terça-feira, 6 de junho de 2017

O deslize de Temer e a sorte da Lava Jato

Quando investigações estão em curso, o mais banal deslize dos investigados pode permitir que se abram os caminhos para pistas que pareciam impossíveis de aparecer. O encontro noturno do presidente Michel Temer com Joesley Batista, dono da JBS, foi uma rara ocasião dessas, em que aparecem pontas que encaminham para muitos assuntos que antes pareciam que iriam morrer na lista de crimes insolúveis. A lista de perguntas encaminhadas pela Polícia Federal a Michel Temer deve ter feito o ainda presidente da República ficar muito preocupado não só pelo que conversou com Joesley, mas com fatos que pelo jeito já é do conhecimento da polícia, faltando apenas colher as provas. Se é que falta isso. Não só pelos indícios que permitem um aprofundamento, mas especialmente pela possibilidade da abertura de uma investigação sobre o presidente, o descuido de Temer é um desses incidentes que parecem coisa de histórias de detetives. Porém, a vida também transcorre do mesmo jeito.

Uma olhada nas 82 questões mostram questionamentos que fazem crer que a PF e o Ministério Público buscam apenas amarrar as pontas certas de um emaranhado já sob seu controle, com o qual podem obrigar Temer a responder até por suspeitas que atravessam décadas, em negócios obscuros no Porto de Santos que sempre foram objeto de falatório nos meios políticos. As perguntas pedem esclarecimentos sobre variados temas, bem além do que aparece nos áudios da conversa com o dono da JBS, chegando até esta questão antiga, de Santos, em uma indagação sobre a “relação de proximidade” do presidente “com empresários atuantes no segmento portuário, especialmente de Santos/SP”, inclusive dando o nome de determinado empresário.

Claro que pediram para ele esclarecer o sentido da orientação a Joesley, quando disse a frase famosa: "Tem que manter isso, viu?". Ah, e tem também o Edgar, nome de um cara que facilita tudo, que é citado em conversas do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, cuja relação com o presidente em negócios escusos parece ser muito mais ampla do que simplesmente ir pegar mala de dinheiro para o chefe. E quem é Edgar? Vamos esperar pelas respostas de Temer.
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POR José Pires

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