Depois da fala do ministro Joaquim Barbosa sobre a absolvição dos mensaleiros do crime de formação de quadrilha, quando ele fez um oportuno alerta, apareceu a senadora petista Gleisi Hoffmann para atacá-lo usando um discurso que mostra todos os alinhavos mal dados da construção marqueteira. Falando do alerta do ministro sobre a "maioria de circunstância" criada no STF para inocentar os mensaleiros, Gleisi Hoffmann firmou que então a própria indicação de Barbosa estaria sob suspeição. E não é que desta vez ela tem razão?
O problema é que a intervenção da senadora petista está errada inclusive no que ela acertou. A indicação de Joaquim Barbosa foi feita mesmo de forma suspeita. Da parte do então presidente Lula realmente pesam todas as suspeitas: ele esperava de Barbosa no Judiciário uma postura submissa ao Executivo. Em conversas de bastidores que fez questão de vazar para a imprensa Lula já deixou claro sua decepção com o ministro. Ele disse que indicar Barbosa para o STF foi "seu maior erro".
E nisso eu também concordo com o ex-presidente. Só que a decepção de Lula conta a favor da honestidade de Barbosa. É óbvio que o ministro se insurgiu contra as tentativas de manipulação de Lula. E pela irritação do ministro tempos atrás deve ter rolado coisas muito indecorosas nos bastidores. Pode ter sido até pior do que houve com o ministro Gilmar Mendes, que chegou a ser ameaçado por Lula em reunião entre os dois. Se Lula fez isso com Mendes, que é ministro por indicação de Fernando Henrique Cardoso, dá para imaginar o que pode ter feito com Barbosa. A personalidade mandona do chefe petista é fogo.
Da parte do interesse de Lula cabe realmente suspeição da indicação de Barbosa, porém o ministro manteve o rumo digno de sua carreira. E isso foi uma decepção para Lula. A análise de Gleisi Hoffmann também não pode ser levada a sério em razão do histórico da sua habilidade como avaliadora e até avalizadora do caráter alheio. Até há pouco a senadora foi ministra-chefe da Casa Civil do governo Dilma e teve neste cargo uma atitude que depõe de forma definitiva contra sua capacidade: ela nomeou para trabalhar ao lado da presidente da República um sujeito que foi preso como estuprador de menores. A prisão se deu com ele como assessor da ministra.
Seu nome é Eduardo Gaiveski e ele está preso até hoje sob a acusação de abusar sexualmente de meninas pobres. É acusado inclusive de ter usado sua posição política não só para se aproveitar das menores como também para pressionar testemunhas e os pais das vítimas. E foi esta "sábia" da Gleisi Hoffmann que depois de longa convivência política nomeou esta pessoa para trabalhar ao lado da presidente da República.
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Por José Pires