quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Transição de Dilma pra Dilma
Os brasileiros já estão acostumados a rir com este governo da piada pronta que o PT vem tocando há 12 anos, mas os companheiros estão exagerando. A presidente Dilma Rousseff montou uma equipe de transição. Pois é, mesmo tendo sido reeleita, ela está com uma equipe para fazer a passagem para o segundo governo. Mas esse mandato que finda é de quem, afinal?
Dá a impressão de que neste governo as coisas estão ficando mais doidas do que sempre foram. Então Dilma precisa de uma equipe para saber o que afinal foi feito no governo que ela mesmo comandou? Desse jeito, é capaz dela fazer dois discursos na cerimônia de posse, em janeiro: um elogiando a presidente que sai e outro dando as boas vindas a presidente que entra.
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POR José Piressegunda-feira, 24 de novembro de 2014
Os tiros que criaram um mito
O
jornal espanhol El Mundo trouxe neste domingo uma excelente reportagem sobre a
morte do guerrilheiro Che Guevara, em outubro de 1967. Guevara foi morto na
Bolívia, depois de capturado pelo exército boliviano. O jornal localizou afinal
o homem que matou o guerrilheiro. Ele é Mario Terán, cujo nome já era
conhecido, mas que nunca havia dado as caras depois dos tiros que deram início
a uma lenda. A reportagem assinada pelos jornalistas Ildefonso Olmedo e Juan
José Toro dá aquela satisfação que infelizmente ficou no passado, de um
jornalismo instigante, criativo, que resgata qualidades abandonadas nesses
tempos em que é sempre muito raro encontrar algo que presta na imprensa.
A
partir do encontro com o executor de Guevara, hoje com 72 anos e vivendo numa
casinha muito simples em Santa Cruz de la Sierra, os jornalistas fazem um
relato em que concentram fatos importantes em torno da morte do guerrilheiro
que saíra de Cuba para fazer uma revolução na Bolívia. Eles não arrancam de
Mario Terán a confirmação de que é ele o militar que deu os tiros fatais. Mas
ficou até melhor assim. Eles envolvem o homem em fatos, contando sua trajetória
pessoal desde a execução que deu a um simples sargento boliviano uma dimensão
histórica. É um texto inspiradíssimo. E afinal o homem que ficou desaparecido
durante décadas acaba fazendo sua confissão numa situação aparentemente banal.
Os
repórteres levaram a única foto conhecida do sargento que matou Guevara. É uma
imagem da época em que ele deus os tiros. No meio da conversa eles mostram a
foto para Terán e perguntam se aquela pessoa é ele. E então ele confirma. É uma
foto feita por Michèle Ray, jornalista do Paris Match. Na época da morte de
Guevara a imagem correu o mundo, mas pelo jeito nunca havia chegado na casinha
de Terán.
O
capitão Gary Prado, que ficou famoso como o homem que prendeu o Che, foi quem
aconselhou há muitos anos Terán a desaparecer, para evitar uma vingança. E em
volta da morte do guerrilheiro existe um monte de histórias que são vistas como
prova do azar que vitimou vários dos envolvidos. O próprio Prado, que hoje é
general reformado e vive também em Santa Cruz de la Sierra, acabou numa cadeira
de rodas depois de ter sido atingido na coluna vertebral por uma bala perdida,
em 1981. Algumas pessoas foram mortas em ações de vingança, outras sofreram
estranhos acidentes. O presidente Barrientos, que deu a ordem de execução,
morreu quando caiu o helicóptero em que viajava. É claro que persiste até hoje
a suspeita de ter sido um atentado. Honorato Rojas, o camponês que levou os
militares até os guerrilheiros e por isso ganhou uma fazenda, acabou sendo
morto com vários tiros na cabeça depois de ter sua propriedade invadida anos
depois. O superior imediato do próprio Terán morreu decapitado em um grave
acidente de trânsito. Roberto Quintanilla, militar boliviano que havia
inclusive proposto que cortassem a cabeça do guerilheiro, foi morto a tiros por
uma mulher quando era cônsul da Bolívia em Hamburgo. No bolso do cadáver ela
deixou um bilhete: “Victoria o muerte!”.
Enfim,
não faltavam motivos para Terán esconder-se durante tanto tempo, mesmo não
tendo sido tanta a sua importância nos combates e captura de Guevara. Ele nem
seria mencionado hoje em dia se não tivesse dado os tiros fatais. A ordem da
execução veio de cima, da capital La Paz, em nome do presidente René
Barrientos. A decretação da morte do guerrilheiro chegou em código; “Saluden a
papá”.
A
aventura de Guevara, na Bolívia, foi sua derradeira ação equivocada. O mito
criado depois de sua morte ajudou a encobrir os tremendos erros do
guerrilheiro, que do ponto de vista militar cometeu tantos absurdos que só por
desconhecimento ou má-fé alguém pode admirá-lo como guerreiro. Tirando Cuba,
ele e Fidel Castro não acertaram uma. Um plano exemplar dos dois é Che Guevara
chegando em 1965 ao Congo para comandar uma revolução, porém sem sequer saber
nenhum idioma local. A desastrada luta armada no Brasil também veio de Cuba,
onde grupos foram treinados e receberam instrução ideológica. E quanto à
Bolívia, uma história escrita pelo grande escritor cubano Guillermo Cabrera
Infante sintetiza bem o tamanho do erro. Em 1967, quando soube qual era a
localização geográfica em que Guevara fora surpreendido, o escritor Mário
Vargas Llosa, que havia morado muitos anos na Bolívia, disse o seguinte: “Não
há alternativa, ou ele se deixa capturar ou morre. Está sem saída. O que ele
fez foi suicídio”.
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POR José Pires
sábado, 22 de novembro de 2014
Maracutaia pelo e-mail
O
poeta Vinícius de Morais tem aquele poema muito conhecido do "Porque hoje
é sábado". Ele vai falando de acontecimentos da vida e concluindo o tempo
todo com esta frase, que ficou famosa. Pois tem petista irritado e suando frio,
porque hoje é sábado. É o dia em que sai nas bancas a revista Veja. A notícia de capa, que já está rodando pela internet, fez o dia ficar bastante azedo em Brasília. E que
bom pro Brasil que hoje é sábado. Afinal apareceu uma prova importante de que
Lula e a presidente Dilma Rousseff sabiam da
roubalheira na Petrobras.
A
revista revela um e-mail de Paulo Roberto da Costa, ex-diretor da empresa que
fez acordo de delação premiada. Veja na imagem um fac-símile. Na mensagem,
Costa informa Dilma sobre irregularidades encontradas pelo TCU em obras que
hoje sabe-se que estavam sendo usadas pelo esquema do petrolão para exigir
propinas das empreiteiras. Na mesma mensagem, ele sugere uma solução política
para evitar uma ação rigorosa do TCU. O e-mail é de setembro de 2009, o que
mostra que Dilma esteve informada há bastante e com condições de dar um basta
no esquema, evitando o imenso prejuízo para os cofres públicos. É óbvio que
nada foi feito. E o pior é que na mensagem do ex-diretor fica muito claro que
estavam procurando um jeito do negócio não parar. Na verdade, o problema parece
ser o TCU e não a corrupção.
Todo
mundo sabe que é impossível que essa roubalheira na Petrobras tenha ocorrido
sem que nenhuma autoridade do governo do PT soubesse de alguma coisa. Até agora
tem peixes pequenos demais lidando com quantias de dinheiro que exigem chefias
mais poderosas no governo para que fossem liberadas pelas empreiteiras. A
presidência da Petrobras e ministros servem para que, afinal? É ainda mais
difícil que o ex-presidente Lula e a presidente Dilma Rousseff pudessem ter
ficado alheios ao que ocorria sob seus narizes. A corrupção vem desde o governo
Lula, com Dilma em dois cargos muito importantes ao lado de Lula, um deles com
responsabilidade direta sobre a Petrobras. Ela foi ministra da Energia no
primeiro mandato de Lula e no segundo foi nomeada chefe da Casa Civil.
E
cabe lembrar que é até motivo de propaganda eleitoral o perfil de uma Dilma
rigorosa, a gerentona que está atenta a tudo. Se Lula e Dilma não sabiam de
nada é o caso de perguntar qual era o assunto de trabalho tão importante entre
os dois que desviou a atenção deles do que acontecia na empresa estatal mais
importante do Brasil. A lorota nunca colou. Nunca deu pra acreditar que seria
possível um dirigente público ser tão distraído que não percebesse um esquema
de corrupção que resultou num rombo que, por enquanto, está avaliado em até R$
21 bilhões. E agora é que não dá mesmo para cair nessa: tinha até e-mail
falando da maracutaia.
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POR José Pires
terça-feira, 18 de novembro de 2014
O mais do mesmo, de onde só se espera isso mesmo
De onde a gente menos espera é que não sai nada mesmo. Esta famosa "Lei de Murphy" serve muito bem para a avaliação das atitudes de todo petista graúdo, uma espécie que costuma às vezes dar a impressão de que de repente vai assumir um papel mais digno na política, mas a esperança dura pouco: logo tudo volta ao que era. É aquela velha história da posição "irrevogável" que de um dia para o outro é revogada pelo companheiro que parecia que estava para tomar vergonha na cara, como se viu com o Aloizio Mercadante.
Tem também aquele acesso de honradez que um dia aconteceu com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Em 2010, no final de seu mandato como deputado federal, ele anunciou que abandonaria a política. Disse então que estava desgostoso com as “práticas não republicanas” da política. Mas quebrou a cara quem acreditou nele, por não conhecê-lo direito. Cardozo não só ficou na política como envolveu-se ainda mais nas estruturas do poder. Foi coordenador da campanha de Dilma Rousseff à presidência da República – quando era chamado por ela de um de seus “três porquinhos” – e depois assumiu a pasta da Justiça. E está aí até hoje, com o estômago tinindo, agora sem nojo algum da política.
Outra situação parecida foi a de Tarso Genro, que logo quando estourou o escândalo do mensalão, em 2005, saiu dando entrevista falando da necessidade de uma reforma política interna no PT. Ele chamava isso de “refundação” do partido. Na época ele disse que o partido ia punir cada um dos envolvidos em corrupção. Mas, como se sabe, Genro não refundou nada e os mensaleiros foram tratados como heróis na porta da cadeia. Logo depois ele pegou o ministério da Justiça e foi leniente também com o crime comum, permitindo a explosão de violência que resultou no alto nível de violência e crimes que o Brasil sofre hoje em dia. O “refundador” estava muito ocupado na época defendendo o terrorista italiano Cesare Battisti e fazendo a crítica do sistema de Justiça da Itália. Entre essas tarefas, também mandava de volta pra Cuba gente desesperada que queria asilo no Brasil para fugir da ditadura castrista.
E nesses dias tivemos outro ataque de consciência, vindo da ex-ministra Marta Suplicy, que pediu demissão do cargo com uma carta em que dizia que Dilma Rousseff comandou até agora um governo incompetente e sem credibilidade. Parecia coisa séria e por isso teve até quem pensasse que iria desabrochar na senadora paulista um espírito de indignação com o descalabro que todos estão vendo que tomou conta do governo do PT. Porém, murchou o ímpeto cívico de Marta. Gozado, ela já relaxou. Nesta terça-feira ela reapareceu no Senado, dizendo que sua carta altamente crítica é “página virada” e que vai arregaçar as mangas para defender como senadora o governo Dilma. Não quer mais falar desse assunto quente. Como se vê, mais uma vez comprovou-se a regra onde parecia que havia uma exceção. De onde nada se esperava foi exatamente isso que veio.
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POR José Pires
Sem medo de ser mala
As táticas diversionistas da militância petista sempre foram engraçadas, mas nos últimos tempos estão de gargalhar porque no desespero de arrumar justificativas e formas de se safar da culpa por tanta roubalheira eles perderam o senso até do ridículo. Não se apercebem nem que suas enrolações e manipulações já não surtem efeito e sequer são repassadas na internet na quantidade que ocorria há algum tempo atrás. Existe uma indignação geral pelos roubos, mas muito mais forte que esta reação cívica é a mágoa dos que se sentiram enganados em sua crença nas desculpas esfarrapadas que rolavam tempo todo pelas redes sociais.
Muitos que acreditavam no PT e até votaram em Dilma levados pelas mentiras muito bem trabalhadas pelo marketing político e as calúnias contra a oposição estão hoje ressentidos, até pelo papel de trouxa a que foram levados pela enganação. Isso é de acabar com a autoestima de qualquer um. Fica difícil até de aguentar a zoação dos amigos. E quem já sabia do péssimo caráter político dos companheiros nem têm mais paciência para entrar em debates onde eles atuam sem nenhum respeito pela opinião dos outros e sem nenhum conteúdo que mereça um mínimo de atenção.
Jamais se deve subestimar o perigo que o petismo traz para o país, pelo descrédito político e moral criado pela sua ação partidária e no exercício do poder. Mas a verdade é que acima da divergência ideológica com os companheiros está sempre a chateação que eles criam na nossa vida cotidiana. O PT vivia berrando que não tinha medo de ser feliz, mas acabou tornando-se mesmo um partido muito chato. É melhor acabar logo com isso de forma democrática, conduzindo pela ação política e o voto este partido para junto de siglas como o Psol, PSTU e outros grupos de esquerdistas tão chatos quanto eles, mas minoritários e por isso de menor influência na encheção de saco de todos os brasileiros.
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POR José Piressegunda-feira, 17 de novembro de 2014
Exagero de dose
A máquina de comunicação petista se esforça para disseminar a ideia de que a corrupção na Petrobras tem relação com variados partidos. Pode até ser que isso ocorra, mas os partidos envolvidos no saque à empresa são todos da base aliada do governo, tendo o PT como centro do esquema. Em depoimento, o ex-diretor Paulo Roberto Costa até detalhou a forma de organização da distribuição das propinas, controlada em parcelas, com fatias que reservavam ao PT grande parte até de propina que entrava em diretoria sob o controle de partido aliado.
Com a prisão de pessoas ligadas à empreiteiras, na última sexta-feira pela Operação Lava Jato, da Polícia Federal, deram uma reforçada nesta tese malandra que pretende diminuir a responsabilidade direta do partido de Lula com a corrupção. Uma justificativa para ampliar a culpa e desviar a atenção da opinião pública foi a criação de uma relação fajuta entre a atuação dessas empreiteiras no esquema e as doações eleitorais que costumam fazer aos partidos. Bem, desse jeito não sobra ninguém, o que é muito bom para os petistas. Faz muito tempo que o PT e seu governo vêm tentando fazer esse tipo de confusão. É dentro daquela tese safadíssima que eles gritam quando são pegos com a mão em variadas cumbucas, a desculpa de que na política todos fazem o mesmo. É o ladrão que sai gritando pega ladrão.
Mas vamos aceitar que os partidos que não estão com o PT não sejam mesmo lá essas coisas. Porém, é preciso ressaltar o diferencial que se impõe por uma condição muito simples: a posse da chave do cofre. É óbvio que não sou ingênuo de acreditar que haja inocência entre os políticos da oposição, mas nunca se ouviu falar de distribuição de propina para alguém que está fora do poder. Isso não existe. E se determinada empresa envolvida na corrupção da Petrobras fez também doações para este ou aquele partido da oposição, repito que isso acontece apenas pelo fato dessa prática ser comum em empresas que fazem negócios com o governo. E até naquelas que nunca prestam serviço algum para o governo, o que desmonta essa falsa ligação entre um escândalo da dimensão desse da Petrobras e doações de campanha. Por este raciocínio torto, toda empresa pega em qualquer falcatrua na iniciativa privada teria de ser relacionada de imediato a algum partido para o qual fez doações.
E se os demais partidos tem lá suas culpas antigas, então sempre foram mais capazes que o PT, que teve 12 anos para fazer uma devassa interna no governo (que fizeram com certeza) e não encontraram nenhuma incriminação para acabar com a oposição. A implosão agora desse esquema tem uma causa até cômica, que é a inépcia demonstrada até para a corrupção. Percebe-se uma dificuldade na administração até dos valores envolvidos na roubalheira. Até peixes pequenos foram pegos com milhões de reais. Uma regra já muito bem definida pelo hábito é que para evitar flagrantes policiais e escândalos os políticos precisam ter um certo controle no avanço sobre os cofres públicos. E é evidente que houve um descontrole na Petrobras, o que pode também ocorrido em outras estatais, sobre as quais poderemos ter notícias logo mais. Houve um excesso nos malfeitos, que extravasaram o limite da impunidade, infringindo até a tradição política brasileira de acobertamento. E aí sim juntam-se quase todos no hábito em comum de não mexer uns com os outros em casos de corrupção.
Mas existe um limite, que é de conhecimento até de ladrão pé de chinelo. O delegado pode fazer corpo mole quando roubam uma ou outra galinha dos galinheiros de seu distrito, mas terá que tomar sérias providências quando roubam um galinheiro inteiro. A incompetência na gatunagem pode fazer estourar escândalos, o que não é surpreendente porque tem origem na dificuldade desse pessoal em conduzir qualquer coisa que caia sobre seu poder. Metem os pés pelas mãos, atropelam os interesses de aliados e até de cúmplices em malfeitos, de tal forma que mesmo num país com o grau da impunidade desse nosso Brasil as autoridades são forçadas a agir.
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POR José Piressábado, 15 de novembro de 2014
A marca do PT na Petrobras
Durante toda sua campanha à reeleição a candidata petista Dilma Rousseff azucrinou a cabeça do eleitor com uma ladainha sobre o governo de Fernando Henrique Cardoso ter tentado mudar o nome da Petrobras para "Petrobrax", trocando o "S" por um "X" na marca da empresa. Isso aconteceu de fato, mas não do jeito que o PT costuma dizer. A justificativa dos tucanos na época era a de que essa mudança facilitaria a inserção internacional da estatal brasileira. A intenção era unicamente de marketing. Nunca houve nenhum plano de venda da Petrobras e caso existisse um mero projeto do governo tucano é óbvio que o PT descobriria esse documento e divulgaria de forma escandalosa na época. O partido de Lula sempre foi violento na oposição ao governo de FHC.
E logo depois o PT ganhou a eleição com Lula e teve acesso a tudo que aconteceu anteriormente na Petrobras durante a administração dos tucanos. Se tivesse havido um ensaio que fosse da venda da empresa brasileira é óbvio que isso já teria vindo a público até muito antes de Lula ver em Dilma o poste de seus sonhos. A ideia de mudar para "Petrobrax" era apenas uma mudança de marca, por sinal bastante equivocada. E a diretoria da Petrobras voltou atrás, até pelo fato de acima do vozerio de falsa indignação dos petistas aparecer também as críticas sensatas que chamavam a atenção para o valor histórico e o imenso peso político do nome Petrobras. O presidente Fernando Henrique Cardoso atendeu às críticas e acabou com a besteira da troca da consoante final.
Mas com o PT não tem jeito de um assunto ser concluído de forma sensata. Eles pegaram este deslize bobo dos tucanos e passaram a usá-lo para suas campanhas agressivas, acusando os tucanos de uma privatização da Petrobras sobre a qual eles nunca mostraram prova alguma. Pois agora a história deu uma entortada até irônica com as revelações de tantas roubalheiras ocorridas nesses anos do PT no poder, sujando o nome da empresa de uma forma absurda e prejudicando internacionalmente sua imagem. Esta é a marca do PT na Petrobras. Ficou muito pior que uma "Petrobrax". A fama da estatal brasileira ficou tão ruim que hoje em dia o paralelo para ela no mundo é a Enron, a empresa americana que foi à breca, arruinada pela corrupção.
O PT não trocou o "S" de Petrobras por um "X". Fez coisa muito pior. Nunca houve neste país nenhum governo que tenha desonrado de tal forma uma empresa nacional. Fizeram da nossa Petrobras um covil de ladrões, aplicando um cifrão no nome da empresa e se apossando sem nenhum escrúpulo de suas riquezas. Com esta marca "Petrobra$" – com o cifrão da gatunagem – criada pelo PT, aquela Petrobras que já foi um orgulho do Brasil está marcada mundialmente como uma produtora de poços de lama.
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POR José Piresquinta-feira, 13 de novembro de 2014
Arranca-rabo petista
Está divertido acompanhar o estranhamento entre Marta Suplicy e a presidente Dilma Rousseff. Esse é o tipo de briga sem nenhuma necessidade de ser apartada. A origem do quiproquó é a cizânia que o PT vem tentado instalar na sociedade brasileira, colocando uns contra os outros conforme as necessidades políticas e eleitorais do partido e do governo. Hoje em dia não se pode dar opinião alguma sem que se tenha pronta uma boa explicação de que não somos racistas, homofóbicos, nada temos contra os direitos das mulheres, não somos da elite branca, e tantas outras considerações para prevenir-se de complicações que a militância foi treinada para criar para quem pensa diferente do gosto deles.
Então, em razão desse clima político até idiota que deixa o brasileiro ressabiado até para comentar o novo corte de cabelo de alguém, não é surpresa que uma simples mudança ministerial crie tamanho mal estar. O PT que prepare o estômago. O fel que tentaram derramar goela abaixo dos brasileiros deverá ser saboreado por eles mesmos, em brigas internas mais ou menos deste nível, em que a relação entre uma ex-ministra e a presidente parece bate-boca de boteco. Dependendo do boteco, é claro, pois tem uns lugares por aí que não aceitam certas baixarias.
É óbvio que a carta desaforada de demissão de Marta para Dilma deve ter tido como motivação alguma situação bem pesada entre elas. As duas não são fáceis. Será que quebraram pratos ou perdeu-se apenas um cinzeiro? Ontem a ex-ministra prosseguiu a discussão, para logo depois a presidente responder em Doha, no Qatar, de passagem para a reunião do G-20 na Austrália.
Em entrevista na Globo News, Marta justificou o teor do que escreveu como despedida do cargo. “Bom, porque eu sou uma mulher independente. Sempre tive isso de determinação e coragem para fazer o que eu acho que tem que ser feito”, ela disse, apontando ainda um problema que com certeza vai fazer a presidente descer na Austrália espumando e com saudades daquele mineiro tão bacana que a tratava com toda a educação nos debates, o Aécio Neves: “Eu sou paulista e São Paulo sente as agruras dessas dificuldades econômicas que o Brasil está vivendo”.
Ainda em Doha, sem conseguir escapar desta questão, trazida pelo jornalista, Dilma deu respostas entredentes, chamando as pessoas de “querido”, um termo que causa pânico entre a equipe que lida diretamente com ela na Presidência da República. Dizem que por lá, “querido” é prenúncio de choro até de ministro.
Sobre a tão falada carta, Dilma disse o seguinte: “Meu querido, esta é uma opinião dela. Eu acho que as pessoas têm direito de dar opinião. Eu não acho nem A, nem B”. E também descartou a sugestão de que o ex-presidente Lula poderia estar por detrás das bem endereçadas linhas escritas pela ex-ministra. “Não tem cabimento”, ela disse, sem deixar evidentemente de chamar o repórter de “meu querido”. É claro que a disputa promete, com a possibilidade até de que alguém quebre a canela. Até agora Marta vinha sendo estranhamente disciplinada na atuação como ministra e também nas atividades partidárias, mantendo-se relativamente cordial mesmo com os tantos chega pra lá que vem tomando do partido já faz tempo. Vem mais fogo por aí, o que da parte de Marta Suplicy nem pode ser chamado de “fogo amigo”. Com ela não tem disso: é amigos, amigos, fogo à parte.
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POR José Piresquarta-feira, 12 de novembro de 2014
Demissão solidária
Acerto político com Aloizio Mercadante no meio já começa com cara de piada pronta. O famoso "Dossiê dos Aloprados" é da campanha dele, em 2006, na eleição ao governo de São Paulo, que acabou sendo vencida por José Serra. O dossiê falso contra Serra acabou levando este nome depois que o então presidente Lula, procurando despistar e fazer de conta que também não sabia nada desta tramóia, chamou de "aloprados" a turma que levou à frente esta peça caluniosa de campanha. Então Mercadante passou a ser conhecido como chefe dos aloprados. O delator do esquema, Expedito Veloso, disse que o atual ministro da Casa Civil foi o mentor e era o principal arrecadador do dinheiro do esquema. Desta jogada eleitoral do PT que não deu certo sobrou uma dinheirama na Polícia Federal. São cerca de R$ 1,7 milhão que ninguém reclamou e por isso a bolada acabou sendo repassada para a União.
Além de "chefe dos aloprados", Mercadante ficou também conhecido como o autor da "renúncia irrevogável" que foi revogada. Numa manhã de agosto de 2009 ele discursou da tribuna do Senado, avisando: "Eu subo hoje à tribuna para apresentar minha renúncia à liderança do PT em caráter irrevogável”. O então senador petista renunciou "em caráter irrevogável" numa terça-feira, voltou atrás no dia seguinte e na sexta-feira subiu à tribuna para dizer em discurso que permaneceria no cargo. Foi Lula quem o convenceu a voltar atrás e deu-lhe mais esta rotulagem desmoralizadora. O homem virou definitivamente personagem de humor.
Pois hoje Mercadante veio com mais uma piada pronta. Como a demissão espalhafatosa de Marta Suplicy do cargo de ministra da Cultura causou um tremendo mal estar, ele inventou uma demissão coletiva de mentirinha, com vários ministros deixando o cargo, mas sem ter que deixar, entendem? Desta vez o irrevogável aloprado dividiu a autoria da fantástica criação. "Foi uma sugestão minha, da Miriam Belchior e do José Eduardo Cardozo. É uma formalidade, um gesto de gentileza. Faz quem quiser", disse Mercadante, na sua modéstia de grande articulador político e criador da demissão de araque, mais um feito que deve entrar para a nossa história política.
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POR José Pires
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Imagem- O chefe Lula, o aloprado irrevogável Mercadante e a dinheirama do dossiê falso contra Serra: ninguém reclamou a posse dessa fortuna
Utopias econômicas inexplicadas
Na sua saída do ministério da Cultura, Marta Suplicy revelou na carta de demissão uma tática que o PT já põe em campo para enfrentar a dura caminhada eleitoral até as eleições municipais de 2016. O partido tem falado da volta de Lula em 2018, mas isso é o despiste de sempre. O problema petista mesmo é com a eleição para as prefeituras e câmaras de vereadores, uma situação que vista deste ponto em que estamos é desastrosa para o partido. O esforço para se manter no governo federal e a estratégia escolhida para ficar de qualquer jeito no poder demoliu o PT em municípios importantes pelo país afora. É raríssimo o município em que hoje em dia a imagem local do PT seja boa. E nem estou falando só de lugares onde as lideranças locais se meteram com corrupção ou doleiros e estupradores. A sujeira na ficha é geral.
O que Marta fez na sua carta de demissão foi começar a descolar sua imagem de um desastre anunciado, pontuando ao mesmo tempo uma linha de oposição dentro do partido a este modelo que está aí. O PT vai seguir no jogo de sempre, com a posição retórica de esquerda trabalhada na propaganda e comunicação do partido, enquanto no poder vão colocando em prática o mais do mesmo em economia. Conforme o teor negativo do cenário, eles podem até isolar Dilma (com o consentimento disciplinado dela) e encaixam na campanha o discurso da mudança a partir das eleições municipais. É com essa imagem que Marta pretende chegar lá, daí as palavras escolhidas criteriosamente para se desvincular da crise que estourou agora no governo Dilma. Caso Haddad chegue a 2016 com pouca popularidade, o partido desiste de sua reeleição e entra com a senadora petista como candidata à prefeitura de São Paulo, neste caso também com a disciplinada aquiescência deste outro poste de Lula.
Enquanto isso, é claro que vai-se quebrando o pau internamente entre os petistas, na divergência entre o modelo econômico que vem sendo aplicado e uma alternativa que na verdade nunca foi bem definida pelo PT. É claro que não poderia deixar de ser "do bem" esta variante econômica, mas os setores à esquerda dentro do partido nunca esclareceram como é que vai ser esse negócio na prática. Nem eles se entendem sobre o que vem a ser afinal essa política. Por enquanto, essa economia que quebra as cadeias do "neoliberalismo" se fecha sempre numa conclusão de um Chicó — aquele personagem de Ariano Suassuna. Não de um Chicó com suas histórias do passado, mas falando de um futuro excelente pro Brasil: "Não sei, só sei que SERÁ assim".
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POR José Pires
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
Dando os nomes
Os depoimentos de Paulo Roberto da Costa e do doleiro Alberto Yousseff trouxeram uma curiosidade que remete a memória à histórias políticas do passado acontecidas em Londrina, no Paraná. São fatos de peso nacional, apesar de ser com a prefeitura local a relação direta desta corrupção. Foi em Londrina que o grupo do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, começou sua irresistível ascensão ao poder. Foi entre eleitores da cidade e região que este ministro muito chegado a Lula (o ministério no governo Dilma já é o terceiro dele) colheu votos para se eleger deputado e depois repassou sua base eleitoral para o deputado André Vargas. A carreira dos dois foi sempre escorada no Sindicato dos Bancários local, entidade que está nas mãos do mesmo grupo há mais de trinta anos e que confunde-se com o PT da mesma forma que muitos sindicatos cutistas do país. Antes da queda, o deputado André Vargas até fazia reuniões políticas de seu mandato na sede do sindicato. Também em Londrina, a esposa de Bernardo, senadora Gleisi Hoffmann, hoje senadora, deu passos importantes como secretária municipal na administração petista que houve na cidade.
Nos depoimentos dos dois acusados no escândalo da Petrobras, em acordo de delação premiada, apareceu uma sigla: "PB". O ex-diretor Paulo Roberto da Costa contou que fez a anotação em sua agenda pessoal para identificar o ministro Paulo Bernardo, que na época era ministro de Planejamento do governo Lula. Segundo reportagem publicada pelo Estadão, ele foi muito claro no depoimento: a anotação significa "Paulo Bernardo, R$ 1 milhão". A agenda foi apreendida pela PF na Operação Lava Jato. Costa afirmou no depoimento ao Ministério Público que recebeu um pedido do doleiro Yousseff para "ajudar na candidatura" de Gleisi. E deu R$ 1 milhão. Tudo isso foi confirmado pelo doleiro, também em delação premiada.
O interessante deste "PB" anotado pelo ex-diretor da estatal é que muitos anos antes uma mesma anotação apareceu na agenda de alguém também denunciado por corrupção pelo Ministério Público, em Londrina. A sigla foi descoberta numa agenda apreendida da mesma forma, pela polícia, no caso Ama/Comurb, escândalo de corrupção na Prefeitura londrinense, que resultou na cassação do prefeito Antonio Belinati, em junho de 2000. Coincidentemente, o caso teve como réus o doleiro Alberto Yousseff, além de André Vargas, na época em início de carreira. Outro nome graúdo nesta ação do MP era o do então deputado José Janene, que morreu em 2010, antes de ser julgado como mensaleiro pelo STF. Janene sempre foi um aliado forte de Belinati e depois se viu que era muito próximo do PT. Em Londrina, o partido de Lula havia feito dobradinha eleitoral com o filho do prefeito cassado e Vargas foi acusado de receber R$ 10 mil de Zavierucha, tesoureiro de campanha. O dinheiro seria para a campanha eleitoral à reeleição como deputado federal do agora ministro Paulo Bernardo. Vargas foi condenado a devolver à Justiça os R$ 10 mil que recebeu. E Paulo Bernardo foi excluído da ação, depois de denunciado.
O esclarecimento oficial do escandaloso Caso Ama/Comurb segue na lentidão dos trâmites da justiça brasileira, mas ficou muita coisa na memória coletiva paranaense, sendo um ponto de honra até hoje a combatividade cívica contra a corrupção, que foi liderada pelo movimento "Pé Vermelho! Mãos Limpas!", envolvendo de forma muito bonita a cidade na defesa do bem comum. O prefeito não só foi cassado, como isso marcou também Londrina como um lugar onde a população briga pela ética. Desse bom combate ficaram também muitas lembranças, como esta menção ao dinheiro destinado ao tal 'PB" há 14 anos, na caderneta do tesoureiro do prefeito cassado. Até hoje isso é muito comentado como um detalhe pitoresco da política londrinense, com as pessoas evidentemente fazendo a relação desde aqueles tempos com a única personalidade política local cujo nome se encaixava nas iniciais. E eis que surge novamente o "PB", escrita agora por outras mãos, desta vez de uma pessoa envolvida num monumental escândalo nacional.
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POR José Pires
Recebendo por fora
Nesses dias a senadora petista Gleisi Hoffmann andou publicando no Facebook em posts pagos uma explicação desmentindo notícias que davam como certa sua nomeação para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). No texto, ela lamentava ter de "conviver com invenções, ilações e especulações". Realmente, não é fácil suportar o clima de animosidade da política brasileira, mas sendo da base do governo até que a senadora tem menos motivos para se queixar do que a bombardeada oposição, que tem sobre si inclusive uma máquina profissional de comunicação montada pelo governo exclusivamente para atacar adversários.
Antes do desmentido sobre a vaga no TCU, Gleisi andava ocupada tentando abafar a citação de seu nome em depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, no acordo de delação premiada feito por ele. O diretor da estatal havia dito que ela recebeu R$ 1 milhão do esquema de corrupção da estatal. A revelação do depoimento foi feita pelo jornal O Estado de S. Paulo no dia 19 de outubro e de imediato Gleisi negou tudo, afirmando ainda que a notícia era falsa e que iria processar o jornal. Segundo a reportagem, o ex-diretor da estatal disse também que o marido da senadora e atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, teria recebido o dinheiro.
Na nota que lançou no mês passado, a senadora petista não falou em "invenções, ilações e especulações", mas procurou sair fora do assunto. Pois nesta quinta-feira surgiu de novo a acusação dela ter recebido dinheiro do esquema, desta vez feita pelo doleiro Alberto Yousseff, também em delação premiada. Yousseff confirmou em depoimento ao Ministério Público Federal que deu R$ 1 milhão à campanha que a elegeu ao Senado pelo Paraná, em 2010. O doleiro até detalhou a forma do repasse do dinheiro, feito em quatro parcelas e entregue em espécie.
Em sua constante política de desinformação, os petistas têm procurado confundir as pessoas quanto ao significado de uma delação premiada, manobra fajuta feita por eles evidentemente porque é o PT que vem sendo atingido diretamente nos depoimentos. Delação premiada exige comprovação das afirmações feitas pelo preso, o que significa que tanto para Gleisi quanto para seu marido ministro a situação é braba. Além disso, Youssef é um veterano no assunto. É sua segunda delação premiada e ele precisa muito dela para evitar passar parte considerável de sua vida na cadeia. O doleiro não quer ter no esquema da Petrobras o mesmo destino de Marcos Valério no mensalão. Valério vai passar muitos anos preso enquanto certas figuras nem foram levadas a julgamento no STF e outras até sofreram condenação, mas já estão em casa.
Gleisi está no ponto mais delicado de uma carreira prodigiosa, com boa parte desse sucesso alcançado junto com o deputado André Vargas, outro fenômeno político paranaense, até sua queda escandalosa causada pela descoberta de suas relações como o mesmo doleiro que afirma que deu bastante dinheiro para a senadora paranaense. A carreira dela e Vargas foi sustentada pelo grupo chefiado por Paulo Bernardo no Paraná. Um dos ministros preferidos de Lula em seus dois mandatos e com um ministério também no governo Dilma, Bernardo era a ponte que sempre facilitou aos dois as relações com o poder.
Mas hoje em dia sua situação a leva ao mesmo abismo para onde foi o deputado Vargas. O que lhe dá alguma sustentação são os quatro anos de mandato que ainda tem no Senado, apesar do risco agora sempre pendente de uma cassação. Hoje em dia, Gleisi teria dificuldade até para se eleger vereadora. Nesta eleição de 2014 ela disputou o governo estadual e teve apenas 800 mil votos. E uma ironia da vida é que ela já recebe dos companheiros o mesmo o chega pra lá que deu no deputado Vargas assim que ele caiu em desgraça. Durante este segundo turno a presidente Dilma Rousseff esteve em Curitiba fazendo campanha e não quis ter sua ex-ministra da Casa Civil por perto. É provável que na próxima eleição nem candidato a prefeito e candidato vereador de cidade pequena vão querer ficar ao lado de Gleisi.
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POR José Pires
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Imagem- Gleisi Hoffmann e o deputado André Vargas quando eram companheiros de muito sucesso