sexta-feira, 28 de abril de 2017
quinta-feira, 27 de abril de 2017
Requião, Lula e o PT num abraço de afogados
Cada um que dê a finalização que quiser à própria carreira, mas é curiosa a forma que o senador Roberto Requião escolheu para viver seu penúltimo ano no Senado. A eleição do ano que vem promete ser tão dura que ele nem sabe ainda qual cargo pretende disputar. Ao Senado com certeza ele não volta. E em qualquer outra disputa eleitoral, as condições serão terríveis, com uma seca de verbas, de aliados, além da dificuldade grave na relação com o eleitorado paranaense, que ao contrário de seus parceiros petistas tem orgulho da "República de Curitiba".
O grau de rejeição do senador paranaense já era alto, em razão da aliança feita com o PT, tanto com Lula quanto com Dilma Rousseff. E nesses últimos meses ele estreitou relações até com os petistas do Paraná, grupo com o qual ele sempre andou às turras. Requião foi até processado pelo ex-ministro Paulo Bernardo, que manda no PT paranaense e é marido da senadora Gleisi Hoffmann. Bernardo ganhou uma indenização de R$ 75 mil reais em 2014 por danos morais, por Requião ter sugerido que quando era governador recebeu uma proposta dele para fazer parte de um esquema de superfaturamento.
Nos últimos tempos, porém, Requião e os petistas paranaenses se acertaram, numa relação que se estabeleceu a partir da eleição dele para o Senado, em 2010, em dobradinha mais que amigável com Gleisi Hoffmann. Em campanha muito vistosa, os dois foram eleitos naquele ano, em aliança com Osmar Dias, candidato derrotado do PDT ao governo estadual. Até o impeachment de Dilma Rousseff a participação de Requião foi relativamente moderada, mas com o avanço da Operação Lava Jato, o senador pareceu ficar mais nervoso. A partir daí entrou na linha de frente, em ataque aos progressos do Ministério Público, da Polícia Federal e especialmente em confronto pesado com o juiz federal Sergio Moro.
Quando Requião pegou a relatoria do projeto de lei contra o abuso de autoridade deu pra sentir o tamanho do seu compromisso com a defesa de Lula e dos malfeitos do PT. É claro que ele sabe que a situação na qual se colocou vai de encontro à sua pretensa imagem política, cultivada durante anos e alimentada por um populismo que sempre teve a lisura com os cofres públicos como pauta essencial de propaganda. A trombada é forte. Tão desastrosa que até provoca suspeita, tamanho é o peso negativo dessa sua atitude, com uma carga de rejeição que pode comprometer até o sonho da continuidade de seu legado político por meio de seu filho, atualmente deputado estadual paranaense.
Na ultima eleição municipal já deu para sentir o grau de incompatibilidade transmitido pelo pai ao filho, que recebeu inclusive seu nome. Apesar de ser ainda novo na política, Requião Filho foi o nome mais rejeitado em todas as pesquisas e teve uma péssima votação, terminando em quinto lugar, com 5% dos votos. Como já dá para ver, até uma herança maldita parece estar incluída neste compromisso de Requião com Lula e o PT. E com tanto prejuízo em vista, não tem como não perguntar quanto é que o senador tinha para perder se ficasse de fora dessa triste jogada que afronta a opinião pública.
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POR José Pires
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Imagem- O senador que não voltará ao Senado, com Lula e a senadora petista Gleisi Hoffmann, em seminário contra a Lava Jato promovido pelo PT no mês passado, em São Paulo
quarta-feira, 19 de abril de 2017
Conjunto da obra
O PT aperfeiçoou de forma incrível o uso do “quanto pior, melhor” como arma política. Nos anos todos em que foi oposição, o partido do Lula tinha que bater bastante em quem estava no governo, buscar atrapalhar qualquer tentativa de fazer algo bom e torcer para que tudo desse errado. Depois que o PT foi para o governo federal, porém, ficou muito mais fácil tocar essa política deles, que depende sempre do brasileiro estar mal de vida. Nesses 13 anos, primeiro com Lula e depois com Dilma, eles deixaram o país na situação mais difícil em que o Brasil já esteve em sua história, de forma que para o “quanto pior, melhor” agora basta fazer a manutenção da tragédia que eles próprios criaram.
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POR José Piresterça-feira, 18 de abril de 2017
O mistério da "Amante" da Odebrecht
O envolvimento do nome da senadora petista Gleisi Hoffmann nas revelações das planilhas do setor de propinas da Construtora Odebrecht vai excitando cada vez mais a curiosidade da plateia. Não houve nenhum frisson no meio político e nas redes sociais quando a tratavam como Coxa, pois ela é de Curitiba. Mas que insondáveis razões teriam estimulado a imaginação dos responsáveis pela propina na Odebrecht, que é gente que parece saber tudo da vida dos políticos, para chegarem a batizar a senadora com o apelido inusitado, pelo menos até agora, de "Amante"?
Esse pessoal da Odebrecht além de mexer com os bolsos do povo também mexem com suas mais baixas emoções. A palavra “Amante”, de significado tão forte em nosso imaginário, traz ao escândalo do petrolão um ar de luxúria e até mesmo, digo com todo respeito, uma certa lubricidade que lembra aquele autor que petista andava citando bastante ultimamente, apesar de nunca tê-lo lido e muito menos compreendido, o grande Nelson Rodrigues. Pode ser que o criador do inegavelmente bem bolado apelido não tenha tido intenções literárias, até pelo fato de que ninguém metido nessas coisas espera ser lido um dia, mas o apelido trouxe inclusive uma lição de texto, demonstrando como uma simples palavra pode dar um tom de folhetim ao que até agora transcorria como uma crônica política.
Este vem sendo um dos mistérios surgidos na Lava Jato, nas entrelinhas deste descalabro imoral que é o petrolão, agora com este detalhe que apesar de parecer não ter uma grande importância na corrupção em si, não deixa de assanhar entre tantas safadezas entrevistas no que vinha sendo feito por debaixo dos panos no governo do PT. Pois a excitada curiosidade pública deve aumentar ainda mais com novas palavras surgidas nesta semana, referentes aos repasses para a que chamam "Amante". As senhas da planilha são "Aliança" e "Anel". Vou falar uma coisa: ainda não dá pra saber onde isso vai chegar, mas já deu uma animada boa em um enredo que estava marcado demais apenas pela sede de poder e a alucinada ambição pelo dinheiro.
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POR José PiresFurdunço petista
Sob as ordens de Lula, movimentos organizados e antes mantidos em torno da estrutura de poder do PT, que caiu com o impeachment de Dilma Rousseff, pretendem fazer um furdunço em Curitiba, durante o interrogatório de Lula pelo juiz Sergio Moro. A bagunça é organizada pela Frente Brasil Popular, órgão de cúpula criado ainda no governo Dilma, que inclusive usou prédios públicos de Brasília para reuniões com a ainda presidente da República, organizando manifestações contra o impeachment. O desfecho que todo mundo conhece demonstra a ridícula eficiência dos companheiros.
Os grupos que estarão na capital do Paraná vão da Central Única dos Trabalhadores (CUT) à Nação Hip Hop, passando pelo Movimento dos Sem Terra (MST) e demais agregados, como UNE, MTST e outros. Os três primeiros puxarão as manifestações, segundo reportagem da Folha de S. Paulo. Duas dessas instituições na liderança são bem conhecidas dos brasileiros, na subserviência que sempre tiveram ao projeto de poder do PT. São linhas auxiliares de um projeto fracassado e estão sob o comando de hipócritas que apoiaram o ciclo de quatro governos consecutivos do PT, nesses tristes 13 anos, de resultado fatal exatamente para trabalhadores da cidade e do campo que a CUT e o MST teriam a obrigação de representar.
Vivemos um desemprego assustador, com as profissões praticamente destruídas no Brasil, vitimadas por uma péssima educação pública em todos os níveis e pela demolição econômica da indústria e do comércio. A tragédia é resultado dos governos de Lula e Dilma. No campo, a reforma agrária não teve avanço significativo nesses 13 anos e o apoio governamental a pequenos e médios proprietários rurais está numa precariedade que já mostra sinais na qualidade deficiente do abastecimento em feiras e mercados e nos altos preços do que é produzido no campo. Nada se fez também contra o terror imposto por criminosos a lideranças rurais, mantendo-se durante todo o período de poder petista a impunidade que acoberta a violência.
Com tantos problemas que afligem os brasileiros, que não são de hoje, chega a ser desrespeitoso o MST e a CUT movimentando suas máquinas em defesa de um sujeito envolvido no maior esquema de corrupção que já houve neste país. Uma variedade de questões econômicas e sociais que se agravaram durante os últimos anos guardam uma relação estreita com suas obrigações e por isso exigiriam também há bastante tempo ações que nunca vieram. E agora, o que se vê é esse desrespeito. Duas entidades de classe servindo como defesa de um populista autocrata metido em negociatas. E o pior é que fazem esse papelão usando dinheiro público, com a sustentação de suas estruturas bancadas com verbas federais e com dinheiro do salário dos trabalhadores, como ocorre com a CUT, por meio da contribuição obrigatória. Mas, felizmente, tudo indica que essa mamata também vai acabar. Aliás, essa manifestação em Curitiba pode ser a derradeira farra, simbolizando o final do uso arbitrário e ideológico por sindicatos pelegos do suado ganho dos trabalhadores brasileiros.
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POR José Pires
segunda-feira, 17 de abril de 2017
A propina como rotina de vida
Uma das coisas que impressiona nos depoimentos da cúpula da Construtora Odebrecht é a naturalidade com que se fala de pagamentos de propina e de caixa 2. A empresa era uma caixa-forte. Os bilhões à disposição fizeram da distribuição de dinheiro um ato administrativo da maior naturalidade. Assim que Emilio Odebrecht fica sabendo pelo Lula do empreendedorismo de seu caçula, Luleco, de imediato abre vasto financiamento ao talentoso empresário do emergente setor do futebol americano. O empreiteiro manda bancar a preparação de Luleco, dá assessoria pessoal com dicas do mundo empresarial, fornece estrutura e suporte publicitário e ainda banca tudo na criação e desenvolvimento da empresa. Entre outros serviços, Lula recebeu mais este favorzinho diretamente do dono da empresa. E a relação com propinas milionárias de propinas era tão comum que no depoimento como delator, o pai de Marcelo Odebrecht está à vontade, falando de corrupção como uma atividade de rotina administrativa.
O Departamento de Operações Estruturadas, setor criado na Odebrecht para propinas, funcionava regularmente, muito bem azeitado com verdinhas. Milhões estavam em disponibilidade tanto para caprichos pessoais, como um sítio de surpresa para Lula no final do segundo mandato, como também para negociatas intercontinentais na África. Sobrava dinheiro também para falcatruas eleitorais, como a compra de dossiês. E dava-se um jeito de atender agrados ao time do coração de Lula, como foi a construção do Itaquerão. Nesse ritmo, mesadas eram como se fossem trocados, dinheiro de pinga. O chamado Frei Chico, irmão de Lula que foi seu mestre político no início da vida sindical, tinha a dele, inclusive com direito a aumento. Até o ex-deputado e mensaleiro condenado, José Genoino, teve a mesada dele, além de tudo voluntária da parte da empresa, conforme contou em depoimento como delator o diretor Alexandrino Alencar. Ou seja, na Odebrecht a grana saía sem nem precisar pedir.
É claro que tamanho numerário, disponível em tal clima de facilidades, havia de despertar cobiças internas, com o risco de desvios dos próprios administradores da propina. E isso aconteceu de fato. Era até pra ser engraçado, se no fundo, como acontece com qualquer corrupção, tudo não ficasse na nossa conta. A Odebrecht foi vítima de gatunos na própria fonte da ladroagem contra o país. Marcelo Odebrecht revelou que perderam o controle do esquema e que houve roubo interno no departamento da propina. O valor desviado internamente não foi revelado. Mas é claro que essa corrupção dentro da corrupção só ocorreu por uma inacreditável falta de percepção dos chefões da Odebrecht. Ora, eles tinham a obrigação de saber que hoje em dia não dá para confiar em ninguém.
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POR José PiresDilma por dentro de tudo
A divulgação dos depoimentos de diretores da Construtora Odebrecht e de Marcelo Odebrecht serve ao menos para amenizar o constrangimento dos defensores da ex-presidente Dilma Rousseff, que defendiam sua inocência quanto a crimes que pela lógica seria impossível ela não ter tomado conhecimento. Se de fato Dilma tivesse permanecido alheia a tanta corrupção em seu governo e nos governos de seu padrinho Lula, esse pessoal estaria sob a liderança de uma completa idiota. Mas podem ficar tranquilos, companheiros. Agora já está provado: Dilma sabia de tudo.
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POR José Pires
Na planilha da Odebrecht, o mistério do apelido de Gleisi Hoffmann
Da famosa planilha com o controle de caixa das propinas da Construtora Odebrecht surgiu uma curiosa novidade na corrupção no Brasil. São os codinomes dos políticos envolvidos. Os apelidos criados no controle de caixa das propinas são muito interessantes, sendo que todos têm a ver com alguma particularidade do nominado, sempre de forma jocosa e alguns de tal forma explícitos que ficou muito fácil identificar várias figuras batizadas no cartório da corrupção da Odebrecht.
É fácil apontar quem é quem na lista da Odebrecht, mesmo quando alguém recebe dois apelidos diferentes. Lula já foi o “Brahma”, em citações do início da Lava Jato e depois ficou marcado como “Amigo”. O senador Lindbergh Farias é o “Lindinho”, apelido de gozação que ele recebeu nas redes sociais. O senador Romero Jucá é “Caju”, Antonio Palocci é “Italiano”, José Sarney é “Escritor”, o deputado Heráclito Fortes é “Boca Mole”, o secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, é “Angorá”, e por aí vai. A lista é grande e nela aparecem inclusive políticos menos conhecidos, o que não impede que a partir da revelação cada apelido fique muito claro, fazendo todo sentido na relação com a pessoa apontada.
No entanto, na última leva de nomes da recheada planilha da Odebrecht apareceu um apelido que despertou muita curiosidade. Até agora permanece indecifrável. É o apelido da senadora Gleisi Hoffmann, poderosa no PT deste o primeiro mandato de Lula e que chegou a ocupar a chefia da Casa-Civil, durante o governo de Dilma Rousseff. Gleisi é casada com o Paulo Bernardo, ex-ministro de Lula e de Dilma. Pois na planilha ela é chamada de “Amante”, apelido com o qual teria recebido R$ 150 mil em 2008, R$ 450 mil em 2010 e R$ 3,5 milhões em 2014. O sentido desse codinome até agora não foi esclarecido. Anteriormente, a senadora petista já era conhecida como “Coxa”, que dá para entender, já que ela é de Curitiba. Mas o apelido de “Amante” ficou no ar, à espera de uma investigação da brava imprensa brasileira.
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POR José Pires
quarta-feira, 12 de abril de 2017
Doria e Jaime Lerner: parceria que tem tudo a ver
Nesta última segunda-feira, na entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o prefeito João Doria, deu em primeira-mão uma excelente notícia aos paulistanos. Como todos sabem, Doria completou 100 dias na prefeitura de São Paulo e vem tendo uma performance inesperada como gestor público, de aceitação tão grande que sua credibilidade se espalhou pelo país afora. A surpresa vem desde sua entrada na disputa das prévias do PSDB paulista, quando parecia que ele não teria chance de ser o candidato. Depois, já entrando na campanha, poucos acreditavam nas suas chances contra políticos experientes como o candidato a reeleição Fernando Haddad, Celso Russomano e as duas ex-prefeitas Luiza Erundina e Marta Suplicy. Conforme as próprias palavras do prefeito, ele era o “ patinho feio”. Porém, a transformação foi rápida. Tanto é que agora não faltam políticos procurando cortar as asas do cisne.
A notícia em primeira-mão na entrevista ao Roda Viva foi o anúncio da contratação de Jaime Lerner, o arquiteto urbanista que é uma marca de qualidade em conhecimento sobre o que fazer para melhorar a vida numa cidade. Como profissional, Lerner conhece tudo do assunto e tem ainda algo a mais: a experiência pratica e a comprovação de que de fato sabe fazer. Foi prefeito de Curitiba por três vezes e principalmente nos dois primeiros mandatos, nos anos 1970, fez muita coisa de qualidade na capital paranaense, com inovações urbanas que até hoje são marcas internacionais da capital do Parana e ainda servem como sustentação da qualidade de vida naquela cidade. Muito do que ele fez foi depois copiado em outras cidades brasileiras, ainda que infelizmente tenha sido muito menos do que o ideal e muito abaixo até das necessidades urbanas básicas do país.
Cabe lembrar o contexto histórico em que Lerner colocou em ação suas ideias, bastante práticas e além disso muito bonitas. Foi um visionário. Nos anos 1970, preocupações que hoje em dia são até banais no debate sobre a vida urbana não eram cogitadas de forma alguma. Na época, Lerner teve inclusive que pelejar para que suas ideias entrassem na pauta da população e da própria imprensa.
Jaime Lerner entra na administração da capital paulista por meio da iniciativa privada. O financiamento do programa será por meio do Secovi, o que traz outra qualidade do que Doria vem fazendo e que vem sendo pouco apontado. É de grande importância política esta interferência pessoal do prefeito, buscando estabelecer pontes entre o setor público e o privado, muitas vezes apelando para a responsabilidade das classes dirigentes e dos mais ricos perante a situação muito difícil da cidade. Não e só uma questão de quem vai pagar os custos. O que conta mais é a criação de um vínculo real do empresariado com a chamada coisa pública.
Na verdade, este é um caminho que muitos dirigentes públicos tinham a possibilidade de tomar, estabelecendo esta sintonia com outras classes, evidentemente cada dirigente dentro de sua linha política. O PT tinha meios para isso, mas o que vimos foi a relação histórica do partido com o meio acadêmico e o sindical servindo apenas para atiçar conflitos. Aliás, uma dessas figuras, que posso chamar de “atiradores-nada-francos”, participou da entrevista no Roda Viva, onde estava para favorecer seus companheiros. Mas, voltando a mais esta boa surpresa, o arquiteto Jaime Lerner entra agora no trabalho de encarar os problemas de São Paulo. E cabedal para isso ele tem de sobra.
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POR José Pires
segunda-feira, 10 de abril de 2017
Doria, o presidenciável que o paulistano quer que fique na prefeitura
O
jornal Folha de S. Paulo traz uma pesquisa de seu Instituto Datafolha
em que João Doria bate recorde de aprovação nos seus 100 dias na
prefeitura de São Paulo. Dória tem 43% de ótimo e bom. Anteriormente, no
mesmo período, Haddad ficou com 31%, Kassab com 16%, Serra 20% e Marta
Suplicy — de quem que era o recorde anterior — na sua administração teve
34 %. Na minha visão, a aceitação de Doria vai além do que a pesquisa
expressa. Toca em simbologias fortes. O prefeito paulistano estimulou
dois sentimentos presentes na população, um muito bom e outro péssimo,
de tal força que o Brasil capenga em grande parte por causa dele.
O
sentimento positivo é o da confiança da população em um administrador
público, com a decorrente abertura para que ele faça seu serviço, papel
que até agora Doria vem não só desempenhando bem. Sabe também demonstrar
isso com raríssima habilidade, apoiado na sua ótima capacidade pessoal
para se expressar. Vejam só a economia: ele não tem que contratar um
ator para falar bem do que faz. Também é serviço dele, com um desempenho
em comunicação muito acima da média. Mas não é só por isso que Doria
convence. É a sua presença como administrador e o foco preciso no
cuidado com a cidade que fez ele ganhar a admiração em brasileiros de
vários cantos do país. Isso faz falta em quase todas as cidades
brasileiras. Geralmente o político se elege, sem que o prefeito apareça.
Será visto apenas em inaugurações. Não marcam presença no cotidiano.
Tem até os que dão as caras, mas atuam de forma populista, sem a
característica do administrador. Doria encarou de forma altamente
profissional o administrador que falta em todo canto do país, com o
predicado extra de bom comunicador.
No
entanto, essa popularidade trouxe algo negativo e que também é d’além
fronteiras paulistanas. Vem do sentimento de extrema carência de todo
brasileiro com os políticos: a interminável espera de que surja um
salvador da pátria. De repente, Doria foi alçado ao papel de
presidenciável. O prefeito já ombreia com os nomes de destaque na
disputa para a presidência da República e dizem que isso até causa
ciúmes no governador Geraldo Alckmin, o que é uma tremenda besteira,
própria de um jornalismo que aceita qualquer historinha para preencher
espaço. Estamos lidando com profissionais, tanto Doria quanto Alckmin, e
dos melhores que o país já teve. E existe uma interdependência entre os
dois. Não vão brigar. O prefeito não existiria sem Alckmin e daqui por
diante um depende do outro.
O
problema dessa história da candidatura é que ela veio do atiçamento
deste péssimo traço do brasileiro, com sua esperança num salvador da
pátria. Não é culpa de Doria. A conversa veio de uma imprensa
futriqueira, que vive em busca de audiência. Lançou-se a pauta, que
acabou pegando. É claro que o prefeito vem aproveitando, o dá para
entender, mas não tenho dúvida de que com sua própria pauta ele estaria
em melhor situação para fazer o serviço que mal está começado. Na
prática, no que tem mesmo que ser organizado e concluído no dia-a-dia,
essa conversa de que ele pode ser candidato atrapalha muito.
Transformado
num “presidenciável” por atitudes mexeriqueiras da imprensa, o prefeito
agora já sofre a suspeita de que vai largar o serviço pela metade. O
que é uma prática dos políticos. Eles costumam não só deixar as coisas
pela metade, como muitas vezes usam eleições apenas para marcar o nome
para uma eleição posterior. Às vezes acontece um azar e ele é eleito.
Azar da cidade, claro. Londrina, no Paraná, teve um prefeito eleito
desse jeito há quatro anos e foi exatamente porque na campanha parecia
um Doria. Infelizmente deu chabu. Mas voltemos ao prefeito de São Paulo.
O número mais interessante na pesquisa do Datafolha é o das pessoas que
querem que Doria continue a frente da prefeitura: 55%. Neste aspecto,
existe também uma boa confiança de que o eleitor não vai tomar mais uma
rasteira: 40% acreditam que ele não vai abandonar a prefeitura. Ponto
para o Doria, que como já disse, não foi quem inventou a história da
candidatura a presidente da República. E tomara que ele fique mesmo na
prefeitura. Fará um bem para a política brasileira. E tudo indica que
também para São Paulo.
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POR José Piressábado, 8 de abril de 2017
sexta-feira, 7 de abril de 2017
Habla, Moro
O juiz federal Sérgio Moro deu uma entrevista na Argentina, publicada na ultima quarta-feira no diário Clarín. O interessante é que acabou saindo uma das melhores matérias feitas com ele, talvez pela necessidade de um jornalista estrangeiro dar ao leitor um apanhado geral, com uma visão abrangente do que é a operação contra a corrupção que deu fama ao juiz brasileiro. Mas tem também uma qualidade que vem se perdendo na imprensa brasileira, que é a da clareza, sem superficialidades e generalizações que no final quase nada acrescentam em matéria de informação e muito menos em conhecimento. Por exemplo, não saiu nada sobre a polêmica do jantar dele com Leandro Karnal.
Moro esteve no país em visita aos juízes da Corte Suprema argentina e por coincidência chegou no dia em que um juiz federal processou a ex-presidente Cristina Kirchner. É claro que ele não opinou sobre este caso, mas o trabalho dele, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal no Brasil mereceu esclarecimentos importantes, além da chance dos argentinos conhecerem a sua visão política sobre o sistema judiciário brasileiro, especialmente, é claro, no tocante ao combate à corrupção.
Ele não fez nenhuma projeção sobre o fim da Lava Jato, apesar de ter sido perguntado sobre prazos. Moro disse que já fez isso no passado. “E me equivoquei”, contou ao jornalista, com um leve sorriso. Parte substancial do processo está bem adiantada — já passou mais da metade do rio, a expressão que usou. Durante a investigação, no entanto, surgem provas de fatos novos, que é obrigatório enfrentar. A corrupção que encontraram é sistêmica e, como ele disse, “nada pode ir pra debaixo do tapete”.
Moro falou também sobre um acontecimento no início da Lava Jato que me parece inédito. Eu pelo menos desconhecia o fato. Se já foi publicado por aqui, com certeza perdeu-se nesta profusão de notícias que causam confusão até para quem segue com atenção o noticiário político. O juiz contou ao jornalista argentino que no início da Lava Jato, em 2014, na primeira prisão preventiva contra Paulo Roberto Costa, foi concedido um habeas corpus, que beneficiava não só o ex-diretor da Petrobras como também doleiros e traficantes de drogas envolvidos no caso de corrupção. Por sorte, este juiz (que Moro não identifica) recebeu rapidamente mais informações de Moro e voltou atrás na decisão.
A matéria do Clarín serviu para Moro passar a verdade sobre o tratamento imparcial nas investigações e prisões da Lava Jato. Em países como a Argentina isso é muito bom, pois além da máquina ainda eficiente do PT espalhar versões falsas internacionalmente, no país do peronismo os petistas contam também com abundante ajuda da militância local para emplacar suas mentiras. Na entrevista, Moro frisa por mais de uma vez a necessidade absoluta do respeito aos direitos dos acusados. Como ele diz, isto é “indiscutível”, no entanto deixa claro que é preciso encontrar um equilíbrio entre os direitos do acusado e os da vítima. No caso das investigações da Lava Jato, a vítima é “a sociedade”.
Essa posição vem ao encontro de um debate importante que ocorre na sociedade brasileira, que envolve a dificuldade de punir todo tipo de crime. Já vi Moro falando sobre isso em uma audiência pública no Congresso Nacional e gostei de saber que ele defende maior rigor inclusive com o crime comum. É claro que a dificuldade para punir pode ser ainda maior com os crimes de corrupção. Neste caso existe a influência de maiorais, com o poder inclusive da anulação de leis e até para propor e aprovar leis que podem servir de escudo protetor de corruptos. De forma muito bem colocada, Moro esclareceu pontos muito discutidos no Brasil, como a delação premiada, falando também sobre assuntos como a importância da cooperação internacional no combate ao crime, o que deve ter sido um tema da conversa reservada que teve com os juízes argentinos. “Porque senão o delinquente cruza as fronteiras e a justiça não”, ele disse, alertando também quanto a interferência negativa da corrupção até na competitividade internacional de cada país.
Para fechar, outra questão muito importante levantada por Moro soa até como um pedido para que se acabe com a fanatização em torno da sua figura. Ele foi firme ao dizer que é infantil “acreditar em salvadores da pátria”, usando exatamente essas palavras. “Este caso Lava Jato um dia vai acabar. E haverá que seguir em frente. Pode haver novos crimes de corrupção, e a história não acaba”, explicou, afirmando ainda que o papel da Justiça não deve ser visto como absoluto no combate à corrupção, até porque às vezes pode faltar uma resposta, pelas limitações de seu funcionamento. A defesa da honestidade depende do país ter instituições fortes e uma opinião pública atuante, que pode servir inclusive como “proteção contra interferências indevidas na Justiça”.
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POR José Pires
quarta-feira, 5 de abril de 2017
As agruras do galã assediador
O que mais me impressionou na denúncia de assédio por parte de José Mayer não foi a atitude, mas que ele precise cometer as barbaridades que agora ele próprio confirmou, embora seja só para tentar aliviar a encrenca criada. E não digo que Mayer não tivesse a necessidade de fazer o que fez só pelo fato de ele ser um galã da Globo. Nenhum homem precisa fazer coisas assim com as mulheres. Não justifica a cafajestice, mas só pode ser um transtorno sexual. Talvez não tenha cura completa, mas uma temporada de geladeira na emissora contratante, a perda talvez irremediável de bons cachês profissionais, coisas simples assim que parecem já estar garantidas para ele, podem amenizar bastante os sintomas dessa tara.
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POR José Pires
Facebook, suas bolhas e falsidades
A Folha de S. Paulo fez uma entrevista com Campbell Brown, contratada pelo Facebook para atuar na área de jornalismo. Ela chefia um departamento com o estranho nome de “Parcerias Jornalísticas”. De início, seu serviço é o de descascar os baitas abacaxis criados pelo Facebook, como a proliferação de notícias falsas e tantas outras complicações. É provável que tenham planos para mais adiante, sendo duvidoso que essas ideias posteriores estejam fora do caráter monopolista do Facebook. Eles querem abraçar o mundo. Recentemente Mark Zuckerberg até estava dando entrevista dizendo que sua empresa tem um projeto de pesquisas que vai acabar com todas doenças. É sério. O egoísta não pretende deixar nem uma pereba para os concorrentes.
A chefe do “Parcerias Jornalísticas” teve uma conversa mamão com açúcar com a Folha. Ganhou a oportunidade de falar mais como relações públicas do Facebook, sem cobranças sérias acerca da responsabilidade de lidar com problemas graves criados mundo afora pela própria empresa que a contratou, notadamente no Brasil, onde, por sinal, os internautas dão uma importância ao Facebook muito acima de todos os outros países. Esse extremo apego dos brasileiros tem sua explicação, uma delas com o fato da popularização da internet em nosso país ter corrido em paralelo à marcantes transformações políticas. Outra é a subida do PT ao poder, servindo-se dessa plataforma como palanque do governo petista. Depois, o Facebook foi recebendo naturalmente a oposição de pessoas inconformadas com os desmandos, a roubalheira e a incompetência do triste ciclo de governos nesses 13 anos. E foi o quiproquó que todos conhecem.
Foi um tremendo azar que o PT tenha ido para governo exatamente no ponto em que a internet começava a alcançar alta popularização, inclusive com a entrada massiva do jornalismo impresso. O uso agressivo como instrumento partidário foi do pior tipo, com o ataque a adversários inclusive com notícias falsas, em níveis de manipulação nunca vistos na história recente do país a não ser na ditadura militar. Isso colaborou imensamente como estímulo ao crescimento deformado da internet brasileira, com o Facebook recebendo ainda com maior força este impacto negativo. Tem também o problema sério da baixa cultura do brasileiro. E não estou falando em escolaridade. Mesmo com pouca escolaridade, uma pessoa pode saber que deve agir com educação e respeito à opinião contrária. Mas quando segue uma cartilha ideológica não tem como o sujeito não ter mentalidade única.
Sem o embalo nocivo criado pelo uso do partido e pela máquina do governo do PT este espaço seria diferente. Mas é claro que ajudou muito no serviço sujo o hábito tradicional de grande parte dos brasileiros de ouvir e aceitar apenas o que é do seu interesse imediato. Isso facilitou a criação de um clima de intolerância que, primeiro afastou muita gente que realmente tinha algo a dizer e sabia como fazê-lo. E depois criou as chamadas “bolhas de informação”, problema internacional do Facebook, mas que acredito que afeta em dimensão maior e muito mais chata o Brasil. Campbell Brown tem isso também para resolver.
Essas "bolhas" de informação colocam os usuários acessados apenas a quem pensa de forma igual. Esse é um problema sério no Facebook, porque tecnicamente acaba por inviabilizá-lo como instrumento de informação. Conhecimento e debate sério, nem pensar. E claro que também não é um estímulo à inteligência manter-se cercado de amigos de Facebook apoiando a mesma coisa. Pode ser do gosto de caça-cliques, mas não tem sabor para quem tem interesse pela informação e o conhecimento e até o interesse naquilo que antigamente era chamado de amizade sincera. No âmbito do que ocorreu no Brasil, eu penso que essa uniformização de pensamento foi uma das encrencas criadas pelo PT, que atingiu o próprio partido e seu projeto de poder. O partido nunca detectou que o que viam como força era nada mais que concentrações de militantes em suas próprias bolhas. Deixaram de notar que a mensagem ideológica não saía dessas bolhas, havendo transferência mais ampla apenas na forma de conflitos. O que ficou para todos, no final, foi o contágio de mais uma herança maldita, neste caso na internet.
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POR José Piresterça-feira, 4 de abril de 2017
Lula quer mesmo ser preso?
É cada coisa que inventam. Há mais de uma semana corre uma história de que Lula quer ser preso. No astucioso plano, o chefão do PT vai provocar Sergio Moro durante seu depoimento na Lava Jato, marcado para o início de maio. O juiz seria forçado a prendê-lo, o que daria sustentação ao argumento petista de que existe uma perseguição política ao chefão petista. A partir daí, o PT faria um escarcéu político nas ruas. É plano de fita de cinema. O problema é que para funcionar o protagonista teria de ser um herói revolucionário, o que não é o caso dessa história. É o Lula que teria de ir pro xilindró.
E ele quer mesmo ser preso? Duvido. O ex-ministro José Dirceu, que no esquema desbaratado provavelmente está numa posição abaixo de Lula, vai completar agora em agosto dois anos de cadeia e já teve duas condenações neste período. Somadas, as penas chegam a 31 anos de prisão. A cana costuma ser longa na Lava Jato. E com o agravante de não ter o privilégio de um sono tranquilo, como dizem que Lula gostava de aproveitar na época da ditadura, usando um famoso sofá vermelho oferecido pelo delegado Romeu Tuma, em sua sala no Dops.
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POR José Pires
O PT sendo morto pelo que construiu
Numa ironia criada pelos critérios espertalhões do PT para fazer qualquer coisa, como montar governo, compor quadro administrativo de estatais, nomear membros de tribunais e escolher amigos, o destino do presidente Michel Temer pode acabar sendo favorecido pelo usual oportunismo petista. Dos sete ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), seis foram indicados por Lula ou por Dilma Rousseff. A única exceção é o ministro Gilmar Mendes, que preside o tribunal. Ou seja, se o critério de escolha fosse o da capacidade profissional e respeito pela ética, Temer seria despachado para casa junto com a decretação da inelegibilidade de Dilma. Chapa completa no lixo da História, porque só com muito jeitinho pode-se chegar à conclusão de que o vice é inocente durante uma campanha altamente corrupta e, pior ainda, não foi favorecido.
Mas são as trapaças da sorte para quem vive a vida de forma torta, fazendo da política um jogo sujo de toma lá, dá cá. Tome-se essa lição: a melhor vingança contra o adversário é o comportamento digno, com ética e foco profissional sério. Dessa forma, o PT teria agora sua vingança contra o sujeito que subiu ao poder, conforme eles gritam nas ruas, por meio de um “golpe”. Mas é claro que se fosse esse o comportamento petista, eles não estariam enlameados desse jeito, fatalmente acabados — o nosso país também não teria quebrado e nem estaria nessa desgraça moral. Pois então, é como eu disse: em política, do mesmo jeito que deve ser aplicado na vida como um todo, a ética é o melhor remédio.
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POR José Piressegunda-feira, 3 de abril de 2017
Separação mais que amigável
É de gargalhar a história do rompimento entre o presidente Michel Temer e o senador Renan Calheiros. O que não faz necessidade de encher espaço na internet. Os dois políticos são do PMDB e jamais foram formuladores de coisa alguma, a não ser de pressão e chantagem para a garantia de benefícios pessoais. Os dois são milionários. Renan é coronel político nordestino. De moderno tem apenas a etiqueta do que veste e nos modos em público. É um dos jagunços de Hermés, a perfeita definição que o grande jornalista Lucas Mendes deu a Fernando Collor, quando Collor ainda era paparicado pelas elites empresariais como estadista de larga visão. Foi na construção fraudulenta da imagem de Collor, por sinal, a origem também do poder pessoal de Renan.
Já o Temer é coronel do sudeste. Ficou rico na política. Na última eleição, como vice de Dilma Rousseff, sua declaração de renda mostrava que no oficial ele tinha mais dinheiro que todos os outros candidatos individualmente, os vices e cabeças de chapa. Fez carreira nos bastidores da política, com a habilidade de manter o comando interno de um partido, no caso o PMDB, que concentra todos os defeitos da política brasileira numa sigla só. No mercado de Brasília, o balcão do PMDB é o que garante maiores lucros. E lá, no controle do caixa, é que ele sempre esteve. Na vida e na política, o lado de Temer foi sempre onde ele podia tirar maior proveito — de Orestes Quércia a Lula, até usar o pescoço da pupila dele, Dilma, como escada para afinal ir para a ribalta, embora infelizmente no papel principal não consiga encantar a plateia com os velhos truques de bastidores.
Ambos foram bandidos providenciais, de utilidade para livrar o país do mal pior que foi o PT. No entanto, nenhum foi pego para estimação, como faz a esquerda com seus bandidos do peito. Renan e Temer atuam em conformidade com aquela teoria que dá completude sociológica à política brasileira: da farinha do mesmo saco. Então, como é que poderiam romper? De forma alguma. Estão no velho jogo, no qual cada um deles tem memorizada a marca de cada carta. Temer leva certa vantagem, agora com o poder executivo sobre o baralho, mas depende o tempo todo de um bom descarte de Renan para não sair do jogo. Não tem rompimento algum. É a antiga encenação de fingir que está saindo poder exigir um pagamento maior para ficar.
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POR José PiresAlianças políticas de balcão de negócios
A Folha de S. Paulo revela na edição deste domingo que pelo menos R$ 112 milhões foram recebidos irregularmente pela chapa Dilma-Temer nas eleições de 2014. O jornal teve acesso ao parecer da ação de cassação da chapa, cujo julgamento começa esta semana pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A reportagem mostra que teve até “caixa 3” na campanha da petista. Do montante irregular, R$ 45 milhões são de caixa 2, R$ 50 milhões de propina e R$ 17 milhões da nova modalidade de financiamento eleitoral trazida pelo PT, o “caixa 3″. Como Dilma já havia declarado oficialmente gastos de R$ 350,06 milhões, com a soma dessa esta grana irregular o PT fez a campanha mais cara que já houve no Brasil e uma das mais caras do mundo.
Segundo o documento obtido pelo jornal, todos os recursos saíram da Odebrecht. Dos R$ 45 milhões do caixa 2, R$ 20 milhões foi de pagamento também por fora para o marqueteiro João Santana e R$ 25 milhões serviu para a compra de cinco partidos, que faturam com o benefício do horário de propaganda garantido pela lei eleitoral, que não tem nada de gratuito. O contribuinte paga e os partidos vendem. A compra de partidos foi democrática, pela diversificação dos negociadores. Tem um comunista (PCdoB), um evangélico (PRB, ligado à Igreja Universal), um de direita (PROS), um liberal (PP), e finalmente um da esquerda histórica, o PDT, que conforme o processo do TSE, fez o acerto por R$ 4 milhões. Leonel Brizola deve estar se revirando no túmulo, depois de toda essa lama manchando de forma talvez irremediável a imagem do partido que fundou, num final ainda mais lamentável porque ele morreu rompido com Lula e o PT.
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POR José Piressábado, 1 de abril de 2017
O inesquecível 31 de março
Cartum meu publicado há três anos. É sobre a data de ontem, que esperei passar de propósito para observar que eu estava certo. E não teve parada militar, como felizmente já não acontece há muito tempo. Mas esquerdistas ainda fizeram questão de uma lembrancinha, sempre a favor deles. De fato, com exceção de alguns malucos que saem pelos aeroportos dando continência para juiz, o Exército Brasileiro parece querer esquecer o golpe militar de 1964 e nisso faz muito bem. O que sobra desta ação dos militares brasileiros é rescaldo e não a memória viva de feitos históricos com efeito conclusivo sobre as sociedades. É até engraçado, porque durante décadas o golpe de 64 foi reavivado, anos pós anos, mais pela leitura fraudulenta da esquerda do que pela verdade do acontecimento, um acidente grotesco na história brasileira.
Os milicos faziam um desfile por ano, enquanto a esquerda mantinha a chama acesa durante o ano todo nas universidades, na imprensa e demais áreas do pensamento. É pra rir mesmo. No afã de engrandecer seu próprio papel durante a criação do caldo de cultura que estimulou a intervenção militar, durante muito tempo a esquerda acabou concedendo um valor imerecido aos militares.
O superdimensionamento teórico esquerdista servia também para evitar que os brasileiros tivessem a leitura correta das destrutivas atividades de políticos, sindicalistas, jornalistas e também de intelectuais e até de militares no período que precedeu ao golpe. Com o golpe, essa mesma esquerda manteve a postura, desta vez com a militância acrescida de jovens com a mentalidade devidamente lavada por seus teóricos e pela liderança política.
É de gargalhar. Na intenção de dificultar a correta leitura das bobajadas cometidas antes e depois do golpe, praticamente em todo o período militar — que foi de 1964 a 1982 —, ao se colocar em um papel heróico a esquerda acabou dando aos militares um valor político muito acima do verdadeiro. Porém, pobre esquerda, que dificuldade seria assumir sua posição lamentável no governo de João Goulart e mesmo nos governos anteriores. A vocação da esquerda como criadora de encrencas vem desde a formação da grotesca tentativa de golpe comunista, com a Intentona de 1935, aqui capitaneada (literalmente) pelo Partido Comunista, sob o comando direto de Moscou.
A verdade é que são os democratas liberais e conservadores que sempre estiveram certos. Agiam com inteligência e equilíbrio, mirando resultados práticos, de uma forma que comprovadamente evitou que o país não descambasse para o horror. São muitos os nomes nesta liderança habilidosa, mas que fiquem simbolicamente crivados em dois deles, Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, homens que o país faria bem em lembrar mais, junto com os outros, cujos nomes não cabem aqui. É verdade também que esses liberais salvaram a própria esquerda, estupidamente envolvida em seu descalabro que podia resultar inclusive em maiores violências físicas para todos os brasileiros.
A esquerda mesmo sempre correu do pau quando teve que enfrentar consequências de suas bravatas. Armaram o clima do golpe de 64, enquanto no gogó afirmavam a disposição para enfrentar em armas a direita. Na hora do embate, porém, fugiram em debandada. Atazanaram a paciência da oposição democrática enquanto os militares estiveram no poder, inclusive fazendo a suprema besteira da luta armada. Mas estavam sempre em fuga nos momentos cruciais. Nas correrias aproveitaram inclusive para criar problemas em outros países, radicalizando situações, como fizeram no Chile de Salvador Allende, para fugir novamente em busca de abrigo em países de “democracia burguesa”, conforme eles dizem até hoje.
Sobre a última pataquada da esquerda nem é preciso falar. Estamos sofrendo as consequências do desvario, antes colocado por eles em prática somente na oposição. Numa marcada lamentável dos brasileiros, suas maluquices foram aplicadas em um ciclo que durou incríveis 13 anos. Com o clima nacional de divisão política e social, o desastre moral e econômico em que nos meteram e até pela tremenda desarmonia pessoal que contagia a todos e cria desavenças tolas o tempo todo, é possível até para as novas gerações tomar uma lição viva do que foram os anos anteriores ao golpe militar. É óbvio que não justifica o golpe contra a democracia, mas dá para entender muito bem que o problema nunca foi exclusivamente os militares.
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POR José Pires