segunda-feira, 30 de novembro de 2020

A derrocada da esquerda e o descrédito das pesquisas eleitorais

A limpeza foi geral nas eleições municipais, com a derrocada do petismo e do bolsonarismo, a demonstração de que o eleitor não se engana com a conversa eleitoreira de questões identitárias — sem cair na lorota de que haja diferença de qualidade política entre candidaturas de mulher e homem. Tivemos até o desmascaramento da lenda criada por gente que usa a religião em proveito próprio sobre a influência determinante de um tal de “voto evangélico”, com a comprovação pelo voto do eleitor que não existe votação determinada de tal forma.

Foi uma faxina geral em conceitos que vêm sendo estimulados faz muito tempo em grande parte pela imprensa, que infelizmente também em proporção muito grande se resume hoje em dia em muita conversa fiada, uma caça desenfreada por audiência e likes com o uso de qualquer fato vazio desde que cause sensação, com pouca atenção ao respeito ao jornalismo, nem do ponto de vista técnico da profissão.

Outra limpeza foi na credibilidade das pesquisas, que tanto no primeiro turno quanto no segundo estiveram erradas em níveis escandalosos. Pesquisa eleitoral, como se sabe, é outra coisa que a imprensa usa de forma absolutamente irresponsável. Já faz tempo que pesquisas eleitorais no Brasil servem mais para conturbar o debate político do que para trazer mais conhecimento ao eleitor. Servem também para estimular candidaturas de forma suspeita. Nas eleições deste ano os institutos de pesquisa abusaram e quebraram a cara.

Datafolha e Ibope cometeram erros absurdos e o interessante é que nesta eleição em vez de favorecer candidaturas do centro ou da direita, os erros ajudaram bastante a esquerda a estimular suas militâncias e o eleitorado simpatizante, tanto para passar para o segundo turno quanto para depois trabalhar pela vitória com mais empenho. No segundo turno a esquerda chegou a obter das pesquisas muita vantagem, até que se abriram as urnas.

Ao contrário do que foi previsto por pesquisas, os adversários de Guilherme Boulos, Manuela D’Ávila e Marília Arraes ganharam com margens muitos maiores no segundo turno, ultrapassando o dobro da margem de erro e até muito mais que isso. Houve um favorecimento estranho. Estarão os institutos mudando o chamado público alvo e procurando conquistar novos mercados?

No primeiro turno, Manuela foi favorecida pelos números do Ibope, que davam a ela em Porto Alegre a liderança, com 40% dos votos válidos. Pois seu adversário Sebastião Melo (MDB) ficou à frente com 31,01% e ela acabou em segundo lugar, com 28,99% — 11 pontos a menos. É claro que a diferença serviu como um ótimo estímulo entre os militantes para a candidata comunista passar para o segundo turno.

Cabe apontar que os números baixos dos outros competidores (agora discutíveis) tiveram um efeito contrário, servindo para quebrar o entusiasmo de campanhas e do eleitor. O maior prejudicado foi Nelson Marchezan Júnior, candidato à reeleição que ficava sempre abaixo de 10% e na última pesquisa de primeiro turno foi apontado pelo Ibope com apenas 14%. Na votação teve 21,01%.

E não foi só no primeiro turno que Manuela teve uma mãozinha das pesquisas. Ela passou todo o segundo turno emparelhada ao adversário. Na pesquisa de véspera, o Ibope dava 51% dos votos válidos a Manuela e 49% a Melo. E esses números foram divulgados exatamente na reta final, excelente para um impulso de ânimo na campanha. Na votação viu-se o “erro”, tão grosseiro que precisa ser aspado: Melo ganhou com nove pontos à frente, 54,63% contra 45,37%, diferença muito superior à margem de erro de três pontos.

Na eleição do Recife, Ibope e Datafolha divulgaram durante o segundo turno números que nada tinha a ver com a realidade, com a petista Marília Arraes chegando a ficar ligeiramente à frente de João Campos, do PSB. A ilusão serviu para animar a campanha da esquerda. Na véspera da decisão, Datafolha e o Ibope cravaram empate. A apuração terminou com mais de mais de 12 pontos de vantagem para Campos, à frente de Marília: 56,27% x 43,73%.

Em São Paulo, o candidato Guilherme Boulos esteve durante todo o segundo turno à frente nas pesquisas em relação ao número de votos que de fato obteve nas urnas: 40,62%. Em fases importantes da campanha chegou a ter 46%. Se Boulos tivesse que pagar por tamanho incentivo o negócio ficaria caro, tanto é assim que em todo o Brasil a esquerda festejava seu renascimento. O candidato já estava marcando live para conversar sobre a vitória na eleição para a prefeitura da capital. Na última pesquisa o Datafolha deu 45% ao candidato do PSOL e 55% a Bruno Covas. Errou longe: Covas teve 59,38% e Boulos ficou com 40,62%.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌



domingo, 29 de novembro de 2020

Chico Buarque: a arte de ser um pé-frio de arrasar

Não resta mais nenhuma dúvida: Chico Buarque é o Mick Jagger brasileiro. E é claro que não estou falando de música. Chico é um pé-frio à altura do roqueiro inglês, que pegou a fama de ser um torcedor que dá azar.

A urucubaca do compositor brasileiro tem mais efeito na política, com uma longa lista de azarações, que teve seu ápice na derrota fragorosa do petista Fernando Haddad, por quem Chico torceu fervorosamente na última eleição para presidente.

Nesta eleição municipal, Chico bateu o próprio recorde de ziquizira, aniquilando neste segundo turno três estrelas que a esquerda já tinha como vitoriosas em importantes capitais: Guilherme Boulos, Manuela D’Ávila e Marília Arraes.

Já não é mais necessário ficar perdendo tempo em avaliações políticas e conferindo pesquisas para descobrir quem vencerá uma eleição. Basta saber para quem torce o Mick Jagger brasileiro. É praticamente certo que a vitória será do adversário.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


sábado, 28 de novembro de 2020

Guilherme Boulos: a esquerda brasileira e as ilusões com seu salvador da pátria

A esquerda brasileira tem complicadas relações com os debates políticos, com origem no trauma histórico da derrota de Lula para Fernando Collor, que mesmo passados tantos anos ainda é creditado a uma manipulação da TV Globo. Neste caso, a esquerda é acometida de uma espécie de síndrome que traz o medo e a insegurança de que forças do mal — como se sabe, agindo sempre do lado do adversário — desequilibrem a disputa com manipulações. E nem adianta argumentar que hoje em dia seria ainda mais difícil juntar todos os elementos necessários para a conspiração.

Outro efeito psicológico na esquerda é o de que seus candidatos são os melhores na discussão política. Isso ocorre quando estão levando vantagem. Sempre foi assim nos meios esquerdistas, mas a coisa piorou com as redes sociais, com as novas tecnologias que permitem envolver as pessoas nas mais variadas ilusões, especialmente de que elas é que estão do lado certo. Na passagem do primeiro para o segundo turno surgiu esta crença em torno de Guilherme Boulos, candidato do PSOL a prefeito de São Paulo. Boulos passou a ser apontado como o mais capacitado para ganhar votos em debates políticos.

É uma avaliação equivocada do que vem acontecendo na capital paulista, que subestima todas as outras variantes que ajudaram o candidato do PSOL a passar para o segundo turno. Deram um destaque excessivo apenas para a discutível qualidade retórica do líder de um movimento pela moradia. Neste raciocínio, Boulos seria um mago da comunicação. E claro que tampouco entra nesta conta a qualidade precária como comunicadores dos demais candidatos, defeito do próprio prefeito Bruno Covas, que apesar disso defende sua reeleição neste segundo turno.

Ora, esta avaliação vem de uma esquerda que aposta no ressurgimento de sua vitalidade na política brasileira com uma dobradinha entre Boulos e Luiza Erundina, de modo que, sendo assim, esta crença em incríveis dotes de oratória de Boulos nem pode ser visto como o maior equívoco de uma esquerda que pelo jeito largou definitivamente o trabalho de discutir seus erros e buscar uma renovação.

Não cabe debater ilusões tão equivocadas — tanto dos supostos dotes de Boulos quanto da redenção esquerdista com o PSOL de Erundina, mesmo porque não tenho dúvida de que quebrarão a cara independente da vitória ou da derrota neste domingo. É um fato consolidado esta confiança no gogó de Boulos e o próprio candidato se acha o máximo no convencimento do eleitor e na pretensa habilidade para colocar o adversário em apuros numa discussão.

Essa exagerada crença na própria autossuficiência levou Boulos a correr atrás de debates tanto no primeiro quanto neste segundo turno. O sujeito virou arroz de festa no rádio e na televisão, nas redes sociais, em entrevistas, lives, em encontros com qualquer pessoa disposta a servir de figurante para a encenação eleitoreira de que, como diz a moçada, ele é um cara “de boas”. Essa confiança vinha fazendo o PSOL acreditar numa virada no último debate, já tradicional nas campanhas, produzido pela sempre tão odiada Rede Globo — que neste caso parece que para os esquerdistas passa a ter valor.

Um problema nos planos do candidato é que ele foi contaminado pelo novo coronavírus e a TV Globo já havia adiantado que o debate só aconteceria se fosse presencial. Como é de costume da militância esquerdista, tentaram levantar nas redes sociais acusações à emissora, mas já havia sido avisado com antecedência que não seria feito debate virtual em nenhuma cidade. Ah, sim: Boulos apelou para que a Globo mantivesse o debate mesmo virtual e Bruno Covas concordou.

Não teve o debate, no entanto a contaminação do candidato do PSOL segue sendo o assunto da eleição, agora com a demonstração de que Boulos foi no mínimo descuidado depois de saber que poderia ter se contaminado. Desde que soube que a deputada Sâmia Bomfim estava com Covid-19, Boulos participou de participou de diversos eventos de campanha. Sâmia anunciou que estava com a doença na manhã da última segunda-feira e depois disso Boulos não teve o bom senso de isolar-se, conforme manda o protocolo. Na noite de segunda-feira ele participou do Roda Viva, na presença de jornalistas e funcionários da TV Cultura.

O diagnóstico positivo para a doença veio nesta sexta-feira, mas antes disso Boulos esteve em ao menos sete atos presenciais de campanha. Na afoiteza de explorar a alegada habilidade do gogó, o candidato esquerdista desrespeitou regras para evitar o risco de transmitir a doença, mas deve ter feito isso porque é mensageiro de bem. Aquela velha justificativa de que os fins justificam os meios ganha desse modo uma novidade: o benfeitor pode até estar com a suspeita de ter a Covid-19.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Eduardo Bananinha, um novo nome da política brasileira

Não é fácil construir uma boa imagem na vida pública, que exige trabalho persistente, com um cuidado também constante para não ter o descrédito de se ver apontado com algo que se cole com muita força na imagem pessoal.

Construir um bom nome exige bastante esforço, mas para a desmoralização pública basta um acontecimento casual. É o que aconteceu com o deputado Eduardo Bolsonaro, sujeito com pretensões muito além da sua capacidade política e intelectual, um afobado sem o discernimento nem da oportunidade de arrumar  brigas políticas ou pelo menos de avaliar o tamanho da encrenca.

Confiante na teoria idiota de que um cabo e um soldado bastam para realizar seus desejos, já faz tempo que ele cria confusão com todo mundo, porém, mesmo com todas suas trapalhadas ninguém até agora havia conseguido encaixar um bom golpe para desmoralizá-lo. Pois a cacetada veio de dentro do próprio governo de seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, de onde saiu o apelido fatal que definitivamente colou nele: Eduardo Bananinha.

O apelido de Bananinha surgiu exatamente por causa de uma de suas provocações contra a China. Foi o vice-presidente Hamilton Mourão que criou esta ótima marca política, durante uma tentativa de amenizar os estragos políticos internacionais desse desastrado filho do Bolsonaro.

No último mês de março, Mourão foi questionado pela Folha de S. Paulo sobre uma acusação feita pelo deputado de que a China era responsável pela propagação do coronavírus no mundo. O vice-presidente tentou diminuir a repercussão do episódio com a seguinte fala: "O Eduardo Bolsonaro é um deputado. Se o sobrenome dele fosse Eduardo Bananinha não era problema nenhum. Só por causa do sobrenome. Ele não representa o governo. Não é a opinião do governo”.

O apelido viralizou nas redes sociais assim que a fala de Mourão foi publicada e está aí até hoje. E quando essas coisas pegam, depois não sai mais nem com cloroquina. Além disso, o comportamento desajustado de Eduardo Bananinha também ajuda bastante, de modo que ficou impossível não lembrar do seu novo nome toda vez que ele aparece com alguma nova estupidez. Como se costuma dizer, Eduardo Bananinha já está inscrito nos anais da política brasileira.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


terça-feira, 24 de novembro de 2020

A China lança um desafio perigoso para os bolsonaristas

Jair Bolsonaro e seus filhos tanto fizeram em afrontas contra a China, acompanhados nisso por figuras importantes do bolsonarismo, que acabaram obtendo uma reação muito firme e evidentemente oficial do governo chinês. A embaixada da China emitiu uma nota exigindo o fim das provocações ou enfrentarão “a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”.

O comunicado da embaixada foi feito em repúdio a um tuíte do deputado Eduardo Bolsonaro, em que o filho do presidente acusa a China de usar a tecnologia 5G para espionagem. O deputado apagou a postagem pouco depois de postá-la, mas o barulho internacional já estava criado. Nesses dias, Jair Bolsonaro andou falando em “pólvora”, pois depois de tanta azucrinação acabou tendo uma reação explosiva, vinda de um lugar que tem muita pólvora e onde aliás ela foi inventada. A ameaça da China é muito clara no comunicado, que cita diretamente o deputado filho do presidente, também conhecido como Eduardo Bananinha.

Leiam um trecho: “Eduardo Bolsonaro e algumas personalidades têm produzido uma série de declarações infames que, além de desrespeitarem os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que ela propicia, solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil”.

E a embaixada continua: “Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica de extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e evitar ir longe demais no caminho equivocado. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”.

As encrencas que o governo de Jair Bolsonaro vem procurando provocar com a China acontecem desde antes da campanha para presidente, quando teorias da conspiração que envolvem o governo chinês tiveram um papel importante para estimular adesões de fanáticos, impulsionando sua candidatura entre os malucos de primeira hora que deram os empurrões iniciais na campanha que acabou sendo vitoriosa.

Já com o governo instalado, teve o caso de Abraham Weintraub, que fez piadas tolas com a forma de um chinês falar o português, usando para isso o personagem Cebolinha, de Maurício de Souza. Weintraub era ministro da Educação quando fez essa provocação idiota a um grande parceiro comercial do Brasil. Como é um tipo que tem a língua como órgão mais dominador que o cérebro, Weintraub criou também outras complicações no cargo, como a ameaça de prender todos no STF. Teve que partir para um exílio mais que dourado no Banco Mundial, onde ganha mais de 100 mil reais por mês.

Mas a coisa não parou nesses quase dois anos de governo, com a maledicência criando complicações ainda mais sérias depois que começou a pandemia do coronavírus, quando embalados pelo discurso de Donald Trump seguidores de Bolsonaro passaram a culpar a China pela proliferação da doença, chegando até a acusar o governo chinês de ter criado propositadamente o vírus. Foi a mais imprudente desfeita dos governistas, que dificilmente não provocará retaliação muito séria porque nenhum governo pode aceitar uma manobra que pode colar em um país o estigma de ter criado criminosamente uma peste.

Não estou dizendo que a nota da embaixada chinesa seja esta resposta, pois acredito que os bolsonaristas ainda terão a ocasião de receber um retorno mais firme a estas acusações muito graves. Mas por enquanto, a nota da embaixada chinesa já serve para conferir a coragem da tigrada da direita bolsonarista. Em linguagem dessa direita tosca, terão que ser muito machos para não afinar depois dessa.

Não é uma questão diplomática fácil de encarar e sua condução política é ainda mais delicada entre os seguidores do mito que esboroou. É impossível enfrentar o desafio chinês e ao mesmo tempo o recuo necessário vai prejudicar seriamente a relação do deputado desastrado e do governo de Bolsonaro com o chamado bolsonarismo de raiz.

É uma questão diplomática muito interessante e cairá bem para um grupo político que estupidamente vem tratando a política internacional como se fosse bate-boca de redes sociais. Embora seja preocupante quanto ao interesse do nosso país, esta reação chinesa pode ter um caráter profilático, saneando em parte a nefasta contaminação da influência muito idiota desta direita sobre a política brasileira e o debate nacional.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O meme do vexame de Bolsonaro em Macapá

Bolsonaro é um craque em trapalhadas meticulosamente planejadas, mas seus melhores desastres acontecem quando ele improvisa. Nesta viagem ao Amapá, que não se sabe que utilidade teve, ele tentou fazer graça abrindo a porta do carro para acenar ao povo com o corpo pra fora.

Depois ainda tem bolsonarista que fica bravo quando dizem que este presidente precisa ser submetido a teste de insanidade por causa das coisas que faz. Um segurança preocupado com o risco para Bolsonaro procurou protegê-lo por detrás e a cena ficou muito estranha, ainda mais para um sujeito metido a machão.

É um dos melhores memes produzidos por Bolsonaro, político que causa raiva nos adversários porque esculacha sua própria imagem muito melhor do que qualquer detrator comunista. É de ficar para a história esta cena da “encoxada” do segurança no presidente. E o pior é que isso pode ter consequência no seu casamento com o Centrão. Pensem na ciumeira que vai dar.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


Bolsonaro e os testes da Covid-19 fora do alcance dos brasileiros

Imaginem quantas vidas não teriam sido salvas com a enorme quantidade de testes para Covid-19 que até agora estão parados no Ministério da Saúde. Foi o jornal Estadão que descobriu a existência do material. São 6,86 milhões de testes comprados pelo governo federal que perderão a validade entre dezembro e janeiro. Os testes identificam se a pessoa está infectada pelo vírus.

O jornal informa que até agora o SUS aplicou cinco milhões de testes deste tipo, o que significa que o governo de Jair Bolsonaro pode acabar descartando mais exames do que já realizou até agora. E tem também o alto custo do material que está há quase seis meses com o Ministério da Saúde. O total é de R$ 290 milhões, com a validade de oito meses.

Depois deste aviso da imprensa ainda dará tempo para a distribuição nos estados? Em um governo conduzido pelo menos dentro da normalidade, com uma acelerada isso seria possível, mas é óbvio que se fosse assim, produtos tão vitais não teriam sido mantidos fora do alcance de quem precisa. Bolsonaro está à frente de um governo tresloucado e incapaz até de tocar o que é mais básico. Ele é o chefe de um sistema estúpido, que desmantela tudo sem propor nada de novo, deixando também de colocar em prática uma substituição efetiva para o que vem sendo gradativamente destruído.

Já existe uma carrada de motivos jurídicos para o impeachment de Bolsonaro, mas este pode ser mais um. Se estes testes já tivessem sido aplicados, o trabalho de contenção do contágio por este vírus mortal teria sido muito mais produtivo, com um ganho importante em todo o país na trabalheira que esta pandemia vem dando a todos os brasileiros.

No entanto, desde o início dessa desgraça mundial Bolsonaro demonstra que está mais preocupado em atrapalhar o trabalho de estados e municípios do que colaborar para o enfrentamento desta doença, amenizando tamanho sofrimento. Alucinadamente, o sujeito vê adversários por todos os lados, além de fazer de tudo para ser detestado até por seus próprios aliados. Temos um presidente que age como um sabotador, atrapalhando e criando confusão durante a pior crise sanitária de todos os tempos.

E claro que não tem como não desconfiar de que tem má-fé neste novo caso que reforça o que já se sabe de seu comportamento detestável. A imprensa vem dizendo que os milhões de testes para Covid-19 estão “estocados” pelo Ministério da Saúde em um armazém em Guarulhos, mas com o histórico deplorável de Bolsonaro nesta pandemia cabe muito bem perguntar se na verdade os testes não estariam “escondidos” neste armazém.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Eleição manda o negacionista Bolsonaro para o isolamento

Jair Bolsonaro vem vivendo nesta eleição seu papel tradicional de “espalha-rodinhas”, o insuportável sujeito que nem os colegas queriam ter por perto quando ele era do baixo-clero na Câmara. Na disputa do segundo-turno candidatos rejeitam o apoio do presidente. O negacionista foi colocado em isolamento compulsório.

Nas campanhas, a determinação é de evitar ao máximo a contaminação altamente perigosa da sua presença. No primeiro turno vários candidatos foram aniquilados por causa da ligação com ele. O exemplo mais marcante é o de Celso Russomanno, mas existe uma ampla lista de vítimas: de 13 candidatos citados por ele em suas incríveis lives no Palácio Alvorada, nove não se elegeram.

É interessante o caso da candidata Delegada Patrícia, para quem Bolsonaro fez questão de telefonar para oferecer seu apoio. A ingênua aceitou. Até então favorita para a prefeitura de Recife, assim que Bolsonaro grudou na candidata ela despencou nas pesquisas e acabou em terceiro lugar, muito atrás dos que foram para o segundo turno.

Muitos candidatos pelo país afora acabaram sendo derrubados por causa da aproximação, digamos, de ideias com Bolsonaro, mesmo sem receber o apoio direto do azarento. Acompanhei de perto um caso que não saiu na imprensa nacional, na desastrosa campanha da candidata à prefeitura de Maringá, no Paraná, apadrinhada pelo deputado neobolsonarista Ricardo Barros, líder do governo e homem de Bolsonaro no notório Centrão.

Barros lançou pelo PP a candidata Coronel Audilene (PP) — outra “coronel”, eles acham o máximo qualificação como militar ou policial em propaganda política. Sua candidatura parece ter tido um planejamento de longo prazo. Primeiro a candidata foi comandante da PM no Paraná, nomeada em 2018 por Cida Borgheti, mulher de Barros que assumiu o governo do estado depois do titular Beto Richa sair para disputar o Senado.

O campanha da coronel do deputado Barros foi tipicamente bolsonarista. E para quem acredita que o líder do governo é um grande articulador, informo que foi um desastre do começo ao fim, desde a nomeação dois anos antes para o comando da PM paranaense até o eleitor depositar seu voto na urna. Coronel Audilene ficou com apenas 9,60% dos votos, em terceiro lugar, muito atrás de Ulisses Maia (PSD), que se reelegeu no primeiro turno.

Este é apenas um resumo do percurso de Bolsonaro nesta eleição, que em alguns lugares terá um segundo turno com poucos sobreviventes da ligação com o pé-frio. É natural que queiram ficar afastados do perigo da contaminação pela sua péssima imagem. É desse jeito que Bolsonaro se encaminha para a eleição presidencial, claro que se conseguir chegar até 2022. De qualquer modo, até lá dificilmente ele sairá do isolamento

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires


terça-feira, 17 de novembro de 2020

Bolsonaro perde no voto e no seu negacionismo

A eleição municipal serviu para repor Jair Bolsonaro em seu papel original de deputado do baixo clero. A influência eleitoral do presidente revelou-se até negativa, com candidatos perdendo força de captação de votos logo que os eleitores se aperceberam da sintonia com este sujeito que antes de virar presidente era na Câmara um político desagradável, o conhecido “espalha rodinhas”, que fazia todos saírem apressados quando ele chegava.

Bolsonaro é o grande derrotado desta eleição municipal. Sua acachapante derrota é comprovada por apoios diretos dados por ele, que foi atrás de briga nos municípios depois de ter declarado que manteria a neutralidade nesta eleição. Como não conseguiu ficar quieto no seu canto revelou também eleitoralmente o dote impressionante de arrasar com tudo o que toca.

Ele foi o Bolsonaro de sempre, um sujeito sem noção que vive criando batalhas desnecessárias e buscando medir forças até em situações em que a comparação é absolutamente estúpida, como faz com suas maledicências gratuitas contra a China e noutras conversas idiotas, como fez com a ameaça de usar “pólvora” para resolver divergências com Joe Biden, o novo presidente dos Estados Unidos.

Com esta ideia delirante de conflito, sem necessidade alguma o capitão que foi obrigado a sair do Exército colocou as Forças Armadas numa situação humilhante, expondo a condição militar muito inferior do Brasil frente ao maior poderio militar do planeta.

Com a mesma afobação ele entrou nas eleições municipais. Mas neste caso pelo menos ele prestou um bom serviço à democracia brasileira, expondo de um modo explícito algo que poderia ter se mantido apenas como suspeita: sua interferência não agrega força eleitoral, podendo ter inclusive efeito contrário. Em vez de levantar, Bolsonaro puxa pro fundo.

O exemplo mais interessante foi o da Delegada Patrícia, candidata à Prefeitura de Recife, que recebeu um telefonema de Bolsonaro oferecendo apoio político. Parece que ele não compreendeu muito bem as condições da popularidade do governo no Nordeste turbinada pelo fugaz aumento de renda dos mais pobres com o auxílio emergencial, o chamado coronavoucher.

O sujeito que não conseguiu sequer coletar assinaturas suficientes para o registro de seu partido ligou para Recife. “A esquerda está para ganhar, quero te apoiar aí. O que importa é derrotar a esquerda”, ele disse para a candidata do Podemos. Bolsonaro se referia à João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT). Patrícia crescia nas pesquisas, parecendo que iria ao segundo turno com Campo. Depois que aceitou o apoio, a alta rejeição de Bolsonaro na capital pernambucana a fez cair nas pesquisas.

Com Bolsonaro na parada, Patrícia perdeu o apoio do Cidadania, que havia retirado a candidatura própria para apoiá-la. A petista Marília Arraes e Campos é que foram para o segundo turno. Claro que depois dessa, se chegar até 2022 o bravo apoiador terá que pelejar para arrumar parceiros de luta em Pernambuco.

Na disputa para a prefeitura de São Paulo, com maior ressonância política e também atrapalhando quando pensava determinar o rumo da eleição, Bolsonaro animou-se em formar dupla com Celso Russomanno, que adotou o discurso do presidente e viu sua candidatura despencar nas pesquisas com uma rapidez que nunca havia experimentado.

Russomanno costuma ser rejeitado pelo eleitor quase na hora do voto. Agora abraçado a Bolsonaro, ele ficou para trás já na largada e por poucos votos não acaba em quarto lugar. Com Russomanno foi possível observar também a falência do discurso que levou Bolsonaro ao poder e o efeito político da irresponsabilidade criminosa do presidente quando à pandemia. Russomanno adotou a posição de Bolsonaro, mudou rápido de discurso quando sentiu reação negativa da população, mas não conseguiu consertar o estrago.

O ponto positivo foi que revelou-se bastante cedo que o descaso com a Covid-19 vai ser cobrado pela população. Aconteceu a mesma coisa em vários estados, com a derrocada de candidatos apoiados por Bolsonaro e também daqueles que adotaram discurso parecido ao que foi usado por ele para se eleger presidente. Prefeitos que confrontaram Bolsonaro e adotaram medidas razoáveis foram reeleitos no primeiro turno ou foram bem votados para a disputa final.

A direita embriagou-se com o sucesso fácil e depois não se dedicou ao trabalho de estabelecer conceitos sólidos e demonstrar de forma prática a validade de seu discurso. Grudaram-se de forma desumana a uma postura de desrespeito à ciência, adotando o negacionismo até para um vírus mortal. Estão fazendo gesto de arminha até hoje e ainda apontam para o PT, que também afundou de vez nesta eleição.

O resultado prático é que com dois anos dessa estupidez que foi levada ao poder nem existe de fato uma “via de direita”. Foi tanta maluquice que até o verdadeiro conservadorismo ficou desacreditado. O brasileiro mostra que procura a moderação política, nada a ver com esta tresloucada direita incompetente e cruel. No popular, este papo não cola mais.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires


sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Joe Biden traz um tempo novo com a derrota de Donald Trump e seus conceitos da pós-verdade

A revista Time sintetizou muito bem o significado da vitória de Joe Biden sobre Donald Trump. Com o título “Um tempo para curar”, o presidente eleito dos Estados Unidos aparece na capa desta semana com a vice-presidente Kamala Harris, os dois de máscara sanitária, mas evidentemente a “cura” que esta vitória pode trazer não é apenas no campo da pandemia, ainda que essa tarefa tenha um peso determinante sobre todo o mundo. A derrota de Trump é um basta a um período de mentiras, manipulações e de um comportamento desrespeitoso e cruel, a tal da técnica do pós-verdade, que parecia inaugurar uma era, mas que pode ser abreviada e mais rápido do que parecia ser possível, como ficou demonstrado no país onde estava no poder o embusteiro mais poderoso.

Cabe destacar que o foco agora em Joe Biden vai também ajudar a dirigentes brasileiros sensatos a salvar muitas vidas no Brasil. Com Trump fora da Casa Branca, o presidente Jair Bolsonaro perderá com a queda do ídolo americano o amparo politico para suas irresponsáveis atitudes negacionistas, que até agora vem prejudicando demais o combate à Covid-19. Sem a dobradinha grotesca e criminosa com Trump, será mais difícil para Bolsonaro dar vivas à morte e ao vírus, torcendo contra a vacina e atuando o tempo todo contra medidas essenciais de prevenção.

É muito provável que a segunda onda de contaminações caia sobre o Brasil sem que tenhamos atravessado a primeira onda. Já vem ocorrendo um descuido perigoso em todo o país com regras de prevenção, com o empurrão para o abismo sendo dado todos os dias por Bolsonaro e seus seguidores fanatizados, além dos profissionais da enganação que atuam por dinheiro e likes. Os cretinos fazem campanha até contra o uso de máscara, uma proteção que será necessária durante um bom tempo mesmo que sejam fabricadas vacinas eficazes contra o vírus.

Uma pesquisa feita pela USP e Unesp com uma ferramenta chamada “Info Tracker”, desenvolvida pelas duas universidades públicas, chegou à conclusão de que houve um salto entre agosto e novembro de casos suspeitos de Covid-19 em São Paulo. Hospitais particulares da capital paulista registraram nos últimos dias aumento nas internações de pacientes com a doença. No hospital Sírio Libanês o pico de abril foi alcançado mais uma vez. Segundo especialistas, a movimentação que parece ser de uma segunda onda já ocorrendo em São Paulo é a mesma do início da pandemia no Brasil, em março. A notícia saiu em O Globo.

Podemos ter no Brasil o início de uma segunda onda, antes de haver uma descida da curva. Neste caso, será muito complicado diferenciar a nova onda da primeira, com a doença ainda em números muito altos. Imaginem como será esta explosão. Contágios e mortes ainda estão muito acima do razoável. O último registro de 24 horas estava nesta quinta-feira em 926 mortes. Uma causa importante dessa dificuldade em fazer descer a curva é o trabalho contrário de Jair Bolsonaro, que impediu até agora — com o número de mortes ultrapassando 164 mil — um combate bem coordenado em todo o país, centralizado em ações efetivas do governo federal.

É muito bom ver Joe Biden e Kamala Harris com máscaras sanitárias na capa da Time, do mesmo modo que estiveram durante toda a campanha, enquanto Trump tirava sarro dessa precaução, que Biden fazia questão de expor aos eleitores até mesmo para servir como exemplo, além de dar um indicativo firme de como será conduzido o governo dos Estados Unidos a partir da sua eleição. A derrota de Trump é uma referência firme de que atitudes irresponsáveis e até criminosas em relação à pandemia não são recompensadas politicamente. O aviso do eleitor americano é muito bem-vindo no mundo todo e ainda mais aqui em nosso país, que ainda não conseguiu tirar do poder de forma democrática Jair Bolsonaro, imitador de Trump inclusive como péssimo presidente no controle da pandemia.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

As guerras desastradas de Jair Bolsonaro

Até aqui as bravatas de Jair Bolsonaro no campo da política internacional eram motivo de piada, mas agora a coisa ficou muito séria. O pior presidente que o Brasil já teve mandou pólvora nessa conversa. Ainda não está havendo convocação de reservistas, não deram início aos exercícios com a população civil para ataques aéreos, até porque a declaração de guerra aos Estados Unidos foi feita pelo ex-capitão de modo informal, mas foi brutal a ameaça aos americanos.

Nesta terça-feira, comentando a intenção de Joe Biden de aplicar aplicar sanções comerciais caso o Brasil não mude sua política ambiental, Bolsonaro disse que se não der pra resolver na “saliva”, “tem que ter pólvora”.

Vamos à fala do valente na íntegra: “Assistimos há pouco um grande candidato a chefia de Estado dizer que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas na diplomacia não dá, não é, Ernesto [Araújo]? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona. Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo. Ninguém tem o que nós temos”.

A ameaça de conflito já se espalha pelo mundo. A Agência Reuters distribuiu a notícia do presidente brasileiro alertando Joe Biden que “diplomacy is not enough, there must be gunpowder” — “a diplomacia não é suficiente, é preciso pólvora”, na língua dos nossos bravos combatentes, comandados pelos generais bolsonaristas de pijama. Talvez Bolsonaro também conte com tropas de discípulos do guru Olavo de Carvalho, atualmente agrupado na Virgínia, de onde todos os dias dispara fake news pelo Twitter e pelo Facebook, atacando as fraudes contra o ídolo Donald Trump.

Destaque-se na declaração de guerra desse sujeito sem noção o trecho em que ele fala em “grande candidato a chefia de Estado”. Bolsonaro ainda não botou em sua cabeça dura que a partir de janeiro o presidente dos Estados Unidos será Joe Biden.

Ele meteu-se em uma jogada absolutamente contrária aos interesses do Brasil ao se envolver com a tentativa de tapeação de Donald Trump na eleição nos Estados Unidos. Desde que assumiu o cargo, por sinal, Bolsonaro vem contrariando normas básicas de relações internacionais, uma delas muito simples, que é pautar-se pelas regras e formalidades usuais entre as nações, sem acreditar que pode-se dar um jeitinho criando atalhos com supostas relações de amizade.

Eu poderia dizer inclusive que relações pessoais não contam especialmente com os Estados Unidos, país que não hesita em passar por cima de parceiros conforme manda sua conveniência, ressaltando que essa política de olhos nos olhos vale menos ainda com alguém como Trump, um sátrapa que não garante respeito pessoal nem para Melania, mas o fato é que independente de quem habita a Casa Branca, jamais se deve colocar questões pessoais onde decisões não obedecerão ao foro íntimo de nenhuma das partes.

E claro que é cinismo qualquer papo de relação pessoal que venha de um sujeito como Bolsonaro, conhecido por esfaquear pelas costas vários parceiros fundamentais para sua eleição. O caso dele com Trump foi apenas um golpe equivocado de um espertalhão mal informado, que conta inclusive com uma assessoria muito capaz de dar mais peso às suas decisões erradas.

Seu governo já está todo encrencado internacionalmente, com sérias dificuldades de relacionamento que envolvem países do nosso continente e vão até as complicações com a China, importante parceiro comercial que tem recebido de governistas de destaque até gozação com o sotaque de seu povo, além das graves acusações de que o vírus da pandemia é chinês.

Agora aparece esta declaração de guerra ao presidente eleito dos Estados Unidos, que, desconsiderando o que tem de ridículo na ameaça, não deixa de ser uma atitude de hostilidade, quando o que deveria estar sendo colocado em campo é o uso da diplomacia para consertar tantos desarranjos anteriores. Em linguagem militar, o momento é de construir pontes e não de dinamitá-las. Mas parece que não tem jeito. O bolsonarismo vive em estado de guerra contra o bom senso.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires



terça-feira, 10 de novembro de 2020

Bolsonaro: o governante que torce contra a vacina da Covid-19

Já faz tempo que se acumulam as suspeitas de que os brasileiros elegeram para presidente um sujeito com fortes traços de psicopata. Jair Bolsonaro não tem empatia com o sofrimento humano, desvio de personalidade do qual ele até fazia propaganda durante a campanha eleitoral e que foi piorando depois dele assumir o cargo de presidente. Na sua condução durante esta pandemia do coronavírus a sua falta de empatia ficou asquerosa.

Ele não dá a mínima para as mortes causadas pela Covid-19. Tem dificuldade até para falar umas poucas palavras de conforto aos familiares e pessoas próximas dos atingidos por uma doença que impede a proximidade com a vítima durante o tratamento e não permite nem os rituais fúnebres tradicionais. A partir da hospitalização, no agravamento dos sintomas e mesmo para enfrentar a chegada da morte, a doença obriga ao recolhimento da solidão. É uma doença que não permite nem o afeto dos mais próximos na despedida da vida.

Bolsonaro trata com descaso todo esse sofrimento. Ficaram famosos seus comentários, que começou com o deboche cruel do “É só uma gripezinha”, depois veio o “E daí?”, sem se importar com o crescimento avassalador do número de contaminações e de mortes, quando dizia que “Todos nós vamos morrer um dia” e “Eu não sou coveiro, tá?” ou perguntava agressivamente “Quer que eu faça o quê?” e até fazia piadas grosseiras, como quando afirmou que quem é “bundão” tem chance menor de sobreviver à doença.

Um sujeito que não honra o cargo de presidente da República tem que ser definido de forma objetiva: seu comportamento é repugnante. O Brasil nunca teve no comando alguém tão desagradável. É o pior presidente de toda a nossa história. Nem dá para dizer que Bolsonaro ultrapassou limites, pois ele nunca teve respeito algum, seja nas relações pessoais ou institucionais. Agora, nesta semana, ao festejar a suspensão de testes da vacina Coronavac, o presidente apenas confirmou seu péssimo caráter.

Ele deu um “Viva a la muerte!”, depois da Anvisa suspender de forma suspeita os testes com a vacina, com a agência alegando que fazia isso por causa da morte de um dos voluntários. A morte nada teve a ver com a vacina — está confirmada como suicídio. O presidente se alegrou com a paralização dos testes de uma vacina, tomando isso como uma vitória política.

Bolsonaro festejou a morte, como se o fracasso da descoberta da cura da Covid-19 fosse a derrota de um adversário. Ora, já faz tempo que ficou muito clara sua lamentável má-fé, então não é nada que surpreenda. Apenas confirma que o Brasil não deve contar com seu próprio presidente para enfrentar a pior crise sanitária dos últimos tempos no mundo todo e que entre nós brasileiros já está com o registro oficial de mais de 160 mil mortes. Bolsonaro não é o aliado da esperança e da vida. Ele torce pela morte.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires


segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Joe Biden, Kamala Harris e a dificuldade da direita brasileira aceitar a realidade

A direita brasileira está fazendo tudo errado com Joe Biden, o que não é incomum com essa gente, mas pelo menos neste caso podiam ter um pouco de equilíbrio e tratar sua eleição com pragmatismo. Do ponto de vista político, Biden pode ser classificado no máximo como socialista moderado, numa avaliação até exagerada, como bolsonarista gosta de fazer — com ele é possível criar um diálogo e encaminhar soluções mútuas sem grandes complicações.

Portanto, os direitistas devem é rezar pela saúde do velhinho americano, porque é com a vice-presidente Kamala Harris que pode ser dureza as relações entre os Estados Unidos e o Brasil. Claro que estou falando dessa relação no sentido do que interessa ao governo de Jair Bolsonaro, porque do meu lado, caso Biden fique impossibilitado de seguir como titular, vou até achar muito engraçado ver bolsonarista apanhando de mulher.

Sei que grande parte dessa direita brasileira apenas finge que é religiosa para obter proveito político e até ganhar dinheiro e likes, mas não custa muito fazer um esforço. Rezem para que Joe Biden tenha bastante saúde, que não precisa ser nem durante todo o mandato dele, pois no máximo em dois anos vocês serão enxotados pelos brasileiros do Palácio do Planalto, do mesmo modo que o povo americano mandou Donald Trump embora da Casa Branca.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires