E não é o único caso jurídico em que a presença de Thomaz Bastos parece que foi bem desgastante para a sua imagem. É óbvio que ele deve ganhar bastante dinheiro com isso, mas será que o custo-benefício compensa? O ex-ministro alcançou uma condição em que sua presença num tribunal sempre chama mais atenção que a do réu que defende. É claro que sendo assim, dependendo do caso é impossível distanciá-lo das implicações políticas do crime de que seu cliente é acusado.
Além da defesa de Cachoeira o ex-ministro também participa do julgamento do mensalão. Defende um dos peixes menores do cardume de tubarões ligados ao PT, o ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado. Mas até isso torna sua presença no caso mais suspeita.
O caso do bicheiro Cachoeira interessa tanto ao ex-presidente Lula — seu chefe quando ele era ministro da Justiça — que até resultou numa CPI que o PT pretendia usar para atingir os adversários. E o mensalão guarda relações estreitíssimas com Thomaz Bastos. O caso estourou quando ele comandava a pasta da Justiça, mas no entanto, sua atuação foi no sentido de apoiar as autoridades e dirigentes políticos acusados do crime, atuando até no papel de conselheiro jurídico e político de mensaleiros e também de Lula.
Sei que no Brasil pode até parecer purismo, mas ainda acredito que o dever de um ministro da Justiça numa situação daquelas tinha que ser o de agir com rigor e buscar o esclarecimento, até porque aquele esquema pretendia golpear a próprio funcionamento do Estado.
Mas o fato é que quando foi ministro ele atuou políticamente de forma intensa durante as crises do governo Lula e depois veio pegar esses dois casos cabeludíssimos e de tantas relações com o interesse de Lula e seus companheiros. A saída do caso Cachoeira só ameniza o pesado desgaste de ter entrado. E no mensalão ele não tem outro jeito senão de ir até o fim.
Independente do que aconteça daqui pra frente, politicamente Thomaz Bastos já foi derrotado nos dois casos, pois foi atingido de forma inapelável na sua imagem. É impressionante ver alguém tão experiente cometer desse jeito um erro após o outro. Me parece que faltou ao ex-ministro a assessoria de um Márcio Thomaz Bastos.
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POR José Pires
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Imagem: O então ministro Márcio Thomaz Bastos em reunião com o chefe e o então colega José Dirceu, citado pela PGR como o "chefe da quadrilha" do mensalão.