Escrevi na última segunda-feira sobre a professora de filosofia e escritora Marcia Tiburi, que é chamada de “filósofa” em todo lugar. O que andam fazendo com esse título é de fazer Sócrates tomar cicuta por uma segunda vez. Hoje em dia qualquer um é filósofo. Basta fazer sucesso nas redes sociais e obter alguns milhares de seguidores fanáticos para a pessoa passar a ser aclamada como tal. E os jornalistas logo entram na corrente, apresentando a figura dessa forma nas matérias e entrevistas. Ora, se todos são professores qual é a diferença entre esses que alcançam a fama na internet e seus colegas da universidade? Evidentemente não é o fato de serem "filósofos". Talvez o diferencial seja de vaidade e pode ser também que os que não saem fazendo palestras e aparecendo em vídeos sejam mais sérios como professores.
Mas eu falava aqui da fuga de Tiburi de um debate com Kim Kataguiri, na rádio Guaíba, de Porto Alegre. A escritora e petista de carteirinha estava na capital gaúcha em apoio ao ex-presidente Lula, no dia em que ele foi condenado em segunda instância no TRF-4 por corrupção. Na hora de defender o chefão petista, Tiburi não usa a filosofia para falar. Um pouco antes de dar o pira com a chegada do líder do MBL, a ativista de esquerda chamava um dos desembargadores de “sujeito abjeto”. Foi tão fora de propósito que o apresentador do programa, Juremir Machado até desconversou. Dias antes, Tiburi havia feito um discurso agressivo, em evento de apoio a Lula, no Rio de Janeiro, quando disse que o STF “é uma bosta”.
Apesar da fama instantânea como filósofa, Tiburi parece não se dar conta do que passa a seu redor. Lula e Dilma Rousseff foram responsáveis por sete indicações neste tribunal, que conta com 11 ministros. Evidentemente o dedaço de Lula esteve atrás por detrás das nomeações feitas por Dilma. Daí que o que foi dito por Tiburi tem o significado de jogar bosta em quem ela pensava estar apoiando com o discurso grosseiro. Mas, também, qual é o grau de conhecimento, nem vou falar filosófico, mas conhecimento político de alguém que, poucos dias antes de sua segunda condenação por corrupção, chama Lula de “futuro presidente” em vez de notável candidato ao xilindró?
Porém, o tempo é senhor da razão, como costumava repetir aquele outro apoiador e aliado antigo de Lula, o ex-presidente Fernando Collor. Andaram indo atrás do que Marcia Tiburi esteve fazendo no tempo anterior à esta veemente adoração por Lula e descobriram que nos últimos cinco anos a "filósofa" recebeu o total de R$ 77 mil reais por palestras sobre “ética”, dadas por ela em órgãos estatais como Embrapa, Delegacia da Receita Federal e universidades federais. Uma palestra sobre “Direitos das Mulheres” para a bancada feminina da Assembleia Legislativa de Santa Catarina rendeu-lhe de uma vez R$ 12 mil em 2017. O logotipo das estatais brasileiras, como a da saqueada Petrobras, está sempre por detrás do que essa gente faz, estimulando seu gogó com a grana pesada do patrocínio.
Para alcançar de forma investigativa os níveis políticos e filosóficos desse pessoal que até agora ainda anda na cola de Lula, falando mal da Justiça, do Ministério Público, da Polícia Federal e de pessoas de bem, o conselho é o mesmo indicado para ir atrás de rastro de corrupto: “siga o dinheiro”. Mesmo que em meio aos palavrões em apoio a Lula existam elucubrações pretensamente filosóficas, o que domina o discurso é a linguagem de panfleto. E pelo que se vê, o funcionamento é ativado da mesma forma financeira da publicidade política, com as línguas agitadas pela grana e os benefícios na vida pessoal e na profissão. O duro é que usem o título de “filósofo” para isso. Eu disse de início que Sócrates poderia beber a segunda dose de cicuta? Talvez bebesse também a terceira.
.........................
POR José Pires