quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

A queda de Sergio Moro aos risos e abraços com Flávio Dino

Um dia ainda saberemos qual foi a razão de Sérgio Moro escolher a quarta-feira, 13, da aprovação de Flávio Dino como ministro do STF, para cometer um suicídio político em público. Como se sabe, antes do início da sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, o senador trocou risos e deu abraços apertados no ministro indicado por Lula. E logo com quem. Dino tratou Moro muito mal por várias vezes, inclusive em desrespeito ao cargo de parlamentar.


Claro que o ministro da Justiça e agora juiz no STF seguia uma pauta rígida ordenada por Lula desde sua passagem pela prisão, de ataque cerrado ao ex-juiz da Lava Jato, sobre quem o petista já havia revelado, com muito ódio, o que queria fazer, usando para isso um palavrão, coisa comum na sua linguagem fora dos microfones. 


Fico curioso de saber qual foi a estratégia política do ex-juiz da Lava Jato para expor-se em amabilidades até afetuosas com Dino, mas por enquanto Moro está calado. Se nega a responder até qual foi o seu voto na CCJ e depois em plenário, mas conseguiu espalhar em todas as redes sociais a desconfiança sobre sua posição, antes mesmo da sabatina ter início no Senado. Foi enorme a quantidade de internautas que o acusavam de ter feito um acordo para salvar seu mandato, cuja cassação pode acabar sendo decidida pelo STF.


Com a repercussão negativa nas redes sociais, durante a sessão Moro teve a assessoria de uma pessoa identificada como “Mestrão”, que o alertava em conversa de WhatsApp a não dizer qual seria seu voto. Mestrão informava que o “coro [sic] está comendo” nas redes sociais. Por isso, dizia o amigo oculto, “não pode ter vídeo de você falando que votou a favor, se não [sic] isso vai ficar a vida inteira rodando”.


O especialista em comunicação acertou nesta última observação. A atitude vai mesmo ficar “a vida inteira rodando”. O comportamento de Moro na sessão que consagrou seus inimigos políticos acabou tendo um efeito negativo pesado, como se fosse a finalização política do que até agora a Lava Jato tem sido na vida do senador, com a impressionante ligação natural na sua imagem política. Até agora mantinha-se forte esta relação, que favoreceu o sucesso da sua entrada na política, mesmo com tantas burradas cometidas por ele, entre elas o apoio explícito a Jair Bolsonaro nesta última eleição, quando chegou a comparecer aos debates do candidato na televisão.


Na minha visão, esta forte associação teve um baque forte nesta quarta-feira, 13. E aqui volto à minha curiosidade sobre a estratégia que levou aos afagos com Dino. O comportamento de Moro tem que ser caracterizado de muito tolo, mesmo se ele tiver feito algum acordo com o agora ministro do STF. E se não existe nenhum acordo, os risos e abraços foram de uma estupenda burrice.


É impossível acreditar em boas chances para Moro se o processo da sua cassação chegar ao STF, sendo menor ainda a possibilidade de que Dino não vá influenciar seus colegas para evitar um corte brusco na sua carreira política. Moro se enfraqueceu perante o jogo sujo que armaram contra ele. Na excessiva amabilidade na sessão da CCJ ele jogou fora um trunfo político importante que deixava seus inimigos em dúvida sobre a cassação.


A perda do mandato faria de Moro uma vítima de perseguição política injusta. Isso poderia dar a ele um peso talvez definidor na eleição do ocupante da sua cadeira. Sem as cenas patéticas com Dino, eu arrisco a dizer que uma candidatura apoiada por Moro dificilmente seria derrotada no Paraná. Mais que isso, com a cassação vista praticamente como uma violência política, nas eleições do ano que vem seria ainda mais forte a influência pessoal de Moro.


Os fortes abraços em Dino abalaram bastante este prestígio político e por consequência diminuem os temores dos adversários do provável fortalecimento da imagem do senador paranaense. Este enfraquecimento fatalmente vai intensificar a movimentação pela sua cassação.


Seu comportamento nesta quarta-feira, 13, eliminou a tolerância até dos que já haviam se distanciado de Moro, mas que apesar de tudo ainda tinham alguma confiança na sua honestidade política. É muito forte também a decepção entre as pessoas que o apoiavam, em grande parte devido à associação natural de que já falei, no vínculo histórico da sua imagem política com o combate à corrupção feito pela Lava Jato. 


Com os setores políticos mais à direita foi de arrasar as cenas da doce doce confraternização com Dino, que tinha como atividade preferida a de bater nos políticos bolsonaristas nos encontros nas comissões do Congresso. Moro definitivamente se desligou dessa militância, podendo esperar fogo pesado dos bandos direitistas que só tem os petistas como equivalentes em crueldade política e grosseria nas redes sociais. 


Como em política importa bastante a avaliação por projeção, o “Mestrão” podia passar ao Moro  recados preocupantes para seu futuro político, com essas encrencas que provavelmente ficarão mesmo “a vida inteira rodando”. Entre seus adversários, os temores sobre sua cassação praticamente zeraram. Ele deixou seu prestígio nos abraços calorosos com Dino. E para seus eleitores e admiradores ficou a vergonha dos afagos que são muito difíceis de explicar e muito mais ainda para defender.

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Por José Pires

A quarta-feira, 13, da aprovação de Flávio Dino e da desmoralização do Senado

A aprovação na CCJ do nome do ministro Flávio Dino para o STF revela a completa degeneração de mais esta tarefa constitucional do Senado. As sabatinas são inúteis, mesmo como referência do cumprimento das negociações de bastidores. Para garantir publicamente o apoio bastaria que dessem tiros para cima, apontassem o dedo do meio para os brasileiros, coisas assim. Ficaria muito claro que foi o acordo cumprido, sem ter que encenar uma sabatina.


O símbolo do terror e da desesperança ficou marcado pela lembrança fixada pelo cinema como a sexta-feira, 13. Ontem tivemos algo pior: a quarta-feira, 13. Não vai faltar nem a motosserra, que já vem decepando a liberdade de expressão, o direito à manifestação política e outras questões fundamentais de uma democracia e até mesmo do direito mais simples de viver sem que um togado resolva colocar alguém na cadeia com uma simples canetada só porque não gostou de ler algo nas redes sociais.


Já ficou cansativo raciocinar sobre o buraco em que o nosso Brasil foi enfiado, nessa enrascada histórica que teve seu ponto básico com a soltura de Lula da cadeia, praticamente uma anistia em que o STF teve que voltar atrás em uma decisão que já havia firmado e que é seguida em todos os países do mundo: a de que é na segunda instância que criminoso deve ser trancafiado. Por isso, vou dar um exemplo simples do estado a que chegamos: pense no respeito que você teria por um país em que o presidente, seguidamente em menos de seis meses colocou no Supremo primeiro um advogado pessoal e depois seu ministro da Justiça.


É difícil não ver com desagrado e até rir desse grotesco país imaginário, não é mesmo? Lembra uma Venezuela, uma Nicarágua ou uma dessas ditaduras africanas onde Lula costuma fazer suas empreitadas, só que num estilo bem brasileiro, na cordialidade do estamento burocrático costurado sem violência explícita. Nem se Raymundo Faoro ou Sérgio Buarque de Holanda fossem ficcionistas poderiam pensar que o enredo histórico chegaria a um ponto tão doloroso.


A dura realidade é que no exterior é desse modo que observam o nosso país. Dá até vergonha de ser brasileiro, mas a ressaca moral resulta também em prejuízo material, porque esta imagem é determinante para que investimentos venham de fora, sem os quais não haverá o conserto necessário em nossa economia. 


Fala-se bastante na intromissão dos poderes da República, um no outro, numa brigalhada que desestabiliza politicamente o país e faz desmoronar a confiança jurídica essencial para negócios de qualidade e o financiamentos fundamentais para a nossa economia. Pois o espetáculo desta quarta-feira mostrou que na verdade o que existe é apenas uma arrumação que envolve interesses deste ou daquele juiz ou político, com as articulações entre os Poderes baseadas especificamente em cargos e dinheiro.


O centro desse jogo de interesses é obviamente o STF, pelo que os onze podem oferecer como garantia da abertura o fechamento de grades de cela, se estendendo por todo o sistema jurídico do país ainda que tenha um comando firme neste poder mais acima. E tem também aqueles tais “contrapesos” de que falam tanto. Neste caso, o Executivo tem as verbas, cargos e o Legislativo atua com a chantagem de que os parlamentares podem cumprir suas obrigações, o que todo mundo sabe que não farão nunca, mas não deixa de ser uma moeda de troca que dá resultado.


Gilmar Mendes vem sendo explícito sobre como essas coisas acontecem. Escudado na confiança de um poder inatingível, há dois meses o ministro do STF disse em uma das viagens nababescas dos togados, desta vez em Paris, que muitos políticos, incluindo o presidente Lula, não estariam onde estão hoje se não fosse o STF. Ele já disse coisa parecida outras vezes, com um tom que é também de alerta, na precaução natural em um ambiente que entre uma diversidade de benefícios pode-se trombar com alguns riscos.


Claro que dessa maçaroca de interesses vem como consequência a desesperança quase total de que possamos ter um país com algo parecido com a normalidade, ao menos podendo viver e trabalhar com os requisitos básicos de uma sociedade como tantas que existem em outros lugares. Não se cultiva mais nenhuma utopia entre os brasileiros. Estamos atolados na anomia, na inexistência de leis e regras, quase aceitando que o que resta é aderir ao método de Copacabana, criando grupos de cidadãos para descer o porrete, como andam fazendo na ex-princesinha do mar.


A sabatina desta quarta-feira, 13, com a aclamação senatorial do ministro do Lula, de forma prática simboliza uma derrocada. A desmoralização é tanta que pode ser demonstrada mesmo em argumentações feitas nesta sessão, levantadas, ao menos em tese, como se fossem atitudes qualificadas. Eu poderia citar várias falas de bolsonaristas justificando a contrariedade à indicação de Dino, mas fiquemos num exemplo: tentando atacar a falta de lisura do Senado, o senador Flávio Bolsonaro revelou que ele mesmo poderia ter sido ministro da Justiça, mas declinou da honra. 


O cargo foi oferecido pelo pai dele, então na presidência da República, mas com seu conhecido caráter ilibado, Flávio recusou-se a participar dessa absurda jogada. E atentem para algo importante na exposição pública da imoralidade que seu pai lhe propôs. No juízo de valor do senador está em foco apenas sua suposta decência em negar a proposta. Não passou por sua cabeça que no autoelogio ele acusa mais uma vigarice de seu pai.

 

E quem pode duvidar que o Senado aprovaria a indicação do filho de Jair Bolsonaro? As evidências desta quarta-feira, 13, e de outros dias mostram que sim. E que ninguém duvide também de que o destino ainda reserva algo parecido, na transformação do STF em uma instituição familiar, pois no poço enlameado em que chafurdam os nossos políticos abrem-se muitos mais oportunidades de afundar cada vez mais este nosso pobre Brasil.

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Por José Pires

quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

O Hamas e a esquerda complacente com o terror

Logo que o mundo assistiu estarrecido aos massacres do grupo terrorista Hamas, no 7 de outubro em Israel, falei aqui que se abriam alçapões, parecidos com os de túneis que escondem terroristas em Gaza, revelando absurdas manifestações de apoio aos bandidos que atacaram inocentes, matando, estuprando e praticando as mais cruéis violências contra crianças e mulheres, famílias inteiras sendo obrigadas a assistir cenas de horror, expondo crianças ao sofrimento causado a seus pais, raptando pessoas com a maior violência e estuprando, espancando e matando com tiros de fuzis dados pelas costas de jovens que fugiam com desespero da invasão traiçoeira do território israelense num sábado religioso.


Dois meses depois da invasão, completados nesta quinta-feira, o cenário é de devastação moral no campo da esquerda. Os terroristas islâmicos que derrubaram cercas de proteção e desceram de parapentes para matar e fazer sofrer pessoas inocentes acabaram fazendo um estrago pesado entre partidos de esquerda, intelectuais e jornalistas, feministas, acadêmicos, ativistas políticos e até mesmo lideranças de universidades de prestígio.


Com o avanço do contra-ataque das Forças de Defesa de Israel aos terroristas Hamas, muita coisa foi surgindo dos túneis em que os terroristas se escondem e nas suas bases de apoio, camufladas em Hospitais, escolas e outros lugares. Nas investigações da inteligência israelense, com materiais que eram do Hamas, além do interrogatórios de terroristas presos, é provável que surjam revelações que vão desmoralizar ainda mais quem até agora vem procurando criminalizar Israel e amenizar os crime do Hamas, tratado hipocritamente como representante dos palestinos.


A intensidade da adesão de progressistas a meros assassinos dominados pelo fanatismo islâmico agressivo e da mais baixa desumanidade surpreendeu até mesmo pessoas com anos de atividades no campo da esquerda. Mulheres que dedicaram suas vidas pela liberdade feminina também foram pegas de surpresa com o apoio do feminismo organizado, ainda que indireto, a assassinos que humilharam mulheres, estupraram, mataram e vilipendiaram cadáveres.


Foi com espanto que se viu também a quantidade de jovens sendo usados por lobbies islâmicos e mesmo terroristas em grande cidade da Europa. Nesta situação, claro que se pode ter à vista o resultado do aparelhamento permitido pela prevaricação de liberais quanto ao amolecimento mental de ideias precárias esquerdistas e da estratégia de islamitas em relação ao Ocidente. Estivemos tanto tempo falando das dificuldades que poderiam ser criadas pela forma que estava sendo tocada a educação em vários países do mundo. Pois aí estão as consequências, nessas cabeças ocas.

 

É a praga progressista, que favorece o anacronismo e o atraso político. No modo piada, de humor negro, aí estão jovens homossexuais em manifestações que favorecem matadores de gays. Na mesma militância suicida, ainda de cabelos soltos, protegidas pela “democracia burguesa”, jovens mulheres se expõem favoravelmente aos que defendem um sistema religioso que abole a liberdade das mulheres.


A pose dos ungidos pela virtude é sempre um risco. Precisam ser defendidos dos seus anseios equivocados. Alimentam o próprio fascismo enquanto gritam a palavra “fascista”. Sobre esse xingamento usado agora – o outro é o de “genocida”, que também serve pra tudo – até mesmo contra adversários que eles sabem que têm um nítido espírito democrata, cabe rir dos que são inocentes úteis. No entanto, são desprezíveis os que sabem que se hoje em dia existe algo realmente fascista é o fascismo islâmico, que tem o Hamas como servo atuante, com a chefia – e financiamento – com os aiatolás do Irã.


Uma consequência da confusão desse embaralhamento político planejado é que a direita vai crescendo eleitoralmente. Parece ser um paradoxo, mas é de fato um objetivo das ações terroristas, que têm como alvo a desmoralização do conceito de democracia. Este sucesso está no avanço da direita, inclusive com um forte crescimento dos extremistas, na Europa e nos Estados Unidos. É evidente a relação com a rejeição dos eleitores ao politicamente correto, ao identitarismo e à imigração descontrolada. O terror vem dar uma mãozinha.


O identitarismo e o politicamente correto abole o pensamento crítico e incute naturalmente nos mais jovens uma empatia com ideias ou atitudes pretensamente contrárias ao status quo. O clima de falsa inspiração idealista favorece a aceitação da violência e mesmo da crueldade, que movimentos organizados sabem muito bem mascarar como meras ferramentas de luta pela igualdade e contra opressões das mais variadas. 


Os mais jovens são especialmente fragilizados perante manipulações políticas de movimentos que trabalham com a ansiedade natural da idade. Sempre foi assim, em ações políticas da direita ou da esquerda. Na atualidade, psicologicamente essa manipulação ganhou impulso com a facilidade proporcionada pela internet no acesso às mentes. Até mesmo um fator psicológico grave dessa moderna tecnologia, na doentia ansiedade, reforça o domínio mental, ativando ainda mais o desassossego natural dos mais jovens.


Houve quem se escandalizasse com o avanço do conhecido relativismo da esquerda, desta vez abafando até o massacre dos jovens no festival de música na região em que os terroristas islâmicos arrebentaram cercas e chegaram de parapentes. Bem, aí é desconhecer ou talvez nem querer lembrar do histórico da esquerda nas passadas de pano em décadas de crimes terríveis contra a humanidade ou mesmo contra eles próprios, como em Cuba, na China ou no início do terror comunista, nos processos mortais na antiga União Soviética.


E quanto à condescendência ao terror islâmico, a esquerda amarga já amargava a vergonha de ter recebido a derrubada das Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, como um justo levante histórico do Oriente Médio. É uma conversa parecida a esta de agora, quando tratam o terror do Hamas como parte de reivindicações justas dos palestinos. É uma forma de esconder no trololó ideológico a absoluta conivência com o crime.


Para situar melhor essa hipocrisia esquerdista vale lembrar dos argumentos de um ídolo da esquerda, o linguista americano Noam Chomsky, na época do ataque terrorista da Al Qaeda de Bin Laden em território americano. O velho Chomsky produziu uma vasta obra de passadas de pano para criminosos. Ele tem livros inteiros dedicados à complacência criminosa com ações violentas e de intimidação. Na derrubada das Torres Gêmeas – o 11 de setembro americano – o linguista não se indignou com o ataque terrorista islâmico ao seu próprio país. 


Chomsky se valeu do uso de falsas equivalências para justificar, em comparações históricas sem sentido, o crime pavoroso de Bin Laden. Mas não foi só com Bin Laden o passapanismo de Chomsky. Ele afirmava que eram mentirosas as denúncias de crimes de Pol Pot e chamava os bandos de criminosos do Khmer Vermelho de “revolucionários cambojanos”.


A relação do pensamento esquerdista com o terror islâmico, por sinal, vem de antes da Al Qaeda de Bin Laden. Os autocratas islâmicos são ardilosos. São parecidos com os autocratas comunistas, que se arranjam bem com certos adversários, até o momento adequado de matá-los. É bom sempre lembrar que no exílio na França, o aiatolá Khomeini Ruhollah tinha a maior deferência da parte da esquerda francesa, sendo tratado como sábio por intelectuais e jornalistas. Ainda fora do poder, o aiatolá adornava sua retórica com teorias de Jean-Paul Sartre e Frantz Fanon, um ídolo da velha esquerda com seu maoismo asqueroso e este outro, Fanon, um ídolo atual dos identitários.


Seguindo a velha mania de ocidentais, da reverência quase mística a qualquer um que tenha algo enrolado na cabeça ou tenha um pano laranja em volta do corpo, Khomeini foi tratado como um sábio de alta espiritualidade, destinado a reformar democraticamente seu país. Foi a mesma coisa que pensou a esquerda do Irã, quando o aiatolá voltou ao país em fevereiro de 1979, com a queda do Xá. Até a militância do  Partido Comunista iraniano animou-se com o religioso redentor. Mas a alegria foi fugaz: em poucos dias o regime comandado por Khomeini já estava prendendo, torturando e matando todo mundo.

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Por José Pires

terça-feira, 21 de novembro de 2023

O roubo da Mafalda pela esquerda e a manipulação sórdida da obra de Quino

Nos dias anteriores à eleição presidencial da Argentina, resolvida neste domingo com a vitória acachapante de Javier Milei sobre o peronista Sérgio Massa, rodou pela internet a charge que ilustra este post, do abraço das personagens de quadrinhos Mônica e Mafalda, com a evidente confiança de que Massa derrotaria Milei. É propaganda para o peronista, o que é lamentável mas não surpreende. A esquerda está sempre roubando alguma coisa, mas que sacanagem roubar a personagem do Quino.


A mensagem da charge tem como base apenas um anseio político baseado em desinformação sobre o segundo turno da eleição argentina. Mas para saber disso é preciso acompanhar, saber ler e pesquisar de modo dinâmico. E militante político sabe fazer algo parecido? Vejam o post da mulher do presidente, com o ineditismo de uma primeira-dama se metendo nos negócios internos de um país vizinho. Duvido que Janja saiba responder a umas poucas perguntas sobre o assunto. Mas petista é assim.


O clima na Argentina era de derrota do peronismo, mesmo com o esforço empreendido por Lula, evidentemente com o uso do cargo de presidente do Brasil. O petista fez viagens para a Argentina e recebeu o presidente Alberto Fernández em Brasília. Lula procurou também criar um clima de prestígio para o governo de Fernández, com a articulação da entrada da Argentina nos Brics. Até um empréstimo internacional foi cavado com a influência do governo brasileiro, para que Massa, no comando da economia, pudesse aliviar o falido cofre do governo peronista, passando para a população uma imagem de eficiência.


Lula mandou também uma equipe de marketing e conselheiros políticos para darem uma mão na campanha de Massa, levando em especial um know how — ou “expertise”, como se fala hoje em dia — em que o PT se aperfeiçoou durante década: do jogo sujo em eleições, da construção de mentiras sobre o adversário, do assassinato de reputação e do convencimento do eleitor de que as coisas podem ficar ainda mais piores do que os petistas conseguiram fazer.


O marketing dos petistas procurou estabelecer um clima de medo na Argentina. Ficou flagrante o dedaço de Lula na política argentina, uma interferência estrangeira que pode inclusive ter aumentado a rejeição eleitoral ao candidato peronista.


No Brasil houve um alvoroço da esquerda. A tigrada abusou das bravatas, aproveitando esses tempos em que a partir das redes sociais é possível ter a sensação de participação política, sem os riscos inerentes à atividade política no modo presencial. Nem é preciso fazer pesquisa para saber que o lugar de fala preferido da militância esquerdista é o celular ou o computador.


A participação dos valentes valeu-se de memes violentos e no compartilhamento de textos com ataques ferozes a Javier Milei, com as palavras de ordem já conhecidas, em que não faltou o xingamento especial de “fascista”, o que soa até como piada para classificar um oposicionista argentino, já que o peronismo tem na origem várias características em comum do fascismo. Ademais, Juan Domingos Perón tinha admiração pessoal por Benito Mussolini, seu contemporâneo.


Mas com a esquerda brasileira é assim: se é do outro lado é fascista. Uma condenação que obviamente é anulada de imediato quando o “fascista” adere ao governo Lula. Por esta leviandade política é que andaram repassando a charge em que a personagem Mafalda recebe um abraço da Mônica que lhe diz: “Mejorará”.


A charge esconde que a tragédia social e econômica da Argentina foi construída pelo grupo de Sérgio Massa, na mistura peronista e kirchnerista que destruiu o país. Se algo tem que “mejorar” é porque os argentinos foram envolvidos em um ciclo de governos populistas, trazendo dificuldades tão graves que, na melhor análise, não se via em nenhum dos candidatos meios de tornar o país pelo menos governável. Claro que não dava para confiar muito menos no peronista, que comandava a economia de um país em que a inflação está em 140% e tem vivendo abaixo da linha da pobreza 40% da população.


A charge não podia mesmo durar. Com a vitória de Milei sobre Massa com quase 12 pontos de diferença, a esquerda voltou ao vitimismo. Mas tem outro ponto importante nesta charge hipócrita, que permite ampliar a visão sobre a apropriação indevida da esquerda da obra do desenhista Quino, autor de Mafalda. É preciso também apontar a destruição cultural que essa leviandade da esquerda vai criando ao usar linguagens, simbologias ou qualquer outra expressão humana, sem ter nenhum cuidado com a verdade criativa, a origem real da obra e sua integridade. É uma manipulação política absolutamente improdutiva do ponto de vista da qualidade, que vai inclusive emburrecendo cada vez mais a militância.


Quino, que era argentino e viveu os mais variados processos da conturbada história política daquele país, sempre foi muito discreto sob o ponto de vista pessoal quanto às suas posições políticas. Era um socialista, conforme ele próprio disse umas poucas vezes. Mas tinha uma posição antiperonista muito firme. Mais que isso, não tinha nenhum respeito pelo kirchnerismo, conforme expressou sobre a própria Cristina Kirchner, atual vice-presidente e maior responsável pela trágica condição da Argentina. Foi a grande derrotada nesta eleição.


Numa matéria com o Quino no jornal Clarín, em setembro de 2016, chegaram a perguntar-lhe se Mafalda teria gostado de Cristina Kirchner, que era presidente na época. “Não, não, não, não...”, ele disse. A jornalista então perguntou o que Mafalda falaria  para Cristina. “O que todo mundo já disse”, respondeu o desenhista, “que não seja prepotente, tão soberba”.


Esta era a visão de Quino sobre o peronismo e a sua derivação ainda mais cretina, o kirchnerismo. É claro que, de modo algum, ele teria alguma empatia com Milei. Mas não aceitaria o uso eleitoral da Mafalda, ainda mais com este conteúdo marqueteiro e tão banal, mesmo porque nunca permitiu ou fez ele próprio da sua personagem a mensageira de ideias partidárias diretas, que sempre se perdem no período curto de uma eleição. A proximidade direta com a política mata a arte.


Quino foi um grande artista, era inteligente e tinha conhecimento político. Sabia disso. Não iria gostar de ver seu trabalho metido numa jogada sórdida dessas. Para a Mafalda, seria como engolir uma sopa. Falando francamente, é uma grande mentira. Mas mesmo que em tese os propósitos fossem honestos, existe sempre a possibilidade da destruição do prestígio da obra criativa, com a quebra de compromisso que vem depois de uma eleição, que é praticamente uma regra entre os políticos.

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Por José Pires


domingo, 19 de novembro de 2023

O dedaço furado de Lula na Argentina de Javier Milei

Lula foi derrotado na Argentina. Javier Milei atropelou o peronismo e o kirchnerismo. Lula batalhou por um empréstimo bilionário para favorecer o candidato Sérgio Massa, mandou uma equipe de marketing para fazer uma camapanha do medo contra Milei, fez de tudo pelos compañeros. Mas o dedaço do petista recebeu um espetacular não dos argentinos. 


Milei deixou o peronismo e o kirchnerismo mais de dez pontos atrás. O despudorado endosso à candidatura de Massa foi mais uma estupidez do petista nas relações externas. Agora ele terá que passar o resto do seu mandato com um adversário difícil de lidar em um país de grande relevância na América Latina e no qual o mundo está de olho.


Este será um efeito colateral que fará Lula roer-se de ressentimento e inveja. O presidente eleito Javier Milei terá a maior atenção internacional a partir deste domingo, fazendo do petista uma figura ainda menor e mais repudiada do que já ficou depois da porção de barbaridades que cometeu no primeiro ano deste mandato, entre elas os asquerosos acenos a Vladimir Putin e as vergonhosas passadas de pano para o grupo terrorista Hamas.

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Por José Pires

Lula e o PT no perde e perde da eleição na Argentina

Qualquer resultado que tenha neste domingo a eleição para presidente da Argentina, com a vitória de Javier Milei ou Sérgio Massa, o Brasil já está encrencado e terá sérias dificuldades a partir da hora em que o vitorioso colocar a faixa presidencial. O presidente Lula e seu partido envolveram-se de tal forma nesta eleição argentina, que o Brasil foi um dos temas mais discutidos na campanha deste segundo turno, com o nosso país ganhando a fama de promotor da desmoralização da disputa eleitoral e instigador do jogo sujo na eleição.


A situação do governo do PT é tão complicada, que pode-se avaliar até como mais difícil de administrar se houver a vitória de Sérgio Massa, candidato do peronismo-kirchnerista apoiado por Lula com excessivo empenho, colocando inclusive o governo brasileiro para garantir a autorização de um empréstimo de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões) do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) ao país, favorecendo o candidato peronista Massa, que é ministro da Economia.


É também dos petistas uma interferência importante para Massa, com a entrada na campanha de Massa de uma equipe de publicitários que já trabalhou para candidaturas petistas, inclusive a de Fernando Haddad à presidência da República, quando ele perdeu para Jair Bolsonaro. A receita marqueteira contra Milei foi muito parecida com a que fizeram no Brasil. Foi uma artilharia pesada, explorando inclusive vínculos pessoais do candidato da oposição para colar nele a pecha de doido. 


A base da propaganda feita pelos marqueteiros brasileiros foi colocar medo na população argentina, colocando a vitória de Milei como uma ameaça grave à estabilidade da Argentina, inclusive apontando no oposicionista um risco para a própria democracia no país. Não é preciso detalhar o modelo de propaganda política, cabendo, é claro, que fora do que é oficialmente fiscalizado na eleição tem também os esquemas de ataque, com os assassinatos de reputação famosos do PT, que foram usados até contra companheiros históricos, como aconteceu com Marina Silva, na sua candidatura a presidente em 2014, contra Dilma Rousseff, apadrinhada de Lula. 


A interferência de Lula foi tema de debates pesados na eleição argentina, sendo também muito comentada entre a população. Até pela linguagem agressiva, com a exploração do medo e da desconfiança nos materiais de campanha, o Brasil ganhou entre a população a fama de promotores de sujeira política, o que é uma façanha e tanto em um país em que a briga pelo poder sempre foi uma barra pesada.


Liderados pela liderança de Lula, os petistas erraram a mão mais uma vez em relações externas, agora comprometendo-se com os rumos de um país onde não existe absolutamente nada que sustente a previsão de uma mudança da sua condição de ingovernável. Haja ou que houver no dia de hoje, com a vitória de Milei ou Massa, o candidato de Lula. 


O destempero político dos petistas foi tanto desta vez, que a eleição de seu preferido pode até ser pior do que se os argentinos recusarem o voto a alguém como Massa, que já provou que não tem capacidade de tocar o país e terá muito menos ainda capacidade de colocar em prática as propostas de campanha, meramente marqueteiras. 


No entanto, com a falta da possibilidade de escolher algo ao menos razoável, a maioria pode optar por Milei, que ao menos oferece algo que não se tentou ainda na falida Argentina. Com isso, os peronistas voltariam a uma transformação que fazem muito bem: voltariam a ser pedra nas vidraças do governo, numa quebradeira de vidros que, tenho certeza, começariam o estrago já na segunda-feira. 


Massa também ficaria na posição mais confortável de oposicionistas, que o PT conhece muito bem, onde se passa lições daquilo tudo que não se fez no poder. Então, o que parece uma perda para Lula, o livraria de um compromisso político que promete complicação já nos primeiros meses do mandato presidencial. A falta de cautela no apoio de Lula acabou na prática sendo um endosso. Se Massa for presidente, quero ver como o governo brasileiro vai bancar este apoio ao falido projeto peronista.

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sábado, 18 de novembro de 2023

Os românticos verões que não saem da cabeça dos publicitários

Não é de hoje a falta de sintonia da publicidade com as reais necessidades das pessoas. Como linguagem, publicidade e realidade não combinam. Mas é pesada demais a alienação dos publicitários com a transformação global que vem alterando o clima, tornando difícil a vida mesmo nas atividades mais simples.  


Fechados em seu universo compactado, chupando ideias uns dos outros, todas de segunda mão, os publicitários entram neste verão com uma antiga visão do que já foi esta estação do ano, quando, em priscas — e bota priscas nisso — eras, tínhamos um período de relaxamento e prazer com a temperatura.  Só que agora estamos em outro mundo. 


Tenho visto muito material de propaganda mostrando pessoas numa satisfação total, aproveitando prazerosamente o verão, com casais, crianças e até mesmo idosos numa alegria invejável, claro que aproveitando para ir às compras nesta maravilha que é o verão.  Só que não é mais assim. Acabei de ver um vídeo com um casal que esbanjava alegria com a temperatura, o que me trouxe uma dúvida à cabeça, sobre o planeta de onde vinham aqueles dois.  


Ora, o doce casal é do planeta dos publicitários. Ninguém suporta mais o calor que está fazendo, além de que as altas temperaturas se relacionam com ventanias assustadoras, chuva em excesso destruindo tudo ou a água faltando até para manter o jardim, tudo isso trazendo um sentimento de que este verão calorento demais poderá ainda dar saudades, comparado ao que pode acontecer logo mais com o clima no planeta.  


Mas, em meio a esta realidade atordoante que parece um sobreaviso  de coisas piores, a publicidade nos brinda com a repetição de jargões mais que gastos, fórmulas antigas na contínua exaltação sem fundamento para as vendas de verão.  


Só que desta vez a realidade deu uma trombada destrutiva na falta de percepção dos nossos publicitários. Eu, se fosse dono de empresa, mandava desligar o ar condicionado do departamento de criação. E iria demitindo, um atrás do outro, aqueles que não entendessem a mensagem.

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Por José Pires

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

O país que já foi do futebol e hoje em dia não sabe mais qual é a sua

O torcedor de futebol tem algo parecido, na sua psicologia, com quem acompanha política sem estar em nenhum dos lados ideológicos onde se encaixam incompetentes e ladrões. Sofre-se muito, embora os acontecimentos sejam previsíveis. Estou falando do eleitor e contribuinte, que depois arca com tudo, às vezes até com a vida ou perdendo tudo que tem.


Digo isso ao observar o desespero da torcida brasileira com o que acontece nos campos, coisa corriqueira já de algum tempo, como o que se deu nesta quinta-feira com a derrota do Brasil para a Colômbia por 2 a 1. Não vejo jogo algum, mas não deixo de ficar atento ao debate esportivo, onde não só na linguagem mas na teorização sobre os objetivos pode-se obter muitos elementos de aplicação na vida e no trabalho.


Não era necessário assistir a este jogo para saber que o Brasil ia se estrepar, do mesmo modo que não é preciso esperar o final do governo Lula — e de anteriores, mesmo os outros dele — para saber que nada vai dar certo. Em ambos os casos, falta elenco e gestão de qualidade. Não tem como alcançar um objetivo bem sustentado do modo que o futebol brasileiro é pensado e praticado. O máximo que poderia ocorrer seria uma vitória do Brasil por acaso.  


Pelo que eu sei, o futebol é o esporte em que o acaso mais interfere no resultado final. Política também é assim. Entre as quatro linhas, é uma tristeza ver um bom time ser desmontado ou nascer uma ilusão por causa de um lance inesperado. Poderia acontecer, por exemplo, algo como o belo chute de bicicleta de Richarlison, contra a Sérvia, que encantou até quem não acompanha futebol e deu uma animação geral muito boba sobre o destino da Seleção Brasileira. Foi só a explosão de um acaso, que até o momento parece que foi inclusive do jogador.


É desse jeito que a coisa vai, mas no auto-engano cada otário se resolve com o que tem à mão. Teve até quem fizesse uma relação do lance de Richarlison com o famoso gol de Pelé, que inclusive virou uma marca gráfica do ganhador do tricampeonato. Mas é assim: a ilusão no futebol permite até achar que Gabigol pode se emparelhar historicamente com Zico — na verdade, Gabigol (ou, rá rá rá!, “Lil Gabi”) acha que está acima do Galinho.


O acaso poderia ter entrado no jogo de ontem, mas o destino da Seleção Brasileira permaneceria com o mesmo horizonte tenebroso que dificilmente conhecerá um tempo de estio até a próxima Copa do Mundo, simplesmente porque está tudo errado, lá de cima até embaixo da grama dos estádios.


Por causa da trágica gestão, já faz um tempo em que o ponto em que se toca sempre como solução é do craque que resolve tudo, uma expectativa besta que felizmente foi ficando para trás, afinal Neymar envelheceu caindo na grama e se lesionando enquanto foi enriquecendo sem salvar o escrete nacional. 


A ilusão do craque salvador é alimentada pelo noticiário esportivo. Serve para comentaristas desqualificados alimentarem semanas de conversa fiada, sem a necessidade de se aprofundar em um debate sério, que não serve para lacração e não é do gosto da cartolagem. Isso é também o que chamo de “síndrome do Pelé” (um problema sério para o Brasil em todos os setores), que acomete aos desinformados que falam da história do futebol, como se Pelé resolvesse tudo sozinho na Seleção Brasileira.


E o torcedor encara com realismo essa tragédia? Nada. O bruto liga a televisão e sofre. “Nunca foi tão desesperador”, chora a tigrada. O itinerário do torcedor de quem acompanha política é praticamente o mesmo. Comentaristas esportivos de qualidade — que existem, acredite — mostram como tudo está sendo organizado de forma errada, os elencos são fracos, não recebem bom treinamento nem estratégia que permita encarar o adversário com uma unidade no jogo.


A coisa está feia e de certo modo até humilhante. O mau estado do nosso futebol leva o brasileiro a ter mais interesse na próxima terça-feira, no Maracanã, em ver o time da Argentina com Messi do que a Seleção Brasileira.


Não me impressiono. Sabe-se que tudo está encaminhado de forma errada, mas estão sempre esperando um craque que resolva. Mas não é assim também na política? Em qualquer instância, das prefeituras ao governo federal e os parlamentos em todos os níveis, a tola esperança é de que a eleição de um craque venha a resolver os problemas, isso quando não se acredita que um craque vai tornar o Brasil numa potência.


E que a torcida brasileira não caia na falsa esperança de que o jogo vai melhorar. O torcedor e o eleitor brasileiro podem esperar muito chão pela frente, numa caminhada em que terão que suportar o domínio da cultura perna-de-pau instalada em nosso país. A gente sabe o que vai acontecer. Mas a tigrada tem razão: é desesperador.

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Por José Pires

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Israel encurrala o Hamas e avança para a segunda fase do contra-ataque ao terror

A imprensa errou demais desde o massacre de 7 de outubro, na invasão do Hamas ao território israelense, que levou ao contra-ataque de Israel, que segue até agora. Vergonhosamente, jornalistas caíram em engodos do grupo terrorista, sem encarar com o devido realismo — e desconfiança quanto à manipulações — o efeito colateral da violência sofrida por civis. Qualquer guerra contém esse risco, porém num embate com o Hamas é praticamente certo que civis sejam atingidos porque faz parte da estratégia dos terroristas o uso da população da Faixa de Gaza como escudos humanos. 


Esta é uma forma de inibir contra-ataques, além do uso posterior da dor de inocentes, para sensibilizar a opinião pública, expondo os cadáveres e feridos, sem obviamente esclarecer que as pessoas são obrigadas por eles a servir de alvos. Não havia como não saber disso, pois é jogada antiga de propaganda política. E os próprios líderes falam disso sem nenhum escrúpulo. A imprensa, porém, calou sobre esta manipulação espúria, ajudando os terroristas a jogar parte da opinião pública contra as verdadeiras vítimas: os israelenses.


Não havia passado nem uma semana do horroroso massacre para diversos órgãos de imprensa praticamente esquecerem da mortandade provocada pelo Hamas, com o fuzilamento de jovens pelas costas, torturas, espancamentos, mulheres estupradas, um horror de tal tamanho que o governo de Israel só um mês depois foi mostrar as cenas, muitas delas captadas por câmeras dos próprios terroristas mortos ou presos pelas Forças de Defesa de Israel.


Foi uma forma de abrir os olhos dos jornalistas, que faziam o mundo esquecer que o contra-ataque de Israel tinha como origem o horror de 7 de outubro. As exibições foram privadas. Jornalistas veteranos chegaram a chorar durante a apresentação, teve gente que não conseguiu assistir até o fim. 


Cheguei a ver algumas gravações do que fizeram com jovens no festival de música e os moradores de kibutizs que guardavam pacatamente um feriado religioso. Aparentemente as imagens foram espalhadas pelos próprios bandidos do Hamas na internet. Nunca imaginei que veria coisa pior do que já conhecia dos vídeos feitos pelas próprias facções criminosas do México para mostrar o que fazem com seus inimigos. Os terroristas islâmicos conseguiram suplantar o horror.


Havia outra opção para Israel que não fosse a de ir atrás dos assassinos e eliminar a capacidade militar do Hamas? Bem, só se fosse para entregar Israel como refém permanente do grupo terrorista que é bancado pelo Irã, uma ditadura teocrática atrasada e tremendamente feroz, que aboliu a liberdade dos iranianos e mata mulheres apenas porque uma mecha de cabelo aparece entre os panos do hijab obrigatório.


Ainda bem que as Forças de Defesa de Israel seguiram com a tarefa de pegar os terroristas e eliminar na fonte o perigo, uma missão que deveria ter sido encarada pela imprensa ao menos com realismo, sabendo fazer a separação moral, deixando visível as diferenças entre  uma democracia e uma organização terrorista que está entre as mais cruéis do fundamentalismo islâmico.


Mas as coisas estão andando, pelo menos até aqui, com prejuízo total para o terror. Hoje o ministro da Defesa de Israel informou que a zona Oeste da cidade de Gaza foi liberada, depois da parte norte ter sido tomada pelos militares israelenses. As forças israelenses conquistaram e eliminaram todas as ameaças terroristas do lado ocidental da cidade, disse o ministro Yoav Gallant, na tarde desta quinta-feira. A notícia é do The Jerusalem Post.


Os combatentes de Israel estão fazendo uma limpeza geral nos túneis onde terroristas se escondem. O jornal conta que debaixo de um hospital evacuado no norte de Gaza, os engenheiros do exército israelita encheram a passagem com gel explosivo e dispararam o detonador, “que explodiu tudo o que estavam esperando por nós no túnel”, conforme disse um oficial do Exército a repórteres.


Isso parece mostrar que os militares já têm o conhecimento sobre o exato ponto em que os terroristas estão com reféns. Uma imagem simbólica disso que estou falando é a foto de militares israelenses posando no parlamento do Hamas. 237 reféns, inclusive de gente que não é de Israel, estão nas mãos dos bandidos. É outra coisa que ficou encoberta nas coberturas jornalísticas.


O bunker e antiga residência de Ismail Haniyeh, chefe político do Hamas, em Gaza, também foi destruído. O local era usado como “infraestrutura terrorista e ponto de encontro para os principais líderes do Hamas”. Haniyeh é bilionário e atualmente mora em Doha, no Catar. Em Gaza, dezenas de lideranças do Hamas já foram mortas. A organização criminosa foi desmantelada. Os terroristas estão encurralados nos túneis, à espera do ajuste final.


Certamente não haverá descanso, até que todos paguem pelo que fizeram, mesmo os que se escondem em países amigos do terror. Israel trouxe uma forma objetiva e determinada de lidar com o terrorismo. Esta é uma parte interessante do que está acontecendo, que certamente os terroristas não esperavam.


É total o controle das FDI sobre o território antes dominado pelos terroristas, que a imprensa alardeava como inexpugnável. Pelo menos até agora, esta foi outra avaliação errada de certos jornalistas. Combatentes israelenses aparecem em vídeos em vários lugares, inspecionando instalações que eram usadas pelos Hamas em hospitais, escolas e em outras edificações civis, o que mostra o controle militar sobre a cidade.


Israel entra agora na segunda fase do contra-ataque ao terror, numa guerra que devia ter sido apoiada por qualquer um com senso de humanidade e mesmo de bom senso. Afinal, o projeto de poder do Hamas, que só existe sob a chefia do governo do Irã, não se restringe à Faixa de Gaza. É um plano de longo prazo, de domínio global, com a imposição de uma religiosidade autoritária e retrógrada, contrária à liberdade do indivíduo, com um foco especial na submissão das mulheres.

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Por José Pires