Logo que o presidente Jair Bolsonaro começou com seu espetáculo de cretinices, tentando sabotar o esforço coletivo dos brasileiros no enfrentamento do novo coronavírus, escrevi sobre o panorama político armado por ele no plano internacional com suas atitudes horrorosas, de um governante totalmente isolado, que perdeu totalmente a condição de comandar as relações externas do Brasil.
O efeito trágico do coronavírus em vários países é de uma dimensão próxima do que tivemos de pior no século passado, um período barra pesada da humanidade, que começou já nos primeiros anos, com a Primeira Guerra Mundial, passando pela Segunda Guerra, as explosões da bomba atômica, que teve até o horror do Holocausto e os Gulags comunistas, escritos assim, com iniciais maiúsculas, em razão do peso na memória humana desses genocídios instaurados como política de Estado, à direita e à esquerda.
Bolsonaro é um homem que fez da negação da realidade uma forma rápida de subir ao poder. Em política isso não é incomum, sendo uma forma de manipulação que infelizmente tomou conta do processo eleitoral brasileiro nos últimos tempos. A meu ver, o desequilíbrio do uso desse truque sujo veio do fato de Bolsonaro ser um negacionista meramente por intuição, sem um controle intelectual dessa manipulação.
Uma grave deficiência de formação deixou este sujeito sem noção completamente empolgado com a aparente facilidade de obter sucesso rápido falando certas besteiras ou agindo de forma polêmica.
Suas performances frente ao novo coronavírus estão relacionadas a esta dificuldade de avaliação mais ampla sobre as conseqüências de seus atos. Com a mortandade produzida na Europa, que começa agora a espalhar-se também pelos Estados Unidos, este vírus passa a se ligar a nomes próprios, com as histórias pessoais de quem morreu e das pessoas em torno. O número de mortos já está em 35 mil em todo o mundo. No Brasil já passa de uma centena, com previsão de morrer muito mais gente.
É um contágio mortal que impede até que o doente tenha quem ama ao seu lado durante o tratamento. Não permite também a proximidade dos entes queridos no enterro dos mortos.
Como escreveu o poeta inglês John Donne, qualquer morte nos diminui, pelo menos a quem faz parte do gênero humano, que não parece ser uma categoria em que Bolsonaro se enquadra, a julgar pelo que ele vem dizendo sobre os que morreram e serão mortos por este vírus, sem nenhum respeito pela dor de familiares e amigos, nem pelo arriscado trabalho de equipes médicas e profissionais que estão nas ruas mantendo as atividades essenciais do país.
A rejeição ao nosso presidente em todo o mundo vem dessa desumanidade que ele expressa no que fala e no que faz. Sua imagem internacional, sejamos francos, é a de um ser monstruoso, sem compaixão com os que sofrem e sem respeito por quem se ocupa em trabalhar para que tenha fim tanto sofrimento.
Depois de vencida a batalha contra este coronavírus, teremos em Bolsonaro um empecilho grave nas relações internacionais que serão exigidas para restabelecer o equilíbrio da nossa economia e o redirecionamento político e administrativo que com certeza terá de ser aplicado nos mais variados campos das atividades humanas, em governos de vários países, independente da ideologia de quem estiver no poder.
Será difícil que algum governante estrangeiro aceite receber um tipo como Bolsonaro em seu país e vai haver ainda mais dificuldade de estabelecer cooperação internacional com alguém que trata jocosamente como “gripezinha” uma das maiores tragédias mundiais de todos os tempos. Bolsonaro está com uma rejeição internacional que é impossível desfazer, mas isso é problema dele. Os brasileiros é que terão de decidir se aceitam permanecer colados nesta monstruosa rejeição.
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POR José Pires