A limpeza foi geral nas eleições municipais, com a derrocada do petismo e do bolsonarismo, a demonstração de que o eleitor não se engana com a conversa eleitoreira de questões identitárias — sem cair na lorota de que haja diferença de qualidade política entre candidaturas de mulher e homem. Tivemos até o desmascaramento da lenda criada por gente que usa a religião em proveito próprio sobre a influência determinante de um tal de “voto evangélico”, com a comprovação pelo voto do eleitor que não existe votação determinada de tal forma.
Foi uma faxina geral em conceitos que vêm sendo estimulados faz muito tempo em grande parte pela imprensa, que infelizmente também em proporção muito grande se resume hoje em dia em muita conversa fiada, uma caça desenfreada por audiência e likes com o uso de qualquer fato vazio desde que cause sensação, com pouca atenção ao respeito ao jornalismo, nem do ponto de vista técnico da profissão.
Outra limpeza foi na credibilidade das pesquisas, que tanto no primeiro turno quanto no segundo estiveram erradas em níveis escandalosos. Pesquisa eleitoral, como se sabe, é outra coisa que a imprensa usa de forma absolutamente irresponsável. Já faz tempo que pesquisas eleitorais no Brasil servem mais para conturbar o debate político do que para trazer mais conhecimento ao eleitor. Servem também para estimular candidaturas de forma suspeita. Nas eleições deste ano os institutos de pesquisa abusaram e quebraram a cara.
Datafolha e Ibope cometeram erros absurdos e o interessante é que nesta eleição em vez de favorecer candidaturas do centro ou da direita, os erros ajudaram bastante a esquerda a estimular suas militâncias e o eleitorado simpatizante, tanto para passar para o segundo turno quanto para depois trabalhar pela vitória com mais empenho. No segundo turno a esquerda chegou a obter das pesquisas muita vantagem, até que se abriram as urnas.
Ao contrário do que foi previsto por pesquisas, os adversários de Guilherme Boulos, Manuela D’Ávila e Marília Arraes ganharam com margens muitos maiores no segundo turno, ultrapassando o dobro da margem de erro e até muito mais que isso. Houve um favorecimento estranho. Estarão os institutos mudando o chamado público alvo e procurando conquistar novos mercados?
No primeiro turno, Manuela foi favorecida pelos números do Ibope, que davam a ela em Porto Alegre a liderança, com 40% dos votos válidos. Pois seu adversário Sebastião Melo (MDB) ficou à frente com 31,01% e ela acabou em segundo lugar, com 28,99% — 11 pontos a menos. É claro que a diferença serviu como um ótimo estímulo entre os militantes para a candidata comunista passar para o segundo turno.
Cabe apontar que os números baixos dos outros competidores (agora discutíveis) tiveram um efeito contrário, servindo para quebrar o entusiasmo de campanhas e do eleitor. O maior prejudicado foi Nelson Marchezan Júnior, candidato à reeleição que ficava sempre abaixo de 10% e na última pesquisa de primeiro turno foi apontado pelo Ibope com apenas 14%. Na votação teve 21,01%.
E não foi só no primeiro turno que Manuela teve uma mãozinha das pesquisas. Ela passou todo o segundo turno emparelhada ao adversário. Na pesquisa de véspera, o Ibope dava 51% dos votos válidos a Manuela e 49% a Melo. E esses números foram divulgados exatamente na reta final, excelente para um impulso de ânimo na campanha. Na votação viu-se o “erro”, tão grosseiro que precisa ser aspado: Melo ganhou com nove pontos à frente, 54,63% contra 45,37%, diferença muito superior à margem de erro de três pontos.
Na eleição do Recife, Ibope e Datafolha divulgaram durante o segundo turno números que nada tinha a ver com a realidade, com a petista Marília Arraes chegando a ficar ligeiramente à frente de João Campos, do PSB. A ilusão serviu para animar a campanha da esquerda. Na véspera da decisão, Datafolha e o Ibope cravaram empate. A apuração terminou com mais de mais de 12 pontos de vantagem para Campos, à frente de Marília: 56,27% x 43,73%.
Em São Paulo, o candidato Guilherme Boulos esteve durante todo o segundo turno à frente nas pesquisas em relação ao número de votos que de fato obteve nas urnas: 40,62%. Em fases importantes da campanha chegou a ter 46%. Se Boulos tivesse que pagar por tamanho incentivo o negócio ficaria caro, tanto é assim que em todo o Brasil a esquerda festejava seu renascimento. O candidato já estava marcando live para conversar sobre a vitória na eleição para a prefeitura da capital. Na última pesquisa o Datafolha deu 45% ao candidato do PSOL e 55% a Bruno Covas. Errou longe: Covas teve 59,38% e Boulos ficou com 40,62%.
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POR José Pires