O ex-governador Beto Richa, do Paraná passou quase oito anos em relativa tranquilidade, enquanto iam pipocando denúncias graves de corrupção contra ele, com escândalos que envolviam até parentes. Nos dois mandatos consecutivos, Richa navegou em calmaria, contando com a segurança do foro privilegiado do STF, onde gavetas servem de descanso eterno para processos. Mas foi só ele se desincompatibilizar do cargo que os ventos mudaram radicalmente. Obrigado agora a prestar contas à Justiça comum, um inquérito contra ele acaba de cair nas mãos de um servidor público da Justiça que realmente trabalha: o juiz Sérgio Moro. A informação é desta quinta-feira. Quem determinou o envio do inquérito contra Richa para Moro foi o ministro Og Fernandes, do STJ, acolhendo recurso do MPF.
Este inquérito vem de delação da Odebrecht, onde o político tucano aparece em planilhas do setor de propinas. Seus codinomes são “Piloto” e “Brigão”. Ele aparece na planilha como beneficiário de repasses de mais de R$ 3 milhões. O dinheiro teria relação com obras da PR-323. A encrenca fica realmente séria com a entrada em cena de Moro, mas Richa tem outras acusações de corrupção para enfrentar, com gente de seu círculo íntimo pelejando para pegar uma delação premiada.
Segundo o que se diz, foi o foro privilegiado que salvou Richa de ser envolvido diretamente no esquema desbaratado pela Operação Integração, da Lava Jato, que prendeu várias pessoas em fevereiro deste ano, no Paraná, inclusive o diretor do DER, Nelson Leal Filho, bastante ligado ao ex-governador. Ele ainda está preso na superintendência da Polícia Federal, em Curitiba. Leal Filho foi secretário de Obras de Richa na prefeitura de Curitiba e estava na chefia do DER desde 2013. Era responsável pela relação com as empreiteiras em obras do estado e pelas negociações com concessionárias de pedágio.
Nesta semana soube-se que o ex-diretor do DER mudou de advogado. Está agora com um escritório especializado em delações premiadas. Um dos novos advogados do antigo subordinado de Richa é Adriano Bretas, que trabalha na delação premiada de Antonio Palocci na Lava Jato. Outra delação problemática para Richa poderá ser a de Maurício Fanini, pego na Operação Quadro Negro, esquema que desviou R$ 20 milhões da construção e de reformas de escolas estaduais. Fanini já entrou com pedido de delação premiada e está apenas aguardando a homologação.
Richa é um dos políticos brasileiros que precisa desesperadamente de um cargo parlamentar, para poder voltar às boas graças do STF, no foro privilegiado. Mas agora será exigido dele um esforço redobrado, podendo até haver mudança de planos eleitorais, trocando o Senado pela Câmara Federal, eleição bem mais fácil de resolver para quem a partir de agora terá que andar pelo Paraná com a marca de ser um político nas mãos de Sérgio Moro.
Outro inconveniente dessa falta de proteção de um mandato pode vir com a agilização das investigações. Sem a camisa-de-força imposta pelo foro privilegiado, poderão ser levantadas acusações que por precaução a Polícia Federal e o MPF não traziam a público. or lei, o surgimento do nome de qualquer protegido do foro privilegiado obriga de imediato que o caso suba ao STF e lá todo mundo sabe como as coisas acabam. Ou melhor, como não acabam. Na Operação Integração, por exemplo, não houve nem menção ao nome de Richa, pois isso poderia melar toda a investigação. É claro que o então governador usou esse impedimento para alegar que nem havia sido citado no caso. Mas agora a polícia e os promotores terão a oportunidade de trazer seu nome para as manchetes e redes sociais, com a possibilidade do aprofundamento das denúncias de corrupção e talvez até do surgimento de algum novo caso. Com certeza o ex-governador Richa terá muito assunto para debates nesta eleição.
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POR José Pires