não está fácil pra ninguém, mas com certeza poucos enfrentam dificuldades como as que caem todos os dias sobre os seguidores de Jair Bolsonaro, os remanescentes desse fenômeno nascido nas eleições para presidente, que foi se desmontando gradativamente desde que esse sujeito sem noção ocupou o poder. Vejam só: Bolsonaro e os bolsonaristas de raiz afirmavam que iriam desmontar tudo que significava a chamada “velha política” e o que acabaram fazendo foi uma destruição daquilo que poderia constituir a base de um projeto político deles próprios.

As agruras pessoais do que sobrou da militância bolsonarista foram se acumulando com a montoeira de trapalhadas e traições feitas por Bolsonaro, com o abandono de importantes bandeiras de campanha. Não sobrou nem a Lava Jato, depois que forçado pela necessidade de blindar os filhos e ele próprio para não acabarem na cadeia, o presidente se aliou até a Lula e seu partido, para acabar com o rigor que promotores e a Polícia Federal trouxeram contra a corrupção no Brasil.

Eu disse que não está fácil para bolsonaristas. Pois nesta semana apareceu mais uma complicação para uma militância necessitada de tantas justificativas teóricas para seguir passando pano para os abusos de Bolsonaro e seu governo tresloucado. Rachadinhas, depósitos de Queiroz na conta de Michelle, juiz de garantias, mudança do Coaf, restrições à preventiva e delação, inimigo da Lava Jato na PGR, fundão de R$ 2 BI, acordão com Toffoli, boicote da CPI da Lava Toga, interferência na PF, Kassio no STF — haja pano, companheiros direitistas.

E agora ainda aparece este episódio grotesco do senador bolsonarista Chico Rodrigues, flagrado com dinheiro nas nádegas durante busca e apreensão feita pela Polícia Federal em investigação feita para apurar desvio de verba de emendas para o combate à pandemia de coronavírus. O sujeito é vice-líder do governo no Senado. E o dinheiro metido naquele lugar, cabe ressaltar, é de verbas de emergência retiradas de uma economia quebrada, para tratar de uma doença que já matou mais de 150 mil brasileiros.

Chico Rodrigues é bem próximo da família de Bolsonaro, tendo até dado um cargo muito bem pago em seu gabinete para Léo Índio, que por sua vez é também chegadíssimo do primo Carluxo. O senador até já recebeu homenagem do presidente. Com essa intimidade, ele não é alguém para descartar com facilidade, mas também fica difícil justificar um companheiro de luta que é pego pela polícia com dinheiro na bunda.

Se for para bolsonarista passar pano mais uma vez será necessário encontrar um discurso convincente que justifique um negócio desses, que sem dúvida é muito pior do que dólares em cueca de petista, aquele caso do qual até hoje os bolsonaristas gostam de fazer gozação.

Acredito que nem Olavo de Carvalho pode ajudar para que se encontre um ponto de apoio filosófico que permita sair dessa enrascada que causa até vergonha alheia. Líder bolsonarista com dinheiro no rabo creio que é muito até para a escatologia estilística do mentor dessa maçaroca que é a direita brasileira. Colocar a culpa nos comunistas chineses não vai colar. Das reuniões do Foro de São Paulo com certeza bunca saiu nenhum documento sobre esse tipo de infiltração. O bolsonarismo encontrou um tema que dificulta qualquer exercício da ciência política, da filosofia e mesmo da astrologia.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌

 

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Imagem- Bolsonaro e o vice-líder do governo que escondeu dinheiro na nádegas; Bolsonaro já disse ter “quase uma união estável” com Chico Rodrigues


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