terça-feira, 30 de setembro de 2014

Aviso ao eleitor: mais importante que um Banco Central independente é uma Polícia Federal independente, um Ministério Público independente, um Congresso Nacional independente, uma Justiça independente, um STF independente e uma imprensa independente.
E o Brasil não terá nada disso com a reeleição de Dilma Rousseff.
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POR José Pires

Um grande ex-presidente

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é o político brasileiro que mais sabe levar a vida. Ou deixar a vida levá-lo, conforme a lição do belo samba cantado por Zeca Pagodinho. Sempre foi assim. Como presidente da República pegou os piores tempos deste país depois da abertura política. A economia mundial era um problema o tempo todo. Naquela época ele tinha também a pior oposição, que era feita por um PT sem nenhuma responsabilidade com o país. No entanto, ele conduziu bem essa relação difícil, sem ceder às chantagens petistas e nem extrapolar politicamente, mantendo na presidência da República o bom senso mesmo diante das provocações mais baixas, como aconteceu daquela vez em que o MST invadiu uma propriedade rural da sua família e posou para fotos fazendo baixarias na casa da propriedade.

Mesmo naqueles dias difíceis, Fernando Henrique mantinha o bom humor. Piadista, de vez em quando aparecia alguma boa gozação dele nos jornais, às vezes sobre politicões que tinham contato frequente com ele. Também costumava revelar certas encenações em torno do poder, como as daqueles políticos que se reúnem com o presidente e depois saem vazando pra imprensa. Ele diz que todos fazem isso. E dão versões que nada tem a ver com o que realmente foi tratado na conversa. O falecido senador baiano Antônio Carlos Magalhães fazia muito isso e certa vez o presidente Itamar Franco deu-lhe uma bela entortada em público que desmoralizou uma bravata sua, mas isso é outra história.

Se quisesse, Fernando Henrique se elegeria muito fácil para qualquer cargo parlamentar. Também se fosse seu desejo ele teria muito poder de decisão no PSDB, podendo exercer um papel de chefão, como faz Lula no PT. É óbvio que sua opinião é de muita importância para os tucanos, mas no partido ele nunca foi além do papel de mais notável conselheiro tucano. Dos ex-presidentes que ainda estão vivos, Fernando Henrique é o único que não virou cacique político.

Independente do que penso deles, o Brasil ganharia bastante se todos os ex-presidentes tivessem um comportamento parecido com o de Fernando Henrique. Mas eles agem da forma contrária. São politiqueiros demais e de ambições pessoais mesquinhas. Não contribuem com qualidade política para o país e degradam seus partidos com suas intromissões sempre além da conta e de baixo nível político e ético. Disso Lula é o melhor exemplo (um mau exemplo, é claro). Fez um mal tão grande para o próprio PT que caso um dia os petistas acordem para isso vão chorar com a consciência do estrago.

Nesta eleição Fernando Henrique vem se comportando dessa mesma forma que relatei. Se meteu pouco no debate, mantendo sempre um respeito ao seu papel histórico. Nem as grosserias diretas do Lula e de Dilma ele responde. O tucano sabe que um ex-presidente não tem uma voz apenas individual. Quando um ex fala, ressoa sempre um eco do respeito institucional ao cargo que ocupou. Ele interfere pouco, mas quando o faz acerta na mosca. Nesta segunda-feira, falando a empresários em Fortaleza, ele fez uma ótima gozação com as trapalhadas econômicas da presidente Dilma Rousseff. “Ela merece o Prêmio Nobel da Economia, pois conseguiu arrebentar tudo ao mesmo tempo. Isso é muito difícil de fazer em economia", ele disse. E com isso arrancou aplausos de 1.200 empresários presentes e agora de toda a internet, tirando os petistas.

Ele não deixou de pedir votos para Aécio Neves, mas teve aquela conhecida sinceridade para falar da situação do candidato do seu partido. Ele acha difícil Aécio ir para o segundo turno. "Se fosse pelas qualidades dele, iria, mas a máquina federal está muito organizada para reeleger a presidente e o apelo de Marina é forte.” É disso que estou falando. Outro ex-presidente iria mentir para tentar favorecer o colega, como vem fazendo Lula, que até arma palanques e claques para suas bobajadas. Mas Fernando Henrique sai com essa. É óbvio que o Aécio Neves vai ficar bravo e é capaz até de ligar pra ele. E se isso acontecer é provável que o papo termine em risadas, porque sabe-se que numa conversa privada o ex-presidente perdoa menos ainda. E depois de desligar o telefone, Fernando Henrique vai deixar a vida ir levando. Tomara que seja por bastante tempo.
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POR José Pires

Ciência pra ganhar voto

Adivinhem em quem vai votar o Miguel Nicolelis, aquele cientista do exoesqueleto que pretendia ser a estrela da Copa do Mundo e que acabou protagonizando um fiasco que só perdeu pro sete a um da Seleção Brasileira? Pois é, ele é Dilma de coração. Está até declarando voto pra ela, não da forma espetacular que pelo jeito era o plano deles, mas sem deixar de cumprir com o que agora se vê que estava acertado naquela Copa planejada especialmente com objetivos eleitorais.

Com este apoio, Nicolelis se junta à Academia de Ciências do PT, composta de ases científicos como Marcos Pontes, o assim chamado "astronauta brasileiro", lembram dele? Pontes foi protagonista de um projeto da Agência Espacial Brasileira, que botou o Brasil em um consórcio de países que participavam da montagem de uma Estação Espacial Internacional. O governo combinou de investir 100 milhões de dólares, mas voltou atrás. Ficou só com a participação do astronauta na viagem de foguete, mas ainda assim o custo foi altíssimo. Dez dias no espaço ficaram em 1 milhão de dólares por dia pros cofres públicos brasileiros.

Durante a viagem espacial o "astronauta brasileiro" fez germinar no espaço umas sementes de feijão, cujo resultado científico nunca veio à luz. Na volta, Pontes foi recebido com honras de herói e devidamente amedalhado pelo então presidente Lula, em 2006. Naquela ocasião o Brasil já sabia há um ano das experiências do governo do PT com o mensalão. Na cerimônia de amedalhamento do nosso caro astronauta, Lula sapecou frases de inspiração marqueteira. "Sua viagem ao espaço tem um significado histórico muito importante para o Brasil”, foi uma delas. E outra foi esta: "Este também é um sinal para o mundo de que o Brasil caminha a passos largos para exercitar plenamente sua soberania”. Só faltou ele dizer que nunca antes na história do universo o Brasil teve um astronauta no espaço.

Com o cientista da performance do exoesqueleto que deu chabu não foi possível criar nenhuma encenação patriótica. Tenho a impressão de que Miguel Nicolelis não recebeu nem medalha. Mas hoje sabe-se a razão da sua presença num dos momentos mais importantes de uma Copa planejada para terminar num dia de um número notório, o 13. Alguém duvida que se tudo desse certo o cientista não faria em seguida uma apoteótica visita ao Palácio do Planalto? Mas não deu. O problema foi o resultado pífio, muito aquém do que ele havia anunciado. O roteiro era de filme de ficção científica. Auxiliado pelo tal exoesqueleto, um paraplégico se levantaria de uma cadeira de rodas, daria alguns passos e chutaria uma bola, que simbolicamente seria o "chute inicial" do campeonato mundial. Imaginem que cena bonita isso não daria agora, nesta eleição, com o jingle da candidata do PT por detrás e o cientista aparecendo pra pedir com um sorriso confiante pro povo votar na Dilma. Mas também não deu. O apoio dele tem que ser discreto, porque não aconteceu nada do que havia sido prometido. Com o fiasco da experiência apareceram inclusive reportagens com cientistas experientes informando que nada havia de novidade naquele exoesqueleto.

Esta é a cultura científica que este partido trouxe neste longo período de governo, que já vai para 12 anos. Uma ciência de espetáculo eleitoreiro, com o desperdício de dinheiro público, enquanto universidades e instituições de pesquisas sobrevivem com verbas minguadas, baixos salários e falta de estrutura. É a Academia de Ciências do PT, voltada exclusivamente ao objetivo de manter-se indefinidamente no poder.
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POR José Pires

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O regaço do petista envergonhado

Luciana Genro é o resguardo do esquerdista envergonhado de assumir publicamente seu apego à continuidade do governo do PT. Esta eleição trouxe a novidade da vergonha de votar no PT. Muitos petistas se esconderam no armário. Teclar o 13 às escondidas na cabine eleitoral, tudo bem. Mas assumir para os mais próximos e até escrever no Facebook em defesa do PT não dá mais depois da descoberta de tanta maracutaia.

Desde que a cúpula do partido foi condenada pelo mensalão e encarcerada na Papuda e logo depois veio a a roubalheira na Petrobras ficou difícil de exibir a estrelinha no peito. Até amante do Lula apareceu para dar um medinho de ser feliz. Não dá mais para vestir a camisa do partido e se enrolar na bandeira vermelha. O negócio é ser criptopetista. E está aí a candidata do Psol para servir de abrigo dessas consciências culpadas. É um jeito de se manter na discussão política sem se comprometer, com a vantagem da Luciana Genro não oferecer nenhum perigo para a candidata de verdade de todo criptopetista, que também é mulher, mas não é a Marina Silva.

Outra coisa que facilita a vida do criptopetista é que Luciana Genro é inimputável. É uma senhora de mais de 50 anos, mas é café com leite na política. Pode dizer o que quiser. Até besteiras fenomenais como afirmar que nos países do chamado socialismo real não foram colocadas em prática ideias marxistas. Stálin não era comunista, camaradas. Lenin nunca foi leninista. Fidel Castro jamais aderiu ao castrismo. Mao Tsé-Tung Che era um neoliberal asiático. Guevara morreu lutando para implantar a democracia na Bolívia. Milhões de pessoas se suicidaram sob o stalinismo, outros milhões se mataram na China, mais uns tantos no Leste Europeu. Ô pessoal pra gostar de se matar só pra enxovalhar a memória daquela santo filósofo, o Karl Marx. Não me comprometa com esse comunismo que não existiu, eu sou eleitor de Luciana Genro.

É um compromisso que não compromete a luta. Dá até pra continuar a sentar a lenha nos tucanos. E numa mesa de bar ou teclando com a companheirada não existe risco algum de uma ruptura real e nem tem o problema de ser xingado de coxinha ou direitista. O máximo que pode acontecer é ser chamado de porra-louca e mesmo assim com certo carinho, porque todo petista, mesmo quem virou gatuno, foi um porra-louca em sua origem. E é só até o segundo turno, quando feito zombies tomando o planeta todo criptopetista voltará a se transformar num petista. E nesta primeira votação, na hora agá, companheiros, naquele momento de teclar os dois algarismos, o que vai aparecer é a foto de uma mulher que não é a Luciana Genro. E nem a Marina.
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POR José Pires

Marina Silva querendo mudar o voto

Essa tentativa de Marina Silva passar como apoiadora da CPMF em votações como senadora deveria servir para acender o sinal vermelho em relação à sua candidatura. É até tolo que ela tenha vindo com uma conversa dessas, pois é óbvio que alguém iria verificar essas votações para saber a verdade. Coube à Dilma Rousseff faturar com seu deslize, mas de todo jeito apareceria sua posição real na votação do Senado.

O jornal "O Globo" vem fazendo uma boa checagem sobre o que dizem os candidatos e já havia mostrado que Marina sempre votou contra a CPMF como senadora. Seu voto foi contrário em 1995 e em 1999. Esta foi a posição firmada do PT, até aumentar a chance de Lula ser eleito presidente. Em junho de 2002 seu partido optou pela prorrogação da cobrança. Presente no plenário nesse dia, Marina não registrou seu voto. Não votar tem o mesmo peso de ser contrário. A mentira de agora era para fortalecer a imagem de que quando foi do PT ela não fez "oposição por oposição", o que é conversa fiada. Ela participou de todas aquelas bravatas petistas. Marina só não votou contra Tancredo Neves (o outro candidato era Paulo Maluf, a continuidade civil da ditadura militar) porque não era parlamentar na época, senão seguiria o chefe Lula e seus companheiros.

A votação no Senado foi revelada por "O Globo" antes do debate deste domingo, quando Marina passou vergonha sendo flagrada na mentira. A matéria saiu no dia 9 de setembro e a assessoria da candidata não deu resposta ao questionamento do jornal. Será que Marina e seus assessores de campanha estavam achando que nenhum candidato havia lido uma notícia dessas? É o que parece, mas o problema pode ir além de um deslize político e avançar para a psicologia. Marina sofre de um encantamento pelo que sai de sua própria boca, sem atinar nem para contradições que podem ser exploradas pelos adversários.

Nem é preciso elaborar sobre o que pode vir por aí se ela for eleita e tiver de encarar negociações com as cobras criadas da política brasileira. O governo de Lula já mostrou o desastre que isso é para a administração pública. Ego inflado e visão messiânica na política sai bastante caro para todos os brasileiros. Marina perdeu de tal forma o controle sobre sua posição real na política que quando fala sobre a grave situação atual do meio ambiente no país em seu discurso inexiste qualquer responsabilidade sua com a construção deste desastre nos quase oito anos em que esteve à frente do Ministério do Meio Ambiente nos dois governos de Lula.

Pode-se votar em alguém por conveniência, como deve fazer a maioria do eleitorado de Dilma Rousseff. Pode-se também votar em um candidato que não é capaz das grandes reformas de que o país precisa, mas que sem dúvida fará o desmonte do esquema petista no governo federal, que é uma razão sensata do voto em Aécio Neves. O tucano tem também um partido com experiência histórica na administração pública, sendo governo em estados importantes do país. Aécio também não tenta vender a imagem de uma liderança acima das necessidades práticas da política. Dessa forma, sem propor passos impossíveis de serem dados, um governo pode botar ordem na casa para o Brasil tomar fôlego para seguir em frente.

Mas por que alguém votaria em Marina Silva? Foi construído em torno de sua candidatura a ilusão de algo diferente do que existe na política e ela acena aos brasileiros com esperanças que não batem com o histórico de realizações de uma líder que não conseguiu sequer juntar assinaturas suficientes para criar um partido alternativo. Mas desde que assumiu às pressas a candidatura, sua imagem vem sofrendo desmontes dentro das contradições de seu próprio discurso, até culminar com esta mentira grossa, que felizmente é facilmente verificável. Está aí o sinal vermelho. Se estivermos à frente de um engodo, quando ela for pega na mentira na presidência da República será muito tarde para evitar o prejuízo.
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POR José Pires

Engolindo pesquisas

Na sexta-feira apareceu mais uma óbvia manipulação referente à pesquisas, desta vez feita pelo site 247. O site é governista e tem um material editorial tão enganador que já pegou o apelido de 171. O texto é uma daquelas notícias plantadas para criar bagunça e desestímulo entre os adversários e dar mais uma levantada na candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff. Esse é o serviço do 247. Jamais fez outra coisa, até porque foi criado exatamente para servir ao governo.

O texto fala em "números" recebidos pela lideranças do PT mostrando queda de Marina Silva e uma levantada tão grande de Aécio Neves que esses mesmos petistas já contam com ele como adversário no segundo turno. Dão até os porcentuais, mas sem dizer de que instituto veio: 38% para Dilma, 23% para Marina e 19% para Aécio. Reparem que mesmo emparelhados, a posição dos candidatos da oposição não é nada boa, ao contrário de Dilma, que está numa boa.

Esse é o tipo de notícia que é para ser lido e imediatamente classificado como lixo da pior espécie, no entanto mesmo sendo uma manipulação feita até sem habilidade isso deu uma animada entre os partidários da candidatura de Aécio Neves. No meio da semana os tucanos já andavam alegres com outra pesquisa para embaralhar a compreensão do eleitor, feita pelo instituto Sensus, que aproximava Aécio de Marina, sempre cuidando para manter Dilma numa situação bem favorável. O Sensus é um instituto sem credibilidade e, para piorar, a pesquisa é encomendada pela Istoé, que há muito tempo faz qualquer coisa em época de eleições.

Desde que caiu o avião que matou Eduardo Campos, o governo do PT tem usado do jeito que quer o recurso eleitoreiro de divulgação de pesquisas. Até por uma vagabundagem profissional a imprensa dá um destaque exagerado ao tema. Dessa forma, mesmo quando não favorece a candidata oficial, a discussão de pesquisas distrai a atenção do eleitor dos problemas graves do país que prejudicam a reeleição de Dilma. É sempre melhor que se discuta nas redes sociais se Aécio Neves desceu ou subiu do que ter internautas falando da roubalheira e da incompetência do PT no governo.

E do jeito que as coisas estão, o assunto pega. Mesmo vindo de fontes suspeitas, a divulgação desses números fez tucano virar papagaio nas redes sociais. E aconteceria a mesma euforia com os apoiadores de Marina se o momento fosse de elevar a candidata do PSB para favorecer o governo ou ao menos bagunçar as campanhas dos adversários. É difícil consertar um país com um povo tão chegado a um autoengano. Para o brasileiro, pesquisa é igual aquela fábula das uvas fora do alcance da raposa. O bicho desdenha, dizendo que elas estão verdes. E então vai embora. Mas quando acontece um barulhinho, volta correndo com a esperança de que algum cacho tenha caído. É do mesmo jeito com o eleitor. Ele acredita em qualquer pesquisa que tenha algum barulhinho favorável ao seu candidato.
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POR José Pires

domingo, 28 de setembro de 2014

Jornalismo de um lado só

O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo publicou uma notícia nesta sexta-feira em seu site que mostra o nível de comprometimento político que tem havido nesta eleição da parte de várias instituições que, por obrigação, deveriam ter um comportamento da maior imparcialidade. O comprometimento da maioria dos sindicatos do país é com a candidatura oficial, a mais poderosa economicamente e que tem a máquina pública. Um sindicato de jornalistas tinha que esta bem longe desse engajamento, porque isso toca diretamente num aspecto técnico e ético da profissão. Mas infelizmente nossos sindicatos acabaram se engajando na luta pelo poder, em prejuízo da nossa própria profissão.

A notícia do site do sindicato que representa os jornalistas do estado de São Paulo é sobre um incidente de campanha que aconteceu numa caminhada dos candidatos Aécio Neves e Geraldo Alckmin, em Taboão da Serra. O fotógrafo André Penner foi agredido e teve seu equipamento roubado, no meio de uma confusão que não foi bem esclarecida. O equipamento de Penner foi recuperado e restituído a ele logo após o tumulto.

Logo após o incidente os responsáveis pela campanha de Aécio Neves esclareceram que não houve a contratação de seguranças para o evento. A segurança do candidato foi feita por policiais federais. O editor de imagens da campanha de Aécio Neves também foi agredido durante o evento. A coligação de Aécio Neves divulgou uma nota com estas informações, que saiu na íntegra em vários sites.

Menos no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Seu site não traz nenhuma das informações acima. O sindicato publicou um texto que induz o leitor a ver na agressão ao fotógrafo uma responsabilidade da campanha do tucano. Já começa pelo título (que pode ser visto na imagem), que é muito bom para ser repassado em rede social como material contra os tucanos. E é o que vem sendo feito. Num trecho da matéria do site do sindicato tem até uma informação que não está em nenhum outro lugar. Vou transcrever na íntegra: "Penner, que registrou boletim de ocorrência, identificou pessoas com camisas do PSDB, que agiam como seguranças, como os responsáveis pela agressão".

Além de não estar em nenhum outro lugar, esta informação de que o fotógrafo "identificou pessoas com camisas do PSDB" como seus agressores se choca com a nota da coligação do candidato do PSDB. Como obrigação profissional, o sindicato teria ao menos de publicar a versão da campanha do tucano. O site da Folha de S. Paulo informa que o fotógrafo foi defendido da agressão por militantes tucanos. O jornal esclarece também que não aconteceu nada de grave com o profissional. Nada disso saiu no site do sindicato. Fica apenas a versão de agressores "com camisas do PSDB".

Tudo isso estava disponível em vários sites pouco tempo depois do incidente em Taboão da Serra, no entanto nada saiu no site do Sindicato dos Jornalistas. Ao contrário do que seria seu dever, o sindicato publicou um texto parcial, que já está sendo repassado na forma de ataque a um candidato da oposição numa eleição de extrema importância. Como órgão representativo da categoria dos jornalistas sua obrigação seria de publicar um texto bem aprofundado sobre o acontecimento, com todas as versões.

Mas o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo fez o contrário disso e não foi por descuido. Já faz tempo que esse e outros tantos sindicatos pelo país afora transformaram-se em instrumentos do poder neste longo período de governo do PT. Militei no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo em anos difíceis da ditadura militar, quando os jornalistas enfrentaram situações muito pesadas, como foi o assassinato de Vladmir Herzog, em 1975. A ideia então era a de um sindicato aberto ao debate com a sociedade e firme na construção de uma sociedade democrática. E claro que nessa batalha dura atuavam com coragem e dignidade muita gente da esquerda. É até irônico que hoje em dia essa mesma esquerda esteja desconstruindo, no poder, o caminho democrático que começamos a fazer lá atrás.
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POR José Pires

sábado, 27 de setembro de 2014

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O mundo fora da eleição brasileira

O fato do tema do terrorismo internacional ter vindo ao debate político por meio de um discurso demagógico da presidente Dilma Rousseff na ONU demonstra bem o nível de baixa qualidade desta eleição e a dificuldade da nossa classe política de se inserir no mundo. Na cena mundial, a política brasileira é provinciana. Tanto no governo quanto na oposição temos no comando um baixo clero de lideranças que não estão nem aí para as transformações terríveis que assolaram o mundo nos últimos tempos. Um país de tamanha dimensão geográfica e peso econômico não tem políticos à sua altura.

Essa despreocupação seria lamentável até num país pequeno como o Uruguai, onde um esquerdista provinciano como o presidente José Mujica pratica sua demagogia alternativa nos terrenos minados do tráfico internacional e do terrorismo islâmico — duas ideias geniais suas num país ainda pacato foram a de liberar a maconha e abrigar egressos da prisão americana de Guantánamo. Da segunda sacada política ele já desistiu e quanto à maconha, Mujica já acordou para o fato de que num país do tamanho do Brasil isso é um pouco mais complicado. Logo mais creio que ele vai se conscientizar de que, apesar de miúdo, seu país está numa delicada região fronteiriça.

Mas atravessemos pro nosso lado. É sintomático que esta importante questão internacional tenha vindo de forma eleitoreira pela boca da candidata petista à reeleição, Dilma Rousseff. Mas de que jeito Marina Silva e Aécio Neves entrariam num assunto que sempre esteve fora de suas pautas? Além de ter ficado oito anos no governo mineiro, Aécio esteve nos últimos quatro anos no Senado. Alguém sabe de uma opinião dele sobre este tema? E Marina é aquela ambientalista que fala pouco, um quase nada de geopolítica.

A fala de Dilma na ONU foi uma mera jogada eleitoreira. O discurso com tema doméstico fora do contexto e o risível apelo ao acordo pacífico com o grupo Estado Islâmico foi apenas para engambelar brasileiros desatentos aos terríveis perigos da atualidade no mundo. Foi aquele "falar grosso" com os Estados Unidos, conforme acredita o Chico Buarque. E como quase ninguém no Brasil tem interesse política internacional, a falsa imagem combativa pode até render uns votinhos.

Teve uma época em que um discurso desses serviria para rirmos bastante. Mas nos dias de hoje isso não está pra brincadeira. A fala de Dilma demonstra a irresponsabilidade do grupo político que está no poder em nosso país. Desse jeito vão nos colocar em fria, talvez até complicações externas muito piores do que aquelas que Dilma e seu grupelho de extrema-esquerda iria colocar o Brasil entre os anos 60 e 70, caso desse certo o projeto político que tentaram impor pelas armas a todos os brasileiros. O comando daquilo que eles faziam vinha de fora, por meio de financiamento, treinamento e doutrinamento ideológico. Na atualidade, vive-se o risco do país se alinhar a um mal muito mais difícil de escapar depois.

No vazamento recente de documentos secretos do governo americano feito pelo Wikileaks chamou pouco a atenção um relatório da embaixada americana no Brasil sobre risco como potencial foco de terroristas da região da tríplice fronteira, no sul do país. O ambiente é propício para arranjos perigosos, como a aliança entre terroristas, traficantes e contrabandistas. E isso numa região que permite operações financeiras de todos os lados sem qualquer controle. O Brasil tem muito com que se preocupar.

E devemos lembrar que o nosso continente já teve terrorismo grave ligado ao extremismo islâmico. Foi na Argentina, com o atentado racista na explosão de um carro-bomba no prédio da Associação Mutual Israelita, a Amia. O governo do Irã está envolvido neste assunto. Um dos acusados de organizar o ataque é Ahmad Vahidi, atual ministro iraniano da Defesa. O país se nega a extraditar acusados, que estão no Irã, fora do acesso da Justiça argentina. Foi o pior atentado terrorista ocorrido na América Latina e este ano completou 20 anos, ainda na impunidade. O número de vítimas é espantoso: 85 mortos. Mas não surpreende o acobertamento ocorrido num continente em que historicamente a esquerda vem se alinhando perigosamente com forças políticas perigosíssimas, antes com potências comunistas e agora numa relação estranhamente passiva ao terrorismo islâmico.
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POR José Pires

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dilma na paz com o Estado Islâmico


Que Dilma Rousseff é uma presidente da República de dar vergonha alheia, isso já sabemos aqui no Brasil. Mas é duro de ter que suportar o vexame com o mundo de olho em nós. A presidente fez hoje o discurso que abre a Assembleia Geral das Nações Unidas. É uma tradição que vem desde década de 40 e começou com Oswaldo Aranha, mas é claro que os petistas vão tratar isso como se fosse um prestígio partidário. No discurso, Dilma fez campanha eleitoral, falando das conquistas de seu governo. Até casamento gay foi assunto, tudo naquela forma muito particular dela falar e, claro, usando dados que existem apenas na propaganda do governo. Na fala, ela foi até uma paladina no combate à corrupção e além disso "mostrou" que economia brasileira vai indo muito bem, obrigado.

Assuntos como esses em discurso na ONU é coisa de gente fora dos eixos. Mas sabemos muito bem qual é o jogo. A ONU foi apenas mais um palanque para falar com o eleitorado brasileiro. Com certeza vai sair no programa eleitoral do PT e na imprensa brasileira não fica muito claro que é um despropósito. É claro que tem o vexame internacional, mas a vergonha é compensada pelo ganho eleitoral. Já imaginaram os representantes dos outros países ouvindo Dilma falar de si mesma na abertura dos trabalhos? Pois é, o país paga esse pato. E ainda existe a possibilidade dessa figura lamentável ser reeleita presidente.

Porém, não é só pela vergonha que a fala de Dilma marca o nosso país internacionalmente. A presidente voltou ao argumento de que é preciso negociar com o grupo extremista Estado Islâmico, que já ocupa militarmente uma grande parcela de território na Síria e no Iraque. Em entrevista ontem ela já havia lamentado o ataque aéreo feito pelos Estados Unidos, quando defendeu o "diálogo" com os terroristas. Como sempre, o PT traz a piada pronta, desta vez internacional. Seria interessante ver uma comissão de petistas, com Dilma à frente, batendo um papinho com aquele terrorista que aparece em vídeos cortando a garganta de jornalistas. Uma pedida boa seria lançar os pacifistas petistas de paraquedas sobre o território ocupado pelas tropas terroristas.

Mas tirando a piada pronta, com essa conversa boboca o Brasil vai ficando isolado em relação a um assunto que tende a se complicar cada vez mais no mundo. O extremismo islâmico não é representado apenas pelo Estado Islâmico. Existem várias correntes terroristas espalhadas pelo mundo, como penetração inclusive na tríplice fronteira, no sul do Brasil. Com esse tipo de fala petista o nosso país se vê representado numa posição irresponsável e até boboca. Não é de hoje que o governo do PT se posiciona de forma ingênua frente ao terrorismo internacional. Falando hoje na ONU, o presidente americano Barack Obama deu o tom certo ao assunto. Ele disse que “a única língua que assassinos entendem é a força”. É difícil entender algo tão simples? Não para quem tem dignidade e bom senso. Mas se o partido for do tipo que sempre teve boas relações e uma compreensão até fraterna com ditaduras sanguinárias, então só vai entender também à força. Mas aí todos nós brasileiros estaremos estrepados.
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POR José Pires

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O selfie da submissão ao poder

O líder militante Pablo Capilé apareceu numa cena fazendo um selfie com o ex-presidente Lula. Ninja ma non troppo, alguém poderia apressadamente dizer, mas estaria errado. É ninja mesmo, porque historicamente o ninja sempre esteve a serviço de algum grande senhor no Japão feudal. Ao contrário do mito que faz muita gente acreditar que o ninja agia individualmente, apoiado numa ética pessoal, esses guerreiros na verdade eram mercenários que faziam o serviço sujo, sem nenhuma regra de respeito ao adversário. Agiam infiltrados, praticando espionagem e sabotagens e atuando como provocadores.

Logo que a chamada "imprensa ninja", liderada por Capilé, apareceu fazendo alarde nas manifestações de julho várias interpretações erradas criaram ilusões sobre esses bandos, a começar por uma suposta novidade criativa na forma deles produzirem seus vídeos. O que havia ali era apenas um serviço tosco, com edições malfeitas e uma dificuldade técnica muito grande com o texto jornalístico. A forma de filmagem, buscando apresentar cenas de rua mais espontâneas, dando um teor mais real ao assunto, isso já é muito velho. Já era feito há muitos anos no Brasil, quando só existia a televisão aberta. O recurso da "câmera na mão" já era utilizado no início da década de noventa, no programa jornalístico diário 'Aqui Agora". Enfim, não havia novidade e mesmo assim aquilo foi tratado como se fosse uma grande invenção dos tais "ninjas". Outro erro foi ver a "imprensa ninja" como atividade de pessoas completamente independentes. Logo foi revelado que Capilé tinha negócios com o governo, ganhando bastante dinheiro por meio da Ong que dirige. Eram chapas-brancas fingindo imparcialidade.

As sabotagens que eram feitas pelo ninjas do Japão feudal também aconteceram nas manifestações brasileiras. Foi exatamente esse o resultado da ação dos "ninjas" liderados por Capilé nos protestos de rua ocorridos há meses. Para esta desmobilização agiram em conjunto com os black blocs, que eram tratados como heróis em suas filmagens. Hostilizando a imprensa e dando um tom radical às manifestações, esses "ninjas" criaram um clima que impossibilitou totalmente as manifestações pacíficas que vinham crescendo e fatalmente iriam atingir o governo do PT e seus planos para a reeleição de Dilma Rousseff. O selfie feito com Lula, com quem Capilé demonstra até uma certa excitação emocional nesta foto, é apenas a imagem da subserviência do falso radical a um grande senhor.
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POR José Pires

terça-feira, 16 de setembro de 2014

A era petista da desqualificação da opinião crítica

Algumas pessoas me perguntam se a condenação que tenho feito aos ataques do PT à candidata Marina Silva significam um apoio a ela. De forma alguma. Ultimamente tem sido comum o equívoco de interpretação de julgar que determinada opinião significa um apoio direto em relação ao tema central do assunto tratado. Nem sempre é assim e quem escreve bastante nem pode ter como meta um apoio direto a uma causa ou a uma pessoa. Isso prejudicaria até a escolha dos assuntos e a meu ver bitola o pensamento.

Nesta questão do clima conflituoso que o PT criou na política brasileira, eu sou da opinião de que o ponto essencial é a condenação desses métodos de demonização de qualquer um que pense diferente do que interessa ao poder vigente. Se atinge Marina Silva, Aécio Neves ou qualquer outro político, não importa. Até porque antes do que vem acontecendo agora com Marina Silva e Aécio Neves, eles cometiam grosserias parecidas com José Serra, Alckmin e outros políticos em tempos mais atrás. A calúnia e a difamação é usada por eles contra qualquer pessoa que ameace o poder petista. Estariam fazendo a mesma coisa com Eduardo Campos, se ele não tivesse morrido na queda do avião.

Não é o alvo do terrorismo eleitoral que importa. O problema é essa forma de atuar, buscando intimidar e desqualificar o outro. No governo federal, o PT criou uma máquina de destruição de reputações inspirada no que faziam na oposição. Hoje eles mantém uma estrutura de comunicação exclusivamente a serviço do interesse do partido, seja no ataque político ou para a defesa do governo e do projeto partidário de poder. Este partido é o primeiro partido brasileiro que mantém a cultura agressiva de palanque mesmo depois que vence a eleição. Não descansam as armas e nem buscam construir no poder uma relativa unidade com a sociedade civil.

Ao contrário, seja nos municípios, nos estados ou no governo federal, como o poder nas mãos eles passam usar também a máquina pública para causar o máximo de prejuízo a quem não faz parte da claque do agrado submisso de que eles tanto gostam. Na destruição do outro usam inclusive a tática de manipular ou simplesmente cortar o acesso ao trabalho profissional ou ao direito do suporte oficial do Estado ao empresário e às categorias profissionais. Fazem o mesmo com o direito assistência social, principalmente com os mais pobres.

Esta forma do PT fazer política, sempre manipulando e colocando uns contra o outros, precisa ser denunciada e combatida porque vem contaminando de um modo perigoso a relação entre os brasileiros. E não é pra menos, já vamos para um período de mais de uma década desta infernização política. Acho até que esta prática petista no poder é responsável em parte pela dificuldade que existe hoje em dia na internet e também noutras situações de fazer qualquer debate sem que haja no meio conflitos insuportáveis.

Hoje estão atacando Marina e isso é feito apenas em razão da ameaça que ela representa ao projeto de perenização no poder — meta inarredável do PT. Mas sei muito bem que o terrível arsenal que agora atinge a candidata do PSB está pronto para ser usado contra qualquer um, inclusive em indivíduos que têm seu pensamento movido apenas pelo interesse da discussão franca das questões referentes à nossa vida. Essa horrorosa forma de agir vem num crescendo alarmante e, como já disse, contamina perigosamente a cultura brasileira. As pessoas estão cada vez mais ressentidas e agressivas, com dificuldade de encarar qualquer assunto sem partir pra briga. É até um chavão antigo sobre a geração do poder estatal totalitário e invasor da liberdade humana, mas a melhor imagem para isso é a de que os ovos da serpente estão chocando no ninho.
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POR José Pires

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Leonardo Boff, o cabo eleitoral do PT no ataque a Marina Silva

O PT montou uma máquina de dar cacetadas nos outros que pode acabar levando o partido à situação de chegar um dia em que não terá mais com quem dialogar. A quantidade de vítimas já é demais. Os companheiros pegam pesado e não poupam nem quem já esteve bastante tempo ao lado do governo ou mesmo com um peso histórico na esquerda brasileira. Isso é o que vem acontecendo agora com a candidata Marina Silva, que teve presença destacada como ministra nos dois mandatos de Lula, sendo inclusive do círculo de amizades mais próximas do ex-presidente.

E nem com ela estão tendo contemplação. É até constrangedor esse hábito petista de lançar uns contra os outros. Hoje em dia vemos tratando Marina com um ódio impressionante muitos petistas que mostravam até carinho por ela. Uma dessas figuras lamentáveis é Leonardo Boff. Ele sempre pareceu amigo dela. O ex-frei teve até uma participação importante no início da carreira de Marina, quando no Acre dava cursos sobre política. Como religioso, Boff era partidário da Teologia da Libertação e junto com um irmão, o frei Clodovis, levava esse tipo de ensinamento à vários lugares.

Boff teve uma ligação pessoal com Marina também no governo Lula, quando ele se aproximou da luta ambientalista. Depois que saiu da igreja ele começou inclusive a fazer em seus artigos uma mistura da linguagem religiosa com a ecologia, criando imagens e metáforas espirituais sobre o meio ambiente. Na minha opinião, saiam uns textos ao estilo do samba do crioulo doido (neste caso, do frei doido), que soavam como forçação de barra na tentativa de criar um estilo próprio para falar de ecologia. Mas fiquemos na relação entre Boff e Marina, que depois dela tornar-se candidata virou um conflito criado exclusivamente por Boff.

Ele tem falado coisas sobre Marina cujo único sentido é o de atingir a imagem dela como candidata. É ataque eleitoral sem nenhum embasamento teórico e com muitas mentiras que nada tem a ver com o que realmente a candidata do PSB vem apresentando como projeto político. Dizer, por exemplo, que a candidata "acolheu plenamente o receituário neoliberal", é uma mentira que parece ter sido soprada por um marqueteiro. Muito do que ele vem falando vai ao encontro do que o PT já vem expondo agressivamente na internet e Boff sabe muito bem que seus ataques servem como reforço dessa munição indecente usada com o propósito de anular qualquer adversário, para que Dilma Rousseff se reeleja.

Numa das entrevistas que deu sobre este novo assunto que usa para suas prédicas pretensamente filosóficas ele disse o seguinte: "O Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus à qual Marina pertence, é o seu Papa. O Papa falou, ela, fundamentalisticamente obedece, pois vê nisso a vontade de Deus". Uma coisa dessas vinda de um homem que já foi frei é de uma indecência terrível, ainda mais porque todos sabem (e Boff também) que isso é apenas uma maldade a mais sobre a opção religiosa da candidata. Na verdade, em relação a equívocos de Marina quanto à religião a parcela de responsabilidade de Boff é sem dúvida muito maior que a de Malafaia.


O ex-frei vem dizendo uma porção de absurdos sobre Marina. São afirmações muito agressivas, que chocam ainda mais pelo fato de ele ter passado a fazer isso só depois que ela tornou-se uma ameaça eleitoral ao PT. Numa entrevista para um blog governista, Boff chegou a dizer que "os pobres perderam uma aliada e os opulentos ganharam uma legitimadora". É linguagem de marqueteiro sem vergonha, não é mesmo? E isso é ainda pior porque saiu da boca de um homem que vem usando há muitas décadas a religião a serviço de uma política esquerdista, ajudando a fortalecer o projeto de poder do PT, este sim ao lado dos opulentos. Boff finge que é filósofo, com sua retórica com ares de sermão religioso, mas nada mais é que um militante petista. Em toda eleição ele sai pelo país afora em campanha para o PT. E faz isso ao lado de companhias comprometedoras. Na imagem que publico ele faz campanha eleitoral para Dilma no Paraná, em 2010, tendo ao lado seu companheiro de então, o deputado André Vargas. A foto é de uma reunião de Boff feita exclusivamente com lideranças petistas no Paraná.
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POR José Pires

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Imagem- Boff e o deputado André Vargas, numa foto que não é casual. Boff fazia então uma reunião no Paraná com lideranças petistas. Repare no botton de Dilma no lado direito do peito do ex-frei.

O MST no palanque do PT

João Pedro Stédile, da direção nacional do MST, revela cada vez mais seu papel como uma das figuras centrais do projeto de poder do PT. De uns tempos para cá, Stédile até vem abandonando as falsas aparências que o MST manteve sempre desde sua fundação. O chefão do movimento de ocupação de terras tem frequentado nesta eleição os palanques eleitorais do PT. Antes, o movimento atuava em separado, de forma que era encoberta a parceria com o esquema petista de poder nas ações contra os adversários, em movimentos de rua ou de ocupação de fazendas em momentos favoráveis a candidaturas petistas. A ligação partidária era às escondidas, mas agora o MST pulou de vez para o palanque.

Hoje Stédile ameaçou a candidata Marina Silva. Mas que ninguém veja nisso algo pessoal com a antiga companheira. O líder do MST está apenas fazendo seu serviço. Em maio, quando o alvo preferencial do PT era Aécio Neves ele atacava o candidato tucano. Na época, ele ameaçou, dizendo que se Aécio ganhasse "seria uma guerra". Agora o terrorismo é contra a candidata do PSB. Hoje num ato petista, em frente à sede da Petrobras, no Rio, ele disse que se Marina ganhar vai ter protestos diários do MST na frente da empresa.

Pois é, a Petrobras sofreu os diabos nos últimos tempos. O roubo foi pesado, com contratos superfaturados de altíssimo valor, dinheiro que jamais voltará aos cofres da empresa. Em delação premiada, o ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa, disse que deputados, senadores, ministros e governadores da base aliada do governo do PT recebiam propina de um caixa obrigatória de negócios da estatal contratados com empreiteiras. Toda essa roubalheira jogou a credibilidade da Petrobras nos mais baixos níveis de sua história. Ela levou um grande tombo inclusive em seu valor de mercado. De 12ª maior do planeta há cinco anos, acabou despencando para o 120º lugar.

E depois de tamanha demolição deste patrimônio nacional, vem o Stédile e ataca Marina Silva, depois de fazer a mesma coisa com Aécio Neves. O líder do MST joga tudo para ganhar esta eleição. Antes dissimulava e agora se expõe de forma vistosa no palanque. Se alguém ainda duvidava que com a eleição de Dilma o Brasil vai entrar em caminhos arriscadíssimos para a nossa democracia, aí temos o companheiro Stédile demonstrando claramente intenções que servem para reforçar o alerta.
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POR José Pires

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Os interesses nas pesquisas

E lá vem o Instituto Ibope com mais uma pesquisa que coloca a candidata petista à reeleição, Dilma Rousseff, numa posição confortável. A situação é boa para Dilma até pela adversária que pretendem levar ao segundo turno e pelo candidato que querem deixar para trás. Mas é só uma pesquisa, não é mesmo? Se a imprensa fizesse com correção cobertura de pesquisa eleitoral, tudo bem. Mas não é isso que acontece. Qualquer pesquisa é apenas um dado a mais em política e nunca é determinante da forma que a cobertura jornalística faz parecer. E mais, dependendo de onde vem a pesquisa seria um dever jornalístico acentuar a empresa ou instituição que contratou o instituto de pesquisa. E é claro que também seria um dever ético pontuar os interesses em cima do assunto.

Vou dar um exemplo prático. Se o Ibope aparece com uma pesquisa afirmando que a maioria dos brasileiros é contra o desarmamento, temos aí uma informação importante no debate sobre a violência. Porém, o assunto muda muito se esta pesquisa foi contratada por uma empresa do setor de armamentos. É preciso deixar claro para as pessoas os interesses em torno de uma notícia. Esta é uma regrinha básica para passar qualquer informação, mas infelizmente parece que não está mais em nenhum manual de redação.

Esta nova pesquisa coloca a candidata petista à reeleição Dilma Rousseff (PT) com 39% das intenções de voto. Marina Silva (PSB) tem 31% e Aécio Neves (PSDB) ficou em terceiro, com 15%. Reparem que na imagem deste post a manchete fala só do Ibope, no entanto a pesquisa foi encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nesta matéria, que é do site da revista Veja, a informação até aparece no texto, mas em muitos sites e blogs isso nem é citado. E nas redes sociais o que rola é apenas que Dilma e Marina vão para o segundo turno. A identificação da pesquisa não deveria ser CNI/Ibope? Na minha opinião isso tinha até que ser obrigatório. E peguei como exemplo exatamente a revista Veja, porque não dá para suspeitar que ela tenta favorecer o PT. Por aí, dá para ver que já virou um hábito dar excessiva importância às pesquisas e também o de esquecer de situar bem os fatos para o leitor.

Mas eu estaria desconfiando da honestidade da CNI? Nada disso. Estou falando de interesses, que podem inclusive ser legítimos. Todo indivíduo é movido por interesses e numa associação de classe isso é ainda mais forte. Aliás, qualquer associação de classe só existe em razão de interesses da classe representada por ela. E não só em relação à CNI, como também em qualquer outra instituição, é preciso ver direitinho a biografia de seus componentes, principalmente dos que comandam. Novamente, seria uma desconfiança sobre essas pessoas? E de novo digo que não é este o ponto. Apesar de eu estar do outro lado político, aqui o raciocínio é sobre a necessidade de observar interesses, mesmo os legítimos e absolutamente dentro da lei.

Vou passar apenas informações factuais e vocês que façam um juízo de valor. A CNI vem contratando e divulgando pesquisas eleitorais em todas essas últimas eleições. O que isso tem a ver com os objetivos da indústria brasileira? Bem, cada um faz o que quer numa democracia como a nossa. Desde a eleição de Lula a CNI tinha na presidência Armando Monteiro Neto, que foi sucedido em 2011 por Robson Braga de Andrade e foi reeleito este ano, sempre por consenso. Foi no comando de Monteiro Neto que a CNI se notabilizou no patrocínio de pesquisa eleitoral. Atualmente Monteiro Neto é senador por Pernambuco, terra de Eduardo Campos, é bom lembrar. Seu mandato vai até 1919. Ele sempre esteve na política e foi deputado por três mandatos, sempre mudando de partido. Pela ordem, foi do PSDB, PMDB e PTB. Este ano ele é candidato a governador pelo PTB, tendo na sua aliança o PT. Lula o apoia com toda aquela emoção dele de palanque. Nesta campanha o ex-presidente já esteve em Pernambuco para atacar Campos, quando o candidato do PSB ainda estava vivo.

E tem o atual presidente da CNI, é claro. Como eu já disse, é Robson Braga de Andrade, presidente da Orteng. Ele é empresário do setor de equipamentos para as áreas de energia, petróleo, gás, mineração, siderurgia, saneamento, telecomunicações e (ufa!) transportes. Em 2009, a Orteng teve o faturamento de 600 milhões de reais. Em 2010, a empresa começou a atuar na manutenção de máquinas e plataformas na área de petróleo e gás e vai muito bem no ramo. No início deste ano fechou contrato de R$ 330 milhões junto à Petrobras.

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POR José Pires

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A desconstrução dos tucanos

Ainda tem algum chão até a eleição, por isso pode ainda ocorrer alguma surpresa favorável ao PSDB nesta eleição. Porém, independente das pesquisas, que são fajutas em sua maior parte, não é bom o clima para os tucanos. E isso não foi criado exclusivamente pela ação dos adversários, em especial o PT e sua agressiva e permanente campanha de ataques durante mais de uma década na presidência da República. O PT vem desconstruindo o PSDB desde a fundação dos dois partidos e inclusive deve boa parte de seu prodigioso crescimento à falsa dicotomia entre tucanos e petistas. Os tucanos até chegaram a gostar desta artificial divisão, pois também lucravam com este debate sem conteúdo. O conflito também ajudava os dois partidos a afastar a atenção dos eleitores de seus grandes defeitos. Dessa parte os tucanos gostavam. Porém, o que se vê agora é que apenas o PT ainda extrai força eleitoral dessa dualidade. E não é pra menos: a ideia da briga não só partiu do PT como também é deles o poder, o que lhes dá mais controle da situação.

Já para o PSDB essa inimizade histórica não rende. Aparentemente o eleitorado vê mais em Marina Silva a possibilidade de uma condução para fora dessa enrascada política e econômica na qual o PT jogou o Brasil. Aécio Neves bate no PT e o efeito benéfico é para Marina. O problema é difícil de ser resolvido, até porque o tempo fica cada vez mais curto. É muito complicado desfazer este efeito enviesado em política, quando uma boa campanha não dá resultado eleitoral para quem a faz. Na verdade, nunca vi nenhum candidato sair-se bem dessa enrascada. A única salvação para os tucanos seria a surpresa da candidata à reeleição, Dilma Roussef, ficar para trás de Aécio. Mas um partido com a máquina na mão e o profissionalismo do PT sabe como evitar esta boa notícia aos brasileiros.

Os tucanos estão à frente de uma situação trágica, na qual a possibilidade de derrota já no primeiro turno é apenas a parte visível de sua desgraça. Ninguém sabe ainda como ficará o partido nas disputas para os legislativos federal e estadual. Mas é sempre muito alto o grau de prejuízo de uma candidatura majoritária fracassada ao conjunto da eleição para um partido. Mas então o PT trabalhou bem na desconstrução tucana? Em parte. Porém, o serviço mais bem feito neste desmonte foi do próprio PSDB internamente. Já faz tempo que os tucanos vêm demolindo a imagem de um partido com perfil social-democrata e com um diferencial de qualidade política baseado na capacidade administrativa e no respeito à construção da democracia. Nos estados brasileiros, hoje em dia o PSDB é um partido dominado por caciques, muito longe do perfil de sua fundação, que era de um partido integrado nas forças produtivas do país e também nos meios formadores de opinião.

Nos estados em que detém o poder, o PSDB segue o modelo do PT no poder federal. Seus militantes ocupam os cargos nomeados e seguem a vida, profissionalizando-se na política e perdendo a relação com a sociedade civil. O partido tem até os mesmos vícios nepotistas de partidos historicamente lamentáveis da política brasileira, com caciques locais lançando seus próprios filhos em dobradinhas eleitorais — o pai para federal e o filhote para estadual. E este é apenas um exemplo de distorção moral. O PSDB se desmoronou por um movimento interno de má qualidade política. É só parar pra pensar: quem é que identificaria de forma espontânea os tucanos como renovação política, vivendo num lugar onde a maior liderança federal da região lança o filho para deputado numa dobradinha familiar? É difícil, não é mesmo? O eleitor brasileiro pode até estar cometendo um erro elegendo como via política a candidata Marina Silva, mas de forma alguma este eleitor pode ser acusado de estar errando em não identificar nos tucanos uma via melhor para conduzir o Brasil para fora desta triste era petista. O PSDB não soube se construir, daí sua desconstrução fatal.
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POR José Pires