segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Leonardo Boff e suas duas mulheres

Não é de hoje que o ex-frei Leonardo Boff anda doidinho de pedra, mas seu estado piorou bastante neste período eleitoral. Os textos que publica na imprensa são escritos num formato em que junta um evangelismo ecológico a um estilo de autoajuda. Seus livros devem seguir no mesmo tom. Não tenho visto nenhum, nem por curiosidade naquelas sapeadas em livrarias, pois tenho coisas mais importantes para ler ou sapear.

Mas tenho seguido como posso o que ele anda publicando na imprensa e na internet. Ele já foi obcecado pela Teologia da Libertação e hoje juntou a ecologia ao tema que o fez famoso. É uma composição estranha. Fica difícil crer que atualmente Deus esteja ligado no meio ambiente só porque é do interesse de Leonardo Boff, assim como nas décadas de 60 e 70 Deus estaria ocupado com a libertação do povo latinoamericano, também porque o então frei da Igreja Católica tinha esse interesse na época.

Boff é aquele tipo de gente que desmoraliza até causas boas. Sua forma de abordar a ecologia torna romântico e até piegas um assunto que pode ser melhor esclarecido se for tratado de forma prática e técnica.

Nesta eleição Boff se engajou na campanha de Marina Silva. É provável que tenha influência sobre a candidata, pois ela não consegue de forma algum trazer a ecologia para o cotidiano do eleitor e se fortalecer com um discurso bem elaborado.

E Marina deve babar de adoração ao ex-frei. Esse evangelismo ecológico é também a cara dela. O estilo religioso e ecológico de Boff deve fazer dele um ídolo da candidata do Partido Verde, mas a verdade é que o ex-frei singra a campanha com os pés em duas canoas. É seu estilo, desde quando era membro da Igreja Católica.

Acontece que o barco de Dilma Rousseff é sabidamente mais potente que o bote que o PV arrumou para Marina Silva. Então Boff já andou declarando há cerca de um mês o apoio de Marina à Dilma no segundo turno. Nenhuma novidade para mim, mas de qualquer forma, não deixou de ser curioso que alguém tão próximo de Marina confesse de forma tão prematura que na verdade a candidata não é verde, mas laranja.

Hoje, em um artigo que chega até a ser engraçado, mas que não pode ser visto apenas dessa maneira, Boff junta sua candidata com a candidata do Lula e proclama a presença das duas nesta eleição como um fator de avanço apenas pelo fato de ambas serem mulheres. Ele diz também que este momento foi criado por forças transcedentais, cujo interesse é de que o poder seja de uma mulher.

É claro que ele sabe como está o andamento da eleição, com a campanha de Dilma, tendo o presidente da República à frente, querendo criar uma situação de vitória no primeiro turno. Com este clima, essa conversa serve apenas para o fortalecimento da candidata do PT, já que sua suposta candidata, Marina Silva, está bem fraca na disputa.

Logo no início do texto, Boff afirma o seguinte sobre Dilma e Marina: “ambas com indiscutível densidade ética e com uma compreensão da política como virtude a serviço do bem comum e não como técnica de conquista e uso do poder”.

Isso dá bem a dimensão da sua leviandade política. O ex-frei é aquele tipo de articulista com uma filosofia que se encaixa em qualquer circunstância do seu interesse. O problema é que os textos sempre dão a impressão de que ele faz isso com uma marreta. O encaixe só convence se o leitor for cego em qualquer matéria afeita ao assunto, inclusive a política.

Como ele anda obcecado pela ecologia, o assunto entra em tudo. Ele é um desses que fazem algo fascinante como a ecologia se transformar num assunto cacete. Segundo sua filosofia, Gaia e a Grande Mãe, como ele chama o planeta Terra, tem uma mensagem para nós, que vem “através dessas duas mulheres”, Dilma e Marina, é claro.

Esta mensagem seria de “equlíbrio” e, sempre segundo seu amalucado texto, “deverá passar pelas mulheres predominantemente e não pelos homens”. Os homens, na visão de Boff, “depois de séculos de arrogância, estão mais interessados em garantir seus negócios do que salvar a vida e proteger o planeta”.

Parece um texto combinado com o Lula. Tirando a pseudo-filosofia, é o mesmo lero-lero de presidente marqueteiro que tenta qualificar Dilma pelo fato dela ser do sexo feminino. Como se os problemas ambientais do planeta, a "Grande Mãe", como ele prefere, tivessem origem numa questão de gênero.

Nesta dobradinha entre Teologia da Libertação e ecologia, Boff segue uma linha semelhante de raciocínio. As coisas sempre se encaixam. O pensamento está sempre de acordo com seu interesse político momentâneo. A ecologia pode servir para o elogio ao MST, assim como poder servir para Dilma, uma notória inimiga dos ambientalistas. E para isso ele pode até usar de forma condenável o nome da candidata que supostamente apóia, a verde Marina que ele tenta transformar em laranja.
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POR José Pires

Mas no final, Boff vai mesmo é com a mulher do Lula

Até vindo de Leonardo Boff o artigo é exagerado. Como tantos outros textos seus, tem um lado cômico, ainda que involuntário, mas o serviço que presta para a candidata governista não é nada engraçado. Boff junta sua candidata com a candidata do Lula e proclama a presença das duas nesta eleição como um fator de avanço apenas pelo fato de ambas serem mulheres. Ele diz também que este momento foi criado por forças transcendentais, cujo interesse é de que o poder seja de uma mulher.

De quebra, ainda arruma mais um defeito para o candidato José Serra, o único ainda em condição de disputa com a candidatura do PT. Serra é homem. Se não fosse a desonestidade flagrante até que datia para rir.

É claro que Boff sabe como está o andamento da eleição, com a campanha de Dilma, tendo o presidente da República à frente, querendo criar uma situação de vitória no primeiro turno. Com este clima, essa conversa serve apenas para o fortalecimento da candidata do PT, já que sua suposta candidata, Marina Silva, está bem fraca na disputa.

Logo no início do texto, Boff afirma o seguinte sobre Dilma e Marina: “ambas com indiscutível densidade ética e com uma compreensão da política como virtude a serviço do bem comum e não como técnica de conquista e uso do poder”.

Isso dá bem a dimensão da sua leviandade política. O ex-frei é aquele tipo de articulista com uma filosofia que se encaixa em qualquer circunstância do seu interesse. O problema é que os textos sempre dão a impressão de que ele faz isso com uma marreta. O encaixe só convence se o leitor for cego em qualquer matéria afeita ao assunto, inclusive a política.

Como ele anda obcecado pela ecologia, o assunto entra em tudo. Ele é um desses que fazem algo fascinante como a ecologia se transformar num assunto cacete. Segundo sua filosofia, Gaia e a Grande Mãe, como ele chama o planeta Terra, tem uma mensagem para nós, que vem “através dessas duas mulheres”, Dilma e Marina, é claro.

Esta mensagem seria de “equlíbrio” e, sempre segundo seu amalucado texto, “deverá passar pelas mulheres predominantemente e não pelos homens”. Os homens, na visão de Boff, “depois de séculos de arrogância, estão mais interessados em garantir seus negócios do que salvar a vida e proteger o planeta”.

Parece um texto combinado com o Lula. Tirando a pseudo-filosofia, é o mesmo lero-lero de presidente marqueteiro que tenta qualificar Dilma pelo fato dela ser do sexo feminino. Como se os problemas ambientais do planeta, a "Grande Mãe", como ele prefere, tivessem origem numa questão de gênero.

Nesta dobradinha entre Teologia da Libertação e ecologia, Boff segue uma linha semelhante de raciocínio. As coisas sempre se encaixam. O pensamento está sempre de acordo com seu interesse político momentâneo. A ecologia pode servir para o elogio ao MST, assim como poder servir para Dilma, uma notória inimiga dos ambientalistas. E para isso ele pode até usar de forma condenável o nome da candidata que supostamente apóia, a verde Marina que ele tenta transformar em laranja.

Como ficaria difícil criar qualquer tipo de combinação entre as duas no aspecto político, ele apela para o sexismo. Fica como uma visão torta, efeito das marretadas para encaixar algo tão absurdo numa discussão que envolve o destino do País.

O ex-frei não entende nada de mulher, como dizem amigas minhas quando alguém vem com essa conversa de que o exercício do poder pode ser mais ameno na mão das mulheres. E o interessante é que a própria Dilma, em quem Boff identifica uma suavidade que seria emanada da própria Terra, desmente seu arrebatamento. Dilma é grossa, mandona, passa o trator em qualquer discussão sobre respeito ao meio ambiente, como bem sabe Marina, dita por ele a alma gêmea da candidata petista.

Mas a teoria do ex-frei pode ser derrubada de forma bem simples. É só pedir que ele explique onde entra Margareth Tatcher neste enredo romântico ou mesmo a brasileira Kátia Abreu, senadora do DEM que é vista e tratada como demônio pelos ambientalistas.

A receita de Boff poderia também causar um problema para seus companheiros no Rio Grande do Sul. Ora, vendo a coisa por este lado a única salvação dos gaúchos é a recondução da governadora Yeda Crusius ao poder. Até prova em contrário, Tarso Genro e Fogaça não possuem entre as pernas essa nova e indispensável qualidade para governar.

Boff também não explica a razão de ter apoiado Lula nas últimas duas décadas, já que a "Grande Mãe” exige uma mulher na direção de seu destino. Bem, mas aí talvez seja um insight recente da própria Terra, que teve uma compreensão de que, definitivamente, com homem no poder não dá. E para felicidade da “Grande Mãe”, o ex-frei tem não só uma, mas duas candidatas ao posto de salvadora do planeta. Isso é que é sorte da Terra, não?

Porém, sabemos muito bem que Boff usa este argumento do feminino como a redenção do humano apenas pra prestar um serviço à candidatura do PT. Sim, candidatura do PT, porque dá a impressão de que ele está na coordenação política de Marina Silva com uma sinceridade parecida com aquela que dedicava à Igreja Católica.
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POR José Pires

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Serra e a Síndrome do Zé

Nesta eleição o candidato José Serra pode acabar dando o nome a um efeito eleitoral que geralmente acomete políticos sem rumo definido e que numa campanha seguem sem nenhum senso crítico as determinações de marqueteiros. Não é coisa nova, mas com o rumo que a sua candidatura vem tomando desde que o marketing tomou de vez a frente da política, este efeito pode passar a ser chamado de Síndrome do Zé.

Até começar de fato a campanha, Serra vinha se colocando no noticiário com a coerência de sempre. Poupava-se do confronto direto com Lula, porém sem perder a imagem de oposicionista. E, sem dúvida, era o que sustentava os altos índices que tinha desde que começaram as pesquisas.

É impossível ter a certeza da exata motivação que fazia tanta gente cravar seu nome em todas as pesquisas que apareciam, mas não dá para acreditar que alguém pensaria em votar em Serra por uma suposta proximidade com Lula ou pela continuidade do governo que aí está, sem críticas ou rupturas importantes com o modelo lulo-petista.

Com certeza não era isso que há meses vinha levantando o prestígio de Serra, até porque o então governador de Minas Gerais, Aécio Neves, explorava este papel de variadas maneiras, sem que isso refletisse alguma vantagem para sua posição em qualquer pesquisa. Aécio deixou de ser o neto de Tancredo para ser Lula desde criancinha. Mas amargou uma rabeira de fila nas pesquisas. Era o lanterna em qualquer situação e perdia no segundo turno para qualquer um.

Penso que o que sustentava Serra acima de todos os outros nomes da oposição, vencendo inclusive a candidata de Lula ou o oficioso Ciro Gomes, era o desejo de mudança de uma parcela importante do eleitorado, uma porção de gente que gradativamente foi se frustrando com a dificuldade do tucano em assumir com vigor este papel.

Na minha visão, o marketing desastroso dos tucanos, apresentando de forma populista um político que sempre foi visto como o contrário disso, para isso até trocando seu nome para Zé, veio só fortalecer a queda de prestígio que vinha se desenvolvendo de forma lenta em razão de erros políticos sucessivos, sendo o pior desses erros o abandono do discurso crítico que sempre foi a marca de Serra.

O marqueteiro dos tucanos é um gênio. Em poucos dias conseguiu fazer de um dos políticos brasileiros de identidade mais firme uma figura indefinida, que num momento ataca de frente a candidata Dilma e logo após afaga até com carinho o criador desta adversária, o presidente Lula.

Serra é vítima de um dos maiores males de marqueteiros. Pode ser chamado de Síndrome do Zé, assim como poderia ter o nome de Síndrome do Geraldo. Mas Síndrome do Zé é bem melhor, pois Alckmin nunca teve personalidade mais firme antes de tentar virar Geraldo. Ou pelo menos nunca soubemos disso.

A Síndrome do Zé acomete aquele político que segue de forma obediente as determinações de seu marqueteiro. Político experiente e de personalidade não faz isso, o que torna ainda mais interessante o fato de Serra atender de modo obediente seu marqueteiro, passando a fazer coisas que nada tem a ver com o que construiu até agora e muito menos com o que as pessoas sempre esperaram dele como líder político.

Não é nova esta técnica de fazer uma mudança abrupta e sem base na personalidade do político. Já teve até marqueteiro que quis raspar o bigode de candidato que por anos nunca teve a cara lisa. O mesmo marqueteiro que convenceu Serra com esta proposta equivocada em que até a figura de Lula é tratada como grande estadista, já fez coisa pareceida com Alckmin, ou o Geraldo, na campanha histórica para a presidência da República em que o candidato tucano teve menos voto no segundo turno do que no primeiro.

O marqueteiro do Serra está fazendo também a campanha tucana em São Paulo para o governo estadual. E por lá ele ainda persegue esta idéia de fazer o povo chamar o Alckmin de Geraldo. É bem curiosa esta mania de trocar nome de candidato. Será uma doença profissional, algo como uma LER que dá em marqueteiro? O fato é que em caminhadas de rua sempre vem alguém da campanha na frente da turma de Alckmin avisando o povo: "Olha o Geraldo aí". Parece piada, mas isso acontece de verdade.

Não sei se fazem isso também com o Serra. Olha o Zé aí, gente! Bem, mas ele que se cuide, pois não é improvável que com esta linha possam até levar a disputa com Dilma para o segundo turno para então quebrar o ineditismo de Alckmin, ou Geraldo. Isso, o Zé pode ter menos votos no segundo turno que o Serra no primeiro. Ou vice versa.

Mas ainda dá para reverter a imagem do candidato para o que havia antes da Síndrome do Zé? É bem difícil, já que os efeitos desta síndrome se dão com uma rapidez danada e muitos desses danos não permitem soluções no curto prazo de uma campanha eleitoral.

E um dos piores efeitos desta síndrome já parece ter se instalado na candidatura tucana. É o que faz o eleitorado não aceitar a nova imagem que o marketing tenta impor e também não ter mais confiança na capacidade do candidato encarnar aquilo que aquilo que até então sua carreira política representava.

Isso parece já estar ocorrendo com a candidatura de Serra. E ele que se cuide, pois se isso estiver de fato acontecendo a derrota é certa. E o pior não é só isso: é o que vem depois. Com a descaracterização, é muito rara a sobrevida de políticos atacados por esta síndrome.
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POR José Pires

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Benefício com custo alto demais

Entre as lições que esta eleição trouxe para a oposição, uma delas é sobre o cuidado que se deve ter na composição das alianças. O problema é que esta é uma questão bem velha, entretanto, como ficamos sabendo agora que burro velho (ou tucano velho, tanto faz) tem a necessidade inclusive de antigas lições, resta-nos torcer para que a dificuldade com ensinamentos novos não seja a mesma com lições até mais velhas que o próprio burro.

Podemos começar com uma questão, velhíssima também, a do custo-benefício, coisa simples que até alguém sem doutorado em economia, como é o caso da Dilma Rousseff, não teria dificuldade em saber.

Numa análise de custo-benefício, qual teria sido o fator que pesou para que José Serra (ou Zé, se já não deixaram pra lá esta imensa besteira) aceitasse o PTB na aliança formada em volta de sua candidatura?

Tudo concorre contra a companhia do PTB em qualquer tipo de avaliação que se faça sobre este partido. Para os tucanos, então, sair em campanha com os logotipos lado a lado é enterrar boa parte do discurso que poderia alavancar a subida de Serra, a começar pela da corrupção, tema que é a base óbvia de desgaste de Lula e do PT, com o mensalão como um fato destacado de reforço à questão.

Mas fica difícil de convencer o eleitor com o discurso contra a corrupção, tendo ao lado o PTB e ainda mais estando na presidência do partido o inacreditável Roberto Jefferson, que fez a denúncia do mensalão apenas porque teve problemas com sua cota na partilha do suborno.

O que tem de lucro na parceria com o PTB é apenas seu tempo no horário eleitoral no rádio e na TV, o que é muito pouco, cerca de 1 minuto. Não dava para o PSDB passar sem isso? Claro que dava, mas ficaram centrados no horário gratuito, sem fazer uma análise séria sobre o custo-benefício. E isso porque os tucanos tem a imagem de entenderem bastante de economia.
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POR José Pires

A herança maldita vem junto na aliança

Esta questão do custo-benefício também se apresenta na aliança dos tucanos como o DEM. Parece bastante como o problema que o Serra tem com o o PTB, pois ambos os partidos nada trazem além do benefício do tempo eleitoral gratuito. Porém, mesmo o DEM tendo mais tempo a oferecer do que o PTB, será que vale o custo?

Já expus aqui as razões porque vejo este partido como uma farsa. Não tem representatividade alguma pelo país afora e quanto tem presença marcante em alguma região é pela rejeição que os patifes locais da legenda angariaram em décadas de arrogância e falcatruas.

A história do DEM, em conjunto com atuações recentes, inclusive no desempenho do partido em assuntos da administração pública, interfere de forma negativa em qualquer ponto político importante na atualidade.

O meio ambiente é um item dentro da agenda deles somente na truculência da sua bancada ruralista, boa para peitar o governo para deixar de pagar dívidas em bancos público e intransigente em qualquer aspecto da regulação das atividades agropecuárias e não só na questão do meio ambiente. Não querem discussão nem sobre a qualidade dos produtos, seja sobre métodos de exportação ou abuso em agrotóxicos e medicamentos para os animais.

Na escolha do vice da chapa de Serra, o deputado Índio da Costa, ficou bem claro como é difícil a convivência com a truculência do DEM. Depois do vice ter sido imposto, os tucanos ainda tentaram justificar com a presença do deputado na relatoria da Lei Ficha Limpa, que traria para a campanha esta questão importante.

Mas na realidade, além de Índio da Costa não ter conquistado essa importância no encaminhamento da Lei Ficha Limpa, sua presença na chapa traz também a lembrança de variados escandalos, como o dos panetones em Brasília, armado por um nome nacional do DEM, o ex-governador Arruda. Porém, mesmo se o governador distrital de Brasília não tivesse sido pego em flagrante, bastaria puxar a ficha do DEM para pegar muita coisa suja do tempo em que eles foram o PFL. Herança maldita o DEM tem de sobra.

Ou seja, o relator da Ficha Limpa é do mesmo partido do protagonista do escândalo mais significativo dos últimos tempos. E o DEM é muito mais conhecido por este fato, uma mancada grosseira que além do mais foi a melhor ajuda recente para a justificativa lulo-petista que busca nivelar a política pelo discurso de que todos são iguais na falta de ética.
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POR José Pires

Richa, Alckmin e Anastasia que se cuidem

Em Brasília a desatenção, para dizer o menos, da alta cúpula do DEM quanto à corrupção de um de seus líderes de maior importância, pode vir sempre ao debate quando o assunto for a lei Lei Ficha Limpa. O então presidente do partido e atual líder de bancada, Rodrigo Maia, era amigo de Arruda e não conseguiu nem fazer o companheiro se segurar próximo de ano eleitoral.

Maia pode sempre afirmar que não sabia de nada da corrupção em Brasília, mas é uma justificativa que, em política, é apenas um pouco menos pior do que ser ladrão.

No DEM é difícil se dar com a tigrada e no PTB tem o Roberto Jefferson, um político que perde as estribeiras todo o tempo e, pior, sempre imaginando que está sendo admirado pela espirituosidade e o tino político. Deve ser até interessante assistir a uma conversa entre ele e deputado Rodrigo Maia. Mas que seja de fora, sem nenhuma responsabilidade pela consequência do que sai da boca dos dois.

Jefferson é em parte responsável pelo fuzuê da escolha do vice de Serra. O petebista inclusive aproveitou a confusão que veio depois que ele anunciou em primeira mão que o PSDB havia optado por uma chapa com um vice tucano para atacar o DEM, que não aceitava tal solução.

Na ocasião ele e Maia fizeram uma dobradinha destruidora, um alimentando a discórdia no twitter e o outro sendo bem agressivo na entrevistas à imprensa, tratando muito mal até mesmo os companheiros de aliança.

Jefferson continua fazendo pela internet o estranho serviço que não parou de fazer desde que ocorreu aquela confusão. Em seu twitter ele acaba de decretar a derrota de Serra. Estamos há mais de um mês da hora final do voto, mas ele parece não se ligar muito na construção da candidatura. O negócio é explorar fatos, qualquer fato. Vejam o que ele escreveu: “Agora que os anéis se foram, resta salvar os dedos. Temos que guardar energias para eleger o Beto Richa, consolidar o Geraldo Alckmin e virar o Antonio Anastasia”.

Bem, pelo menos ele tem a sinceridade de avisar o paranaense Beto Richa, o paulista Alckmin e o mineiro Anastasia para se cuidarem, pois contam agora com a participação ativa do presidente do PTB em suas campanhas.
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POR José Pires

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

É o caminho, estúpido

Houve um tempo em que se dizia que todo brasileiro é um técnico de futebol. Pelo jeito esse pessoal se cansou de bola, pois o que temos mais hoje é analista de campanha.

Ou melhor, analista da campanha do Serra, ou do Zé, sei lá. O marqueteiro dos tucanos conseguiu botar confusão na cabeça até dos que já conheciam bem o político José Serra. Eu mesmo não reconheço este Serra, desculpe, este Zé, que apareceu há algumas semanas. Como o marqueteiro dos tucanos o lançou só agora, pode ser que seja só uma daquelas estratégias manjadas de reforçar um nome para que ele dispute com mais peso daqui quatro anos.

Mas tem analista da campanha do Serra pra todos os lados. Fixam-se na campanha de TV, sem analisar o conjunto da comunicação e das atividades eleitorais. Tudo o que se faz por fora e que serve inclusive para dar mais criatividade e conteúdo na TV fica de fora das avaliações. É incrível, mas mesmo na questão da internet quase ninguém toca. Este espaço que vem sendo ocupado nos últimos três pelos petistas e que permaneceu até agora esquecido pelos tucanos. E alguém acredita que é possível fazer política hoje sem trabalhar com especial atenção a internet? Ora se tem, são os tucanos.

Mas nem é preciso pesquisa para ver que tem analista da campanha do Serra em todo canto. Até petista faz um esforcinho para ajudar o Serra, apontando um defeito aqui, uma correçãozinha a ser feita ali. São tantos ajudantes de marqueteiro que acho até que o Serra tem sorte em não ter que pagar pelos palpites, já que parece que falta verba até para o próprio marqueteiro.

Quase todas as análises centram a discussão no conteúdo do programa de TV, discutindo especificamente a linguagem dos programas e a estruturação da personalidade política do candidato nos programas eleitorais.

Hoje em seu ex-blog, Cesar Maia, que é candidato ao Senado pelo DEM, traz até uma daquelas avaliações críticas de vencedor. É sobre a eleição de Obama e foi escrita por Drew Westen, bem do jeito que americanos gostam muito, em um processo teórico que surge sempre depois do acontecimento, geralmente para dar suporte à realidade já construída e muitas vezes no estilo do "vejam como sou esperto e acertei tudo na campanha". Nem preciso dizer que, caso Obama não fosse eleito, o estilo mudaria para "vejam como eu sabia de tudo, mas o Obama não quis fazer". Marqueteiro americano gosta muito disso. Mas também não podemos esperar de um marqueteiro o espírito de um Tom Payne.

Porém, nem precisamos ir tão longe, apelando para Drew Westen para explicar o que ocorre atualmente na campanha brasileira. Numa corrida rápida, do word onde estou escrevendo ao site do candidato Cesar Maia, pode-se ver que ele não colocou em nenhum lugar (mas em nenhum lugar mesmo, por mais espantoso que seja) o nome do candidato a presidente da República da aliança na qual seu partido tem um peso decisivo. E isso porque o DEM brigou para ter o vice da chapa.

Pois é, se Cesar Maia fizer campanha no Rio para o candidato da aliança PSDB/DEM, acredito que poderá ter cenários bem mais otimistas para suas argutas análises.

Voltemos, então, à esta curiosa mania de fazer análise apenas com o que se vê na TV. Dessa forma pode-se até acertar, mas apenas quanto ao que o marketing torna visível, sem que a análise traga uma visão completa do que se passa. Sem o conjunto da campanha eleitoral, que comporta propaganda e atividades de rua do candidato, reuniões públicas, decoração de comitês, comportamento dos aliados todos, inclusive os que não disputam eleição desta vez, como vereadores e prefeitos, dirigentes sindicais e empresariais, etc., fica difícil saber de onde vem esta extrema dificuldade de convencimento que se percebe numa campanha que começou no alto e foi baixando assim que os tucanos deram a partida de fato.

Esse conjunto também não pode ser visto apenas dentro deste contexto eleitoral. Para entender o que se passa é preciso ter uma visão retrospectiva, porque um candidato eficiente tem no período eleitoral um momento em que ordena e colhe os resultados dos muitos passos que deu em um período anterior, que tem que ser de no mínimo dois anos, mas que sempre melhora quanto mais se acrescenta tempo. Não tem muito segredo, não é diferente do que se faz em qualquer atividade na vida e até já deu boa poesia: "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar".

Isso antigamente era chamado de “fazer política”, algo que os tucanos não têm feito, um comportamento que pode fazer minguar qualquer partido e vem acontecendo com o PSDB nos últimos anos. Basta dar uma andada no interior do país para perceber isso. Os tucanos são desarticulados. E nem peçam a eles uma visão do objetivo central, algo que o PT tem de sobra, pois eles não sabem o que é isso. Como é óbvio que a caminhada não vem criando substância alguma desde lá de trás, quem vê o desordenamento atual com surpresa tem uma visão bem amadora de política.
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POR José Pires

Não é a economia, estúpido

Já falei aqui no blog que o problema dos tucanos é que eles não fazem política. O PT faz isso o tempo todo, para bem ou para mal. Mais para o mal, na minha opinião, mas o fato é que o partido ainda se mantém presente em vários segmentos organizados da sociedade civil, principalmente em sindicatos, o que é uma vantagem de altíssimo peso: são organismos com estrutura política e material próprias, muitos deles com orçamentos gigantescos. Nesta eleição, essas verbas e estruturas foram muito usadas para alavancar a fase inicial de Dilma, quando sua candidatura patinava. E o PT também usou bastante o poder para fortalecer essas ligações que já não eram fracas.

Já o PSDB hoje tem pouquíssima penetração em qualquer setor, sendo que em organismos populares não tem nenhuma. Nem no meio empresarial, onde sempre teve relativa penetração política, os tucanos marcam mais presença. Já o DEM é uma farsa como partido. Não existe em todo o país, sendo que em alguns estados ainda guarda a mesma rejeição que tinha quando ainda era o PFL. Se não fosse pela sua parcela no horário político, não haveria vantagem alguma em se aliar ao DEM. Pelo contrário, mesmo com os valiosos minutos de tempo para propaganda, sempre é bom avaliar bem o custo-benefício da aliança antes de fechar negócio com este partido.

Já o PT tem estado presente o tempo todo na vida das cidades. Tucano só aparece em eleição. Tem sido sempre assim, mesmo quando o presidente era Fernando Henrique Cardoso. Neste caso, os políticos tucanos e os antigos pefelistas desapareciam nos entremeios do Poder, esquecendo-se até de fortalecer os conceitos que estavam sendo plantados no governo de FHC. E o PT era fortalecido com um eficiente trabalho na oposição. Também com o mesmo espírito aguerrido e uma falta de vergonha impressionante, pegaram depois as bandeiras mais eficientes do governo FHC que os tucanos não tiveram competência de manter como legado político.

Mas estas não são as únicas questões que dão problemas para Serra (notem que é impossível chamar o candidato de Zé; só marqueteiro idiota não percebe algo assim). Mas, quando aos problemas do Neozé, todos que se colocam como analistas de sua campanha se esquecem de um ponto fundamental. O verdadeiro ponto desta eleição.

Se alguns apontam com clareza muitos defeitos de campanha, todos erram pelo fato de que, mesmo que o insucesso de Serra esteja sendo causado por equívocos políticos ou de linguagem, é preciso fazer o contraste com quem supostamente está ganhando a parada, a candidata petista Dilma Rousseff.

E Dilma não está por cima em razão de acertos de campanha, ou genialidade de seu marqueteiro. Também não está por cima por méritos próprios, é claro, pois mesmo que não confessem em público, até petistas sabem que ela é uma besta. Enquanto pessoa, como ela diria, Dilma deixa muito a desejar. É uma candidata ruim e se eleita será uma presidente pior.

É no contraste com o sucesso que ela está tendo agora que pode-se chegar à uma compreensão a origem real dos problemas que Serra enfrenta e que não se concentram propriamente na sua campanha eleitoral. Primeiro e acima de tudo tem a questão do dinheiro, o que não falta ao PT por meio da máquina pública e por caminhos oficiosos, além da dinheirama que surge de todos os lados para o gasto em marketing.

Em marketing ficou bem marcado o jargão "É a economia, estúpido!" para exemplificar o foco correto numa campanha política. Bem, isso pode até servir para um país com um equilíbrio de forças entre os oponentes, como é o caso dos Estados Unidos, de onde veio a frase. Mas aqui não. Adianta bem pouco saber focar acertadamente uma campanha se o adversário tem todos os meios financeiros nas mãos, inclusive o do Estado, que no Brasil pode ser usado sem que a Justiça tome qualquer providência.

Então aqui não tem esse negócio de "É a economia, estúpido". Aqui é a máquina pública e o dinheiro fácil vindo de todos os lados. Serra não tem dinheiro para a campanha e também não tem a máquina pública a seu favor. Dilma tem tudo isso nas mãos, além da conveniente desfaçatez para fazer o uso de qualquer coisa para manter o poder.
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POR José Pires

Grana e poder é que sustentam o mito do carisma de Lula

Dinheiro e poder. Com esta dobradinha, Lula montou como quis o cenário de disputa deste ano. E ainda falam em seu carisma. Costumo dizer que no Brasil só tem duas pessoas que não acreditam no carisma do Lula: eu e o próprio Lula.

O presidente da República não é tolo de acreditar que será apertando mãos pelo país afora que manterá o tipo de poder pelo qual optou. Lula e seu grupo forçaram o partido a coligações nos estados sempre tendo acima de tudo como objetivo o fortalecimento da candidata Dilma, mesmo colocando o PT em situações políticas de extremo desconforto e até demolindo bases tradicionais do partido com alianças como no Maranhão, com Sarney, ou com o abraço amigo em Collor, em Alagoas. Com o foco na perenização no poder, o PT derrubou até mesmo candidatos bastante viáveis em disputas de governos estaduais.

Com o poder e o numerário vasto da máquina pública, Lula também impediu que acontecesse uma disputa democrática, ou uma eleição de fato, maquinando para evitar o lançamento de candidatos a presidente com prestígio político ou por partidos de relativo peso eleitoral e intervindo diretamente para dificultar alianças promovidas pelo PSDB. E o episódio do ludibriamento de Ciro Gomes e a posterior destruição da sua candidatura mostra como se fez de tudo para favorecer Dilma.

Como uma ilustração prática, vou usar como exemplo o Paraná, estado de um dos mais fortes ministros de Lula, o sindicalista bancário Paulo Bernardo, cacique petista local que tem pelejado nos últimos anos para cavar um bom espaço político para sua mulher, Gleisi Hoffmann.

Até o momento em que a disputa se deu de forma relativamente democrática, sem a armação do cenário político feita por mãos petistas, o ministro Bernardo se deu mal. Gleisi Hoffmann disputou com Beto Richa a eleição para prefeito de Curitiba. Mesmo com uma campanha eleitoral mais cara que a de Marta Suplicy, que disputava a prefeitura de São Paulo, Bernardo e a mulher perderam no primeiro turno e de modo bem feio. Richa foi eleito prefeito com mais de 70% dos votos.

Com o insucesso, a mulher de Paulo Bernardo voltou para uma diretoria da Itaipu, onde esteve durante todo o governo Lula.

Já neste ano, a mulher de Paulo Bernardo está bem nas pesquisas para o Senado. Mas de que forma houve esta transformação? Primeiro, desde essa derrota o PT vem fazendo propaganda maciça no estado, com tanta desfaçatez, que até o TRE teve que parar de fazer de conta que não via nada e mandar o partido parar de colocar outdoor por todo o Paraná com a cara de Lula e a de Gleisi Hoffmann.

Gleisi Hoffmann também distribuiu material impresso bem caro por todo o estado. O folheto na imagem acima é feito em papel couchê, é grampeado, tem oito(!) páginas, e foi jogado em tudo quanto é quintal nas cidades do Paraná. Quem é do ramo sabe como isso fica caro. Nem em grandes campanhas é possível algo assim.

A propaganda promete aposentadoria para as donas de casa. Tem fotos de Gleisi Hoffmann e texto assinado por ela como... presidente do PT Paraná. Sim, a mulher do ministro do Lula é presidente estadual do partido. E ainda tem gente que acha o Sarney é que é o retrocesso.

Outra coisa, na imagem acima, ao lado do tocante texto onde ela diz que dar aposentadoria para as donas de casa "é uma luta de todos nós", a petista aparece numa foto, em reunião com um ministro de Estado, o ministro José Pimentel, da falida pasta da Previdência Social. Viram como o Sarney é fichinha perto dessa gente?

Mas além dessa forma de demagogia que pode alargar bem os gastos públicos, o PT investiu firme no interior do estado, com a máquina federal alimentando o prestígio do grupo do ministro em pequenas prefeituras e políticos locais, com distribuição de recursos públicos e projetos alavancados pelo Governo Federal.

Todo o cenário eleitoral do estado foi montado como plataforma para o PT. Usando-se sabe-se lá a força de quais argumentos, Lula forçou o pedetista Osmar Dias a disputar o governo do estado. Com isso, reorganizou o cenário no Paraná para favorecer Dilma e atacar Serra, além de dar uma tremenda força para a mulher do ministro, já que se não fosse para o governo, Osmar Dias disputaria a reeleição para o Senado, criando uma situação difícil para Gleisi Hoffmann, que teria que se ver com Dias e Requião na disputa. É provável que ela continuaria apenas como mulher do ministro.

A meu ver, portanto, a ordem das análises sobre os problemas tucanos está invertida. Não é olhando apenas quem está por baixo — o Serra ou Zé, como eles querem — que se pode ter clareza sobre o que está acontecendo nesta eleição. É observando o sucesso de Dilma — com muito esforço para não rir, pois ela é cretina, mas perigosa — que podemos ter uma visão objetiva sobre o que Lula e o PT estão fazendo com a democracia brasileira.

Qualquer candidato que estivesse se opondo a este abusivo uso do poder e do dinheiro estaria agora com dificuldades sérias para competir. E louve-se Serra por não permitir que o imoral sucesso do lulo-petismo seja ainda mais acachapante, o que se deve na maior parte a seu impressionante vigor pessoal e prestígio político, já que mais uma vez temos a impressão de que seus colegas fugiram da briga.
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POR José Pires

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Quem dá mais?

Parece piada, mas compraram o terno de posse do presidente da República, uma roupa ainda em uso por ele. O terno de posse de Lula foi arrematado em um leilão beneficente pelo empresário Eike Batista. Então, se vocês virem o Lula por aí de terno, pode ser o terno do Eike Batista, que pagou 500 mil pela peça. Todo cuidado é pouco com uma beca desse preço.

O empresário estava num dia de coração aberto, pois no final do evento ofereceu mais R$ 2 milhões para uma ONG beneficiada no leilão. Porém, isso não é nada para quem nesses dias recebeu R$ 147 milhões do BNDES para dar um trato em um hotel de sua propriedade no Rio de Janeiro, além de pegar emprestado também do BNDES mais R$ 1,2 bi para a construção de um porto.

Fica sempre a impressão de que, no final, nós é que acabamos pagando um terno tão caro, não?

E vá lá saber qual é o valor histórico de um negócio desses. O terno de Lula não é nenhuma ceroula de Napoleão, porque afinal nestes casos o tecido vale pelo que veste. De peça mítica temos em nossa história o pijama de Getúlio Vargas. Mas o pijama de Getúlio tinha o buraco do tiro com o qual ele se matou. E o terno do Lula, o que têm? Nem uma manchinha, que seja, daquele vinho que ele bebeu com Duda Mendonça para comemorar sua primeira vitória.

Era o vinho mais caro do mundo. E ficou na nossa conta, como sempre. Talvez um respingo viesse a dar um peso histórico e valorizar o terno.

Mas a história de Lula e seu PT não deixa de ter objetos curiosos. Muitos deles foram perdidos para sempre, mas devem ficar na memória dos brasileiros como referências fundamentais do lulo-petismo. São inumeráveis peças que poderiam render muita grana, mas vamos ficar com apenas 13 para marcar de forma simbólica este imaginário leilão.


1 – O torno onde o operário metalúrgico Luiz Inácio da Silva perdeu o dedo, peça essencial da criação do mito. Afinal Lula nunca seria o mesmo todos os dedos da mão.
2 – O aparelho de som do Lula que o então candidato Fernando Collor parecia conhecer tão bem. E talvez aquela caixa de CDs que deixou roxo o olho do ex-deputado Roberto Jefferson depois que e ele denunciou o mensalão.
3 – Uma caixa de charutos presenteada por Fidel Castro ou uma de cigarrilhas, do tempo em que o tesoureiro-símbolo do PT, Delúbio Soares, segurava para Lula fumar escondido. Neste quesito de objetos sentimentais também não pode falta uma pedra recebida das mãos do amigo de olho no olho, o presidente iraniano Ahmadinejad.
4 – Os papéis das balas que Lula chupava na cadeia furando a greve de fome dos colegas de cela, quando ficou preso na época das greves metalúrgicas no ABC.
5 – Um livro, qualquer um, que Lula tenha lido (pela raridade, esta pode vir a ser a peça mais cara do leilão).
6 – A cueca petista em que o militante escondia os dólares flagrados pela Polícia Federal (se vier com os dólares a cueca pode render mais no leilão).
7 – O sofá onde Lula e José de Alencar proseavam animadamente enquanto na sala ao lado líderes do PT e o PL a acertavam coligação da primeira eleição. O então presidente do PL, Valdemar Costa Neto, processado no STF no escândalo do mensalão, disse que começou pedindo R$ vinte milhões e acabaram fechando em R$ 20 milhões. O sofá onde sentaram Lula e Alencar á espera do acerto é uma peça mítica do lulo-petismo.
8 – O documento que o então presidente do PT, José Genoíno, assinou sem ler para o empréstimo de mais de 2 milhões de reais por Marcos Valério junto ao Banco Rural, banco envolvido no mensalão.
9 – O cartão corporativo da ministra Matilde Ribeiro, que caiu do cargo com o escândalo dos cartões, e o do ministro dos Esportes, Orlando Silva, que não caiu. Pena que não dê para leiloar a tapioca.
10 – A bengala que desceu no lombo de José Dirceu, no pisódio das bengaladas dadas por um senhor aposentado na época de sua cassação por falta de decoro.
11 – O Land Rover de Silvio Pereira, o Silvinho, secretário-geral do PT.
12 – O primeiro Videogame de Lulinha, o filho do Lulão presidente, um herdeiro petista que ficou milionário em apenas uma tacada graças aos seus talentos com,o jogador de videogame.
13 - O diploma de falso doutorado da Dilma Rousseff. Uma arma da luta armada também alcançaria um bom preço em leilão, mesmo que, segundo seu depoimento, ela tenha tido o papel inédito no mundo de fazer a luta armada sem pegar em armas.
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POR José Pires


terça-feira, 17 de agosto de 2010

Basta de intermediários: Washington Olivetto para presidente

Levando em conta o que dizem vários analistas e o que é praticamente a norma da cobertura jornalística de jornais e sites da internet, na minha opinião esta deveria ser a última eleição disputada entre políticos. No ano que vem o Congresso Nacional tem que fazer a tão falada reforma política e tornar a próxima eleição para presidente uma disputa só entre marqueteiros. Um deles será o presidente da República.

O povo vota ou no marqueteiro do “Zé” ou da “Mãe dos Pobres” e pronto. Esses são os marqueteiros mais importantes dessa eleição, mas, em respeito à igualdade, é claro que tem também o marqueteiro da Marina Silva e dos outros candidatos.

E por certo a Reforma Política que instituirá a eleição presidencial apenas para marqueteiros também atrairá outros marqueteiros que estão fora deste pleito.

Então teremos de volta à eleição presidencial o Nizan Guanaes e o Duda Mendonça, tão sumido depois que confessou ter sido pago em dólares e no exterior pela campanha do Lula. E como a tarefa do marqueteiro não será mais apenas a de fazer o presidente, mas ser o próprio, é provável que a disputa atraia até marqueteiros arredios à campanhas eleitorais, como é o caso do Washington Olivetto.

A propósito, está aí um candidato que pode animar o eleitorado. Como Olivetto foi um dos criadores da Democracia Corintiana, talvez ele até possa criar a Democracia Brasileira.
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POR José Pires

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Tucanos lançam novo candidato a presidente: o Zé

O candidato José Serra está de jingle novo. O que havia sido lançado no início de julho foi descartado. Deve estar na gaveta das incertezas tucanas, gaveta de dimensões avantajadas e por certo bem abarrotada.

Falei aqui no blog do tal jingle e aproveitei para comentar sobre os conceitos equivocados que eu via concentrados na música, que tinha um coro de “Eu Quero Serra” acentuando erradamente o nome do candidato na última sílaba e a idéia de “Serra pra cuidar da gente”, com aquela noção demagógica do paizão que olha para o povo. Nada a ver com o que se espera de um tucano, muito menos do Serra e ainda mais numa eleição em que é preciso tomar o lugar do lulo-petismo, então fiz um post com o título de “Serra: conceito e visual no caminho errado”.

Pois mudaram tudo e não é porque tenham seguido o que escrevi aqui. Não tenho essa pretensão. E além disso, fizeram o contrário do que apontava a minha crítica, o que indica que estou no caminho certo.

O novo jingle tem a seguinte idéia, que evidentemente deve ser a linha da campanha no horário gratuito, que começa amanhã: “Zé é bom e eu já conheço/ Eu já sei quem ele é/ Pro Brasil seguir em frente/ Sai o Silva e entra o Zé”. É isso aí. E cantado é pior.

O Silva nós sabemos muito bem quem é, mas quem é esse tal de “Zé”? É até constrangedor, mas o “Zé” é o Serra, ou Zé Serra, como ele também é chamado na música.

Quando vemos um negócio desses é imediata a sensação de que vem desastre por aí. Repete-se com Serra o equívoco do marketing de Alckmin em 2006, quando perdeu a eleição para Lula. Naquela campanha também vieram com essa estratégia simplória de tentar dar um ar popular ao candidato chamando-o pelo primeiro nome, Geraldo.

O marqueteiro dos dois é o mesmo. E isso não é só coincidência. Luiz Gonzalez é conhecido pela falta de criatividade. Trabalha sempre com idéias de menor risco, evita a ousadia. A campanha de Alckmin (ou Geraldo, o nome que nunca pegou) é o melhor exemplo. O candidato foi raspando para o segundo turno, quando teve menos voto que no primeiro.

Está certo que Alckmin era um candidato muito ruím, o que pode ser um álibi para inocentar o marqueteiro do desastre que foi aquela eleição, mas nesta campanha Gonzalez não conta com esta justificativa. Pegou um candidato de qualidade e com boas chances eleitorais. E como este também está sendo trabalhando de forma errada, é capaz até da gente pensar que o Alckmin, ou melhor, o Geraldo, foi prejudicado pelo marqueteiro.
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POR José Pires

Uma questão de nome e de conceito

Se com Alckmin erraram na tentativa de popularizár o candidato chamando-o de Geraldo, com Serra foram por um rumo ainda pior, apelando para um apelido que ele nunca teve. Serra é um homem que dá a impressão de nunca ter sido chamado de José. De Zé, então, nem pensar. Talvez o nome José tenha sido usado por amigos e familiares em sua juventude, mas não parece provável que isso tenha continuado depois que ele começou a fazer política e ser conhecido publicamente como Serra.

Este negócio de chamar o candidato de “Zé” tem também um outro problema. No popular, Zé pode ser também um pejorativo, tal como “fulano é um Zé” ou um “Zé Ninguém” ou então no elogio ao contrário, quando se diz que alguém é muito bom e não um "Zé qualquer". Bem, mas podia ser pior se o nome do Serra fosse Manoel Serra. Então o marqueteiro poderia vir com a idéia de que sai um Silva e entra um Mané.

Mas o marqueteiro conseguiu convencer Serra, ou melhor, o Zé, a seguir por este caminho equivocado. De quebram, facilitam para Lula, que estará presente o tempo todo nas duas campanhas. Isso porque a maioria das pessoas pensa que quanto mais Lula nessa eleição, pior para o Serra. Nem o marqueteiro tucano pensaria em algo tão bom para Dilma.

Tudo indica que vão tentar impor ao candidato Serra uma imagem popular, o que é praticamente impossível para quem nunca teve este perfil. É também o caso de se perguntar se esse é o ponto central desta ou de qualquer outra eleição. O eleitor quer de novo algo como o Lula? Bem, por esta linha, então Dilma leva vantagem, pois ela é a candidata dele e isso vai ficar bem claro no rádio e na televisão.

E neste caso, o marketing de Dilma está sendo mais hábil. Pega o popular, que em Lula chega a ser demogagia, sem que até agora a imagem da candidata tenha sido contaminada por este populismo que em qualquer outro pode ser negativo.

Penso que não tem outro jeito de derrotar o lulo-petismo que não seja pelo contraste, mas também sei que esse teria de ter sido um trabalho de maior tempo, começando pelo menos no início desse segundo mandato e feito com firmeza de convicções. Resumindo, o PSDB teria de fazer política, uma falha que cometem há muito anos e que tem favorecido bastante Lula e seus companheiros.

Serra tem errado bastante desde que se lançou candidato e parte significativa da ascenção de Dilma pode ser computada aos deslizes políticos e da própria campanha. E agora temos esse negócio de 'Zé". É um erro de comunicação. Lula vai estar presente o tempo todo na televisão no rádio. O eleitor sai do programa da Dilma com ele na cabeça, para ser lembrado novamente no programa de Serra. Tucano é fogo, mas é inacreditável que haja alguém que acredite ser possível tirar proveito eleitoral de uma coisa dessas.

Com isso, também lançam na praça uma boa justificativa para a presença abusiva que Lula, como presidente da República, está tendo na campanha da Dilma. Quero ver como é que agora os tucanos vão reclamar do uso da máquina pública para eleger a candidata do PT.

Mas essa história de chamar Serra de Zé tem pelo menos um aspecto curioso e que vai situar historicamente o tucano. Como todo José detesta ser chamado de Zé, o Serra vai passar para a história como o único José que pagou um marqueteiro para isso.
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POR José Pires

domingo, 15 de agosto de 2010

Lula e Collor, companheiros de discurso afinado

Tem muita gente contente com Lula na presidência da República e muitos com razão de sobra para tanta alegria. Fernando Collor é um que não esconde a satisfação. Ao contrário, fez até jingle apresentando orgulhosamente sua parceria com Lula e a candidata Dilma Rousseff. É um jingle verdadeiro, uma peça histórica que sintetiza de forma precisa o círculo que se fechou juntando os ex-desafetos Collor e Lula. Escrevi aqui no blog sobre isso. Mas infelizmente o jingle foi proibido pela Justiça Eleitoral. Porém, rapidinho Collor tirou da fornalha outro com uma estrofe que diz "Não adianta, o povo sabe quem tá apoiando quem, o povo tá decidido e vai apoiar também".

Collor está animadíssimo com o companheiro. "Lula vai encerrar o mandato como o melhor presidente que o Brasil já teve", ele disse a uma rádio alagoana. A Folha de S. Paulo trouxe uma matéria neste domingo sobre o tom de sua campanha em Alagoas. A batida é bem parecida com a de Lula no plano nacional. Também não é diferente do que Dilma faz no plano nacional. Collor é o "pai" dos pobres alagoanos. Dilma se apresenta como a mãe dos brasileiros.

Collor também se faz de vítima. Seu impeachment foi "vingança dos ricos". E ele foi "crucificado" e perseguido por inimigos "do sul". No seu discurso, "a discriminação é muito grande em relação ao Nordeste". Sabemos como é isso. Deve ser a mesma elite que fica tentando impedir Lula ajudar o povo. Collor lá no Nordeste e Lula aqui no Sul, o discurso é bem afinado.

Na reportagem deste domingo a Folha publicou vários depoimentos de populares. Merece destaque o da dona de casa Edineide Silva, uma jovem de 28 anos, que diz o seguinte sobre Collor: "Mesmo roubando, eu voto nele."

Os petistas estão de parabéns. Parece que esse negócio de não ter medo de ser feliz está se tornando um sentimento popular.
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POR José Pires

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O tucanos voando baixo na internet

Há três dias atrás me cadastrei no site do candidato José Serra, assim como já havia feito anteriormente no site da candidata Dilma Roussef. Até agora não recebi sequer um e-mail com notícias ou qualquer outra manifestação sobre os acontecimentos da campanha. E neste meio tempo aconteceram muitas coisas, entre elas a boa participação de Serra na sabatina do Jornal Nacional.

A candidatura governista tem jogado pesado nesta campanha. O uso da máquina pública é flagrante, inclusive com um casamento entre as agendas do Governo Federal e a campanha de Dilma, para ajudar eleitoralmente a candidata petista. Temos também a montagem de dossiês e a participação na campanha de sindicatos e centrais sindicais, além da militância ferrenha de muita gente do movimento popular com ligação profissional com o governo e também os milhares de cargos nomeados no Governo Federal, prefeituras e em todas as esferas do Legislativo.

O PT quebrou de vez todos os critérios de disputa equilibrada, feita com senso de democracia e de respeito ao adversário. Pode-se dizer que, vindo do PT, é mais do mesmo: fazem no poder o que sempre fizeram na oposição, só que desta vez em vez do gogó usam o dinheiro e o poder para quebrar os adversários.

Este é o quadro enfrentado por Serra, Marina e Plinio Sampaio, além dos outros candidatos menos destacados. É uma triste realidade, mas é o que temos. E mesmo que o panorama eleitoral fosse outro, tem que fazer campanha, não? Então, cadê a dos tucanos?

O e-mail que espero até agora da campanha de Serra mostra como os tucanos andam mal de comunicação. Sei que isso não é novidade, vindo de quem permitiu que até suas boas realizações fossem roubadas pelo PT, mas o fato é que esta precariedade da comunicação tem prejudicado bastante Serra.

Já falei aqui há semanas sobre como andava fraco o material de campanha de Serra na internet. Pois faltando poucos dias para o início do horário eleitoral a deficiência continua praticamente na mesma.

Já os petistas mantêm um crescimento contínuo na internet. E não estou falando da ativa blogosfera lulo-petista, com muitos blogueiros estimulados por vantagens pessoais ou mesmo dinheiro público, o que faz manter centenas de blogs bastante ativos há pelo menos três anos. Falo da campanha de Dilma, que inegavelmente vem ocupando espaço na internet.

Os tucanos salvam-se de um massacre apenas porque o material produzido pela campanha de Dilma é bem fraco. Mas a vantagem termina aí, pois mesmo sendo fraco, o material petista se impõe pela perseverança. Recebo e-mails da campanha de Dilma todos os dias. Ontem foram dois e-mails, o de hoje chegou próximo da uma da tarde. Estão sempre inventando novidades. Muitas delas eu acho tolas, mas, bem... mas eu sou do ramo. Na falta de algo melhor para o contraste é natural que a mensagem deles prevaleça.

O site de Dilma está bem resolvido, sempre com bastante informação, enquanto o de Serra é rígido, tão conservador no formato gráfico e editorial que parece qualquer outro site de candidato tucano, de governador, deputado federal ou estadual. E como não construíram uma marca diferencial para o candidato, ficando naquele velho esquema gráfico tucano, pode acontecer do material do candidato presidencial não se destacar.

À falta de visão de marketing e comunicação, pode-se juntar também a desatenção a discursos políticos que têm que se encaixarem na comunicação para ter um melhor efeito. Isso é normal, são erros que sempre caminham juntos. O problema é que isso pode fazer falta depois no programa de televisão. Apenas para ficar num exemplo, onde estão os materiais sobre contribuição financeira de pequenos doadores? O pessoal da Dilma está trabalhando forte em cima disso, com um objetivo óbvio. Com isso trabalha-se a imagem de uma candidatura mais democrática e estruturada a partir de pequenos doadores, um bom conceito para ser usado depois no rádio e na TV.

Todo o material produzido até agora na internet pode ser muito bem usado na televisão e no rádio como sinônimos de participação popular, transparência e abertura da candidatura para a sociedade civil. Parece estranho, mas no Brasil usa-se mais o mito e o fascínio da internet do que propriamente seus efeitos diretos. Mas neste caso, para os tucanos creio que pode não haver mais tempo
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POR José Pires


Corre, tucano, corre

O descuido com a internet afeta até o twitter de Serra, que é um fenômeno da área política. Seu twitter já passa dos 350 mil seguidores. E esse sucesso é inegavelmente fruto do talento pessoal de Serra. O de Dilma está em 160 mil. Mas o twitter de Serra permanece com a cara gráfica fornecida pelo provedor. Não foi agregada sequer a marca do candidato ou qualquer outro elemento de campanha.

Falando nisso, Serra tem ainda aquele slogan "O Brasil Pode Mais" ou mudaram de idéia e fizeram algo novo? Pois seria bom colocar na cabeça da página da internet, não?

Situo minhas críticas no material de internet porque este é o ponto mais prático, onde se pode construir uma boa pré-campanha para reforçar o que vem agora na televisão, mas dá para se ver também nas ruas que a comunicação de Serra é bem fraca. Faltam coisas simples, como bandeiras, bottons, faixas e demais materiais visuais para acompanhar o candidato em campanha. Nas fotos disponibilizadas no site, o candidato aparece nas ruas sem nenhum material visual que reforce sua presença. O resultado nas caminhadas e eventos nunca é bom. Nas fotos, dá a impressão de pouca animação.

Certos políticos gostam daquele conversa que eleição se decide no horário eleitoral. Nunca foi assim e agora é muito menos, pois a internet tem um grande peso não só na própria influência do meio como também para criar um forte clima de pré-campanha. E, neste aspecto, mesmo com uma deficiência criativa que chega a ser risível, a campanha da Dilma está na frente. É um caso triste. O PT ganha na internet pelo simples fato da campanha de Serra ter feito bem pouco. E, como já disse, nesta área muitas coisas já estão perdidas para os tucanos.

Mas com o horário eleitoral começando já na terça-feira, ainda dá pra resolver a fragilidade da comunicação na internet? Os tucanos terão que correr, mas certas questões neste meio são de longo prazo. Mas o fato é que para ganhar eleição tem que botar a campanha na rua e isso não tem só a ver com novas tecnologias. É coisa bem antiga. É do tempo do Onça, que morreu sem sequer imaginar que um dia inventariam a internet.
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POR José Pires


quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Haja pé-de-coelho para o Paulo Coelho escapar dessa olhada

Paulo Coelho posa de grande conhecedor de assuntos místicos, mas o que ele andou fazendo nesta semana revela que, na verdade, ele não entende de assuntos fora do âmbito da lógica que podem influenciar, para bem ou para o mal, nossas vidas. Coelho cometeu a insensatez de postar no twitter na última segunda-feira esta foto do presidente Lula com seu último livro na mão.

O olhar atento de Lula com os óculos na ponta do nariz é só pose. É óbvio que ele não é de encarar nem as páginas simplórias de um Paulo Coelho. Não deve acabar nem a orelha do livro.

Já falei aqui no blog sobre este absurdo do uso do título "O Aleph", que é o nome de uma das histórias mais conhecidas do escritor argentino Jorge Luis Borges e de um livro seu lançado em 1948 na Argentina. Mas não é sobre mais esta fajutice do Paulo Coelho que pretendo falar.

O que achei assombroso é o desconhecimento dele sobre a forma com que a energia de Lula se liga aos que o cercam. Sempre acaba em desastre. No esporte, seus maus fluídos já lhe deram fama internacional como pé-frio. A lista de profissionais de várias áreas esportivas prejudicados pelo seca-pimenteira é longa. Já publiquei a lista, mas a muvuca é tanta que tem sempre alguém me alertando sobre a ausência na lista de um ou outro desastre provocado pelo azarento.

Assim como seu "O Aleph", Paulo Coelho mostra que é um bruxo fajuto e pode pagar caro pelo imprevidente toque que deu no twitter dessa cena inusitada do Lula com um livro na mão. É uma imagem que pede o bordão "nunca na história deste país". Pois é, não me lembro de, na história deste país, ter visto o Lula com um livro na mão. E para azar do Coelho, foi logo o dele.

Vejam o olhar do Lula. É o mesmo lançado sobre a taça de campeão que a delegação do Flamengo levou até Brasília para ele pegar nas mãos. Depois, aconteceu com o Flamengo o que a torcida inteira do Corinthians já sabe e que sabem também as torcidas do Fluminense, Coritiba... e de tantos outros times, inclusive os torcedores da Seleção Brasileira, que voltou bem cedo para o Brasil porque antes de seguir para a África do Sul para disputar a Copa do Mundo deu uma passadinha para pegar umas energias com o Lula em Brasília.

Mas esperemos para ver no que dá o seca-pimenteira ter pegado "O Aleph" brasileiro para sair numa foto bisoiando a orelha do livro. Da minha parte, torço para que Maria Kodama, a viúva de Borges, sempre tão ciosa da obra do finado marido, lasque um processo em cima do Coelho por causa dessa fajutice de pegar um título consagrado da literatura universal para usar dessa forma abusada.
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POR José Pires

Jaime Lerner distribui atestado de "não lernista"

Nesta eleição chocha surgiu no Paraná algo interessante, que pelo menos sai desse clima em que todos os candidatos interpretam papéis com pouca sinceridade política e, em muitos casos, nenhuma mesmo. Jaime Lerner, ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, está passando atestados de não-lernista aos políticos paranaenses.

O que acontece é que na atual eleição nenhum candidato ao governo paranaense que ser identificado como lernista. Tanto o tucano Beto Richa quanto o pedetista Osmar Dias sentem-se difamados quando alguém diz que algum deles tem ligação histórica com Jaime Lerner.

Então Lerner resolveu emitir um atestado liberando diretamente Richa e Dias desse desconforto. Publico aqui o documento emitido por ele.

Lerner é um arquiteto reconhecido internacionalmente, especialmente pelo seu fabuloso talento de urbanista demonstrado na prática em Curitiba, onde implantou como prefeito vários projetos pioneiros que fizeram a fama da cidade, entre eles os calçadões reservados apenas para pedestres, uma novidade inventada por ele na década de 70, e um sistema de transporte público muito funcional, com linhas exclusivas para ônibus, além de terminais e pontos muito bem bolados tanto na forma prática quanto do ponto de vista estético.

O problema da má fama do lernismo apareceu quando Lerner se elegeu governador. Ele está certo quando diz no atestado que o que fez em Curitiba pode render votos até hoje, mas sua atuação como governador deixou bastante a desejar.

A industrialização, que ele cita como um benefício para o Paraná, foi até surpreendente vinda de um urbanista de talento como ele, pois privilegiou montadoras de automóveis e concentrou problemas graves em torno de Curitiba. Em relação ao que sua política de industrialização fez com a capital do estado, pode-se dizer que Lerner sufocou a própria cria.

Os incentivos fiscais para varias empresas, entre elas montadoras estrangeiras como a Renault, também foram muito suspeitos e até hoje não estão bem explicados. No governo do estado, Lerner também tentou privatizar duas estatais muito importantes, a companhia de energia Copel e a Sanepar, empresa de saneamento. Esta segunda teve a maioria das ações vendidas para uma empresa francesa, que acabou sendo revertida pelo governo Requião. Mas a questão permanece em litígio.

Lerner também se encrencou com todo o interior do estado quando privatizou estradas, com praças de pedágios que dificultam o intercâmbio comercial e cultural entre cidades próximas. E no Paraná as concessionárias fizeram pouquíssimas melhorias nas estradas.

No âmbito da ética, Lerner foi um desastre. Aliou-se ao que tinha de pior no Paraná. O grupo lernista foi determinante na eleição do prefeito Antonio Belinati, em Londrina, que recebeu todo apoio de Lerner, até ser cassado por corrupção pela Câmara do município. A mulher de Belinati foi vice de Lerner nos dois mandatos de governador.

Apesar da consagração como arquiteto e urbanista, na política Lerner fez muita coisa feia, daí a rejeição dos candidatos. É provável que com o que criou na capital do estado ele ainda renda votos, mas o problema é que o conjunto da obra acaba atrapalhando. Para se ter uma idéia, a última notícia nacional envolvendo uma figura muito próxima a Lerner, foi com o deputado Cassio Taniguchi, que foi prefeito de Curitiba com seu apoio. Taniguchi foi um dos mais poderosos membros do grupo lernista e acabou virando noticia em todo o país recentemente como secretário também muito forte do governador cassado de Brasília, José Roberto Arruda.

São as conseqüências da falta de cuidado na condução da vida política. De qualquer forma, Lerner mostrou criatividade e bom humor na interferência feita nesta eleição. Veja abaixo.
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POR José Pires



Atestado

Sempre que chega o período eleitoral, a ordem entre os candidatos é de se descolar de qualquer político ou coisa que seja polêmica ou que tenha reações contrárias sem levar em conta todas as coisas positivas as quais esses políticos também se associaram. Beto Richa, não precisa jurar que não é lernista; Osmar Dias, também não.

Vou facilitar a vida de vocês e de seus marqueteiros. Estou emitindo atestados de “não lernistas”. Podem apanhá-los na chapelaria.

Digo chapelaria porque certamente o chapéu de Curitiba fornecerá muitos votos. Herdou-se uma cidade que é referência no mundo todo, apesar de todas as suas carências e mazelas.

E ao Estado que se candidatam também creio ter dado alguma contribuição, como a onda de industrialização que multiplicou empregos e arrecadação.

Espero que o atestado de “não lernista” possa contribuir para que os ilustres candidatos aproveitem melhor a campanha, com mais propostas e menos sofismas.

E que tenham a coerência de pedir aos lernistas que não votem neles.

Jaime Lerner

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Lendo o futuro

Pode-se criticar Marcos Coimbra, dono do Instituto Vox Populi, pela parcialidade de suas opiniões, mas seus escritos na imprensa pelo menos revelam uma certa franqueza sobre o que parece ser o que virá por aí nas próximas pesquisas. É claro que uma pesquisa deve se pautar exclusivamente pela realidade e que esse negócio de discutir o futuro sem apresentar dados muito claros é coisa de vidente, mas Coimbra não parece preocupado em ser técnico e muito menos científico. Imparcial, então, nem pensar.

Já falei aqui da origem do Vox Populi, um instituto de pesquisas que era só uma portinha em Belo Horizonte e que cresceu com a associação que Coimbra fez com Fernando Collor na construção de sua vitoriosa candidatura a presidente da República. Collor nem existia fora de Alagoas e, de repente, começou a apontar na imprensa nacional em pesquisas. Adivinhem de qual instituto. Posteriormente, o próprio Collor se incumbiu de demolir com suas ações a farsa que encarnava. Saiu corrido do poder.

Mas o Instituto Vox Populi manteve-se na ativa e está aí até hoje influenciando a política brasileira. E nesta eleição presidencial, seu presidente, Marcos Coimbra tornou-se produtivo articulista. Tem até coluna na Carta Capital, antes uma boa revista brasileira, mas hoje uma publicação com uma vistosa chapa-branca aplicada da capa à última página, em edições entremeadas com anúncios do governo Lula e de estatais brasileiras.

É uma queda triste, que dá um fecho também infeliz na carreira de Mino Carta, antes uma pessoa de respeitável senso crítico, e que foi jornalista combativo no período da didatura militar.

Não sou dos que se alegram com uma situação dessas. Penso que o Mino Carta pré-governo Lula era melhor para a história brasileira e representava até um estímulo ético para os novos jornalistas que ingressavam na profissão. Mas o próprio editor de Carta Capital já explicou com clareza essa adesão aos desígnios ditados pela publicidade governista. Foi em seu antigo blog, onde afirmou que isso é que "resguarda CartaCapital do definitivo, irremediável fracasso".

Mas voltemos ao dono do Instituto Vox Populi. Gosto do que ele escreve. De certa forma, em seus textos podemos ler o futuro. No artigo que publica hoje no jornal Correio Braziliense e que depois foi habilidosamente espalhado pela internet, Coimbra aposta em vitória da candidata do Lula já no primeiro turno. Não apresenta ainda nenhuma pesquisa para corroborar a opinião que apresenta com uma certeza de fazer corar qualquer jornalista sério.

Está certo, Coimbra não é jornalista, mas o presidente de um instituto de pesquisas que apresenta regularmente pesquisas sobre esta eleição presidencial não deveria ser imparcial? Deveria sim. Num país sério ele nem deveria opinar sobre assuntos avaliados por seu instituto.

O artigo de Coimbra poderia muito bem ser distribuído como um release da campanha de Dilma ou até como um panfleto de propaganda da candidata petista, mas é apresentado como opinião abalizada de um sociólogo e profissional da área de pesquisas.

A idéia central do texto é muito evidente: apontar vitória de Dilma no primeiro turno. Ele diz que "as perspectivas de crescimento de Serra são reduzidas", sem explicar de onde tirou esta conclusão, e que Dilma pode ganhar no primeiro turno. Neste caso, Coimbra afirma que a vitória é considerada possível por "quem entende de eleição". Mas também não nomina nenhuma dessas sumidades que apostam em uma vitória no primeiro turno da criação de Lula, quando o próprio criador jamais ganhou eleição alguma no primeiro turno. O que ele teve foram duas derrotas no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso, o que o enerva demais até hoje.

Falando nisso, na última eleição, Lula ficou muito nervoso de ter que enfrentar duas vezes Geraldo Alckmin,  um candidato fraquíssimo e que mesmo assim levou a disputa para o segundo turno. Quando soube que não vencera no primeiro turno, dizem que, de tanta raiva, Lula até quebrou um copo. Deve tê-lo esvaziado antes, é claro.

Mas tudo indica que as pesquisas devem apontar novos rumos nesta eleição. Nem vou propor uma aposta, pois meus leitores não são bestas de entrar num jogo com tão poucas chances. Porém, não vou me espantar se logo mais o Vox Populi soltar uma pesquisa apontando vitória de Dilma no primeiro turno.
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POR José Pires

terça-feira, 10 de agosto de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A mulher de Lula fala: Aceitamos cartão de crédito

O Comitê de Campanha da Dilma Rousseff me mandou há pouco um e-mail pedindo colaboração financeira. Avisam que ja estão abertos para doações, que podem ser feitas pelo cartão de crédito. Cartão corporativo evidentemente eles não aceitam, ó gente malvada.

Para garota-propaganda pegaram a mulher do presidente Lula. No vídeo, dona Marisa diz que é muito simples fazer a doação: "É fácil, muito fácil. É só digitar o número e tal, põe o seu CPF, o seu nome e pronto, já tá certo a doação pra Dilma", ela diz de forma bem coloquial. E com esta declaração sucinta ela deve ter chegado bem próximo da marca de cinco minutos de falas em quase oito anos de vida pública, desde que o marido assumiu a presidência da República. É também sua frase mais relevante em tantos anos, talvez a única que deva ser levada em conta. Sem trocadilho.

A primeira-dama poderia com certeza doar bastante dinheiro para o partido do marido, afinal os Silva são hoje uma família muito rica. Isso sem contar Lulinha, o filho-prodígio que ficou milionário ainda bem jovem e apenas numa tacada. Mas a doação da primeira-dama foi de apenas R$ 1.113,00 reais, uma quantia de marqueteiro, por certo.

Quem comparece sempre aqui ao blog, sabe que gosto dessas simbologias que os petistas nos apresentam com certa regularidade. Gostei dessa também, não a do número do partido inserido na doação (que sacada original, hein?), mas do uso da mulher do Lula como garota-propaganda de anúncio de doação para campanha eleitoral. Nessa o marqueteiro caprichou: é muito significativo.

No vídeo se apresenta também o tesoureiro do PT, José de Filippi, pedindo para o eleitor comparecer com algum para a campanha petista. Em cena, Fillippi não pensa duas vezes antes de dar um abraço na mulher do presidente da República. Vejam a imagem acima. Não fiz nenhum retoque ou qualquer outra interferência na cena. É uma reprodução exata da inacreditável expressão facial de Fillippi, que vocês podem ver aqui.

Sei lá, talvez eu seja um cara à antiga ou pode ser minha natural relutância a esta desfaçatez que eles costumam justificar como uma falta de medo de ser feliz, mas eu preferia viver em um país em que houvesse um pouco mais de respeito com a mulher do presidente da República. Esse negócio de marmanjo meter o bração em volta dos ombros de uma mulher é coisa que não fica bem com mulher alguma. Mulher casada, muito menos.

Filippi safou-se recentemente da Lei da Ficha Limpa. Ele havia sido condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em maio, a devolver R$ 2,1 milhões para os cofres da prefeitura de Diadema, cidade onde foi prefeito. A condenação foi por causa da contratação sem licitação do escritório de advocacia do líder petista Luiz Eduardo Greenhalgh, contratado pela prefeitura de Diadema entre 1983 e 1996. Greenhalgh defendeu apenas duas causas e ganhou cerca de R$ 2,1 milhões para isso.

No início deste mês. Filippi, que é candidato a deputado federal, foi salvo pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), que suspendeu a condenação por improbidade administrativa.

Numa campanha como esta também seria natural que sentíssemos a falta do Delúbio Soares, o tesoureiro que tornou-se um símbolo histórico do PT. Como imagem da capacidade de arrecadação do partido, Delúbio é insubstituível. Mas pela expressão de Filippi, que agora ocupa a cobiçada cadeira que Delúbio teve que abandonar para sentar-se na cadeira de réu do STF, dá para ver que ele já pegou o espírito da coisa.
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POR José Pires

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O que pode vir de Minas

Nesta eleição, Minas Gerais pode fazer lembrar dois nomes fortes que o estado legou à história brasileira: Tiradentes e Joaquim Silvério dos Reis. Tiradentes, como todos sabem, acabou enforcado, mas é uma luz significativa na memória dos brasileiros. Já Joaquim Silvério dos Reis, cuja imagem se vê ao lado, se deu bem economicamente com sua traição, mas ficou para sempre com seu nome ligado ao que de pior se pode pensar de alguém. Virou excrescência histórica e como sinônimo de traição só fica abaixo de Judas. No meu tempo de escola, ser chamado de Joaquim Silvério dos Reis dava briga feia na hora do recreio.

Talvez haja quem ache demais trazer a lembrança do Tiradentes numa eleição presidencial numa época de relativa democracia, mas isso se a pessoa acreditar que esta é uma eleição como qualquer outra, o que não é o meu caso. Este ano o Brasil pode ser ver livre do lulo-petismo, o que não é pouco. E a vitória do lulo-petismo também não pode ser subestimada em seu potencial de autoritarismo e controle do Estado, que já vem sendo estabelecido de forma vergonhosa e bastante perigosa nesses quase oito anos do governo Lula.

Não dá para achar que o clima de desesperada luta pelo manutenção do poder que se vê na campanha do PT possa vir de algum sentimento de respeito à democracia e submissão à prática da alternância no poder.

Se tivessem respeito pela democracia, não fariam uso da máquina pública e de sindicatos, da forma escandalosa como vem ocorrendo. Também não haveria toda essa manipulação do processo eleitoral, como a campanha ilegal que Lula vem fazendo há pelo menos dois anos, além da derrubada de candidaturas, como a de Ciro Gomes no plano federal e a de vários outros candidatos nos estados. Tudo isso revela uma disposição que nada tem a ver com o respeito à democracia. São métodos que já revelam bastante o que pode vir pela frente com uma vitória de Dilma com jeito de terceiro mandato.

Não, esta não é uma eleição como qualquer outra, daí a necessidade que nossos políticos sejam mais Tiradentes e bem menos, muito menos mesmo, Joaquim Silvério dos Reis. A escolha é das mais fáceis, afinal é difícil acreditar que alguém queira se emparelhar simbolicamente com o dedo-duro que entregou Tiradentes, mas ainda tem político que parece relutar entre os dois.

Hoje a Folha de S. Paulo conta que surgiu mais uma movimentação ardilosa para dividir o voto dos tucanos em Minas Gerais, o voto “Helécio”, cuja idéia é juntar o voto no ex-governador tucano Aécio Neves para o Senado com o voto em Hélio Costa, do PMDB, para o governo mineiro. Com isso, o candidato Antonio Anastasia perderia votos na dobradinha com Aécio, que o apóia.

Este “Helécio” é uma das várias composições montadas com o nome de Aécio Neves em Minas, onde até Dilma Roussef foi tirar uma casquinha falando do voto “Dilmasia”.

Esta não é a primeira eleição em que Aécio Neves se destaca pela ambigüidade, mas pode ser a última em que ele colhe disso algum benefício. Desde 2002 ele vinha ganhando com o chamado voto Lulécio, pouco se importando com o crescimento nacional do seu partido e até esfaqueando pelas costas antigos companheiros. Nesse ano em que ele saiu como candidato ao governo de Minas, José Serra disputava a presidência com ótimos números nas pesquisas.

O voto Lulécio rendeu para Aécio a eleição no primeiro turno, com 57,68%. Já Serra teve em Minas Gerais Serra 22,86% dos votos contra 53,01% de Lula.

Em 2006, o voto Lulécio continuou rendendo. Candidato à reeleição, Aécio ganhou também no primeiro turno, desta vez com uma vantagem bem maior: 77,03%. A vítima foi Geraldo Alckmin. A votação em Minas do candidato tucano à presidência alcançou 41,60% contra 50,80 de Lula. Foi no segundo turno que a estratégia do voto Lulécio mostrou-se desastrosa para o candidato tucano à presidência: ele teve menos votos que no primeiro turno, com 34,81%. Já Lula subiu para 65,19%. Do primeiro para o segundo turno, Alckmin perdeu meio milhão de votos.

Agora em 2010 não tem Lulécio, porém, entre outros tipos de votação estimulados pela ambigüidade de Aécio Neves surge agora o “Helécio”. É o que parece um sinal vermelho, depois de um sinal amarelo emitido nas eleições de 2008 para a prefeitura de Belo Horizonte.

Naquele ano um Aécio confiante em sua popularidade teve a supresa de ver seu candidato a prefeito, Marcio Lacerda, ir para o segundo turno em disputa apertada (43% a 41%) com o azarão Leonardo Quintão, do PMDB.

Aécio, que já dava como certa a vitória de seu candidato no primeiro turno, teve que apelar até para uma aliança com o PT para derrotar Quintão no segundo turno.

Esta eleição para o governo estadual parece trazer para ele algo parecido. Com a diferença que desta vez o PT está com Hélio Costa. E o "Helécio" que inventaram agora no estado é estratégia que veio só para extrair o que for possível de votos para Hélio Costa, colando o candidato do PMDB ao prestígio da sua candidatura ao Senado.

A balançada do “Helécio” fez o ex-governador mineiro lançar até nota oficial, onde diz o seguinte: “Desautorizo veementemente qualquer tentativa de vincular o meu nome a qualquer candidatura que não seja a do governador Antonio Anastasia”.

Parece que o alarme soou bem alto. Se é que a idéia do "Helécio" vem mesmo da campanha do PMDB e do PT. Em Aécio a dubiedade é tanta que faz até duvidar das origens de uma artimanha como esta.

Mas o certo é que com o sucesso de uma movimentação como esta Aécio Neves pode até ir para o Senado, mas não faz o sucessor em Minas, o que não é nada bom para o seu futuro político. Mas a coisa pode até piorar se, além dele perder o poder em Minas Gerais, Serra também não se eleger para presidente.

E dificilmente uma vitória de Hélio Costa em Minas Gerais ocorreria em conjunto com a eleição de Serra. Parece claro que o fortalecimento de Costa no segundo maior colégio eleitoral do país pode ser determinante para a vitória de Dilma. Daí o esforço de Lula e a direção nacional do PT para apoiar Costa, inclusive derrubando a candidatura própria do partido no estado e fazendo muita pressão para o ex-ministro Patrus Ananias ser o vice na chapa.

Será que alguém com os anos de chão de Aécio pode achar que no final todo esse esforço é para ajeitar o futuro dele? Com Hélio Costa governando Minas Gerais, Alckmin como governador de São Paulo e o PT novamente elegendo um presidente da República é provável que Aécio Neves tenha que ordenar que seus assessores façam uma boa decoração em seu gabinete no Senado. E que a sala seja bem confortável, pois é lá ele deve passar os próximos oito anos, sem chance para sonhos mais altos. E como justa homenagem, o tucano pode também pendurar na entrada do gabinete o retrato de Joaquim Silvério dos Reis.
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POR José Pires

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Depois de recusar o apelo de Lula, Ahmadinejad escapou de boa

Escrevendo ontem sobre o chega-pra-lá que o Irã deu no presidente Lula, que, segundo o porta-voz oficial, não sabia do que estava falando quando se meteu no caso da iraniana condenada à morte por apedrejamento, comentei que ali os embates não são resolvidos por meio de divisão de cargos. Eles não têm por lá os PPs, PTs e PMDBs que, no final, se arranjam com empregos, privilégios e até encaixam um vice numa chapa ou noutra. Disputas políticas no Irã podem acabar até em morte.

Pois hoje noticia-se que tentaram matar o presidente Mahmoud Ahmadinejad, no que pode ser visto pelo mundo como a piada da notícia boa e a notícia ruim. Ahmadinejad escapou do atentado.

Sobre a resposta com um tom ofensivo dada à proposta feita por Lula do Brasil receber como asilada a iraniana, não se disse mais nada. Lula fez que não era com ele, tentou se concentrar na parte em que o porta-voz diz que ele tem "personalidade emotiva". Bem, aí Lula está exercendo aquilo no que ele e seus companheiros adquiriram muita prática: fazer-se de songamonga.

A resposta curta e grossa do Irã bateu na mesma hora em mesas importantes em todo o mundo. E a situação é bem clara. Lula foi tratado como alguém que não sabe o que diz. Nem era preciso um insulto desses para que ficasse claro que micou o papel de grande líder internacional que Lula queria interpretar, mas de certa forma a resposta do governo iraniano oficializou a derrocada.

Acostumado com a falta de consequência do seu hábito de não levar as coisas a sério no Brasil, com frequência Lula avança em considerações e até piadas em relação a outros países. Pode-se dizer até que é um hábito petista, pois quando era ministro da Justiça, Tarso Genro não resolveu fazer a crítica do funcionamento do Estado italiano? Hoje o candidato a Norberto Bobbio brasileiro é candidato ao governo do Rio Grande do Sul.

Parece coisa de maluco, mas o Lula não é lelé. Parece mal assessorado, daí a desinformação. A iraniana Mina Ahadi, porta voz do Comitê Internacional contra a Execução e do Comitê Internacional contra o Apedrejamento, escreveu esta semana uma carta aberta ao governo brasileiro.

É um texto curto, mas com o destaque de apenas um trecho é possível ajudar o Lula compreender o cuidado que é preciso para se meter com uma cultura política que tem o apedrejamento até a morte como pena para o adultério.

O trecho é este:

"Hoje, dia 2 de agosto, nove prisioneiros foram sentenciados à morte em Kerman. Em Teerã, seis prisioneiros políticos foram sentenciados à morte, entre eles Jafar Kazemi, que pode ser executado a qualquer momento. Zeynab Jalalian, um outro prisioneiro político, também corre o risco de ser morto em breve. Há mais pessoas na lista de execução: Mohammad Reza Haddadi foi setenciado à morte enquanto era menor; acaba de completar 18 anos e pode ser executado a qualquer momento. Há mais de 130 menores na prisão, com penas semelhantes. O regime islâmico é o único do mundo que executa menores."

Por estas informações da militante dos direitos humanos, é possível perceber o que seria desencadeado no Irã se Ahmadinejad atendesse ao apelo de Lula. E digo Ahmadinejad porque foi a ele que Lula se dirigiu, de cima do palanque de Dilma em Curitiba. Ou Lula se faz de besta ou não sabe que não é o Ahmadinejad que decide as coisas naquela teocracia militarista.

Ou talvez fosse melhor alguém chegar no presidente e colocar o problema da forma que ele gosta, no coloquial. Primeiro ele tem que ver um vídeo de execuções no Irã do "amigo querido". É fácil achar na internet. Estraga a tarde, mas um estadista, mesmo um emotivo, é obrigado a ver certo tipo de coisas. Depois o assessor pode mandar o lero:

— Seguinte, companheiro presidente, o governo do Ahmadinejad precisa matar a moça e se não for ela agora, serão outras. Se não fazem isso perdem uma importante ferramenta de pressão, entende? É mais ou menos como era o nosso AI-5 aqui, saca? Um apedrejamento até a morte em público é bem mais radical e espetacular, afinal lá não é uma ditabranda, mas o objetivo é parecido. É preciso que as pessoas tenham medo de alguma coisa, senão é capaz do Irã cair numa democracia.

Bem, depois não vão dizer que só critico: taí minha colaboração. A confusão da diplomacia petista mistura muito as coisas. Metem-se onde não são chamados e criam confusas relações. Uma divisão séria entre os iranianos, que atinge até a alta cúpula da teocracia instalada no poder pelas armas, é tratada como "briga de torcidas" e o linha-dura Ahmadinejad vira "querido amigo".

Talvez o atentado contra o Ahmadinejad abra os olhos deles para a necessidade de uma revisão na diplomacia do olho no olho. E se pegam o "amigo querido" e o Irã entra num conflito interno com a violência que sabemos ser possível no Oriente Médio? Bem, uma relação estreita dessas, olho no olho, exigiria uma ajuda imediata do Brasil.

Tem também um outro problema, bem pior. Não são poucos os analistas internacionais que acreditam que a crise nuclear criada pelo Irã vai acabar em um ataque militar dos Estados Unidos.

É claro que num caso como este, talvez nem um petista torça pelo quanto pior melhor. Mas a possibilidade de que isso ocorra não é pequena. E se os Estados Unidos atacam, como fica a relação do Brasil com o "amigo querido" do Lula? É bom dar uma conferida se as nossas tropas estão preparadas.
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POR José Pires