Ficou quente a falação sobre o motivo da TV Globo para imprimir rigor nas entrevistas com candidatos a presidente no Jornal Nacional. O aperto foi geral. E como a ordem do programa colocou Ciro Gomes e Jair Bolsonaro antes de Geraldo Alckmin, foi possível quebrar a famosa teoria da conspiração que aponta sempre a emissora como aliada dos tucanos. A lorota vem desde a primeira eleição perdida por Lula, que afinou na frente de Fernando Collor e depois juntou a militância para culpar a Globo pelo resultado de sua covardia pessoal. Desde então isso virou até jargão de esquerda, como justificativa para sua própria incompetência e depois para desviar do assunto da roubalheira feita pelos petistas no Governo Federal. O que ocorre atualmente é que tem muita gente que acaba sendo envolvida neste engodo mascarado pela satanização de uma grande rede de televisão.
No entanto, a regra alucinatória de que a Globo tem contrato exclusivo com o PSDB quebrou-se com a entrevista do candidato Geraldo Alckmin. Primeiro em apoio a Ciro e depois em solidariedade a Bolsonaro, durante dois dias foi um fuzuê contra a Globo nas redes sociais. Mas na vez de Alckmin voou pena na conversa de William Bonner com o tucano. E Marina Silva também não foi poupada, mesmo tendo comparecido sustentando seu ar de santa e as promessas de unir o país sem ter conseguido antes sequer a unidade de seu partido. É a mesma figura impoluta que na urgência criada pela falta de um partido para ser candidata a presidente teve que se aliar ao político tradicional Eduardo Campos como vice para depois ser a titular da chapa, agora aparecendo de novo ainda com um partido nanico de apenas dois deputados. A única novidade em Marina é que agora ela é “negra”, conforme sua própria definição, mas existem controvérsias, como na minha opinião de que ela é no máximo morena.
Mas voltemos ao rigor das entrevistas, que resultou em lágrimas fingidas. Até os brutos da direita espalham seu mimimi pelas redes sociais. Ora, para contemplar militâncias tão variadas, o único recurso seria o de programar entrevistas com as próprias assessorias dos candidatos elaborando as perguntas. E parece que até a aguerrida direita deseja algo parecido. Faço questão de repetir: só falta a direita sair pelas ruas gritando “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo” para selar a parceria com a esquerda em cretinices. Mas já estão juntos para repetir teoria da conspiração que estabelece a Rede Globo como centro gerador dos males do Brasil.
O problema maior é que o chororô acaba influenciando o debate, o que pode desviar a atenção dos fatos realmente determinantes num programa como este. Mesmo depois de cacetadas certeiras nos quatro candidatos, ficaram de fora da discussão razões muito simples do rigor nas entrevistas no Jornal Nacional. Atualmente as televisões abertas brigam desesperadamente por audiência, que vaza para o sistema de TV paga, além das perdas para a internet. No jornalismo não é diferente. Para dar um exemplo, entrevistas sem rigor não teriam feito o Jornal Nacional ser o assunto mais quente nos últimos dias. Outra questão é que já deu tempo para grandes empresas como a Globo terem desenvolvido uma discussão interna e chegado a um resultado também muito simples: se for mantido no Brasil o ritmo imprimido por esta classe política, o país estará irremediavelmente acabado em poucos anos.
.........................
POR José Pires