E lá vem o Instituto Ibope com mais uma pesquisa que coloca a candidata petista à reeleição, Dilma Rousseff, numa posição confortável. A situação é boa para Dilma até pela adversária que pretendem levar ao segundo turno e pelo candidato que querem deixar para trás. Mas é só uma pesquisa, não é mesmo? Se a imprensa fizesse com correção cobertura de pesquisa eleitoral, tudo bem. Mas não é isso que acontece. Qualquer pesquisa é apenas um dado a mais em política e nunca é determinante da forma que a cobertura jornalística faz parecer. E mais, dependendo de onde vem a pesquisa seria um dever jornalístico acentuar a empresa ou instituição que contratou o instituto de pesquisa. E é claro que também seria um dever ético pontuar os interesses em cima do assunto.
Vou dar um exemplo prático. Se o Ibope aparece com uma pesquisa afirmando que a maioria dos brasileiros é contra o desarmamento, temos aí uma informação importante no debate sobre a violência. Porém, o assunto muda muito se esta pesquisa foi contratada por uma empresa do setor de armamentos. É preciso deixar claro para as pessoas os interesses em torno de uma notícia. Esta é uma regrinha básica para passar qualquer informação, mas infelizmente parece que não está mais em nenhum manual de redação.
Esta nova pesquisa coloca a candidata petista à reeleição Dilma Rousseff (PT) com 39% das intenções de voto. Marina Silva (PSB) tem 31% e Aécio Neves (PSDB) ficou em terceiro, com 15%. Reparem que na imagem deste post a manchete fala só do Ibope, no entanto a pesquisa foi encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nesta matéria, que é do site da revista Veja, a informação até aparece no texto, mas em muitos sites e blogs isso nem é citado. E nas redes sociais o que rola é apenas que Dilma e Marina vão para o segundo turno. A identificação da pesquisa não deveria ser CNI/Ibope? Na minha opinião isso tinha até que ser obrigatório. E peguei como exemplo exatamente a revista Veja, porque não dá para suspeitar que ela tenta favorecer o PT. Por aí, dá para ver que já virou um hábito dar excessiva importância às pesquisas e também o de esquecer de situar bem os fatos para o leitor.
Mas eu estaria desconfiando da honestidade da CNI? Nada disso. Estou falando de interesses, que podem inclusive ser legítimos. Todo indivíduo é movido por interesses e numa associação de classe isso é ainda mais forte. Aliás, qualquer associação de classe só existe em razão de interesses da classe representada por ela. E não só em relação à CNI, como também em qualquer outra instituição, é preciso ver direitinho a biografia de seus componentes, principalmente dos que comandam. Novamente, seria uma desconfiança sobre essas pessoas? E de novo digo que não é este o ponto. Apesar de eu estar do outro lado político, aqui o raciocínio é sobre a necessidade de observar interesses, mesmo os legítimos e absolutamente dentro da lei.
Vou passar apenas informações factuais e vocês que façam um juízo de valor. A CNI vem contratando e divulgando pesquisas eleitorais em todas essas últimas eleições. O que isso tem a ver com os objetivos da indústria brasileira? Bem, cada um faz o que quer numa democracia como a nossa. Desde a eleição de Lula a CNI tinha na presidência Armando Monteiro Neto, que foi sucedido em 2011 por Robson Braga de Andrade e foi reeleito este ano, sempre por consenso. Foi no comando de Monteiro Neto que a CNI se notabilizou no patrocínio de pesquisa eleitoral. Atualmente Monteiro Neto é senador por Pernambuco, terra de Eduardo Campos, é bom lembrar. Seu mandato vai até 1919. Ele sempre esteve na política e foi deputado por três mandatos, sempre mudando de partido. Pela ordem, foi do PSDB, PMDB e PTB. Este ano ele é candidato a governador pelo PTB, tendo na sua aliança o PT. Lula o apoia com toda aquela emoção dele de palanque. Nesta campanha o ex-presidente já esteve em Pernambuco para atacar Campos, quando o candidato do PSB ainda estava vivo.
E tem o atual presidente da CNI, é claro. Como eu já disse, é Robson Braga de Andrade, presidente da Orteng. Ele é empresário do setor de equipamentos para as áreas de energia, petróleo, gás, mineração, siderurgia, saneamento, telecomunicações e (ufa!) transportes. Em 2009, a Orteng teve o faturamento de 600 milhões de reais. Em 2010, a empresa começou a atuar na manutenção de máquinas e plataformas na área de petróleo e gás e vai muito bem no ramo. No início deste ano fechou contrato de R$ 330 milhões junto à Petrobras.
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POR José Pires