quarta-feira, 30 de setembro de 2020

A chateação e a patrulha ideológica do politicamente correto

Olha, acho um saco: hoje tudo é racismo, preconceito e assédio. Mas peço calma à militância racialista e às exaltadas feministas, para que não me rotulem como racista e machista, que é o que costumam fazer com quem diverge desse politicamente correto muito chato e sem fundamento que virou um meio de vida.

Estou apenas assinando embaixo do que disse a jornalista Glória Maria, que será difícil dessa esquerda insuportável tachar como racista e machista, afinal ela é uma mulher negra.

O desabafo de Glória Maria deveria servir para esta militância negra estilo Malcom-x rever sua postura e também para abrir os olhos das feministas militantes, que faz muito tempo que causam mais mal do que bem às vítimas do preconceito e do machismo.

Agridem quem nada tem a ver com o desrespeito aos direitos civis e ao contrário de fortalecer pautas políticas progressistas tornam esses temas muito chatos e intolerantes, favorecendo exatamente as correntes políticas mais atrasadas, como fizeram no Brasil, beneficiando eleitoralmente Jair Bolsonaro, repetindo aqui o que já havia ocorrido na primeira eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, onde agora podem ajudá-lo a não sair do poder, quando saem tocando fogo nas ruas.

Glória Maria está certa: vocês são uns malas. E fazem um desserviço à luta pelos direitos civis e ao respeito a um debate sincero, inteligente e criativo, com abertura à liberdade de opinião e sem encher o saco dos que desejam viver a vida sem ter que ficar o tempo todo prestando contas para patrulhas ideológicas.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


Mandetta: um biógrafo da pandemia e dos desatinos de Bolsonaro

Ainda não li o livro escrito por Luiz Henrique Mandetta sobre sua experiência no trabalho com Jair Bolsonaro no meio de uma pandemia, mas já deu para saber de muita coisa revelada pelo ex-ministro da Saúde e também do efeito causado pelas revelações, que pode ser observado no ódio de Bolsonaro ao seu ex-colaborador, que aumentou bastante com a publicação do livro, com o título “Um paciente chamado Brasil”.

Publicado pela editora Companhia das Letras, o livro chegou há poucos dias nas livrarias trazendo na capa uma chamada explicativa: “Os bastidores da luta contra o coronavírus”. Bem, não estaria errado quem acrescentasse: “luta contra o coronavírus e o pior aliado da doença: Jair Bolsonaro”.

Claro que o presidente do país em questão é também um paciente analisado pelo médico Mandetta e não poderia gostar do que leu — se é que leu: como Bolsonaro não parece ser alguém capaz de ler um livro inteiro é provável que tenham marcado para ele os trechos essenciais da obra.

Munindo-se até do que sabe de psiquiatria — ele cursou um ano dessa matéria, até se decidir pela ortopedia —, Mandetta traçou um perfil exato de Bolsonaro, nas reações de um paciente atingido por um diagnóstico difícil de encarar, no caso a Covid-19.

São as três fases que já são conhecidas. Pela ordem: negação, raiva do médico e a busca por um milagre. Primeiro, “uma gripezinha”, a raiva de Mandetta, que que lhe passava as más notícias, e por fim o milagre, com a cloroquina.

Com sabemos, o paciente Bolsonaro não vai nada bem e o país que ele comanda corre o risco de cair em uma UTI sem respirador, por conta dos atropelos na economia causados pelo seu negacionismo e antes da pandemia, por Paulo Guedes, o ministro que levou semanas até ser convencido por sua equipe que sua visão ortodoxa não cabia na situação inédita criada pelo vírus.

Ressalto aqui que quando o inacreditável Guedes teimava com suas lições chilenas de economia, da Europa a trágica experiência de vários países já mostrava que o mundo havia mudado, com a Covid-19 demolindo de forma inapelável certezas de economistas imobilizados em uma única receita.

Não o nosso Guedes, é claro. Um dos momentos impagáveis do livro é o Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro botando ordem na casa, quando surgiu a necessidade de adiar a remarcação do preço dos remédios. Isso feriu os brios liberais de Guedes, que foi  categórico. “Não admito tabelamento”, ele disse.

O ministro que Bolsonaro vendeu ao eleitor como o melhor economista do mundo não sabia que o preço de medicamentos é tabelado no Brasil. Bem, como se costuma dizer, baixem o pano. E bem rápido.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


terça-feira, 29 de setembro de 2020

Boa Kicis tocando o terror na barra pesada do bolsonarismo

Pode-se divergir de Luiz Henrique Mandetta, que como ministro da Saúde do governo de Jair Bolsonaro impediu que o Brasil caísse em um colossal desastre sanitário. Se Bolsonaro tivesse na Saúde um subordinado totalmente submisso como este que aí está, hoje em dia estaríamos chorando não só os mortos da Covid-19, mas também milhares de vítimas de outras doenças, de mortos causados por um colapso que com certeza ocorreria se as coisas fossem feitas desde o início como Bolsonaro queria.

Mas, voltando a Mandetta, pode-se até simplesmente não gostar do ex-ministro, mas nenhum adversário poderia apontar nele falta de educação no debate. E olha que ultimamente, mesmo considerando o clima intolerante criado pelo bolsonarismo, ninguém sofreu mais ataques, de fora ou de dentro do governo, nesta questão da pandemia.

Sergio Moro certamente suportou pressões terríveis, porém o clima de confronto criado contra o ex-ministro da Justiça tem origens antigas e muito diversas, que junta desde os interesses do narcotráfico, grandes chefes do crime organizado e das táticas políticas da defesa do ex-presidiário Lula, até a estratégia atual de desmonte do espírito de Justiça que começava a criar caminhos para o Brasil melhorar e que junta atualmente esquerda com direito, lulistas e bolsonaristas, bancas milionárias de advogados do crime político e do comum, além do que tem de pior na classe política, todos batalhando firme para fazer o país andar pra trás.

A pressão contra Mandetta é mais dirigida, com o debate agressivo centrado na polêmica criada a partir da diferença de visão entre ele e o presidente Jair Bolsonaro quanto ao que se deve fazer em relação à Covid-19. Vimos Mandetta sofrer ataques terríveis, com sua posição sendo contestada muitas vezes com grosseria, como vem fazendo atualmente o próprio Bolsonaro em suas lamentáveis lives que parecem vídeos de fundamentalistas prontos a cortar com uma faca o pescoço de um refém.

É uma barra pesada que assistimos diretamente, no entanto Mandetta responde com tranquilidade, respeitando mesmo quem o questiona fora do tom do que deve ser um debate de ideias e posicionamento profissional. Este é um relato fiel aos fatos sobre a presença no debate político atual deste ex-ministro — a quem inclusive Bolsonaro deve a manutenção no cargo, pois se a Covid-19 fosse tratada no sentido que o presidente pretendia, provavelmente este ignorante já teria sido tirado do Palácio do Planalto.

Mandetta suportou até então os piores ataques sem ir além da sua reação habitual. Ele só mudou de tom agora, com um post publicado por esta inacreditável Bia Kicis, deputada direitista que consegue ultrapassar com larga vantagem até o nível habitual de grosseria dessa coisa que define-se com “bolsonarismo”. Bia Kicis tem aquele traço psicológico muito estranho e marcante em grande parte de seguidores de Bolsonaro, neste prazer cruel em ser horroroso com o próximo.

O post assinado por ela — inclusive com a marca de seu nome na imagem — é um horror até pela utilização de forma racista de um debate que nada tem a ver com a questão sanitária da Covid-19. A deputada ataca também Sergio Moro, da mesma forma que faz com Mandetta. Se a Câmara dos Deputados tivesse seriedade, ela enfrentaria um processo por quebra muito grave de decoro. Mas, ora, se houvesse esta seriedade Bolsonaro teria sido cassado há bastante tempo por seu mau comportamento como parlamentar.

Republico a imagem publicada por Bia Kicis porque ela é uma perfeita ilustração do caráter dessa deputada. Mandetta respondeu em um tom fora do habitual, com uma indignação que dá para compreender, afinal a elegância pode não cair bem em certos casos. Perguntado pelo Estadão, ele respondeu o seguinte por WhatsApp: “Racista nauseabunda. Chula. Pequena. Inútil. Abjeta. RACISTA!!!!!”. Poucas vezes eu vi uma descrição tão perfeita sobre o que muitos bolsonaristas vêm fazendo nas redes sociais, com destaque, como eu disse, às performances dessa deputada, com quem Bolsonaro se identifica tanto que já declarou que é uma das mais queridas entre os que o cercam.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires

 

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Imagem- à direita, o post de Bia Kicis; à esquerda, a deputada posa com seu líder e mentor político


sábado, 26 de setembro de 2020

Michelle Bolsonaro contra Os Detonautas

Michelle Bolsonaro está querendo censurar o grupo Detonautas por causa de uma música de nome “Micheque”, que trata de um assunto que nem é preciso dizer qual é. A esposa do presidente Jair Bolsonaro prestou queixa contra a banda, exigindo que a música seja retirada imediatamente de todas as plataformas digitais. Ela se diz vítima de injúria, calúnia e difamação, o que não é verdade. A música traz apenas fatos de conhecimento público.

 

Claro que a tentativa de censura teve o efeito de chamar ainda mais a atenção à música, que tem uma pegada boa. Até eu tive curiosidade de conhecer a polêmica obra. Bem, eu me movendo para ouvir algo da banda de Tico Santa Cruz serve como demonstração do tanto que foi errada a decisão da primeira-dama. Se ela curtisse sua raiva sem ninguém saber, “Micheque” provavelmente não iria para as paradas de sucesso com tanta facilidade.

 

Dificilmente Michelle Bolsonaro conseguirá fazer a música parar de tocar, mas supondo que um juiz aceite fazer o papel de censor, será complicado impedir que ela seja tocada em manifestações de rua, para dar apenas um exemplo. Pior ainda, uma música dessas censurada faz mais mal ao governo de Bolsonaro do que poderia fazer à sensibilidade de dona Michelle, com seus depósitos bancários que estimulam a criatividade de artistas. Ela não é bem uma garota de Ipanema, mas não deixa de ser uma musa com seus 89 mil.

 

Essa família Bolsonaro complica demais coisas que podem ser resolvidas de forma muito simples. Basta explicarem como esses 89 mil caíram na conta da primeira-dama, darem os recibos de compra de imóveis, de negócios com franquias de chocolate, contarem direito qual é o motivo dessa obsessão em fazer transações com pacotaços em dinheiro vivo, enfim, deixar claro a razão de tanta bizarrice com grana numa família que ficou milionária na política.

 

O melhor modo de acabar com a música dos Detonautas é explicar de vez porque Fabrício Queiroz depositou 89 mil reais na sua conta. Ao apelar para a tentativa de censura, Michelle tornou ainda mais complicado um assunto que poderia ser resolvido com uma resposta muito simples. Agora o depósito de Queiróz ganhou trilha sonora de sucesso.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


Bolsonaro e seu líder na Câmara: a velha política mandando até em Paulo Guedes

O deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, foi questionado sobre o incidente desta quarta-feira, quando ele e o ministro Luiz Eduardo Ramos afastaram bruscamente o ministro da Economia de repórteres, obrigando Paulo Guedes a abandonar uma entrevista coletiva. Barros foi evasivo sobre o assunto, de acordo com seu comportamento como político que fez carreira nos bastidores, onde tudo se realiza longe dos olhos do público.

 

Barros não é qualificado para a relação com a opinião pública, posto em que se impôs neste governo, até porque o presidente Jair Bolsonaro não dispunha de muita escolha de lideres políticos que possam criar uma imagem de credibilidade ao seu governo. E este político do PP nunca soube cumprir um papel em que a comunicação tenha um peso definidor.

 

Sua personalidade autoritária transparece no que fala e na sua arrogância pessoal ele é capaz de criar complicações sérias na relação de um governo com a sociedade civil, como ocorreu várias vezes durante sua passagem pelo Ministério da Saúde. O governo Temer era obrigado a manter uma equipe de bombeiros apagando fogueiras criadas por suas falas, em que agredia o bom senso e arrumava encrencas com categorias profissionais, instituições, muita gente ofendida com as baboseiras lançadas com prepotência sobre a opinião pública.

 

Para não responder diretamente sobre a constrangedora pressão em cima de Paulo Guedes, o deputado o classificou como  “o ministro mais forte do governo”. Como eu falei, aí temos em ação o sujeito com uma séria dificuldade de se expressar. O elogio a Guedes acaba sendo pejorativo ao conjunto da equipe de ministros de Bolsonaro. Um ministro “mais forte” obrigatoriamente está cercado de outros mais fracos.

 

Mas Barros foi adiante, procurando elevar a estatura de Guedes com outra disparatada comparação com colegas de governo. Ele disse que Guedes “é o [ministro] que tem mais capacidade de induzir as decisões do governo, até porque todos os ministérios querem gastar, e ele tem que manter o rigor fiscal, o teto de gastos”. Resumindo, Guedes tem a qualidade de servir como freio a uma cambada de gastadores. Muito bacana a retórica do Barros, não é mesmo? Mas eu já tinha avisado.

 

O líder que Bolsonaro arrumou é desse jeito mesmo. Não cabe discutir o que um político como ele pode resolver nos bastidores, ainda mais para um presidente que parece ter como meta fazer o Brasil recuar do ponto de vista ético, mas o cacique do PP não é apropriado para compor um discurso que dê uma cara aceitável a um governo.

 

Ele é uma dessas figuras políticas que pode servir como força política para estabelecer o que esse pessoal chama de “governabilidade”, sem que eu esteja fazendo juízo de valor quanto aos preceitos éticos para isso. Duvido bastante que ele seja capaz de abrir alianças além de seu partido, que por ser voraz demais acaba competindo de forma invasiva dentro da parcela clientelista da Câmara.

 

Barros é um dos chefões nacionais do PP, partido cujo valor moral pode ser sintetizado simbolicamente em figuras como Paulo Maluf e José Janene. Este último, por sinal falecido às vésperas de ser julgado e certamente condenado pelo STF no inquérito do mensalão, quando era vivo dividia com Barros o poder no PP do Paraná.

 

Como eles eram adversários dentro do partido e Janene sempre teve mais poder no plano nacional, a morte do colega favoreceu Barros, abrindo a oportunidade dele ocupar o poder total no partido no Paraná. E além de ficar mais forte no estado, foi beneficiado por um considerável aumento de poder de barganha do PP nacional, antes exercido por Janene.

 

Na política, Barros está sempre do lado que o favorece e não tem preocupação alguma com lealdade, palavra que certamente não consta de seu parco vocabulário. Basta pesquisar na internet para conferir que ele é do tipo que só não participa de um governo quando não é aceito. E também é capaz de se desligar com rapidez das parcerias quando a ruptura lhe convém.

 

No Paraná, ele era tão próximo de Beto Richa que sua mulher Cida Borghetti foi vice do governador tucano por dois mandatos. Pois quando Richa largou o governo para ser candidato ao Senado em 2018, em aliança com Barros e a mulher candidata ao governo, o tucano foi abandonado. Vendo se esgotar o poder político do antigo aliado, toda a família Barros eliminou Richa até de santinhos eleitorais.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Paulo Guedes: de Posto Ipiranga a ministro tutelado com mão pesada

O ministro Paulo Guedes sofreu uma humilhação pública na quinta-feira e piorou o vexame com uma explicação muito idiota sobre o acontecimento, dada nesta sexta-feira. Ontem, Guedes falava à imprensa sobre o fim do auxílio emergencial, quando foi retirado bruscamente pelo general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e pelo deputado Ricardo Barros.

 

Nunca se viu algo parecido em nenhum outro governo, o que demonstra a condição aviltante de Guedes no governo de Jair Bolsonaro. O ministro ainda tentou fazer uma piada besta enquanto era conduzido pelo braço para fora da coletiva, mas não tem jeito. Foi uma cena constrangedora de dar vergonha alheia.

 

Nesta sexta-feira, Guedes tentou novamente fazer piada com o episódio. “Estavam me protegendo das perguntas de vocês”, ele disse sobre a forma grotesca de Ramos e Barros o conduzirem para fora da coletiva. Bem, a própria situação criada mostra que o ministro aceita o que foi sem dúvida nenhuma uma afronta à sua dignidade pessoal. Atitude como a de seus dois colegas só é possível quando estão abertos os espaços para a falta de respeito.

 

Ora, mas se Guedes resolveu acatar o papel de alguém que precisa ser tutelado — e ainda mais por Ramos e Barros — o problema é dele. O ministro deve ter feito uma avaliação de custo e benefício, que o leva a aceitar ser tratado em público como um incapaz. Um sujeito que passou a vida na especulação financeira deve saber fazer esse cálculo de cabeça. No entanto, como é que fica o Brasil no meio dessa grotesca situação?

 

Nem é uma questão de apoiar ou ser da oposição a este governo. Simplesmente não é possível compreender onde se quer chegar transformando em uma figura desprezível aquele que era apontado pelo próprio presidente Bolsonaro como componente de primeira linha na sua administração, o tal "Posto Ipiranga", que convenhamos, recebeu um tratamento de boteco da mais baixa categoria. O que será que acha disso aquele tal de "mercado", de que tanto falam?

 

Com investimentos estrangeiros em fuga acelerada do país e a previsão de um déficit colossal nas contas públicas, o que o país precisa é de alguém com todo respaldo político na condução da economia. Esta pessoa nem precisa ser um gênio da área, mas tem que ter pelo menos a confiança do governo de que é capaz de responder à umas perguntas da imprensa sem que seja necessário ser retirado praticamente à força para longe dos jornalistas.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

A esquerda e o PT regressam emocionalmente a um passado que sequer existiu

O PT foi um partido que adquiriu grande habilidade em explorar a decepção do eleitor com as expectativas criadas por políticos de outros partidos, aproveitando o não atendimento de desejos e necessidades da população para ir crescendo gradativamente, até ganhar o governo federal, com a eleição de Lula em 2002.

 

Os petistas conseguiram manter o poder por quase quatro mandatos, porém a sustentação desse longo período de governo foi mantida por meio de alianças com uma série chefes de outros partidos, que tradicionalmente repartem o poder no governo federal para o aproveitamento político e pessoal das estruturas públicas, inclusive para roubar muito dinheiro. Fizeram com o PT o que faziam com todos os outros: o problema é que os petistas gostaram tanto que até passaram a roubar juntos.

 

A consequência foi dura para o partido de Lula, que perdeu quadros qualificados tecnicamente e adquiriu uma rejeição acachapante, comprovada na derrota para Jair Bolsonaro, quando o candidato do partido não conseguiu apoio das demais correntes política do país nem do eleitor contra um adversário que não só era horroroso como fazia questão de explorar essa grosseria porque isso funcionava eleitoralmente, exatamente por causa do clima criado anteriormente pelo próprio PT.

 

A rejeição ao PT mantém-se até agora, trazendo uma questão complicada para ser resolvida, sobre a qual o partido tem poucas condições de compreender e atuar, em razão da baixa qualidade da sua direção nacional, inteiramente imposta por Lula, que determina inclusive as ações políticas do partido.

 

A situação é tão grave que na disputa pela prefeitura de São Paulo — com certeza a eleição mais importante este ano para o partido do Lula, até pelo simbolismo histórico da cidade — o PT conseguiu a façanha de ser rejeitado pelos próprios petistas, que abandonaram o candidato do partido e abraçaram a chapa de Guilherme Boulos e Luiza Erundina, do Psol.

 

O entusiasmo com a candidatura de Boulos se deve em grande parte a uma regressão emocional que vem ocorrendo com a esquerda, muito estúpida por sinal, porque não passa de uma fuga de desconfortos da maturidade, com uma volta ao passado na busca de uma pureza política que na verdade nunca existiu.

 

Esta ilusão encontrou o foco perfeito em Boulos, que se espelha no mito do Lula sindicalista — e por isso puro — até mesmo no estudado jeitão bocó do Lula deste passado que só existe em cabeças vazias do estudo, da discussão crítica e também da falta de autocrítica.

 

Complexo coletivo de culpa e as dificuldades do amadurecimento político resultaram neste “esquerda, volver”, que pode ser sentido entre os esquerdistas em todo o país. Quase dá para sentir no ar o perfume de patchouli e é quase um milagre que as companheiras não estejam calçando sandálias rústicas de couro e vestidos tipo indiano e os rapazes não estejam de bolsas a tiracolo.

 

O discurso político (ou “narrativa”, como se diz agora) parece da época logo depois do fim da ditadura, quando petistas já enchiam a nossa paciência, mas pelo menos ainda não roubavam.

 

Existe atualmente entre grande parcela de apoiadores do PT uma vergonha de tudo que se passou na história do partido, especialmente no que foi feito de ruim no período de poder no governo federal. E este desconforto tem razão de ser, porque de fato é preciso ter pouca vergonha na cara para ter apoiado até agora este partido.

 

Esta sensação incômoda de falta de capacidade de realização, além da decepcionante roubalheira, causou uma regressão melancólica, que evidentemente terá pouco valor efetivo na carrada de coisas que o Brasil precisa resolver para não afundar definitivamente. Era só o que faltava, com tantas complicações na vida não vai dar para aturar uma esquerda fazendo de conta, como antigamente, que traz no coração toda a bondade do mundo.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


A família Bolsonaro e seu tremendo gosto por dinheiro vivo

Nesta quinta-feira o Estadão traz mais um fato sobre a obsessiva fixação da família Bolsonaro com dinheiro vivo. Os parentes de Jair Bolsonaro e ele próprio não acreditam nas facilidades da tecnologia e dos serviços bancários para os negócios. Devem ter um bom gasto extra com malas. Ou as malas serão de brinde?

 

Mas vamos a mais uma notícia sobre o modelo de negócios dos Bolsonaro, que desta vez atinge o próprio presidente da República, em um estranho negócio cruzado que envolve a compra de um imóvel dele por um funcionário fantasma do antigo gabinete de deputado estadual do atual senador Flávio Bolsonaro.

 

O negócio envolve também a segunda mulher de Bolsonaro — um conservador muito peculiar: teve três mulheres. Ela foi candidata a deputada federal na eleição passada usando o sobrenome do ex-marido, mas teve apenas 3806 votos e não se elegeu. Os vendedores do imóvel foram Bolsonaro, então deputado federal, junto com Ana Cristina Siqueira Valle, sua segunda ex-mulher. O coronel da reserva Guilherme dos Santos Hudson, comprou um terreno dos dois em 2008 por R$ 38 mil, o que equivaleria hoje em dia a R$ 71 mil.

 

Tudo foi pago em dinheiro vivo, que torna o negócio ainda mais suspeito. O coronel da reserva é apontado pelo Ministério Público como funcionário “fantasma” de Flávio Bolsonaro, dando continuidade a outra complicação muito grave criada pela família Bolsonaro, que é o sério desgaste da imagem das Forças Armadas, principalmente do Exército Brasileiro.

 

O que dá para pensar de um deputado federal e sua ex-mulher fazendo um negócio imobiliário, com o recebimento de um pacotaço de dinheiro de um coronel da reserva? A transação é ainda mais questionável porque foi feita com um funcionário nomeado do gabinete político do filho do presidente.

 

Já temos militares envolvidos com a incompetência e má-fé desde governo, em políticas públicas lamentáveis, como vem havendo na condução deste governo na pandemia e no meio ambiente. E os Bolsonaro também comprometem oficiais da reserva em seus suspeitos negócios.

 

Logo que ganhou a eleição, Bolsonaro dizia que iria fazer um desmonte no Brasil. Pois esta ação vem sendo cumprida no estrago considerável causado na imagem das Forças Armadas, com uma tremenda perda do respeito que os militares tinham antes de se comprometerem demais com este governo.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


terça-feira, 22 de setembro de 2020

Bolsonaro, Pompeo e Trump, Lula, Maduro e Chávez: a salada indigesta das relações externas do Brasil

Tem tido respostas o uso do território brasileiro como palanque da campanha de Donald Trump pelo secretário de Estado Mike Pompeo, em sua visita a Roraima na semana passada. O secretário americano fez graves provocações ao governo da Venezuela. Ele veio aqui passar mensagens ao eleitorado de direita de origem latina, que Trump procura cativar nos Estados Unidos, fazendo do Brasil um palanque.

 

Houve reação, a começar pela pronta resposta do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, na exigência de mais respeito ao nosso país nas relações externas. Um grupo de senadores também quer aprovar um “voto de censura” aos EUA, o que serviria para compensar a falta de ação de Davi Alcolumbre, péssimo presidente do Senado, que não respeita nem os aspectos de respeitabilidade formal daquela Casa. Com mentalidade de político do baixo clero, o senador pelo Amapá só pensa em benefícios pessoais e de sua família.

 

Neste caso da desrespeitosa visita de Mike Pompeo cabe separar também o teor das indignações, que podem até soar como justas de origem, mas seguem interesses diversionistas com intenção de esconder responsabilidades sobre a bagunçada condição das relações externas do Brasil, além de apontarem, em maquinação asquerosa, qualidades onde isso absolutamente não existe.

 

Estou falando da esquerda brasileira, claro, mais propriamente do chefe do maior partido esquerdista, o incorrigível Lula e seu PT, sigla que mistura-se hoje em dia com o que de pior existe na política brasileira, juntando forças com corruptos no favorecimento da impunidade. Lula também protestou contra as falas do secretário americano de Trump, mas aproveitou para encaixar um elogio ao regime de Maduro.

 

Não nos enganemos: a política externa do governo Bolsonaro é um desastre, porém os problemas sérios do Brasil em política internacional têm como origem a política externa dos quatro mandatos do PT, comandados por Lula, com suas relações estreitas e cúmplices com governos de tendência altamente antidemocrática na América Latina. Destas equivocadas alianças petistas destaque-se como um dos maiores problemas o governo de Nicolás Maduro, com as graves complicações surgidas desde a criação deste lamentável regime bolivariano, com Hugo Chávez.

 

Mas vamos ao que disse Lula. Em entrevista à agência de notícias Reuters, o chefão do PT criticou a visita do secretário Mike Pompeo ao Brasil, aproveitando para tentar favorecer Nicolás Maduro. “Gostemos dele ou não”, disse Lula sobre seu antigo parceiro, “a Venezuela tem um presidente eleito”.

 

Ora, pode parecer verdade que “a Venezuela tem um presidente eleito”, no entanto não é uma verdade completa. Este é o modo costumeiro de Lula falar, com suas meias-verdades. Nicolás Maduro é um ditador, um destruidor da democracia que usa a fachada de governante que chegou ao poder pelo voto popular.

 

Acontece que as eleições na Venezuela não são limpas. O quadro eleitoral vem sendo montado da forma que melhor favorece ao governo bolivarianista e isso ocorre desde o primeiro mandato do criador do regime, Hugo Chávez. O governo de Maduro atropela as leis ou simplesmente as mudam quando lhe convém. Tampouco respeitam uma relação democrática com os outros poderes, muito menos com a população.

 

Lula é um cínico, o que não é nenhuma novidade. Chico de Oliveira, que foi um dos fundadores do PT, já dizia há anos que seu ex-companheiro “não tem caráter”. Quando o assunto é a Venezuela, estamos falando de um governo que recentemente usou milícias paramilitares para aterrorizar manifestantes que saíram às ruas em protesto. Franco-atiradores atiravam em oposicionistas, ferindo e matando pessoas.

 

A ditadura de Maduro também usa mecanismos de controle e de pressão sobre a população que tem como referência a experiência do modelo de pressão e controle de outra ditadura, a de Cuba, com um processo que, por sinal, na Venezuela foi montado e tem sido controlado por profissionais da inteligência e repressão política do governo cubano.

 

Esta opinião enviesada do chefe do maior partido de esquerda do país, levanta uma questão fundamental, que é a forma dos brasileiros agirem contra tantas complicações muito sérias da atualidade, algumas delas com o risco de afetar o futuro do país, mas tendo o cuidado de fazer este trabalho, muitas vezes com o sentido de indignação, separando muito bem o que é da responsabilidade deste desastroso e mal-intencionado governo de Jair Bolsonaro e aquilo que foi feito de muito ruim pela esquerda, com o projeto de poder do PT, que esteve por mais de uma década no poder.

 

A crise na segurança, com milícias paramilitares e o narcotráfico dominando regiões inteiras em grandes cidades, péssimos resultados na educação, a quebra da economia brasileira, a corrupção endêmica e tantos outros graves problemas que, sem dúvida, Bolsonaro não tem capacidade e muitas vezes nem o interesse de enfrentar, são de origem antiga que precisam estar muito bem definidas.

 

Só apontando muito bem as responsabilidades é que o Brasil poderá superar esses problemas e também não cair no risco de favorecer quem começou toda essa desgraceira que abala o nosso país.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Flávio Bolsonaro e a grotesca fuga da acareação com Paulo Marinho


A família Bolsonaro é uma piada, muito de mau gosto e que infelizmente foi levada a sério por uma parcela dos eleitores brasileiros, que elegeram o chefe do clã do peculato, na escolha política mais errada que já foi feita neste país. Outro traço que vai ficando cada vez mais marcado no caráter dos Bolsonaro é o da covardia. Há alguns dias Jair Bolsonaro fugia de dar depoimento à Polícia Federal. O STF está para decidir a questão.

 

Nesta segunda-feira, o filho mais velho de Jair Bolsonaro, senador Flávio Bolsonaro, faltou a uma acareação com o empresário Paulo Marinho. O encontro foi marcado pelo Ministério Público Federal para tratar do vazamento da Operação Furna da Onça, conforme denunciou Marinho. 

 

Flávio Bolsonaro alegou falta de espaço na agenda. Sua defesa afirmou que ele tinha compromisso oficial no dia de hoje no Amazonas e que fizeram um pedido para marcar a acareação para 5 de outubro, no gabinete dele, em Brasília, ou por videoconferência. Acareação por videoconferência é algo que só pode vir da cabeça de um Bolsonaro, mas a tentativa de fuga do confronto pessoal mostra muito bem o medo do filho de Bolsonaro.

 

Hoje mesmo apareceu nas redes sociais um vídeo mostrando seu “compromisso oficial”. Ele postou uma cena jubto com o irmão Eduardo Bolsonaro, o Bananinha, em participação no programa de Sikêra Júnior, nos estúdios da TV A Crítica, em Manaus. Os dois irmãos dançam com Sikêra, cantando uma música com o refrão ““El, el, el, todo maconheiro dá o anel/ yoga, yoga, yoga, todo maconheiro dá o boga”.

 

Era isso que o fujão tinha para fazer no Amazonas. A micagem no programa desse apresentador de TV que simboliza muito bem o padrão cultural do governo Bolsonaro até parece até uma zoação com o trabalho da Justiça. Eu acho que cabia uma punição ao covarde.

 

Uma acareação tem o propósito muito simples de juntar duas pessoas para saber quem é que está mentindo. Quem tem dignidade certamente não recorre à esquemas covardes para fugir da discussão. Paulo Marinho disse que Flávio Bolsonaro o procurou antes da eleição do ano passado contando que um delegado da Polícia Federal havia vazado a informação sobre a Operação Furna da Onça, que investiga o esquema de peculato no seu gabinete de deputado estadual. O senador nega.

 

Quem é que está mentindo? Paulo Marinho esteve por volta das 14h30 na sede do Ministério Público Federal, no Rio de Janeiro, para a acareação. O que ele disse aos jornalistas ao chegar resume a impressão geral sobre o assunto: "Com certeza alguém mentiu, né? E não fui eu".

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌



Governo Bolsonaro faz do Brasil um palanque de Donald Trump

Não é que seja necessário mais provas de que Jair Bolsonaro é um desatinado, mas nesta semana que passou ele demonstrou que seu governo depende até do bom senso de Nicolás Maduro, esta desastrosa figura que domina hoje a Venezuela. O secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, esteve em Roraima promovendo a mais reles provocação política, que serve obviamente como material de campanha de Donald Trump, na sua tentativa de reeleição.

 

O uso do solo brasileiro para a campanha de Trump certamente teve mais que o consentimento de Jair Bolsonaro. A adesão entusiasmada foi de um fã declarado do presidente americano, mas a aceitação do ridículo papel de cabo eleitoral trumpista se deve também às suas necessidades, na dependência desesperada da derrota do democrata Joe Biden.

 

Com Trump fora da Casa Branca não haveria mais sustentação alguma para a absurda política externa desenvolvida pelo chanceler Ernesto Araújo, que mostra sua incapacidade até por ter colocado o país na dependência de uma única carta no jogo da política internacional.

 

Nesta condição, mesmo se quisesse, o governo Bolsonaro não teria como evitar que um secretário de Estado dos Estados Unidos usasse o solo brasileiro como palanque internacional da campanha trumpista. E como eu já disse, do ponto de vista pessoal jamais passaria pela cabeça de Bolsonaro discordar dessas táticas de campanha de Trump. Ao contrário, com seu caráter subserviente ele deve até sentir aquele orgulho asqueroso de puxa-saco quando é chamado a colaborar com o chefe.

 

Bolsonaro também está pouco ligando com o que pode acontecer de ruim com o Brasil. Sua política continua a mesma de quando foi um deputado do baixo clero, em quase três décadas como um dos mais desprezíveis entre essa baixa categoria de políticos de Brasília.

 

Seu foco  foi sempre o de ganhar dinheiro com a política, de preferência do modo mais fácil. Fez qualquer coisa para engordar o caixa familiar, criando linhas de, digamos, financiamento da fortuna familiar, com dinheiro tomado de funcionários nomeados em gabinetes dos filhos, além de outras mutretas que dificilmente deixarão de aparecer em investigações.

 

Nesta fuga das responsabilidades de sua carreira política ele vai depender dos arranjos com a parte mais suja da política brasileira para brecar a Justiça, incluindo acertos com a esquerda liderada pelo ex-presidente Lula.

 

Mike Pompeo completou um roteiro por países que fazem fronteira com a Venezuela, incluindo nesta viagem de provocações também o Suriname, Guiana e Colômbia. Claro que por enquanto o resultado prático dessa diplomacia eleitoreira em relação à Venezuela é o fortalecimento de Maduro e o estreitamento de laços de seu governo com as Forças Armadas daquele país. Perde a oposição venezuelana e fica mais difícil a abertura aos venezuelanos de um caminho pela via democrática. Mas isso também é parte dos planos de Trump para a Venezuela, que de modo algum passa pela conciliação democrática entre os cidadãos daquele país.

 

Essa ideia de política externa de Donald Trump naturalmente influencia o destino do nosso país, que neste aspecto corre muito perigo com sua reeleição. Com um segundo mandato Trump adquire força política para uma intervenção na Venezuela, algo em que deve estar pensando há bastante tempo e só não colocou em prática pela falta de uma boa motivação.

 

É isso que o secretário Pompeu veio tentar criar aqui com suas provocações. Buscam reações do governo venezuelano que justifique uma forte retaliação. Como eu disse, por ora venceu o bom senso de Maduro, mas, sendo reeleito, Trump pode decidir pelo atropelamento de qualquer sensatez.

 

Caso conquiste mais um mandato, uma intervenção na Venezuela pode servir para desviar a atenção da opinião pública dos erros colossais de Trump nesta pandemia. O Brasil inevitavelmente estaria no meio dessa desastrosa encrenca internacional. E que ninguém pense que Bolsonaro não se anima com a possibilidade desse conflito. Ele também precisa arrumar algo para encobrir seus erros na pandemia e a indecente desonestidade praticada em família.

 

É provável inclusive que a possibilidade de um conflito internacional envolvendo o nosso país mexa com os recalques graves de seu fracasso pessoal como militar. Além disso, seria uma guerra contra o misterioso “Foro de São Paulo”, uma das poucas bandeiras que sobrou da sua campanha.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌


quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Ricardo Barros: a polícia batendo na porta do novo líder do governo Bolsonaro

O deputado Ricardo Barros foi alvo de um mandado de busca e apreensão em seu escritório em Maringá, em operação da Polícia Civil e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, o respeitado Gaeco do MP estadual. Outros locais foram alvo de busca, no Paraná e em São Paulo.

 

A investigação é sobre pagamento de R$ 5 milhões em suborno, que teria sido feito a Ricardo Barros para intermediar negócios junto à Copel, a estatal de energia do Paraná. A acusação foi feita por delatores, que relataram a entrega de R$ 5 milhões ao político do PP. Segundo a delação, Barros teria recebido R$ 1,55 milhão em espécie, com outros R$ 3,53 milhões sendo pagos como doações eleitorais ao Diretório Nacional do PP (Progressistas), do qual era tesoureiro.

 

O site O Antagonista deu a notícia em primeira mão em agosto do ano passado. Conforme a delação, os valores foram negociados e pagos entre 2011 e 2014. Cabe lembrar que de 2011 a janeiro de 2019 a mulher de Barros, Cida Borghetti, foi vice-governadora do Paraná, tendo assumido o cargo em abril de 2018 quando o titular e também acusado de corrupção Beto Richa se desincompatibilizou para disputar o Senado.

 

Barros é líder de governo de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados, tendo sido alçado ao cargo como uma grande esperança dos governistas de fortalecimento da articulação com o Legislativo. Logo que tomou posse, Barros foi explícito sobre os termos dessa articulação. Ele disse que Bolsonaro começou a fazer “política como ela é”. O deputado também se definiu como “um político de resultados”. Bem, o resultado é que o governo está com um líder encalacrado com uma acusação séria de corrupção. Eu diria que isso qualifica de um modo pouco confortável os interlocutores.

 

Tomara que nas confabulações com Bolsonaro para acertar a nomeação tenha ficado claro para o presidente que essa forma de "real politik" implica em polícia batendo na porta de lideranças do governo. E note-se que o trabalho mal começou: Barros foi oficializado na função de líder do governo na Câmara há menos de um mês.

 

Mas, ainda falando em profissionalismo, quem foi direto ao ponto nesta questão foi o senador Major Olímpio. “Pode algemar e prender”, ele disse. O senador do PSL paulista está atualmente rompido com Jair Bolsonaro, sendo uma das pessoas que melhor conhece os bastidores do governo, além de ter tido convivência pessoal com Bolsonaro, com participação ativa e de primeira hora na campanha do presidente eleito com a bandeira da anti-corrupção.

 

Mas não é só por este conhecimento político que chama a atenção a opinião do senador sobre a operação que teve como alvo Ricardo Barros. Major Olímpio chegou a comandar equipes da Polícia Militar em operações em São Paulo, onde com certeza enfrentou barras muito pesadas, além de ter adquirido com certeza muita experiência sobre psicologia do crime.

 

O senador pode falar como especialista. E como se dizia antigamente, usando um termo ligado ao assunto, Major Olímpio foi em cima da bucha na análise do caso: “Em algumas abordagens a suspeitos, pode algemar e prender. Ainda não sabemos o que ele fez, mas que fez fez”.

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POR‌ ‌José‌ ‌Pires‌