A suposta esperteza marqueteira de Marta Suplicy (PT) em São Paulo, que ataca Kassab com as armas do preconceito, e os desatinos eleitorais de Eduardo Paes (PMDB), no Rio de Janeiro, que faz de tudo para vencer, patrocinando e estimulando a difamação e até a violência física, não são o que parecem. A maioria dos comentaristas, políticos ou não, já que a forma dos ataques à Kassab e o papel histórico de Fernando Gabeira tornam o assunto bastante interessante também para outras esferas da opinião pública, tem errado em tratar as tropelias de petistas e peemedebistas nas duas cidades como atitudes pontuais, circunscritas à eleição municipal e movidas em parte pelo acirrado clima político nas duas cidades.
E quem acompanhou essas eleições sabe que o que ocorre no Rio e na capital paulista não é nada singular, algo totalmente fora de padrão, e muito menos localizado. É um método e dos mais perigosos, pois está se instalando na política brasileira, não sem uma ajudazinha esperta dos marqueteiros, esses traiçoeiros peixes-pilotos dos tubarões da política.
Estamos em meio à deformação das eleições municipais, em que a discussão sobre as nossas cidades vale menos que a vida íntima do adversário. E isso nem pode ser visto que como um absurdo, pois o que Marta e Paes fazem não é uma exceção nessas eleições. As perguntinhas capciosas da petista e as difamações contra Gabeira no Rio são condenáveis, sem dúvida, mas nada tem de diferente com o que acontece em vários municípios. Ou não se sabe que nos grotões até se mata pelo voto? Sabe-se menos, pois a mídia brasileira pouco vê além dos horizontes das grandes cidades.
Um modo de fazer política balizado por parâmetros reconhecíveis e aceitos pela classe política e pela sociedade, com padrões equilibrados e democráticos, excluiria de forma natural excessos como a difamação e até a falta de objetividade. Assim, numa sociedade com um equilíbrio democrático razoável, o Nazismo seria uma excrescência, como foi em seu início na Alemanha dos anos 20. Mas e quando o Nazismo se torna a norma? Bem, aí é que está o ovo da serpente.
Não estimulemos a paranóia, mas o que nos espera se os métodos de Marta Suplicy e Eduardo Paes se tornarem normas em nossas eleições?
Uma olhada geral no que aconteceu até aqui revela que os dois se dariam bem em muitos municípios brasileiros. O fato é que não conseguimos estabelecer nenhuma conduta unânime no aspecto jurídico e social nestes anos de democracia. Já se vão 23 anos desde o fim da Ditadura Militar. Alguns acham pouco para a construção de uma democracia de qualidade, eu vejo como um tempo suficiente para que os brasileiros já tivessem alguma vergonha na cara. Mas a realidade é que não foi o suficiente para obetermos eleições limpas e de qualidade.
Do jeito que a coisa está, não é preciso muito para que a loucura se torne a norma, ainda mais quando uma das forças políticas mais importantes da nossa República, o PT, têm contribuído com um esforço enorme para trancar os sãos no hospício e instalar o domínio da demência política aqui fora.
E os dois expoentes desse problema, Paes e Marta, só estão sob foco pelo fato de estarem fazendo absurdos em um segundo turno com poucos candidatos e, por isso, com maior visibilidade de cada um. Com já disse, o primeiro turno em várias cidades brasileiras não foi muito diferente do que vemos agora no Rio e em São Paulo.
Na fase em que estamos da vida evidentemente seria bobagem exigir que as campanhas não fossem feitas com dissimulação, traço destacado da política e até do comportamento humano. Mas a verdade é que nossos políticos avançaram além até da dissimulação e adotam um vale-tudo no qual até mesmo aquilo que estrutura suas próprias carreiras deixa de ter valor moral, para ser moeda de troca ou até para ser jogado no lixo da História, como fez a candidata do PT.
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POR José Pires