O pessoal que anda fazendo sociologia revolucionária com os rolezinhos tem carecido bastante de trabalho de campo, mas já que não querem dar um rolê na periferia para verificar que a moçada não está nem aí para a luta de classes podiam ao menos dar uma sapeada nos jornais. Numa reportagem publicada hoje no Estadão, por exemplo, um importante “objeto de estudo” desmente as teorias fraudulentas que estão por por aí aos montes.
Vinicius Andrade tem 17 anos e mora no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo. Ele tem quase cem mil seguidores no Facebook e é um dos organizadores dos encontros combinados pela internet. Vinícius não está nem aí para “denúncia social”. É provável até que para obter uma declaração do rapaz, o jornalista tenha sido obrigado a explicar o significado desse termo usado o tempo todo pelos sociólogos de araque. A opinião de Vinícius é seguinte: "Nosso objetivo é curtir, tirar umas fotos e dar uns beijos. Não queremos saber de política. A gente não queria essa polêmica toda".
Ele foi ouvido pela imprensa no dia de sua filiação e de mais dois colegas líderes de rolezinhos à União da Juventude Socialista (UJS), entidade ligada ao PC do B e que comanda União Nacional dos Estudantes (UNE). Foi um dia de surpresas para Vinícius. Ele ficou espantado ao saber pelos jornalistas que a UJS é controlada por um partido político. "Eu não sabia que era um grupo político. Eles disseram que a UJS é um grupo de amigos e que ela não tem nada a ver com partido. Se tiver, eu vou me afastar", ele disse.
Em matéria de oportunismo o PCdoB nunca perde tempo. A filiação da trinca de rolezeiros foi uma jogada de marketing político da campanha de Netinho de Paula para deputado estadual. Netinho hoje é secretário da Igualdade Racial de Fernando Haddad. O cargo foi o prêmio de consolação que ganhou de Lula depois da desistência de se candidatar à prefeitura paulistana nas últimas eleições. O ex-presidente ofereceu até um programa de TV para Netinho, promessa que até agora não foi cumprida.
O PCdoB usa há bastante tempo a tática de dominar instituições representativas da juventude, como diretórios estudantis do ensino secundarista e do ensino superior. A UNE é a conquista mais importante do partido. Nestas ações são usados inclusive militantes que atuam como “estudantes profissionais”, permanecendo longos períodos matriculados nos cursos apenas para fazer política. São quadros partidários treinados para defender exclusivamente o interesse do PCdoB junto à juventude. Agora até os rolezinhos estão na mira política do partido.
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Por José Pires
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Imagem - Rolezinho socialista: O mano toma suas primeiras lições de política revolucionária na cartilha da UJS.