terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Lula e sua "cervejinha" cruel e vergonhosa na guerra da Rússia de Vladimir Putin contra a Ucrânia de Zelensky

Lula viajou para os Estados Unidos sentindo-se o rei do mundo, mas foi breve esta ilusão megalomaníaca. Com mais de um mês depois de empossado como presidente, o petista não consegue apresentar um programa de governo. Na economia, ocupa-se de articular um golpe para derrubar o presidente do Banco Central, uma ideia econômica bizarra, independentemente de que a avaliação seja desenvolvimentista ou liberal — um novo comando no banco traria o progresso da nação, esta é a ideia esdrúxula.


E tem também a política de relações externas, toda equivocada no governo anterior. Pois parece que os erros só mudaram de direção. É provável que os governos de países fundamentais na geopolítica atual estejam com a impressão de que o Brasil só mudou de doido no comando. Na passagem por Washington, ele repetiu a ladainha de ter uma conversa amável com Vladimir Putin para convencê-lo a conceder a paz. Não chegou a dizer que o papo seria com uma “cervejinha”, na sua notória mania de situar o hábito alcoólico sempre de forma positiva.


O encontro com Joe Biden foi na sexta-feira, dia 11. Antes da reunião na Casa Branca, Lula chegou a engasgar numa entrevista à CNN internacional, quando foi questionado sobre sua posição dúbia na agressão militar da Rússia contra a Ucrânia. Mas seguiu depois com sua proposta totalmente fora de sentido de resolver a questão apelando à boa vontade das duas partes, mas especialmente de Putin.


Além de uma bobagem, chega ser asqueroso. A Ucrânia é vítima de invasão militar. Lula está sempre lamentando que o povo ucraniano não tenha se submetido ao ditador russo. Na verdade, seguindo o consenso da esquerda brasileira, ele sempre torceu pelo sucesso de Putin nesta guerra. Ele vem com sua conversa idiota apenas porque não pode expor francamente esta posição abjeta.


O gênio brasileiro da geopolítica moderna veio agora com a proposta de criar um grupo de países neutros para negociar o fim da guerra. A vergonha alheia é do tipo mais grave, porque a nação brasileira está neste palco onde se dá o vexame. A resposta da Casa Branca foi rápida. Questionado em uma entrevista coletiva sobre o plano, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, foi taxativo. “Nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia”, disse ele.


Ainda no domingo, o governo americano pediu aos cidadãos americanos que sejam residentes ou estejam em viagem à Rússia que deixem o país “imediatamente”. A embaixada no país de Putin afirmou em nota que existe até o risco de prisões indevidas de americanos pelo governo russo. É um vexame a pauta que Lula levou aos Estados Unidos, de negociações amigáveis com Putin. Mais que isso, a avaliação de que é possível resolver tudo com uma simples conversa demonstra um desarranjo diplomático, porque chega a ser insultuoso ao governo americano neste ponto do conflito.


É claro que a gente sabe que a assessoria que cerca Lula é totalmente favorável a Putin, mas é impressionante que nenhum desses sábios tenha convencido Lula de que agora o interesse americano e da Comunidade Européia — e da democracia no Ocidente — tem na vitória militar e diplomática da Ucrânia um objetivo fundamental. Neste ponto, um desastre maior seria a vitória de Putin. Outra questão importante é que o ditador russo recuará pela força militar e por sanções em curso.


Putin é movido por crenças que é difícil para um político como Lula compreender. Primeiro, ele teria que ter lido muita coisa antes de voltar ao poder — não bastam os livrecos que leu na cadeia para diminuir a pena. O ditador russo quer repor o poder da Rússia no ponto anterior à queda do Muro de Berlim, durante a demolição interna do projeto comunista na Rússia. No seu plano consta como forte substância ideológica a ideia de uma unidade espiritual da Rússia, que remonta ao poder imperial russo, anterior à revolução comunista, daí sua admiração pela imperatriz Catarina, a Grande, que governou a Rússia de forma absoluta durante 34 anos, de 1762 a 1796. A Ucrânia é um elemento fundamental da geografia espiritual que povoa a cabeça de Putin.


Mistura-se nesta crença política os elementos conturbados dos tempos do poder comunista na Rússia, que englobou pela força vários países da região. Putin foi funcionário das forças de espionagem e repressão do regime. No meio disso tem o período comunista, quando foi criada a União Soviética com o ajuntamento forçado de vários países com a Rússia. Depois da Segunda Guerra, também tomaram militarmente parte da Europa. É um delírio geopolítico, com uma religiosidade que deixaria Karl Marx perplexo. O problema é que tudo isso tem bases materiais, incluindo armas nucleares, com o dono do hospício com o dedo no botão vermelho.


É a ideia da criação de uma grande Eurásia. Para se ter uma visão da coisa, Dmitry Medvedev, antigo primeiro-ministro e ex-presidente da Rússia, aliado firme de Putin, escreveu em um artigo recente que o objetivo de Putin “é a paz das gerações ucranianas futuras e a oportunidade de, finalmente, criar uma Eurásia aberta”, que, ainda segundo o que ele escreveu, vai “de Lisboa a Vladivostok”, claro que tendo a Ucrânia no meio, com o povo ucraniano submetido ao poder russo.


Será tão complicado perceber que nada segura Putin se ele sair vitorioso neste campo de batalha? Parece que não é assim que pensa o grupo de Lula, de quem ele pega de ouvido lições de geopolítica moderna. E tem também a pusilanimidade. Tentem imaginar um Brasil em uma situação parecida com a da Ucrânia, tendo Lula como líder. É triste, não é mesmo?


É provável que confrontado com essa cronologia e desesperado com a dificuldade de juntar as informações, Lula indagaria que diabos ele tem a ver com tudo isso. O seu desconhecimento brutal sobre esse e tantos outros temas está na raiz das suas bobajadas.

É quando ele nivela Daniel Ortega com Angela Merkel para justificar sua cumplicidade e covardia. No caso do heróico presidente Volodymyr Zelensky ele se sai com a proposta de diálogo com “cervejinha”.


Infelizmente não é novidade no Brasil esta ignorância no poder. É difícil encontrar um ex-presidente, que não seja Fernando Henrique Cardoso, capaz de entender algo mais que o corriqueiro da política. Se juntarem Lula e Jair Bolsonaro numa sabatina para a avaliação de conhecimento histórico ficaria difícil definir quem fica com as piores notas. Duvido que Lula consiga responder sobre questões fundamentais da história política desse nosso mundo, mesmo que seja apenas do início do século 20 para cá.


Mas isto é a realidade absurda da política. Um pré-adolescente é barrado no Enem por causa de umas poucas perguntas, mas um ignorante sobe com facilidade a rampa do Planalto mesmo não sabendo do que é capaz a consciência político-religiosa de um Putin ou de quem foi, por exemplo, Neville Chamberlain.


Por causa desse seu posicionamento tão errado que chega a ser absurdo, Lula vem sendo comparado a Chamberlain nesta questão da guerra da Rússia contra a Ucrânia. Primeiro-Ministro do Reino Unido entre maio de 1937 e maio de 1940, Chamberlain errou feio ao contemporizar com Adolf Hitler, sem perceber o grave risco que representava o Nazismo. Winston Churchill, que já avisava do perigo, enfrentou o problema depois, fixando com honra para sempre seu nome na história mundial.


Faz algum sentido a relação de Lula com Chamberlain. Com Churchill, a comparação só teria sentido por questões etílicas, mas isso é outra história. Porém, eu faria um paralelo de Lula com outra figura histórica do período, o marechal Philippe Pétain. da França. Ele foi o líder francês da vergonhosa submissão a Hitler depois da invasão nazista. Até hoje é uma nódoa asquerosa da direita francesa. Foi o chefe de estado da França de Vichy, de 1940 a 1944.


Mais do que a dificuldade de Chamberlain na avaliação de riscos, a decifração das falas de Lula sobre o que acontece na Ucrânia levam a uma proposta cruel e covarde de submissão do povo ucraniano à Rússia de Vladimir Putin.


Mas neste caso teria de haver mais que a concordância dos russos, para lembrar o inesquecível paradigma de Garrincha. Tem que combinar com a Europa e os Estados Unidos. A “cervejinha” não teria a concordância da Otan. Também é óbvio que Zelensky não poderia comparecer, afinal o heróico líder ucraniano está ocupado demais com valores políticos e morais que Lula não consegue compreender.

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Por José Pires

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