quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

A inspiração filosófica de Marcia Tiburi no apoio a Lula

Escrevi na última segunda-feira sobre a professora de filosofia e escritora Marcia Tiburi, que é chamada de “filósofa” em todo lugar. O que andam fazendo com esse título é de fazer Sócrates tomar cicuta por uma segunda vez. Hoje em dia qualquer um é filósofo. Basta fazer sucesso nas redes sociais e obter alguns milhares de seguidores fanáticos para a pessoa passar a ser aclamada como tal. E os jornalistas logo entram na corrente, apresentando a figura dessa forma nas matérias e entrevistas. Ora, se todos são professores qual é a diferença entre esses que alcançam a fama na internet e seus colegas da universidade? Evidentemente não é o fato de serem "filósofos". Talvez o diferencial seja de vaidade e pode ser também que os que não saem fazendo palestras e aparecendo em vídeos sejam mais sérios como professores.

Mas eu falava aqui da fuga de Tiburi de um debate com Kim Kataguiri, na rádio Guaíba, de Porto Alegre. A escritora e petista de carteirinha estava na capital gaúcha em apoio ao ex-presidente Lula, no dia em que ele foi condenado em segunda instância no TRF-4 por corrupção. Na hora de defender o chefão petista, Tiburi não usa a filosofia para falar. Um pouco antes de dar o pira com a chegada do líder do MBL, a ativista de esquerda chamava um dos desembargadores de “sujeito abjeto”. Foi tão fora de propósito que o apresentador do programa, Juremir Machado até desconversou. Dias antes, Tiburi havia feito um discurso agressivo, em evento de apoio a Lula, no Rio de Janeiro, quando disse que o STF “é uma bosta”.

Apesar da fama instantânea como filósofa, Tiburi parece não se dar conta do que passa a seu redor. Lula e Dilma Rousseff foram responsáveis por sete indicações neste tribunal, que conta com 11 ministros. Evidentemente o dedaço de Lula esteve atrás por detrás das nomeações feitas por Dilma. Daí que o que foi dito por Tiburi tem o significado de jogar bosta em quem ela pensava estar apoiando com o discurso grosseiro. Mas, também, qual é o grau de conhecimento, nem vou falar filosófico, mas conhecimento político de alguém que, poucos dias antes de sua segunda condenação por corrupção, chama Lula de “futuro presidente” em vez de notável candidato ao xilindró?

Porém, o tempo é senhor da razão, como costumava repetir aquele outro apoiador e aliado antigo de Lula, o ex-presidente Fernando Collor. Andaram indo atrás do que Marcia Tiburi esteve fazendo no tempo anterior à esta veemente adoração por Lula e descobriram que nos últimos cinco anos a "filósofa" recebeu o total de R$ 77 mil reais por palestras sobre “ética”, dadas por ela em órgãos estatais como Embrapa, Delegacia da Receita Federal e universidades federais. Uma palestra sobre “Direitos das Mulheres” para a bancada feminina da Assembleia Legislativa de Santa Catarina rendeu-lhe de uma vez R$ 12 mil em 2017. O logotipo das estatais brasileiras, como a da saqueada Petrobras, está sempre por detrás do que essa gente faz, estimulando seu gogó com a grana pesada do patrocínio.

Para alcançar de forma investigativa os níveis políticos e filosóficos desse pessoal que até agora ainda anda na cola de Lula, falando mal da Justiça, do Ministério Público, da Polícia Federal e de pessoas de bem, o conselho é o mesmo indicado para ir atrás de rastro de corrupto: “siga o dinheiro”. Mesmo que em meio aos palavrões em apoio a Lula existam elucubrações pretensamente filosóficas, o que domina o discurso é a linguagem de panfleto. E pelo que se vê, o funcionamento é ativado da mesma forma financeira da publicidade política, com as línguas agitadas pela grana e os benefícios na vida pessoal e na profissão. O duro é que usem o título de “filósofo” para isso. Eu disse de início que Sócrates poderia beber a segunda dose de cicuta? Talvez bebesse também a terceira.
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POR José Pires

O governo de absurdos de Michel Temer

O Brasil já suportou nos últimos anos muito governo que é uma piada de mau gosto, mas em matéria de cretinice esse governo de Michel Temer parece insuperável. Mesmo com um mandato menor que todos os outros, Temer vem liderando em vexames de aliados e também com os papelões protagonizados por ele mesmo, às vezes em encontros noturnos. O país do “rouba, mas faz” tem agora o governo do “rouba, mas faz gargalhar”. Qual é o governo em que o braço direito do presidente da República saiu em uma corridinha pela calçada, puxando uma mala cheia de dinheiro? Só o do Temer. E em qual governo o escândalo entra pela garagem do palácio habitado pelo presidente? Dele, Temer, claro. No governo de Lula fez-se muita besteira, roubou-se bastante, da mesma forma que no governo de sua sucessora, a impagável Dilma Rousseff. Mas Temer vem superando esses desastres dos antigos aliados, mostrando ainda mais capacidade de ser grotesco.

Parece que as piadas são trabalhadas por um roteirista de humor, preocupado em ressaltar os contrastes e expor situações absurdas que deixem muito claro a falta de seriedade. Mas pode ser que estejam pesando a mão. As cenas são exageradas, de forma que se não fossem a pura realidade deste governo, teriam de ser amenizadas para ficarem mais aceitáveis como ficção. Não seria fácil para um roteirista fazer emplacar numa ficção a ideia de um ministro do Trabalho que perdeu na Justiça uma ação trabalhista por não registrar com carteira assinada um empregado. Esse escritor se complicaria ainda, caso juntasse ao roteiro o mesmo ministro sentando a lenha na Justiça do Trabalho em uma cena de lazer filmada em um iate, evidentemente depois de uns bons grogues, com vários parceiros ao lado da autoridade, todos na maior intimidade, em traje de banho e peito depilado, usando de credibilidade para dar uma força: “Quem é que já não foi processado por um trabalhador? Eu já fui, ele também, todos nós”.

E imaginem se o nome da personagem fosse Cristiana Brasil e ainda por cima com essa figura brigando até no STF para se manter no cargo. Tudo ficaria muito fora da realidade. Tem esse nome de fantasia, chavões demais em cena, situações improváveis, não daria para colocar no ar. Será que a plateia de um programa de humor aceitaria o que o governo Temer vem sendo na realidade? Do jeito que as coisas andam, com uma patetice atrás da outra, até fica parecendo que tudo é uma armação combinada de Temer com o ex-presidente Lula e a ex-titular de sua chapa, que sofreu impeachment. É tanta besteira desde que Temer assumiu o cargo, que dá para acreditar que esse presidente trabalha para amenizar a desastrosa imagem dos outros dois, com o objetivo de desviar a atenção do pesadelo que foi o período do PT no governo. Com tanta teoria da conspiração por aí, por que não mais esta? Pelo menos serviria para Michel Temer parecer menos idiota.
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POR José Pires

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Sônia Braga e Caetano Veloso nos embalos petistas

O jornal O Globo dá a notícia de que Sônia Braga e Caetano Veloso assinaram o manifesto “Eleição sem Lula é fraude”, em apoio ao chefão petista condenado em segunda instância por corrupção e réu em mais cinco processos de corrupção pesada e vergonhosa, sem falar nos inquéritos que correm e nas ilegalidades que ainda devem aparecer. O “ Brahma” não é fácil.

É bastante antiga a relação entre Caetano e Sônia Braga. Já rolou entre os dois inclusive uma paixão ligeira, da qual nasceram duas músicas muito bonitas, “Tigresa” e “Trem das cores”. Esta última é uma das canções mais bem resolvidas do compositor, na linha de suas criações mais simples, com um toque de crônica de alta qualidade. O verso “A seda azul do papel que envolve a maçã”, muito simples e muito fácil, sempre pareceu para mim uma das frases mais bem postas em uma música popular.

Já “Tigresa” é bem uma canção de época. Está datada, mas nem por isso perdeu a validade. É um retrato muito bem tirado de um tipo de mulher muito marcante dos anos 70, feito com uma habilidade que impede que a obra tenha ares de foto antiga. A imagem ainda é muito expressiva. Traz o calor de uma relação amorosa descompromissada com as formalidades de comportamento ainda muito fortes nessa época (Meninos, eu vi!), com a ditadura já encaminhando para uma finalização política bem amarrada por democratas habilidosos da oposição e setores mais sensatos do regime militar.

Desde que foi feita, “Tigresa” era associada somente a Sônia Braga, porém, há pouco tempo, em 2015, Nelson Motta revelou que a música na verdade teve duas musas. A outra é a atriz Zezé Motta. Quem viveu essa época com atenção consegue distinguir entre as duas, em cada referência da letra da canção, que a meu ver tem muito mais de Sônia do que de Zezé. Uma delas é o trecho em que ele diz que “as garras da felina” marcaram seu coração, “mas as besteiras de menina que ela disse, não”. Isso é puro Sônia Braga, grande atriz e mulher de muita fibra, que ajudou a remexer com vigor aqueles tempos tão travados. Esse “besteiras de menina” lembra os rompantes da atriz, até muito comuns naquela época em que tínhamos tão pouca informação e todo mundo era jovem, mesmo o Caetano e a Sônia.

interessante é que com o passar do tempo, Sônia Braga não largou suas besteiras de menina, como se viu em 2016 quando portou cartazes em apoio a Dilma Rousseff durante evento no festival de cinema de Cannes. Com isso, associou sua carreira a um bando de gatunos e incompetentes e marcou negativamente também o filme que protagoniza, no qual dizem que ela está muito bem. Hoje em dia ela é uma mulher madura, mas em política continua pensando como uma menina. E agora vem também Caetano Veloso, já passando dos setenta anos, ele também ainda com besteiras de menina. Que a obra de ambos amenize o vexame histórico dessas bobagens que nos tocam o coração de forma decepcionante.
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POR José Pires

Marcia Tiburi versus Kim Kataguiri: a fuga da musa dos petistas

Veio em boa hora o desnudamento da hipocrisia ocorrido neste episódio da professora de filosofia e escritora Marcia Tiburi, fugindo a um debate com Kim Kataguiri, um dos líderes do Movimento Brasil Livre, o MBL. A cena é cômica. Tiburi chega a receber um beijo de Kataguiri e logo depois reclama com o apresentador Juremir Machado pela aparição repentina dele no estúdio. Ela não sabia que debateria com o líder ativista. O outro debatedor convidado foi o senador Roberto Requião, do PMDB do Paraná, que chegou bem depois da despirocada dar o pira.

Apesar de exibir no debate com Kataguiri a arrogância costumeira, o senador Requião recebeu a surpresa com relativo bom humor. O apresentador Juremir Machado — jornalista e escritor gaúcho que vem fazendo bons debates na rádio Guaíba sobre a conjuntura atual na cultura e na política — esclareceu que de fato nenhum dos três convidados foi informado sobre os outros participantes do programa, no que ele classificou como uma “rateada” da produção.

Mas nos interessa mais a rateada de Marcia Tiburi, no seu strip-tease psicológico ao vivo. Ela é a atual musa desse petismo de gatos pingados em torno de um líder populista e gatuno, já condenado em segunda instância. Até publicou um livro com a palavra de ordem mais usada pela esquerda para xingar os adversários, com o título bravateiro e contraditório de “Como conversar com um fascista”. Sobre a qualidade da obra, basta dizer que o prefácio é do deputado Jean Wyllis, adepto, como todo mundo sabe, não do diálogo, mas da filosofia do cuspe no adversário. E os fascistas são os outros. O vexame de Tiburi na rádio Guaíba desmonta o modo de ser dos companheiros, sempre na linha de acusar os outros daquilo que na verdade são eles que fazem.

Não vou acusá-la de ter agido como fascista, pois não sou petista. Foi apenas um ato falho que revelou sua real personalidade e a tremenda incompetência de uma esquerda que levanta a bola o tempo todo para o adversário e ainda assim acha que levou vantagem. Já faz um tempo que esse pessoal se faz de valente em situações em que não corre risco físico algum, como essa coisa idiota de chamar qualquer um de fascista. Bem, para começo de papo, fascista não conversa. De tudo que se conhece do fascismo, na teoria e na prática, algo indiscutível é que os fascistas são extremamente violentos fisicamente. Kim Kataguiri tem seus defeitos, mas nenhum comporta a violência física. Kataguiri não é fascista nem uma “pessoa perigosa”. O que a professora disse antes de sair correndo do estúdio e apenas um insulto tolo.

Do ponto de vista jornalístico Juremir Machado pode ter errado em não avisar nenhum dos convidados de que haveria um debate, mas o próprio Kataguiri também não sabia quem iria encontrar no estúdio e nem teve um piti de petista. Até deu uma beijoca no rosto da musa do petismo. E o líder do MBL é quem teria mais razão em reclamar dos inesperados encontros. Encarar Requião e a senhora Tiburi no mesmo dia não é para qualquer estômago. Mas a vida tem esses lances inesperados, o que por sinal é o que pode dar qualidade e até alguma animação a atividades no geral muito chatas, como a política. Ao menos em teoria, a professora de psicologia deveria saber disso muito bem. Além de que, na posição dela, os últimos tempos foram de reviravoltas de muita emoção, que aliás ainda vão prosseguir: Tiburi terá a chance de fazer muita "filosofia" quando finalmente o chefão idolatrado por ela estiver sendo preso.
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POR José Pires


Veja aqui o vídeo de Marcia Tiburi fugindo do debate com Kim Kataguiri

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Lição do 24 de janeiro para o PT

Esquerdista gosta muito de falar em “Lições da História”, pois desse 24 de janeiro em Porto Alegre os petistas podem tirar uma importante lição. Difamar juiz, fazer ameaças inclusive de confronto físico e tentar intimidar a Justiça não dá bom resultado em julgamento por corrupção.

Todo mundo sabe que esse pessoal é chegado num bandido de estimação, mas com Lula parece até paixão carnal. É evidente a escandalosa diferença entre o apoio a Lula e o que faltou para outros integrantes do PT e aliados antigos que também respondem a inquéritos da Lava Jato, além dos que já foram presos sem que o partido demonstrasse tanto apego e que até foram abandonados na prisão.

Isso inclusive invalida os argumentos do Partido do Lula contra os dois julgamentos. Em nenhum dos outros casos envolvendo corrupção de integrantes do partido e aliados teve a histérica emoção e a enfática indignação com a Justiça, como se viu contra o juiz federal Sergio Moro e agora no julgamento do TRF-4, em Porto Alegre.

Tudo bem, já se sabe da intenção política de má-fé dos petistas em torno desta condenação do chefão do partido, mas houve uma perda de tom na falseta, estridente demais para ser levada a sério. Foi feio o desequilíbrio, pendendo demais para o espetáculo midiático em detrimento da argumentação jurídica e do discurso político com certa lógica. Dessa forma, perderam com a condenação e também não conseguiram emplacar sua posição política perante a população.

Ficou claro o engodo, escancarando o oportunismo do PT. Para usar uma imagem futebolística, como Lula gostava tanto de fazer quando era presidente, ficou óbvio que os petistas deixariam imediatamente de confrontar a Justiça se em vez dos 3 a 0 o resultado fosse invertido no TRF-4, dando vitória a Lula. Nesta situação, em vez de berrar e xingar na beira do campo, eles estariam carregando nos ombros o juiz.
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POR José Pires

O fim do mito da força popular do PT

A senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, prometeu que haveria mortes se Lula fosse condenado em segunda instância pelo TRF-4 e de fato houve uma morte nesta quarta-feira, 24 de janeiro. Acabou de vez o mito da força popular do PT.

Numa situação muito especial como a de ontem, o partido do Lula não conseguiu juntar nem 9 mil pessoas em Porto Alegre, mesmo apelando para o envio de militantes profissionais de várias cidades do pais, que chegaram de ônibus a capital do Rio Grande do Sul.

Foi um fiasco a mobilização petista, como eu venho prevendo há semanas porque sei muito bem da fraude desse mito do PT como um partido de forte militância. Tem sido constante o uso desse mito pelos petistas para intimidar a sociedade civil, o que até há pouco tempo funcionava. Mas agora isso acabou. E foi da melhor forma, com o próprio partido demonstrando involuntariamente a fraude.

O fato do fiasco político ter ocorrido em Porto Alegre traz ainda mais fundamentos para compreender essa derrocada da tão alegada organização partidária dos petistas. Porto Alegre é de importância vital na história do PT. Foi uma das primeiras capitais onde o partido ganhou uma prefeitura, em 1988, com o líder sindicalista bancário Olívio Dutra, fundador do PT junto com Lula e outras lideranças de trabalhadores. Outra vitória deste ano foi na capital paulista, com Luiza Erundina.

O PT manteve-se por longo período na prefeitura, por 16 anos consecutivos, inclusive com outro líder nacional petista como prefeito, o ex-ministro da Justiça de Lula, Tarso Genro. O PT fez de Porto Alegre uma vitrine de seu projeto político, implantando ali inclusive o tão falado “Orçamento participativo”, abandonado depois pelo partido. A partir de Porto Alegre, os petistas conquistaram o governo estadual, primeiro com Olívio Dutra, em 1988, e mais recentemente, em 2010, com Tarso Genro.

O partido foi ganhando grande força popular em todo o Rio Grande do Sul, contando com bases políticas altamente qualificadas em todas as áreas profissionais, tendo um reforço importante dos movimentos ecológicos, historicamente muito atuantes entre os gaúchos. No entanto, foi exatamente esta qualidade política e técnica que levou ao abandono gradativo do partido por sua militância, decepcionada primeiro pela opção de fazer política da mesma forma que os outros partidos, tomada por Lula e a cúpula partidária, e depois pela roubalheira.

Antes de ocorrências graves, como a do mensalão, o partido já vinha se desmontando, perdendo totalmente suas características populares antes bem definidas no Rio Grande do Sul. A própria eleição de Tarso Genro para governador, em 2010, ocorreu mais pelo desgaste das outras forças políticas no estado, especialmente o PSDB, do que por méritos petistas. Na tentativa de reeleição, Ivo Sartori venceu Tarso em 461 dos 497 municípios, inclusive em Porto Alegre. O descontentamento com o PT foi tão forte entre os gaúchos que eu soube, in loco, de histórias de gente que ainda na década de 90 foi até a sede do partido para devolver com indignação a bandeira vermelha do partido.

O fiasco desse 24 de janeiro vem apenas comprovar o que já transparecia em outras tentativas do PT de mostrar poder, naquelas ações sempre precedidas de um alarde midiático de tom intimidatório, tanto da parte de seus líderes quanto de Lula, que foi tomado por sua verdadeira personalidade, até então habilmente encapada com coloridos enfeites por marqueteiros muito bem pagos. Porto Alegre como lugar onde se deu o derradeiro espetáculo da derrocada foi o melhor palco para o fim do mito da força popular do PT.
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POR José Pires

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Lula, o réu confesso

Não que fosse necessário para ficar claro que Lula é culpado nos crimes do triplex, mas seus advogados entraram com uma apelação no TRF-4 que na prática é uma confissão de que o chefão do PT praticou os delitos. Além de recorrer de outras formas sobre a condenação de 9 anos e 6 meses imposta pelo juiz federal Sergio Moro, os oito advogados do petista entraram com um pedido de prescrição da pena.

Veja o argumento da defesa: “Com efeito, se o benefício material — vantagem indevida — ocorreu em 2009, o crime de corrupção, em qualquer modalidade aventada, já teria se consumado naquele momento”. Ora, se fazem o pedido de prescrição, a conclusão moral só pode ser a existência do crime. Pela alegação, o problema foi o atraso da polícia e da Justiça para pegar o larápio.
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POR José Pires

Esquerda mão leve

Já se fala em uma união das esquerdas neste ano eleitoral. Claro que lideranças esquerdistas já deram início também ao papo de sempre, que nunca resulta em grande coisa, quando falam em “campo democrático”, “soberania nacional”, “ reformas estruturais”, “compromisso econômico”, todo o palavrório político que preenche espaço na mídia, mas nunca resulta em nada prático na qualidade de governo, como foi visto e revisto nesses 13 anos da esquerda no poder, com o PT na chefia.

Vou tentar ajudar os companheiros. A base essencial de uma união das esquerdas no Brasil tem que vir do que foi feito pela esquerda nesses últimos anos, por isso começa pelo compromisso de parar de roubar. Tem que criar uma cláusula pétrea no documento que estabelece a pauta em comum, um mandamento obrigatório, para ser acatado de forma incondicional por todo esquerdista: “Não roubarás”.
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POR José Pires

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Uma estrela no passado de Donald Trump

Parece que descobriram um grande amor na vida do presidente Donald Trump. A estrela pornô Stephanie Clifford confirmou que foi amante do magnata durante quase um ano. O relacionamento entre os dois teria acontecido a partir de um primeiro encontro há cerca de 10 anos, quando Trump já era casado com Melania.

Pode parecer fofoca, mas a história foi publicada pelo Wall Street Journal, que deve ter fontes confiáveis para encarar este tipo de notícia. O New York Times também já deu a notícia. Pelo jeito os jornalistas estão farejando mais coisas. A história já havia saído antes na revista online Slate. A reportagem do Wall Street Journal conta que a atriz pornô recebeu 130 mil dólares do advogado pessoal de Trump para não revelar tudo para a imprensa. A atriz, que tem o nome artístico de Stormy Daniels, estava em negociações com a ABC News. O acordo com Trump teria sido fechado um mês antes da eleição americana. Stormy significa tempestuosa. Dá para imaginar a curiosidade mundial sobre o trabalho profissional da moça. Seus vídeos devem estar bombando como nunca.

Este é o tipo de coisa que tem a cara do Trump, encaixando muito bem no clima de sua administração. Mas o que me chamou a atenção nas matérias que li sobre o momentoso assunto é o discernimento perfeito de Stephanie, que mostra mais capacidade de avaliação do caráter de Trump que muito analista político, incluindo a nossa espantosa direita, que ainda mais espantosamente se tomou de amores por Trump.

Sobre o tempo que passou com o magnata, Stephanie disse que não houve nenhum abuso. Sempre lembrando, é claro, que o padrão moral é de romance entre uma atriz pornô e um político. Mas o mais interessante foi que ela disse que o pior que Trump havia feito foi “quebrar promessas que ela nunca acreditou que ele cumpriria”. Olha aí a sabedoria da moça. Stephanie conhece muito bem o Trump. Como eu disse, ela é mais sensata que trumpista brasileiro
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POR José Pires

Anormalidades consentidas

O Brasil vive um clima de anormalidade consentida, que pode ser sentido de várias formas e é bem forte na insegurança que toma conta do país, com o impressionante número de homicídios, que vai para mais de 60 mil anualmente, além do domínio de quadrilhas sobre a vida das pessoas, a violência policial, os roubos e assaltos, enfim na violência extrema que passa por cima de qualquer regra de convivência e das leis.

Este consentimento da anormalidade faz o brasileiro conviver com os maiores absurdos, como se fossem aceitáveis, numa relação até natural com barbaridades que se instalam em nossas vidas como rotineiros eventos inevitáveis, na sensação geral de que não há outro remédio senão o de aceitar o horror como regra comum do nosso dia a dia.

Vivemos em um país em estado de sítio oficioso, que conta até com toque de recolher, em algumas localidades dependendo do bom senso de cada um e noutras em obediência a determinações de bandidos ou no temor das próprias ações da polícia. Mas quem é que pode se indignar com uma vida dessas sem ser tomado como um indivíduo situado fora de seu tempo e lugar?

Este consentimento da anormalidade pode ser sentido na forma que a imprensa traz as notícias sobre o tema da segurança. A narrativa dos crimes mais pavorosos é feita com a frieza de um boletim de ocorrência policial, sem a preocupação sequer com a opinião de autoridades da área ou de apontar ao leitor deveres e responsabilidades. O jornalismo já convive com os crimes sabendo que não haverá investigação séria e que o problema tende a se repetir, dia após dia, com a tendência sempre de piorar.

Nesta quarta-feira o site UOL trouxe uma reportagem que traz um retrato preciso desse clima de anormalidade consentida de que estou falando. A favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, vive atualmente um clima de apreensão causado pela disputa de quadrilhas pelo controle da localidade. O centro do problema é a disputa entre os bandidos do grupo do traficante Nem com a quadrilha de Rogério 157, traficante preso recentemente. Nem também está preso. E é claro que confusão criada por bandos com a chefia já pega pela polícia faz parte dessa anormalidade em que o consentimento atravessa muros de prisões que deviam ser de alta segurança, implicando, talvez, elevadas autoridades da Justiça, provavelmente até em Brasília.

Sempre é um sufoco viver em lugares dominados por traficantes de drogas, porém, por mais absurdo que seja, até mesmo isso pode piorar, com a instabilidade de uma disputa entre quadrilhas. Desde que bando de Nem tentou retomar o controle da favela, em setembro, a Rocinha convive com confrontos constantes. Movimentações suspeitas nos últimos dias levam os moradores a acreditar numa preparação em curso das duas quadrilhas para uma briga. O desespero tomou conta da favela, levando os moradores a redobrar seus cuidados. Não se sai de casa à noite e mesmo de dia é preciso mais atenção.

A matéria do UOL é muito bem feita. É uma sacada chamar de “interino” o atual chefe criminoso. É de edição competente a foto das crianças indo à escola com a parede crivada de balas. Esses jornalistas que cobrem a área policial no Rio de Janeiro fazem com competência seu serviço. Também no site G1 pode-se ler muita coisa boa que permite avaliar o problema com bons fundamentos e a vivência de perto da situação.

O UOL traz depoimentos de moradores que asseguram que deve vir uma batalha nova por aí. Sente-se também que na Rocinha não existe esperança de uma atuação dos responsáveis pela segurança pública. Para não correr ainda mais perigo, o que o povo quer é que seja logo definido quem manda na área. Anormalidade consentida, como eu disse. O tom dessa anormalidade consentida é realçado pela fala do titular da Delegacia da Rocinha, o delegado Antônio Ricardo Nunes, que nega a divisão de territórios na favela. "Quem está à frente do tráfico é a quadrilha do 157", ele garante. Pois é, a tranquilidade possível na Rocinha é a de que o pedaço tem dono.
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POR José Pires

Leia aqui a reportagem do UOL

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

A Igreja Católica e seus predadores internos


No Chile, o papa Francisco pediu desculpas pelos abusos sexuais cometidos por padres contra crianças. Além da relação com uma questão grave da Igreja Católica em todo o mundo, seu pedido está ligado diretamente ao país que está visitando, onde é grande o número de denúncias desse tipo de abuso, com uma forte reação de chilenos organizados para exigir das autoridades eclesiásticas mais rigor contra os abusadores, com o fim do encobrimento a este grave crime.

Na chegada, o papa enfrentou protestos de ativistas que exigem maior compromisso da Igreja contra os abusadores. O estado de ânimo dos chilenos quanto a esse problema pode ser resumido no popular menos palavras, mais ação. Uma das vítimas de abuso rechaçou o pedido de desculpas de Francisco. O jornalista Juan Carlos Cruz, que denunciou há alguns anos ter sido abusado por Fernando Karadima, sacerdote de grande influência na igreja chilena, disse que são insuficientes as palavras de Francisco, já que os “bispos encobridores” permanecem em seus postos.

Uma queixa persistente quanto ao problema é o fato das vítimas não serem ouvidas pelas autoridades da Igreja, que se contentam com versões de pessoas coniventes com os abusos. Neste caso, o jornalista Cruz cita Ricardo Ezzati, arcebispo de Santiago, e Francisco Javier Errazuriz, arcebispo emérito. Em suas viagens, o papa Francisco tem se negado a receber vítimas de abusos, como em recente visita ao México. As vítimas pediram audiência e ele negou. No Chile ele mantém a mesma atitude. Segundo denúncias, cerca de 80 religiosos estão envolvidos em casos de abusos no país.

A experiência demonstra que a Igreja Católica tem sérias dificuldades em punir com rigor seus escândalos internos. Por meio de ações externas é que são revelados os problemas e se abrem canais para que as vítimas busquem justiça e sejam acolhidas até para expressar suas dores. Um caso emblemático do acobertamento histórico desse crime foi o do bispo de Boston, Bernard Law, que encobriu a ação de padres abusadores durante anos nesta cidade americana. Os crimes só foram descobertos depois do jornal The Boston Globe publicar uma série de reportagens investigativas sobre o tema. Sobre isso, foi feito um filme muito bom, “Spotlight”, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2016. Pode ser visto na internet, com dublagem. Publico o link abaixo.

Em vez de levar os padres à justiça comum, o bispo Law apenas mudava-os de paróquia. Um dos criminosos, o padre John Geoghan, foi declarado culpado de abusar de 130 menores, nas diferentes paróquias pelas quais ia passando. Depois das reportagens do jornal de Boston, Bernard Law, que morreu aos 86 anos em dezembro do ano passado, foi obrigado a renunciar ao cargo em 2002. Na época ele também pediu desculpas, mas, como sempre ocorre, não recebeu punição alguma. Foi para a Itália. Era estreita sua relação com o papa João Paulo II, cujo pontificado foi nulo no combate aos abusos de menores.

Law não perdeu a influência na igreja. Chegou a participar do conclave que elegeu o papa Benedito XVI, em 2005, de quem era amigo desde quando este era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e atendia pelo nome de Joseph Ratzinger. Poucos anos depois de ter que sair corrido de Boston com o escândalo, Law ainda recebeu a honra de oficiar uma missa na Basílica de São Pedro. No mês passado, o papa Francisco fez questão de comparecer ao seu enterro.
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POR José Pires

Veja aqui o filme Spotlight

Bolsonaro, um presidenciável virando suco

Jair Bolsonaro é mesmo um fenômeno. Errou quem apostou que sua candidatura iria derreter na campanha. O processo já começou agora. Antes do início oficial da campanha ele já vem derretendo feito sorvete em mão de criança, em cada entrevista que dá e a cada fuçada da imprensa em seu passado. Tem até os que pegam a calculadora, fazendo continhas de somar que arrasam com o presidenciável da direita. O jornalista Reinaldo Azevedo, por exemplo, pegou um levantamento da Folha de S. Paulo sobre o patrimônio de Bolsonaro e seu quatro filhos, que são também políticos eleitos, e a partir do montante estudou a possibilidade deles juntarem tanto dinheiro.

A Folha descobriu que a família Bolsonaro é dona de um patrimônio de R$ 16,7 milhões. Só de imóveis, que eles são muito ligados nisso, são R$ 15 milhões. Bolsonaro é deputado federal desde 1989. Eduardo Bolsonaro está na Câmara como o pai. Foi eleito em 2015. Carlos Bolsonaro é vereador desde 2000. E Flávio Bolsonaro é deputado estadual desde 2003, no Rio. Reinaldo fez as contas de todos os salários, usando como referência o salário líquido atual de cada um. Somado tudo, os salários de toda a vida política da família milionária não dariam para juntar o eles têm de patrimônio. Tudo somado, deu R$ 15.370.527, abaixo do patrimônio de R$ 16,7 milhões descoberto pela Folha.

É claro que os Bolsonaro teriam de viver de ar para chegar aos 15 milhões e pouco. A conta é do total dos ganhos, sem gasto algum, com cada um deles guardando o salário integral todo mês, o que todo mundo sabe que é impossível. A análise feita por Reinaldo Azevedo é muito interessante. Ele soube de um levantamento de abril do ano passado da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) que concluiu que no mês anterior só 15% dos consumidores guardaram parte do salário. 46% gastaram tudo o que receberam. 32% ficaram no vermelho. Pois na situação dos 15% que conseguiram poupar, colocados na faixa dos que guardaram 40% do que recebem (2% dos 15%), mesmo assim os Bolsonaro juntariam R$ 6.148.210,84, muito abaixo dos 16 milhões.<

É claro que Jair Bolsonaro está fulo da vida com a matéria da Folha e também não esta contente com Reinaldo Azevedo e sua implacável matemática. É quando os fanatizados admiradores dele saem pela internet afora sentando o cacete com uma agressividade só comparável ao que os petistas faziam quando estavam no poder. Também é evidente que isso só piora a situação, fazendo o presidenciável isolar-se cada vez mais, sem a ampliação política que é necessidade obrigatória para dar solidez à sua candidatura. É até injusto com os adversários o que está acontecendo. Pode não sobrar nada para os debates políticos. Bolsomito mudou de apelido: agora ele é o Bolsolíquido.
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POR José Pires

O PT e a ilusória militância

Uma sabedoria da vida que cabe muito bem na política é a de não criar situações que exponham publicamente nossas fraquezas. Num partido com os anos de experiência do PT uma lição como esta deveria ser uma prática cotidiana ou pelo menos tinha que ser considerada em momentos delicados. Não é o que acontece no partido do Lula. Os petistas estão sempre criando desafios difíceis para eles próprios, hábito que não é recente e que está tendo um uso exasperado nesses dias de véspera do julgamento de Lula em segunda instância no TRF 4, de Porto Alegre.

Durante o processo de desgaste político da presidente Dilma Rousseff, que culminou com sua queda, suas lideranças criavam situações de confronto o tempo todo, com a cúpula partidária e sua militância na ocupação de bolar as mais variadas ações muito difíceis de realizar e de efeito excessivamente agressivo. Então, mostravam-se fragilizados na falta de público e com a precariedade das ações. Por outro lado, a agressividade acabava contribuindo para dificultar ainda mais o trabalho de bastidores para salvar o mandato de Dilma.

Esta tolice política pode ser observada na manifestação anunciada para o sábado passado — dia 13, data que sempre acende o espírito marqueteiro dos petistas. É claro que foi um fiasco, mas independente desse fracasso que não era inesperado, cabe questionar qual seria a razão que leva uma cúpula partidária a entrar, sem trocadilho, numa roubada dessas de puxar para si a responsabilidade de organizar manifestações em todo o país, quando o PT já tem programada para pouco mais de uma semana os atos no dia do julgamento de Lula. Este fiasco do sábado, 13, acabou servindo como antecipação do que virá no dia 24.

A cúpula do PT ainda vive na ilusão do mito da existência da tal da “militância petista”, que é algo que só existiu nos primeiros anos do partido e mesmo assim nunca teve fôlego de juntar multidão. Já faz muitos anos que o PT ganha eleições com uma máquina eleitoral altamente profissional e muito dinheiro de campanha. Os companheiros vestidos de vermelho e fazendo algazarra entram só para dar aparência de movimento popular. Para isso o partido sempre contou também com as estruturas de sindicatos, que no geral atuam somente com gente do esquema corporativo profissional, sem a participação maciça de trabalhadores. Podem fazer barulho, mas de jeito nenhum lotar atos públicos.

A militância petista não existe mais. No entanto, no imaginário petista permanece forte essa ilusão de ser um partido de massas, com forte poder de pressão nas ruas. É uma antiga síndrome peronista do PT, que não condiz com a realidade, até pela ausência de um Juan Domingo Perón e de sindicatos com forte peso ideológico. Lula não é um Perón, por supuesto. Nem os sindicatos que fizeram sua lenda foram estabelecidos a partir de compromissos sólidos de esquerda. E falta-lhe também uma Evita, como é muito óbvio e disso ele deve ter ainda mais consciência do que qualquer um. Tem que se arranjar com Gleisi Hoffmann, um pouco com Dilma. E os remanescentes de uma militância que está cada vez mais difícil catar para fazer volume. Multidões tomando as ruas é só um sonho besta do PT, que felizmente para o Brasil nunca se realizou.
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POR José Pires

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018