terça-feira, 14 de novembro de 2023

Os encontros do crime organizado com a equipe de Flávio Dino no Ministério da Justiça

O governo Lula tem escândalos que permitem optar entre duas conclusões: são incompetentes ou cúmplices. Está bem, pode acontecer de ser as duas coisas. Os assessores do ministro da Justiça, Flávio Dino, receberam no ministério uma integrante do Comando Vermelho. Luciane Barbosa Farias foi condenada em segunda instância por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa. É conhecida como “dama do tráfico amazonense”. Pegou dez anos de cadeia, mas recorre em liberdade. O governo que a recebeu em reunião tem como líder máximo aquela notória figura que saiu da cadeia depois da prisão em segunda instância ter sido derrubada, após insistência na mais alta corte do judiciário brasileiro. Já avisei várias vezes que a aliviada seria obrigatoriamente geral, para todo tipo de criminoso.


A reunião no Ministério da Justiça foi revelada pelo jornal "O Estado de S.Paulo". A dama do tráfico amazonense esteve em duas ocasiões com secretários do ministro. Seu nome não foi registrado na agenda oficial. Luciane esteve também no Ministério dos Direitos Humanos, de Silvio Almeida. No ministério de Dino, ela esteve em março com Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos. Ela também se reuniu com a diretora da Ouvidoria Nacional de Serviços Penais (Onasp), Paula Cristina da Silva Godoy, e com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen), além de Sandro Abel Sousa Barradas, diretor de Inteligência Penitenciária da Senappen.


Em Brasília, a partir do encontro com o secretário Nacional de Assuntos Legislativos, Luciane foi encaminhada para a Secretaria Nacional de Políticas Penais. Ela pedia melhorias nas condições dos presos. Uma reivindicação recorrente dessas Ongs é a do fim do que chamam de “vistorias vexatórias”, que é o rigor nas revistas, necessário para evitar um leva-e-traz de ordens de lideranças do crime. 


A amenização do rigor no sistema penitenciário tem um histórico de apoios organizados da esquerda. Na penalização de crimes e no cumprimento de penas a esquerda brasileira tem uma forte tendência de usar a política para amenizar o rigor da lei. Ao mesmo tempo que gritava pelo esclarecimento do assassinato da vereadora Marielle, na Câmara dos Deputados o Psol manobrava para derrubar projetos de lei contra o crime organizado. E enquanto passam pano para bandidos, vão estendendo a impunidade — à jato, vale o trocadilho — na leveza ao tratamento da corrupção. Ninguém mais vai preso por roubar os cofres públicos.


O ministro Dino já disse que não sabia de nada da reunião de seus secretários com a sentenciada. Com esta alegação, apenas repete o chefe. O sabichão nunca sabe de nada. Lula não sabe nem como foi que Janja chegou um dia de sapatinhos de cristal e sua carruagem de abóboras no acampamento petista em volta da Polícia Federal, onde ele estava preso em Curitiba, disse-lhe “namastê”, ele se encantou e a convidou para viajarem de mãos dadas pelo mundo. 


Em nota explicativa, o Ministério da Justiça se refere à Luciane Barbosa Farias como “cidadã”. Pois bem, a cidadã é esposa de Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, líder da facção criminosa Comando Vermelho no Amazonas. Ele foi condenado a 30 anos de prisão, mas nunca se sabe até quando ficará na cadeia. O mesmo andamento judicial que soltou Lula costuma liberar de uma hora para outra lideranças do crime organizado. E mesmo quando algum ministro resolve consertar o “erro”, anulando a soltura, o ingrato não volta mais.


No governo Lula se preocupam unicamente com o estrago político causado pela reunião, quando se sabe, ou se devia saber, que deve-se evitar o contato com gente de periculosidade tão alta por causa das implicações perigosas que esta relação pode trazer. Calma, ninguém vai atirar no ministro Dino. Ele tem o escudo do Capitão América. Mas é preciso se cuidar.


Claro que faço o alerta sobre autoridades empenhadas na luta contra o crime. Se não houver este foco no combate a criminosos dispensa-se o zelo de perguntar com quem se tem o prazer de conversar nos amigáveis gabinetes de Brasília.


Serão amadores no ramo? Dino, conforme ele mesmo disse, é o “Capitão América”, então não tem o que temer. Porém, qualquer cidadão de menor conhecimento técnico que vive em bairro dominado por alguma facção ou mesmo alguns bandidinhos sabe que com sujeitos armados não se deve ter intimidade. Reunião que pode criar ligações, digamos, psicológicas, ministro Dino, nem pensar. 


Mas o ministério do Dino vê a coisa de outro modo. Para o ministério, era impossível o setor de inteligência da pasta detectar previamente a presença da dama do tráfico amazonense. Isso significa que nas reuniões com altas autoridades do Ministério da Justiça entra qualquer um — Olha o escudo, Dino: pode entrar um vilão que não é companheiro. Já o Estadão destaca, com razão, que “a falta de controle pode representar um risco para os servidores”. Os honestos, cabe dizer.


É óbvio que não foi recentemente que Luciane Barbosa Farias ficou conhecida como “dama do tráfico amazonense”. Antes de ser preso em dezembro do ano passado, seu marido Clemilson dos Santos Farias, conhecido como “Tio Patinhas”, era considerado o “criminoso número um” entre os procurados pela polícia do Amazonas. Segundo a polícia, de 2012 para cá o casal enriqueceu com o dinheiro do tráfico de drogas. 


Uma dica boa de segurança para Dino é que ele deveria dar uma pesquisada antes de abrir as portas do ministério para visitas. Sem querer desmerecer a sapiência dele, que é tido como o ministro mais esperto de Lula, que já deu bronca até no Mossad, organismo de inteligência e ação militar do governo de Israel famoso no mundo todo, além de ser capaz de enfrentar, no mesmo nível, oponentes como o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira. Dino é o cara. 


Deve ter alguém no ministério que saiba percorrer os organismos de Estado, da segurança e das diversas polícias, para dar uma conferida no elemento que bate à porta. Uma simples busca no Google já traz a capivara gritando. Uma clicada no lugar certo e lá vem um processo por “tráfico de drogas e condutas afins”, com Luciane Barbosa Farias como ré.


É só uma dica. Creio que até na equipe do ministro Dino encontrem com relativa facilidade algo sobre uma pessoa denominada “dama do tráfico”, que além disso estaria presa se o PT não derrubasse a prisão em segunda instância. Pode evitar “erros”, como já estão chamando o encontro suspeito.


A coisa já está pronta para ser abafada. Com o apoio do silêncio que virá de parte da imprensa, totalmente domada com verbas públicas. Se em outro governo acontecesse muito menos do que estamos vendo, os petistas já teriam pedido a demissão do ministro. Em certos casos, colocariam para gritar nas ruas seus puxadinhos políticos e sindicais e as organizações fajutas. 


Agora, a oposição ao governo petista já pede a saída de Dino. Já tem até pedido de impeachment. Está havendo também um debate nas redes sociais, porém os brasileiros estão desgastados até a alma. Nem fazer piada está ajudando mais a amenizar o desgosto. A esperança é quase nenhuma, até porque para resolver alguma coisa é necessário existir algo melhor como substituição. 


No entanto, o escândalo terá ao menos um efeito. Provavelmente se saberá menos de encontros de altas autoridades de Brasília com figuras do crime organizado, embora o motivo não seja pelas portas não mais estarem abertas.

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Por José Pires

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