sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Janja, a cara-metade de Lula invade a vaga de Geraldo Alckmin

O presidente Lula tem uma longa fama de ser um chefe implacável na humilhação de seus aliados de governo, mas o que ele fez com o vice Geraldo Alckmin nesta semana foi tão aviltante que até levanta a suspeita de que a relação dos dois não anda bem. Quando está no poder, o petista trata os comandados do mesmo jeito que faz no seu partido, às vezes com uma brutalidade que deixa fácil de entender que é ele quem manda.


Ah, sim: Lula só humilha quem se submete aos seus caprichos, por lealdade ou necessidade, como já ocorreu no passado com companheiros históricos de jornada, como o ex-ministro Cristovam Buarque (demitido por telefone), ou na demissão recente da ex-jogadora de vôlei Ana Moser, substituída pelo deputado André Fufuca, do PP do Maranhão, numa mera troca por votos entre os mais imorais deputados no Congresso. Neste segundo caso, por exemplo, a nomeação passando por cima da ex-atleta foi uma imposição do Centrão, que o petista teve que atender sem chiar.


Neste governo, Lula também expôs publicamente Simone Tebet e Marina Silva, colocando as duas, uma contra a outra, em disputa de cargos no governo. O posto de ministra do Meio Ambiente, que por merecimento técnico e político era de Marina, foi oferecido antes para Tebet, com a evidente intenção de submeter ambas a um confronto em que ficava estabelecida sua posição de chefe absoluto. Lula tinha que impor o seu “quem manda sou eu”, embora tenha sido fundamental o apoio de cada uma delas para a vitória eleitoral contra Jair Bolsonaro, que ainda assim foi por pouco.


Nesta semana, com o vice Geraldo Alckmin a atitude de Lula teve ares de golpe. Uma tremenda injustiça, diga-se, com alguém com disposição de ajudá-lo a “voltar à cena do crime”. Antes de se submeter a uma operação cirúrgica que vai impossibilitar que ele exerça integralmente o cargo por alguns dias, Lula mandou a esposa Janja em viagem ao Rio Grande do Sul para a primeira-dama acompanhar o apoio do governo federal ao governo gaúcho na recuperação de cidades atingidas pelo ciclone extratropical.


Foi um claro abuso ao direito constitucional do ex-tucano Alckmin, que tem o direito de substituir o titular em missões desse tipo, quando o presidente está fisicamente impossibilitado. Este é mais um disparate de Lula, mas não surpreende, ainda mais com a bolivarianização quase completa do petista depois de ganhar a eleição. 


Na prática, desse jeito a entrada em cena de Janja quebra a linha sucessória. Além disso, em vez de indicar para os brasileiros uma relação de mútua confiança entre vice e titular, Lula acena exatamente o contrário: parece mais um caso da amarga inveja política do petista, que tem se manifestado bastante em situações internacionais, mas que não é incomum que aconteça nos acontecimentos por aqui, na nossa terra.


Lula estaria com temor do acolhimento político que Alckmin teria no Rio Grande do Sul, com um destaque nacional na imagem  de um político com espírito de solidariedade e sentimento humanístico? Foi isso que faltou a Lula, que demorou demais para dar uma posição plena de apoio de seu governo. O presidente não foi ao sul do país, assolado por chuvas e ventanias violentas, com o alagamento e destruição de moradias, prédios comerciais e industriais, causando também o arrasamento de plantações agrícolas e da criação de animais. O desprezo aos que sofrem lembra bastante a falta de empatia de Jair Bolsonaro.


Já chegava a 50 o número de mortes quando Lula mandou Janja para o Rio Grande do Sul em vez do processo se dar em um ritmo normal e justo, com Alckmin assumindo o cargo de presidente para cumprir a função legal que lhe cabe, na impossibilidade do titular atender a esta necessidade. Janja não chegou a passar nem o dia inteiro entre os gaúchos, além de que ela não tem capacidade técnica nem direito legal de desenvolver medidas de colaboração do governo federal para amenizar o sofrimento do povo gaúcho. Primeira-dama não é cargo público, nem tem função administrativa. Aliás, nem se sabe o que é exatamente isso.


Já a vice-presidência tem um papel constitucional muito claro. Que Lula desrespeita. Estará querendo criar sua Evita? Talvez até nisso ele experimente uma semelhança com Bolsonaro. Pode ser também que neste ponto ele tenha tomado consciência de que esteve iludido sobre a real força política de Alckmin. Já se contou muita lorota sobre a aliança que juntou Lula com Alckmin, inclusive a mais risível delas, com Lula no papel de estadista e democrata aberto ao esquecimento de antigas desavenças.


Mas a verdade é que a entrada do ex-tucano na chapa presidencial teve muito mais a ver com a retirada dele como candidato ao governo de São Paulo, para facilitar a vitória de Fernando Haddad. A falta de uma vitória no governo de São Paulo é um sério baque na auto-estima de Lula e de todo o seu partido, daí o arranjo especial no cenário político paulista, tirando do páreo além de Alckmin, outro candidato que parecia também muito forte, Márcio França, que no final perdeu até a eleição para senador.


E mesmo Alckmin não tinha esse poder decisório no voto dos paulistas, que a derrota do candidato de Lula demonstrou. O preço dessa aliança estadual acabou ficando caro, com o agravante de ter faltando o benefício que viria em troca, o que aumenta o desconforto do petista com seu vice. O esforço agora é o de não abrir espaço para uma exposição pública positiva de Alckmin, ainda mais com a dificuldade do chefão petista em conquistar simpatia fora do seu círculo político e eleitoral, o chamado eleitor lulopetista, que comprovadamente não dá segurança para derrotar nem adversários asquerosos como o presidente anterior.

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Por José Pires

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Volodymyr Zelensky, o brilho que ofusca a projeção internacional de Lula

O presidente Lula demorou para ter um encontro com Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, mas enfim apareceu ao lado dele. Não teve como fugir ao ao compromisso, afinal cumpria o protocolo histórico, como presidente brasileiro, de abrir a 77.ª Assembleia-Geral da ONU. A cara amarrada não se devia apenas ao desconforto da pose com um estadista que faz sombra ao papel de alta relevância que Lula pretendia ter internacionalmente. Aconteça o que for nesta agressão da Rússia ao seu país, Zelensky já é um dos grandes homens deste século. Já está inscrito na história mundial como governante que enfrenta com rara coragem a violência autoritária de um país muito mais poderoso em vários aspectos, até armas nucleares.


A cara amarrada é o estado natural de Lula, desde que tomou posse, além do estilo tosco de falar o tempo todo como se estivesse pronto pra sair no braço com alguém. Foi assim até no discurso inaugural da sessão da ONU. Por que falar desse jeito, com tanta irritação? É o vício do palanque, da técnica manjada de superdimensionar adversários. É também uma dificuldade de reconhecer que o microfone é uma invenção para que não seja preciso acabar com as cordas vocais, que é o que ocorre com o gogó do chefão petista. Não é uma praga, mas é um espanto que Lula ainda tenha alguma capacidade vocal.


A má-vontade de Lula na recepção a Zelensky contrasta com a atitude de outras personalidades que estiveram na ONU, a começar pelo presidente americano Joe Biden — que depois recebeu em Washington o presidente ucraniano, que estava acompanhado da mulher, Olena Zelenska. Estava presente a primeira-dama Jill Biden, que nesta visita não estava indisposta, como aconteceu quando Lula e Janja apareceram na Casa Branca. O casal ucraniano esteve também no Canadá, com o primeiro-ministro Justin Trudeau.


É visível o entusiasmo das pessoas que recebem o presidente da Ucrânia, personalidades das mais diversas, representantes de missões diplomáticas, chefes de Governo e de Estado, claro que como demonstração de apoio e compromisso com alguém que enfrenta bravamente uma guerra de agressão, cometida, além de tudo, com a crueldade de bombardear premeditadamente a população civil para tentar vencer impondo o terror a inocentes.


Acompanho Zelensky e sua esposa no Instagram. Sigo também fotógrafos que cobrem a agressão russa. É de chorar o que se vê todos os dias. A Rússia faz uma guerra terrorista, genocida, até mesmo com os sequestro de crianças em território ucraniano, milhares delas, para “russificá-las” com educação forçada. Esta política étnica racista e imperialista vem dos tempos do czarismo, foi reforçada depois com o comunismo e segue até agora com Putin.


O discurso de Zelensky na Assembleia-Geral da ONU foi aplaudido de pé na quarta-feira por dezenas de delegações internacionais. Foi clara a manifestação coletiva de apoio ao povo ucraniano, ressaltada inclusive pelo comportamento da delegação russa, que não se levantou, nem aplaudiu o discurso. Foi a primeira vez, desde o começo da guerra com a invasão feita pela Rússia em fevereiro, que Zelensky se dirigiu aos líderes mundiais na ONU. Era também a chance de Lula ser o protagonista no palco da ONU.


Esta foi uma coincidência que obviamente deve ter desagradado o petista. Do ponto de vista internacional a pauta foi de Zelensky. Este é um ponto essencial na má-vontade de Lula com o presidente da Ucrânia. Podem existir também outras obrigações, talvez haja alguma dívida histórica ou mesmo recente que explique a submissão abjeta e explícita a Vladimir Putin, mas isso fica apenas no terreno de suspeitas. A inveja ressentida a Zelensky, no entanto, é certeza absoluta. Não seria o megalomaníaco Lula, acostumado a atuar incansavelmente para derrubar quem pode atrair mais atenção do que ele ou mesmo na mesma intensidade, que iria aceitar o fantástico brilho político do presidente ucraniano.


E não é a primeira vez que Lula tem que enfrentar uma situação em que surge uma figura política que ofusca sua imagem, exatamente quando parecia que ele se projetaria internacionalmente. Quem não se lembra quando Barack Obama, durante um almoço de líderes do G-20, disse de forma brincalhona que Lula “é o cara”? Foi em abril de 2009. A cena reservada foi captada de longe por jornalistas e depois vazada na internet. Mas a intimidade entre Lula e Obama não foi adiante. A inveja do brasileiro não deixou.


Com a eleição de Obama, em novembro do ano anterior, não havia espaço na mídia para ninguém mais que o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Como é que Lula iria gostar de um cenário internacional assim? Além disso, o perfil liberal de Obama também atrapalhava muito o prestígio do petista na América Latina e claro que também no Brasil, onde é essencial exibir um discurso anti-americano, não só para faturar votos internamente com uma coragem fácil de ostentar, como também para colher apoios esquerdistas na região e evitar o enfrentamento de fato dos problemas de cada lugar.


Nessa época, Lula estava no penúltimo ano de seu segundo mandato, muito encalacrado com a corrupção do mensalão. Internacionalmente havia dissipado o prestígio da sua primeira eleição. Acabou fazendo sua sucessora. Voltou depois ao poder, agora no ano passado — com uma variedade de maquinações e articulações de interesses a meu ver moralmente condenáveis. No entanto, não apagou a imagem de chefe político corrupto, de república bananeira, uma fama que fica ainda mais marcada em razão das parcerias políticas com o que há de pior na política da América Latina, além dos apegos a ditadores de outros continentes.


Neste ano, é certo que Lula exagerou bastante em anacronismos, na sua dificuldade de perceber como o mundo mudou. Parece um presidente bolivariano, com o agravante da imagem de presidente submisso à China e à Rússia de Vladimir Putin. O desgaste é antigo. A imagem que ficou pode ser observada no último livro de Obama, de 2020, memórias que incluem os anos em que esteve na Casa Branca. Duvido que Lula tenha lido, mas deve saber da breve citação ao seu nome. Breve e esclarecedora.


Vamos a ela. Obama descreve resumidamente o brasileiro como um “ex-líder sindical grisalho e cativante, com uma passagem pela prisão por protestar contra o governo militar, e eleito em 2002, tinha iniciado uma série de reformas pragmáticas que fizeram as taxas de crescimento do Brasil dispararem, ampliando sua classe média e assegurando moradia e educação para milhões de cidadãos mais pobres”. O ex-presidente americano fecha com o seguinte: “Constava também que tinha os escrúpulos de um chefão do Tammany Hall, e circulavam boatos de clientelismo governamental, negócios por baixo do pano e propinas na casa dos bilhões”.


“Tammany Hall” é uma relação feita de Lula com uma lembrança histórica muito pejorativa de um grupo que que dominou a política da cidade de Nova Iorque entre a segunda metade do século 19 e o início do século 20, que nos Estados Unidos é a imagem da mais baixa corrupção. Não se deve ter dúvida de que Obama ponderou bastante sobre a publicação em livro desta analogia condenatória. Para isso não deve ter faltado relatórios e documentação demonstrando o que ocorreu nos governos de Lula, do mensalão ao petrolão. Talvez Obama saiba até sobre coisas que ainda desconhecemos. Vale lembrar que a Odebrecht teve que pagar multas bilionárias por condenações na justiça americana.


Esse tipo de material chega nas mãos de políticos em cargos importantes de vários países. Do mesmo modo que chegam transcrições do que Lula e outros governantes falam sobre temas do interesse internacional. Já escrevi aqui que políticos estrangeiros em posição de destaque em seus países devem ficar surpresos com as platitudes de propaganda de Lula nas suas falas e devem rir das tantas asneiras e propostas sem nenhuma sustentação teórica ou mesmo prática na realidade.


No ponto em que estamos, esta é a imagem internacional de Lula. Claro que vai haver sempre uma relativa contemporização com os despropósitos do petista, afinal nos outros países, em muitos deles, não se mistura temperamento e melindres pessoais com o interesse nacional. Eles devem dar boas risadas das asneiras e depois partem para os negócios e a realpolitik. Fica feio para o Lula. Ele tinha que consertar os estragos na sua imagem, que de fato, está no nível do escrúpulo de “um chefão do Tammany Hall”, como escreveu Obama.


Na idade em que Lula está pode ser até desesperador a avaliação da diferença na ampulheta entre a areia da parte de cima e a de baixo. A concertação de interesses — para mim, na maioria escusos — permitiu sua eleição mais uma vez, criando uma abertura para uma guaribada na imagem, talvez até com a possibilidade de deixar para trás tanto lamaçal, ao menos na opinião pública mais ampla e com menos acesso ao que é real, aquela que não recebe relatórios reservados contando tudo que aconteceu.


De qualquer modo, esta reposição da marca política não seria uma tarefa fácil, demandando muita organização e criatividade, com pautas relevantes e conclusivas, de realizações de fato e não o mero lero-lero de palanque, que é muito mais difícil de emplacar internacionalmente do que com plateias locais, engabeladas pela propaganda paga e a imprensa chapa-branca idem. É sempre uma trabalheira retrabalhar no plano mundial uma imagem tão arruinada. E claro que fica mais complicado se exatamente nessa hora aparece um Volodymyr Zelensky. É por isso que Lula anda com a cara tão amarrada.

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Por José Pires

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Lula, o fiel aliado de Vladimir Putin e suas mensagens de apreço ao agressor da Ucrânia

Na última terça-feira, Vladimir Putin disse uma frase que pode ser útil ao presidente Lula, na sua intensa tarefa de sair pelo mundo papagueando a propaganda do governo russo e da China, como afirmou o próprio governo americano. Foi o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, que apontou para o presidente brasileiro como apoiador da Rússia na agressão à Ucrânia, uma posição lamentável nesta disputa fundamental da geopolítica internacional. 


Durante um foro econômico na Rússia, o presidente russo falou sobre a agressão militar à Ucrânia, afirmando que não negociará com Kiev enquanto as forças ucranianas mantiverem a luta. “Como podemos deter as hostilidades se a outra parte está fazendo uma contra ofensiva?”, disse Putin. É a lógica torta do invasor, queixando-se da reação do país agredido. Lula pode sair por aí papagueando mais essa justificativa de agressão, evidentemente até que a pendenga seja resolvida numa conversa regada com cerveja brasileira, na brilhante estratégia diplomática do petista.


O presidente brasileiro não poderia ter voltado da Cúpula de Líderes do G-20, em Nova Délhi, na Índia, sem trazer o rastro de mais uma asneira internacional, prejudicando mais um tanto o Brasil. Lula disse que, com ele como presidente, Putin não seria preso no Brasil. Ele não permitiria o cumprimento da ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) por crime de guerra, caso Putin venha para a reunião do G-20, marcada para novembro do ano que vem.


Foi uma bravata com mais de um ano pela frente, tão difícil de realizar que no mesmo dia o próprio Lula deve ter sido alertado por quem conhece de fato o assunto. Daí, voltou atrás, se fazendo de sonso como de costume. Ele chegou a alegar que desconhecia a existência do Tribunal Penal Internacional, o que é uma confissão de ignorância que na prática o desqualifica para a função de presidente do G-20, que assumiu nesta viagem. É até engraçado, pois numa empresa privada a escandalosa revelação de incapacidade técnica poderia resultar na sua demissão.


Mas por que tanta insistência em demonstrar publicamente a fidelidade ao autocrata russo? É muito amor. No mês passado, durante encontro do Brics, na África do Sul, Lula havia lamentado a ausência de Putin, impedido de comparecer por causa do mandado de prisão do TPI. Ainda se fazendo de sonso, ele disse que gostaria de discutir “pessoalmente com o presidente Putin” temas como “a paz e a luta contra a desigualdade”. De fato, são discussões fundamentais hoje em dia, mas existem outros temas, como agressão militar, a falta de democracia, massacres étnicos, genocídio e outros debates no âmbito de instituições como o TPI — uma das acusações durante a invasão à Ucrânia a Putin é o de sequestro de crianças ucranianas, milhares delas, com o plano do governo de “russificá-las”.


Olha com quem Lula procura relação preferencial, tendo do outro lado do braço a China. Parece que a meta do petista é situar o Brasil no bloco de governos comandados por autocratas, alinhado de modo submisso a governantes que atuam todo o tempo para desestabilizar o mundo, fortalecendo a corrupção e o crime nos países onde exercem influência. Lula quer o Brasil confrontando as democracias ocidentais. É um vício. Até no plano internacional, o governante do mensalão e do petrolão quer um “Centrão” para chamar de seu. Parece uma tara este gosto pessoal de — lá fora e aqui dentro — buscar “governabilidade” com ladrões e repressores de seus próprios povos.


A parceria com ditaduras é confortável para Lula, ele que já foi “amigo e irmão” do ditador líbio Muammar Kadhafi e apoiador da teocracia do Irã, chapinha de ditadores africanos, comunistas ou não, além de ter participado a vida toda do beija-mão frequente ao ditador Fidel Castro, juntando-se em Cuba à companheiros de vassalagem ideológica como Evo Morales, Daniel Ortega, grupo de que participava, um pouco antes, o falecido Hugo Chávez, substituído depois por Nicolás Maduro.


Tem gosto pra tudo. Lula se sente muito bem com governantes antidemocráticos. Essa proximidade deve satisfazer o seu forte sentimento anti-americano, ainda mais agora que ele ressurge com intenso espírito bolivarianista, capaz até de atuar como conselheiro de narrativas para o ditador Maduro. Mas como fica nisso o nosso Brasil? É esta pergunta que não vem sendo feita com o rigor merecido, enquanto o chefão petista vai colocando o nosso país numa barca perigosa, muito mais ainda porque atualmente, nas relações internacionais deve ser considerada a projeção de um mundo cada vez mais carente de recursos naturais, com necessidade de gestão cuidados de alimentos, energia, com o esgotamento de terras, tudo isso em conjunto com o grave problema do aquecimento global, que pode levar a disputas de territórios. A própria sobrevivência de alguns povos ou mesmo a ambição imperialista vão trazer muitas complicações.


Estes acenos à alianças totalmente equivocadas demonstra como um político salafrário pode hipotecar o futuro de gerações e talvez complicar irremediavelmente negociações cruciais que podem vir a ser necessárias proximamente. É preciso ficar alerta com o que Lula e seu partido estão fazendo com o Brasil. Esta instigante questão geopolítica pode ser resumida numa pergunta retórica: se houver um embate mais sério em torno da Amazônia por causa de agravamento climático, sua preferência seria resolver a questão no nível de sistemas políticos e de visão do direito internacional das democracias ocidentais ou de governos como os da Rússia e da China?


Nem é preciso ter um vasto conhecimento de política internacional — podendo até ser ignorante a ponto de desconhecer o Tribunal Penal Internacional — para ter a consciência de que, mais do que nunca, na atualidade é necessário fortalecer organizações que exigem responsabilidade e respeito democrático mútuo entre as nações, especialmente no que toca ao território geográfico de cada país, que é algo que tipos como Putin não respeitam.


Qual é o governante de um país de baixo poder econômico e de estrutura militar precária que, no passo em que anda o mundo, seria idiota de levantar uma pauta que atende ao interesse de diminuir o poder de investigação e penalização internacional sobre autocratas invasores de terras estrangeiras, acusados de desrespeito aos direitos humanos, genocídio e crimes de guerra? Tinha que ser o Lula, claro.

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Por José Pires

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Lula e Janja e suas viagens para fora da realidade

E lá foi o Lula bater perna no exterior. Eu já disse aqui que o chefão petista vive exclusivamente em um mundo próprio, uma bolha, como se diz hoje em dia, onde não se dá importância ao que não é do interesse exclusivo dele. E aí está a Janja que não me deixa mentir. A primeira-dama está no mesmo tom. Logo que o casal apartado da realidade chegou à Índia nesta sexta-feira, ela postou nas redes sociais um vídeo comemorando. Na gravação, gargalhando de alegria, ela grita para a câmera: “Me segura, que eu já vou sair dançando”.


O vídeo foi retirado pouco depois da postagem, porque começaram a aparecer comentários condenando a atitude da primeira-dama, fazendo referência ao descaramento de um negócio desses quando toda uma região do Brasil sofre os efeitos de um terrível desastre natural.


A eufórica desavisada publicou essa coisa desrespeitosa exatamente em meio às críticas que Lula vem recebendo por não ter ido ao sul do país acompanhar o atendimento às vítimas do ciclone extratropical, que destruiu estradas e pontes, acabou com residências e locais de trabalho em várias cidades, desabrigou milhares de pessoas e já matou mais de quarenta pessoas.


Coitada da deslumbrada primeira-dama, ela só queria lacrar para ajudar sua cara-metade. Janja não larga o pé do seu coroa. Até agora não perdeu nenhuma viagem ao exterior. Engraçado que isso me trouxe a lembrança de uma época em que Lula tinha uma passageira clandestina nos voos da comitiva presidencial. A história acabou vazando depois, até com o nome da acompanhante que a FAB não registrava entre os passageiros.


Era uma presença assídua nas viagens de Lula ao exterior. Onde andará a Rose? Ela viajou ao lado de Lula para 24 países entre os anos de 2003 e 2010. Até para Cuba ela foi, sempre recebendo o pagamento de diárias em cada viagem. Em 2008, foram pagos 9.500 reais. Cito a quantia sem correção monetária. Neste ano ela acompanhou Lula a Gana, Peru, Espanha, Portugal, El Salvador e Cuba. Em 2010, as diárias chegaram a 15.000 reais. Sete países foram visitados: Cuba, México, El Salvador, Rússia, Portugal, Moçambique e Coréia do Sul. A então primeira-dama Marisa permanecia no Brasil, talvez em Atibaia com os netos, naquele sítio que não é do Lula.


As viagens de Rose — Rosemary Nóvoa Noronha, no oficial — foram descobertas a partir de um levantamento feito pela ONG Contas Abertas, depois de e-mails delas terem sido interceptados pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro, de novembro de 2012. A operação a derrubou de um cargo de nomeação direta de Lula, feita em 2005, como chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo. Escutas telefônicas da PF haviam flagrado Rose usando o nome de Lula para fazer tráfico de influência no escritório da Presidência na capital paulista.


Em setembro de 2013 a Controladoria-Geral da União (CGU) decidiu demiti-la do serviço público, o que impede que ela volte a ocupar um cargo público federal. E desde então, Rose evaporou. Sumiu. Nunca mais foi vista viajando em comitiva oficial do governo brasileiro.


Mas isso são coisas do passado. Ou narrativas, como se diz agora, que podem até ser refeitas, mudando totalmente os papéis, como o próprio Lula disse em público — ou confessou, para definir melhor seu ato falho — contando aos brasileiros que ele chegou a dar esse conselho ao ditador venezuelano Nicolás Maduro, talvez para que o autocrata criminoso dê um bom retoque no que andou fazendo com o povo da Venezuela, recontando melhor as prisões e torturas ou os tiros mortais em jovens manifestantes desferidos por milicianos governistas.


Na visão de Lula, a História, assim com agá maiúsculo, é um processo manipulável, conforme a ocasião e as alianças que podem ser feitas com as mais diferentes áreas de poder, quando ocorre uma sintonia entre os interesses em acabar com esse anacronismo de querer prender corruptos. Como sempre andou rodeado de esquerdistas, nesses anos todos Lula andou pegando de ouvido aquele conceito da história repetida como uma farsa. Claro que ele não deu bola alguma para o fato de que aquilo era uma crítica. Como diz a patroa, "me segura, que eu já vou sair dançando".

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Por José Pires

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Lula e as responsabilidades de decisões que ele não quer que os brasileiros conheçam

Lula parte para o exterior nesta quinta-feira e o que pode-se dizer de mais esta viagem é que, em vez de soltar por aqui suas asneiras, ele vai outra vez expor idiotices internacionalmente. Quando voltar, certamente trará com ele mais algumas encrencas para o nosso país. Em poucos meses de governo, Lula já marcou o Brasil internacionalmente como aliado de regimes comandados com mão de ferro por autocratas como Vladimir Putin, Xi Jinping e más companhias mais antigas, como Daniel Ortega, Nicolás Maduro e outros bandidos investidos de poder.


Talvez para compensar sua partida, Lula soltou nesta terça-feira uma declaração da pesada. O petista disse que, por ele, os brasileiros não deveriam saber os votos dos ministros do STF. Ele justificou sua proposta como uma forma de controlar a “animosidade” popular contra a instituição. É óbvio que, nesta visão, a população deveria ficar distante das decisões dos outros poderes.

 

Na fala de botequim de Lula fica melhor explicada sua concepção de fortalecimento das instituições. Ele disse o seguinte: ““Para a gente não criar animosidade, eu acho que era preciso começar a pensar se não era o jeito de a gente começar a mudar o que está acontecendo no Brasil. Do jeito que vai, daqui a pouco um ministro da Suprema Corte não pode mais sair na rua, não pode mais passear com a sua família, porque tem um cara que não gostou de uma decisão dele”.


Na verdade, o que Lula está propondo é um golpe contra a transparência das instituições. Na minha opinião foi um ato falho de um político que além de desonesto sempre teve ambições autoritárias. No ano passado, em razão de termos no poder um presidente estúpido como Jair Bolsonaro, andaram falando de que no fundo o petista seria um democrata. Pois isso ele nunca foi. O que me dizem do “mensalão”? Este esquema de suborno de parlamentares no seu primeiro governo foi não só compra de votos. Era também um cala-boca no Congresso Nacional para o PT ir aos poucos impondo um governo todo poderoso e nunca mais saírem do poder.


A ideia de um STF em que as decisões e seus autores permaneçam em segredo faz parte desse projeto autoritário de poder, que Lula nunca deixou para trás e pelo qual ficou mais animado, por causa do jeito que conseguiu sair da cadeia e ainda voltar à cena do crime, como bem falou seu vice Geraldo Alckmin.


Agora, já na idade avançada, em que o tempo acossa os seres humanos, o chefão petista está mais apressado A ansiedade pode explicar o ato falho. Medidas de anulação de qualquer tipo de transparência são fundamentais para seu delírio de grandeza e algumas dessas decisões antidemocráticas vêm sendo colocadas em práticas, a começar, é claro, pelo clima de intimidação contra a discussão crítica entre a opinião pública.


Um STF ditando regras em segredo teria efeitos importantes para os planos de Lula, com a anulação de condenações de aliados e o tratamento amigável de processos do interesse dele e de seus cupinchas, sendo também muito útil para condenar adversários que ele e seu partido não conseguem comprar. Não que isso já não esteja ocorrendo. O STF já não se envergonha de liberar criminosos, mesmo os do crime organizado, que por sinal está cada vez mais parelho com a bandidagem de colarinho branco.


No entanto, o ato falho da proposta de um STF que funcione como um clube secreto acabou tendo um efeito contrário ao que ele com certeza vinha procurando articular. A determinação constitucional de transparência do Judiciário

acabou ficando fortalecida. Houve uma reação bastante forte, com quase nenhum apoio a esta ideia esdrúxula, própria de um traidor da pátria, no sentido da grande frase de Ulysses Guimarães, que disse no final da Assembleia Constituinte que “Traidor da Constituição é traidor da pátria”.


Uma boa referência da má intenção de Lula é uma figura destacada nos últimos tempos, que defendeu de imediato o que ele falou. Para o ministro da Justiça, Flávio Dino,colocar sob sigilo os votos de ministros do STF é um “debate válido” e disse que “em algum momento esse debate vai se colocar”. Isso é o que se chama “lugar de fala”: Dino passou a vida no PCdoB, partido que chegou até a fazer guerrilha para presentear o Brasil com um regime espelhado no comunismo chinês.


Para não perder a ocasião, Dino aproveitou para mentir sobre o tema. O ministro disse que na Suprema Corte dos Estados Unidos a decisão também é secreta. Na verdade, não é assim: o nome dos ministros e a posição de cada um é revelada em qualquer decisão.


Para mim, o ato falho de Lula é apenas a exposição pública do que pode estar sendo tramado desde a conquista deste terceiro mandato, com a promessa da defesa da democracia e contra o fascismo, o genocídio e outras ameaças terríveis. Alguém duvida que este plano contra a transparência e a democracia estava em andamento e que Lula apenas se adiantou bestamente na questão?


Não é a primeira vez que Lula apronta algo parecido, como se estivesse alienado do que passa à sua volta. Ultimamente ele vive dando essas bolas foras, colocando em risco planos mais elaborados, como ocorreu recentemente nas suas asneiras sobre a agressão da Rússia contra a Ucrânia, que ele afirmava ser culpa dos países ocidentais e ser possível resolver com uma cervejinha.


Como ele próprio diz, estará com “um parafuso solto”? Nada disso. É apenas consequência do petista viver em um mundo próprio, onde as palavras e a relação com o próximo obedecem apenas ao objetivo de enganar as pessoas e obter ganhos na maior quantidade possível. Lula sempre fez tudo “de ouvido”, como se diz. O problema é que isso parece ter ficado mais difícil de ser feito.


Na própria live semanal em que soltou essa proposta indecente de um STF secreto, ao falar da prematura reforma de ministérios de seu governo, ele saiu-se com a velha comparação com futebol, que ele usa para qualquer assunto. Tudo bem, releve-se o universo cultural muito restrito. Mas ao que parece, até futebol é algo que ocupa sua cachola de forma superficial. 


Para encaixar a comparação entre esporte e a substituição de ministros, o petista fez uma pergunta ao âncora da live: “Você assiste futebol”? Pois o tal âncora é o jornalista Marcos Uchôa, que trabalhou na Rede Globo por mais de três décadas, onde cobriu várias copas do mundo, inclusive em que a Seleção Brasileira foi a vencedora.

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Por José Pires