sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O STF cuidando do que é só deles

Nesta semana teve mais uma baixaria no Supremo Tribunal Federal. Tudo bem que não houve bate boca no plenário, nenhum ministro deu de dedo no outro, ninguém saiu expulso da sala. Mas foi escandaloso. Os ministros do STF aprovaram nesta quinta-feira proposta de aumento dos próprios salários de R$ 29,4 mil para R$ 35,9 mil. É um aumento de 22%. Num país já com os dois pés na recessão econômica é esse tipo de exemplo que vem de cima.

A proposta irá para o Congresso Nacional e depois para a presidente Dilma Rousseff. São os passos para que o novo salário seja incluído no Orçamento de 2015. A formalidade é apenas um jogo de cena, é claro. Os ministros do STF poderiam passar a proposta de aumento diretamente para o caixa, pois o salário maior em 2015 já é coisa certa. Se fosse direto pro jamegão da Dilma sairia até mais barato para os brasileiros.

O texto será protocolado no Congresso Nacional e vai passar pelas comissões de Trabalho, Administração e Serviços e ainda pela de Finanças e Tributação, além da comissão de Constituição e Justiça. E ainda passa pelo plenário tanto da Câmara quanto do Senado. O teatro tem um certo custo.

Mas os gastos salariais não ficam restritos aos ministros do STF. Pela Constituição, salário do STF é a escala máxima do Poder Público, então já estará dada a justificativa para começar um festival de aumentos de salários. Para começar, este aumento já beneficia toda a classe da magistratura. Os salários de juízes até a segunda instância são definidos em percentuais relativos aos do STF.

Já está na boca do caixa. E duvido que num negócio desses os juízes do STF aceitem um embargo provisório.
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POR José Pires

Marina Silva se achando a melhor

Marina Silva é a candidata com o modelo de governo mais inovador que já apareceu neste país. Ela diz que vai fazer "um governo dos melhores". É o que o Brasil sempre precisou. Resolveria os nossos problemas de tal forma e a ideia é tão simples que é até espantoso que nenhum político tenha pensado nisso antes. O marqueteiro do Bill Clinton, que era um especialista em apontar obviedades, mas usando para isso um estilo único, seria ainda mais imperativo que a candidata do PSB: É o governo dos melhores, estúpido!

É lamentável que não tenhamos partidos melhores e ainda menos eleitores melhores, pois se fosse assim a candidata Marina Silva teria um espaço da atenção política dos brasileiros um pouco atrás da Luciana Genro, do Psol. Ideias como esta do "governo dos melhores" servem para demonstrar o nível baixo do debate político no Brasil, no qual a imprensa se conduz aceitando qualquer assunto que apareça para encher espaço. E Marina sabe manipular bem este clima, com sua retórica vazia de conteúdo, com as frases sem sentido que se entrechocam na própria gramática.

Mas o que é um governo dos melhores? Ora, é muito fácil, cara: é só juntar os melhores em cada área e montar um super governo. Ah, entendi. Então, no Brasil um dos melhores na economia é sem dúvida o ex-ministro Armínio Fraga. Ele tem inclusive uma boa experiência no mercado financeiro, sem o qual hoje em dia não se realiza nada na economia de um país. Ele estará no governo dos melhores? Eu sei que Aécio Neves já tem o plano de nomeá-lo ministro da Economia, mas creio que com Marina presidente o candidato tucano não se negará a cedê-lo para um governo dos melhores.

A não ser que a Marina ache o Fraga competente para um governo dos melhores, mas só se for do Aécio, não é mesmo? Ora, não existe esse negócio que a Marina inventou para chamar a atenção. O que existe é um governo composto a partir da capacidade na articulação e no convencimento da classe política e da sociedade civil. E no Brasil do desmantelamento social que aí está o poder dos primeiros é quase absoluto. A sociedade civil tem cada vez menos influência na formação de qualquer governo.

Então, qualquer um que vença esta eleição terá de entrar em acordo com os partidos para a formação de um governo. Existe outra maneira, mas isso já foi experimentado no Brasil e não deu certo. Em 1964 os militares se cansaram do caos político e deram um golpe para fazer um governo dos melhores, nomeando quem eles queriam e do jeito que eles queriam. Ou seja, na marra. Foi o método de onde surgiram administradores públicos como Paulo Maluf e José Sarney.

Será na negociação com os partidos que uma Marina eleita presidente terá de montar seu governo. Não se monta governo em país algum do mundo simplesmente buscando na sociedade seus melhores quadros. Isso é lorota que pode encantar grupelhos sem noção política, mas não tem resultado prático na hora de fazer a coisa. Numa democracia os partidos são a ligação entre a sociedade e o governo. E se não temos partidos decentes para isso, azar o do país. Qualquer presidente terá de se virar com esses que aí estão.

Antes de fazer um governo dos melhores, Marina poderia ajudar bastante o país finalizando outro serviço que não fez direito. Nossos partidos não são grande coisa, mas ela não tem nem o dela. Na sua carreira política, a candidata não conseguiu realizar nem o que já foi feito por Luciana Genro, o Pastor Everaldo e até mesmo o candidato Levy Fidelix, que é juntar assinaturas num papel, cumprindo um requisito básico para montar um partido, instituições essenciais em qualquer governo, principalmente se for dos melhores. A não ser que esta proposta da Marina seja tão revolucionária que ela esteja pensando em eliminar esta etapa.
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POR José Pires

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Suplicy, o demagogo do balde de gelo

Já faz tempo que o senador petista Eduardo Suplicy se faz de songamonga, mas ele é um dos políticos mais espertalhões do país. Se fazendo de bocó completa este ano 24 anos no Senado. E Suplicy também é um grande demagogo. Na semana passada ele entrou no tal do desafio do balde de gelo, que foi criado nos Estados Unidos para chamar a atenção para a a esclerose lateral amiotrófica e angariar fundos para pesquisas sobre esta grave doença. Sua campanha eleitoral postou vídeo na internet com ele tomando um banho de água gelada. Suplicy usou o desafio do gelo para promover sua candidatura à reeleição.

Porém, exercendo seu mandato de senador, Suplicy votou contra a destinação de pelo menos 10% do orçamento federal à Saúde. A emenda que garantia esta fatia do orçamento foi derrotada em dezembro de 2011. Com isso, só na variação de 2011 para 2012 a Saúde perdeu mais de 10,3 bilhões que a União teria de investir. A derrota da emenda foi a mando do Palácio do Planalto e Suplicy obedeceu sem discutir, votando contra os 10%. E agora vem com esta demagogia do balde de gelo, acompanhada de uma fala demagógica sobre o acesso da população à Saúde.
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POR José Pires

Gleisi Hoffmann dando uma força a Fernando Collor


A candidata petista Gleisi Hoffman vem fazendo campanha em dois estados nesta eleição. Gleisi é candidata ao governo do Paraná e cabo eleitoral em Alagoas, na campanha de Fernando Collor para senador. Collor vem trazendo em sua propaganda política na televisão um depoimento em sua defesa feito por Gleisi na tribuna do Senado. O vídeo já é um sucesso nas colunas políticas e nos blogs. Nele, a candidata ao governo paranaense cita a notória frase que Collor dizia na época em que teve que sair correndo do Palácio do Planalto por causa das sujeiras que levaram ao processo de cassação pelo Congresso Nacional. "O tempo é senhor da razão", era sua ladainha, que Gleisi repetiu em discurso no Senado. Collor gostou bastante, até porque a nova admiradora fez sua defesa de forma espontânea.

Gleisi Hoffmann tem uma grave dificuldade na escolha de companhias. Quando era ministra ela nomeou como assessor especial do gabinete da Casa Civil um político que foi preso sob a acusação de pedofilia. Ela levou o petista Eduardo Gaievski para trabalhar ao lado da sala da presidência da República. O assessor especial de Gleisi foi preso em agosto do ano passado depois de denunciado pelo abuso de meninas pobres na cidade onde ele foi prefeito eleito pelo PT. Ele continua na cadeia. Gleisi foi também parceira muito próxima de André Vargas, o deputado petista que caiu em desgraça depois da descoberta de suas relações com um doleiro preso pela Polícia Federal. Até ter de sair do PT, Vargas comandava a campanha de Gleisi para o governo do Paraná. O deputado paranaense, que teve sua cassação aprovada na última quarta-feira pelo Conselho de Ética da Câmara por onze votos a zero, é um legítimo produto político do grupo comandado pelo ministro Paulo Bernardo, marido da candidata. A política salvou o Paraná de um plano perigoso. O grupo petista pretendia eleger Vargas senador.

Gleisi Hoffmann precisa resolver esta dificuldade na escolha de parceiros. E se o eleitor paranaense tiver juízo, é melhor usar o voto para que ela vá fazer isso bem longe do governo do Paraná.
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POR José Pires


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Veja aqui Gleisi Hoffman defendendo Collor. A fala começa a partir de 3min.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Caminhando com Thoreau

Nessa época aparece gente demais querendo nos ajudar. É até cansativo tantos querendo o nosso bem. Período eleitoral é sempre assim. Isso me lembra Henry Thoreau, o naturalista e filósofo americano que dizia o seguinte:"Se eu soubesse com toda a certeza que um sujeito vinha em direção de minha casa no firme propósito de me fazer o bem, correria em disparada". Isso foi escrito em "Walden, a vida nos bosques", um belo livro. Outra obra sua importante é "A desobediência civil". Este é um ensaio curto, publicado numa edição que traz outros ensaios, entre eles um ótimo sobre o hábito de andar à pé. "Walden" e "A desobediência civil" são duas obras que trazem elementos essenciais que podem ajudar bastante na compreensão da crise que cresce em torno de nós, nos seus dois aspectos mais graves: o risco do domínio do Estado e até mesmo da sociedade sobre a liberdade do indivíduo e o esgotamento dos recursos humanos. A humanidade pode morrer desses dois males. E Thoreau tem remédio para isso. O filósofo escreveu outros livros, cerca de 20, mas em português são encontrados apenas esses dois. Dá para baixar fácil pela internet.

Muita gente faz confusão, pensando em Thoreau apenas como o naturalista que foi viver isolado no meio da floresta em um cabana de troncos feita por ele. A visão não deixa de ser verdadeira, mas pode fazer dele hoje em dia uma figura pitoresca. É um engano que perturba a compreensão do que ele diz para nós através dos tempos. Thoreau é um dos pensadores mais sofisticados que já existiu. É preciso ler Thoreau e pensar bastante sobre o que ele escreveu. Em suas palavras pode-se encontrar caminhos para o desastre social que aí está. Falei do esgotamento dos recursos naturais, que já começa a mostrar sinais de que a vida humana corre perigo. Pois Thoreau escreveu sobre isso quando ainda se pensava que a Terra era inesgotável. Viveu de 1817 a 1862, uma vida breve, mas com um aproveitamento admirável.

Thoreau é o filósofo da desobediência civil e da apologia do indivíduo. Pensou sobre isso muito antes do ser humano calçar botas e dar os terríveis passos totalitários do nazismo e do comunismo no século vinte. Ele é a reação contra isso. Existe uma confusão entre a desobediência civil e o apelo à violência. Quebrar coisas que a própria população usa não tem nada a ver com o que pensava Thoreau. A sua visão não é a da destruição do governo. É da melhoria. Essa canalha que sai quebrando tudo tem mais a ver com um leninismo tosco do que com a desobediência civil. No objetivo eles são leninistas, apesar de que na ação carregam vários defeitos que Lenin desprezava. Num país comunista seriam imediatamente presos e talvez mortos pelo poder leninista. Esses equivocados pensam também que são filhos de Bakunin, mas só se forem bastardos. Como não estudam nada, deixaram de fazer isso inclusive com as obras do anarquista. Além do que, o anarquismo de Bakunin foi ultrapassado pelo tempo.

Thoreau propunha uma resistência pacífica. Não à toa, o escritor russo Tolstoi e o líder político Gandhi tiraram de seus escritos parte essencial da vitalidade filosófica do que fizeram em vida. A ação violenta em nome de avanços sociais costuma trazer um efeito efeito reverso ao que pretensamente busca. A violência política dá unidade e organiza as piores forças dentro da sociedade e do Estado. Quando fez a cretinice de pegar em armas na década de 70, por exemplo, a presidente Dilma Rousseff deu um oportuno pretexto para a ditadura militar eliminar inclusive fisicamente quadros competentes da oposição democrática. Um militante negro que apela para a violência causa dificuldades sérias para um branco decente exercer influência entre sua comunidade contra os racistas. Malcom X fortalece posições do tipo da Ku Klux Klan e a violência entre os próprios negros. Martin Luther King faz a sociedade avançar em união com brancos contrários ao racismo.

Walden foi escrito a partir da experiência de Thoreau vivendo sozinho durante dois anos numa cabana na floresta. O ensaio sobre a desobediência civil veio da sua prisão por negar-se a pagar impostos. Este é um tema atualíssimo em todo o mundo e ainda mais num país como o Brasil, onde a maioria paga impostos para que o poder público beneficie os mais ricos. Além do roubo constante feito por políticos. Ele começa o ensaio sobre a desobediência civil com a famosa citação de Emerson, que diz que "o melhor governo é o que menos governa”. Porém, é preciso ter cuidado. A desobediência civil de Thoreau nada tem a ver com o equívoco dos violentos, mas também não é um ideário de liberais que acham que governar melhor é cortar imposto de rico e suprimir a educação gratuita, o acesso à saúde e o amparo aos idosos e pobres. As ideias de Thoreau merecem respeito. E precisam ser lidas também, é claro.
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POR José Pires

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O currículo de Marina Silva

Para os que estão animados com a candidatura de Marina Silva aconselho mais equilíbrio porque ela pode ter entrado no páreo como um cavalo paraguaio. Em eleição no Brasil sempre tem um competidor desse tipo. Cavalo paraguaio é aquele time que começa muito bem um campeonato, mas no final acaba ficando para trás. Na política brasileira o mais vistoso deles vinha sendo Ciro Gomes, um cavalo paraguaio que Lula gostou de montar. Na eleição passada, Marina animou muita gente, porém foi de José Serra a passagem para o segundo turno. E 2010 foi um ano em que, disputando pelo Partido Verde, Marina não tinhas as responsabilidades e exigências que terá agora em campanha. Aliás, já que a situação se apresenta, devo dizer que naquela eleição ela ignorou o risco que era a eleição de Dilma. Na prática, Marina deu seu apoio à Dilma contra Serra. E não tenho nenhuma dúvida de que com Aécio Neves no segundo turno contra Dilma ela novamente apoiará a candidata do PT, sempre na forma disfarçada da liberação do voto de seus partidários.

Mas ela pode ganhar a eleição. E aí os problemas aumentam. A candidata do PSB tem um histórico muito fraco como administradora e uma dificuldade danada com alianças políticas. Teve uma grande chance de demonstrar capacidade porque foi dela durante quase oito anos um dos ministérios mais importantes da atualidade. No entanto, não mostrou habilidade e muito menos teve a técnica para dar um equilíbrio entre a necessidade da proteção ao meio ambiente e a dependência econômica do país com o sucesso da pecuária e da agricultura. O setor ainda é o grande peso em nossa balança comercial. Equilibrar a necessidade de ganhar dinheiro com o respeito ao meio ambiente ainda é o grande desafio brasileiro.

Nas vezes em que foi testada de forma prática na política Marina falhou. Nem vou falar do projeto político dela na sua base eleitoral. No seu Acre ela é um fiasco. E como eu disse, foi muito fraca no seu cargo mais importante, durante os dois mandatos de Lula, num dos piores governos da nossa história na questão do meio ambiente. Como presidente, Lula até fazia piadas desmoralizando as preocupações de ecologistas, zombava de regras de proteção ao meio ambiente e obviamente colocava em prática um modelo de governo sem nenhuma atenção ao desenvolvimento sustentável. É dele a lamentável frase de que entre um "cerradinho" e a soja, ficava com a soja. Como se fizesse sentido este raciocínio. Enquanto fazia isso, ele tinha Marina ao lado.

Marina saiu do governo do PT apenas no momento em que ficou muito claro que a sucessão de Lula seria com Dilma Rousseff. O que causou sua saída não foram conflitos de conceito de governo, como ela pretende justificar a transferência, primeiro para o Partido Verde e depois para montar seu próprio partido, o Rede Solidariedade. Nesta vida partidária pós-PT ela também falhou de forma grave. No PV não teve capacidade de convencimento na defesa de suas propostas. Historicamente nunca foi seu partido, porém ela queria apenas ser obedecida. Este é um defeito que várias pessoas próximas dela dizem ser muito forte na sua personalidade. E depois ela nem conseguiu legalizar seu Rede Solidariedade. A candidata de 20 milhões de votos não teve capacidade de juntar assinaturas suficientes para criar um partido.

A candidata do PSB manteve-se calada durante todos os escândalos de corrupção nos dois mandatos de Lula, até no mensalão, que levou a cúpula do PT à prisão. Fechou-se num silêncio cúmplice também sobre os equívocos do modelo econômico de Lula, inclusive no tocante ao aspecto predatório ao meio ambiente e a dificuldade de sustentação de longo prazo. Só deu o pé do governo quando viu que não era ela a escolhida do chefe. Dos três candidatos com mais chances de vitória, Marina é a única que só dá pra saber ao que veio depois de sua eleição. A democracia dá o direito de escolher. Mas na minha visão o país não tem fôlego para mais um erro nas urnas.
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POR José Pires

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Reclamação geral


Em entrevista com candidatos à presidência da República nesta eleição, até agora não há porque se queixar do Jornal Nacional. E exatamente porque as entrevistas vem sendo feitas corretamente é que todos os envolvidos na eleição estão se queixando. Primeiro foram os partidários de Aécio Neves que não gostaram da condução do programa feita por William Bonner e Patrícia Poeta. Depois os dois jornalistas foram odiados pelos partidários do candidato Eduardo Campos, morto na queda do avião em Santos, na última quarta-feira. E vejo que os petistas estão muito bravos com a entrevista desta segunda-feira com Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição.

Este é um problema que sempre ocorre quando se faz jornalismo com qualidade. Bonner e Patrícia Poeta fizeram seu serviço corretamente. E numa eleição o efeito do jornalismo bem feito é sempre o de desagradar a todos os lados. A próxima candidata que deve sentar-se à frente dos jornalistas da Rede Globo será Marina Silva. Se eu fosse partidário dela começaria a xingar o Jornal Nacional desde já.
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POR José Pires

Política em família

Já aparece a notícia de que Renata Campos, a viúva de Eduardo Campos, não quer ser vice-presidente na chapa de Marina Silva. É provável mesmo que não seja, até por efeito de conselhos de quem conhece mais o Brasil e sabe que mesmo nesta condição patética atual da política brasileira o sentimentalismo têm limites. O país vai muito mal na área política, mas o conjunto da população ainda não desceu tanto para aceitar práticas oligárquicas de forma passiva. E mesmo um marqueteiro pode demonstrar que a entrada da viúva na chapa da pessoa que assume o lugar do candidato morto seria um equívoco político que já de início poderia afastar muitas adesões que Marina precisa para crescer entre o eleitorado.

Um argumento prático também é o de que legalmente isso não seria possível. Renata é funcionária do TCE pernambucano, o que obriga ao afastamento por pelo menos 90 dias antes da eleição. Mas o que importa é a cogitação de seu nome. Isso já foi uma péssima demonstração do andar da política no Brasil e também da falta de senso crítico que domina a nossa imprensa. A notícia dela como vice foi recebida como se fosse um fato natural da política. Pouquíssimos jornalistas viram de forma crítica esta absurda especulação, entre eles o sempre atento Reinaldo Azevedo, que em seu blog no site da revista Veja analisa variados assuntos com uma alta qualidade de conteúdo, independente da sua posição política.

Com os acontecimentos em torno da morte do candidato do PSB eu ando tendo vergonha alheia numa amplidão que nem imaginava ser possível. Quando leio que Eduardo Campos foi um "político moderno" até temo ter de passar a alimentar uma úlcera com bocadinhos de leite, como fazia o grande Nelson Rodrigues. Eu já não tinha uma boa impressão do estado a que chegou o nosso país, mas os limites do bom senso vêm sendo rompidos de uma forma que dá vergonha alheia de multidões. O palanque eleitoral criado nas cerimônias fúnebres de Eduardo Campos foi até triste. E me recuso a ver aquilo como um hábito de determinada região. Nunca soube de nada igual ao velório eleitoral em nenhum outro lugar, mas o uso da demagogia e do falso sentimentalismo está por todo o país.

As oligarquias também espalham suas raízes em vários estados. Até o candidato tucano Aécio Neves tem na carreira traços oligárquicos, que não são mais marcantes na política mineira não por uma consciência própria do candidato, mas porque as condições de seu estado não permitem que Minas Gerais se torne terra apenas dos Neves. O favorecimento da própria família à custa dos cofres públicos é um hábito também do ex-presidente Lula, que para isso até mudou com sua assinatura como presidente uma lei de telecomunicações. E no Congresso Nacional são feitas triangulações em que parlamentares se ajudam mutuamente empregando parentes entre si.

Já faz tempo que a política vem tendo um amplo domínio dos laços familiares de políticos. E esta é uma descaracterização das mais graves, que acaba impedindo que a representação política sirva para cuidar do bem comum. A qualidade na administração pública é incompatível com o interesse de famílias. Hoje em dia já se sabe até dos efeitos negativos muito graves que a ingerência familiar pode provocar mesmo na iniciativa privada. Com os negócios públicos é pior. A proposta de ter a viúva de um candidato como vice numa chapa presidencial da importância da chapa do PSB mostra o risco que a deformação da política vem trazendo a nossa democracia. E o fato dessa ideia ter sido recebida de forma tão acrítica pela imprensa e a classe política mostra que o Brasil corre um perigo sério.
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POR José Pires

O parceiro de Marina Silva

Com a volta inesperada de Marina Silva à cena política como protagonista andam esquecendo de uma pessoa essencial em seu crescimento político em todos os níveis, inclusive numa ampliação do universo pessoal da candidata do PSB, que antes era mais restrito do que agora. Ninguém fala dele, mas isso eu até compreendo, dado o nível de pouco aprofundamento em que anda a nossa imprensa. Ele é Guilherme Leal, dono da fabricante de cosméticos Natura. Sua presença ao lado de Marina vem sendo para mim desde a eleição passada um ponto favorável à credibilidade da candidata.

Leal é um empreendedor que mostrou na prática a possibilidade da exploração da prodigiosa natureza brasileira de forma lucrativa e sem a mentalidade predatória que infelizmente prevalece em nosso país. A Natura tem também experiências administrativas de alta qualidade, que influenciam até a arquitetura e o ambiente externo de suas instalações, além do bem estar de seus funcionários. As lições da Natura podem ser muito importantes no conjunto da cultura empresarial brasileira, já que é uma empresa que cuida muito bem de seu produto, atuando com rigor na qualidade, desde o rótulo da embalagem até às mãos do consumidor. Enfim, é uma empresa que pode trazer bons referenciais em vários aspectos da economia.

O parágrafo acima pode até parecer propaganda gratuita da Natura, mas é de fato o que eu penso sobre o que eles vêm fazendo. A entrada de Leal na primeira candidatura de Marina foi até uma surpresa para mim, pois a política no Brasil costuma atrair entre o empresariado mais aqueles que tem apenas o interesse em lucrar com facilidades criadas pelo Estado. A atração de um empresário como Leal, portanto, pode ser visto como mérito político de Marina. E ele mostrou coragem. Todo mundo sabe que o PT não tem escrúpulo em fazer retaliações usando a máquina pública. E ele aceitou até ser vice-presidente na chapa do Partido Verde na eleição de 2010.

Fala-se demais na ascensão de Marina, como se isso tivesse acontecido como um passe de mágica. Mas não se deve esquecer que foi com ele como vice que ela teve os 20 milhões de votos. Naquela eleição, bastaria sua presença na chapa para atrair a credibilidade em setores em que Marina transitava ainda com mais dificuldade. Mas sabe-se que sua contribuição foi muito além disso. Antes de aparecer na eleição para presidente da República, Leal teve uma participação muito importante na política brasileira como um dos fundadores do Instituto Ethos, instituição privada que trouxe contribuições muito boas para o debate político logo após a redemocratização no Brasil.

Tenho dificuldade de confiança em Marina Silva, mas no plano pessoal não é muito diferente com Aécio Neves, assim como eu não via possibilidade de transformação de fato com o falecido Eduardo Campos. Até agora acho que a possibilidade real de desmonte do risco que o PT é para o futuro dos nossos filhos está na candidatura do PSDB, com todos os pesares deste partido e seu candidato. Marina não demonstra possibilidade de ruptura com os perigos que foram instalados no país pelo PT no poder. No entanto, penso que é bom analisar com profundidade todos os atores deste nosso drama. E o empresário Guilherme Leal é um que não pode ser esquecido.
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POR José Pires

sábado, 16 de agosto de 2014

Esperando o bom de voto

A política de um país vai muito mal se depende de forma tão absoluta de uma Marina Silva. E sua candidatura, vinda desse jeito, não trará qualidade a esta eleição. Já se nota uma certa magia no ar. Tem gente que até vê na na sua aparição a inevitabilidade de um segundo turno. É incrível como grande parte dos analistas se fia nos 20 milhões de votos de Marina na eleição anterior. Bem, por este raciocínio tem que se perguntar então onde foram parar os votos de José Serra, quase metade do eleitorado brasileiro na mesma eleição para presidente. Ora, na política não se transfere uma realidade para outra de forma automática. São situações com tantos componentes diferentes que é impossível que se ajustem ao que querem certos analistas políticos.

Mas o problema da definição de um segundo turno não está na presença de Marina Silva, assim como não estava na do falecido Eduardo Campos. A dificuldade da criação de um segundo turno sempre esteve em Aécio Neves. Com maior estrutura e um partido com um histórico de boa votação em eleições presidenciais, era do tucano a responsabilidade de um crescimento sólido nas pesquisas. Além disso, não era o Aécio o prodigioso tucano fazedor de votos que José Serra não deixava ser candidato?

O senador mineiro não vem demonstrando na prática sua propalada habilidade de convencimento. Ele, que vinha gozando esta fama desde a primeira eleição de Lula, quando começou a se espalhar pelo país que uma candidatura sua pelo PSDB seria invencível. É claro que o próprio Aécio contribuiu com bastante astúcia e pouca lealdade partidária para fortalecer este mito. Fez isso tanto na eleição em que Geraldo Alckmin foi candidato quanto na segunda, em que entrou José Serra. Na eleição passada todo mundo sabe que Dilma deve a sua vitória a Aécio. Ele elegeu-se senador no primeiro turno e fez também seu sucessor no governo mineiro. Porém, Serra não teve na sua campanha a força que precisava em Minas. Dilma conquistou no estado 1,8 milhão de votos a mais que o candidato tucano. Ela teve no estado 58% dos votos válidos no segundo turno.

Não é novidade alguma que Aécio abandonou Alckmin e Serra nas duas eleições. E havia ficado o mito de que com ele a possibilidade de vitória sobre o PT eram favas contadas que se perderam. Sobre Serra, que inclusive na primeira eleição obrigou um Lula muito forte a ter de ir pro segundo turno, ficou inclusive o estigma de que foi um erro sua candidatura. E ele teve 43% dos votos do país na última eleição para presidente. Pois bem, agora Aécio obteve a chance de mostrar sua lendária força. E numa eleição bem mais fácil do que tiveram que enfrentar os outros dois tucanos. O PT está desacreditado e a população já sente os efeitos da crise. Existe o forte desgaste da corrupção no governo. O tal do carisma de Lula também mostra perda de efeito. E a candidata, bem, a candidata é a Dilma, né? No entanto, Aécio vem penando para atingir 20% nas pesquisas. É visível sua dificuldade para ampliar nacionalmente o prestígio que conquistou em Minas Gerais. A situação com ele em primeiro plano é de tamanha dificuldade para seu partido que a presença de Marina Silva traz até o risco de não ser dos tucanos a maior porção de votos que levará a um segundo turno.
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POR José Pires

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Requião emparelha na frente com Beto Richa

Em junho, logo que o senador Roberto Requião arrancou de seu partido, o PMDB, sua candidatura ao governo do Paraná eu disse aqui que a má notícia para o governador Beto Richa viria acompanha de uma animação em torno dessa surpresa eleitoral na política do estado. Richa já dava como certa sua vitória, talvez no primeiro turno. Já contava com o PMDB no chapão de apoio a sua candidatura à reeleição. Hoje, com a divulgação da pesquisa Datafolha, vejo que eu estava certo. Não que precisasse disso. Mas isto é uma confirmação de que na entrada na disputa o senador do PMDB já emparelhou com o governador, o que é péssimo para alguém que já ensaiava no espelho ao mesmo tempo o discurso de despedida e o de posse.

O Datafolha traz Beto Richa com 39% das intenções de voto, contra 33% de Requião. Gleisi Hoffmann (PT) está com 11%. Três outros candidatos nanicos ou extrema-esquerda, o que dá no mesmo, não alcançaram 1%. Indecisos somam 10%, e brancos ou nulos, 5%. Conforme a margem de erro (de três pontos percentuais), Richa e Requião estão tecnicamente empatados. O clima político no estado é mesmo este, uma vantagem para Requião, que entrou tarde na disputa.

Em junho eu já dizia que o impacto emocional da vitória no partido impulsionaria a candidatura de Requião. E ele já tem resultados altamente positivos antes mesmo do início do horário eleitoral na TV e no rádio. E como já vi em situações criadas por Requião em entrevistas em rádios do interior, o senador peemedebista está tinindo em seu estilo político muito eficiente como chamariz de atenção do público. Requião já teve discussões fortes com apresentadores de rádio em entrevistas ao vivo. Os embates foram repassados pelos tucanos, com a intenção de atingir Requião. Bem, tucano é assim. O senador já tem este estilo durão há mais de trinta anos e os tucanos não perceberam ainda que isso faz um tremendo bem à sua imagem.

Beto Richa cometeu o erro grave de não desconstruir Requião enquanto governou e agora em campanha ainda não encontrou o tom para se dar bem na comparação com os dois governos anteriores do adversário. De seu lado, Requião já está plenamente exercitado para trabalhar na oposição. Não tem o mesmo traquejo quando é preciso governar, mas deixo isso pra depois. Os adeptos da candidatura de Richa vem errando feio, a ponto de até terem aberto espaço para Requião se vitimizar, ele que nunca larga a ripa numa eleição e bate muito. Arrumaram até uma suposta briga conjugal do senador, que teria acontecido (vejam só!) há mais de trinta anos. Mesmo se não fosse uma invenção a baixaria promove o outro e abre o espaço para o revide. E fazem isso com um adversário que, para bater, nunca foi de esperar que alguém ofereça a outra face.

Com dizia aquele saudoso locutor, o Fiori Giglioti, o tempo passa. E partida já está empatada pelo adversário que nem era esperado no jogo. Beto Richa terá de se esforçar para não ficar para a história como um dos raros políticos brasileiros que perde uma reeleição. Eu falava em junho do efeito animador da vitória da candidatura de Requião num partido que parecia já acertado no apoio ao governador. Imaginem a animação que os requianistas terão com esses números do instituto de pesquisa de mais credibilidade no país.
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POR José Pires

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A hipocrisia politicamente correta

Você já ouviu falar de alguém que não tem compaixão por uma família que perdeu um ente querido num desastre? Tem que ser um psicopata para não se comover com isso, não é mesmo? E teria de ser um psicopata já numa deformação psicológica bem avançada, praticando crimes com frieza, alguém como Hannibal Lecter, o assassino em série e canibal interpretado pelo Anthony Hopkins. Ora, todo mundo se comove com o sentimento de perda de uma família. Bem, então não é preciso ficar afirmando algo tão óbvio e nem se defendendo de ter esquecido de lembrar aos outros que temos estes sentimentos próprios de qualquer ser humano, não é mesmo? É até chato ficar o tempo todo dizendo "ei, pessoal, eu não sou o Hannibal Lecter".

Mas não é assim. Ou melhor, não querem que seja desse modo natural. Hoje em dia parece que existe uma obrigação de ficar se explicando sobre sentimentos óbvios. É imposição do politicamente correto, que vem dominado nossa cultura de forma cretina, rebaixando o senso crítico e dificultando a discussão objetiva dos nossos problemas. O domínio dessa subcultura é tamanho que até obriga de vez em quando a colocação no meio de um texto da explicação óbvia de que não estamos dizendo nenhum absurdo desumano que não está claramente escrito ali. A obrigação é até tola, mas a falta do esclarecimento deixa um espaço para a militância azucrinadora exigir um linchamento público pelo que você jamais escreveu e nem pensou.

Com a morte trágica do candidato Eduardo Campos reapareceu com bastante força este conceito politicamente correto e neste caso veio da forma mais absoluta, inclusive com o componente básico da hipocrisia. Nem todo puritano é um pervertido sexual, mas se o puritano exibe argumentos politicamente corretos tirem as crianças de perto dele: é um pervertido da pior espécie. E na política é ainda mais aterrador o uso do politicamente correto. Por detrás desse conceito existe sempre a necessidade da manipulação, seja para esconder um malfeito ou para o ataque a alguém que traz um questionamento ou mesmo que pense diferente sobre o assunto em debate.

No caso da morte de Eduardo Campos, vozes compadecidas que exigem respeito ao falecido estavam há pouco, aos gritos, exigindo que a CPI da Petrobrás investigasse também o Porto de Suape, que mesmo se fosse um antro de corrupção nada teria a ver com o objetivo da CPI. Mas era preciso atingir a candidatura de Campos. Eles tinham que aniquilá-lo. E essas mesmas vozes compungidas de agora berravam também insultos e repassavam ataques sórdidos pela internet. E como ainda não era necessário vir com o fingimento do politicamente correto, nem a vida pessoal do candidato era poupada. Assim como eles não têm escrúpulo de inventar mentiras sobre o Aécio Neves, o José Serra, o Reinaldo Azevedo, o Joaquim Barbosa e até sobre o Ney Matogrosso ou qualquer um que não fizer parte da claque obrigatória.

O canibal feito por Anthony Hopkins tem um toque importante em sua personalidade, que o ator transmite muito bem. É o da extrema amabilidade. Um canibal agressivo não permitiria suspense algum, além da dificuldade óbvia dele atrair qualquer vítima dessa forma. Os psicopatas costumam ser figuras muito amáveis, dedicando uma atenção extrema ao sentimento alheio. É como o politicamente correto. Mas essa extrema compreensão e delicadeza só vai até o momento em que a vítima está sob seu domínio. Por isso, é preciso tomar cuidado. Não podemos deixar o Brasil ser dominado por esses canibais.
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POR José Pires

terça-feira, 12 de agosto de 2014

De arma na mão

A presidente Dilma Rousseff sancionou ontem a lei que cria o Estatuto Geral das Guardas Municipais. A lei resolve várias questões importantes sobre esta polícia que já estava em atividade em várias cidades. Porém, como vivemos num país que não consegue controlar nem as forças de segurança que já existem, podem vir problemas por aí: a guarda municipal terá poder de polícia e também o direito ao porte de arma.

O surgimento de uma polícia municipal já é uma daquelas soluções tipicamente brasileiras. Aqui, quando um problema cresce demais logo aparece alguma novidade milagrosa. Em vez de ir à raiz da questão e atacar o problema aprimorando as soluções já existentes, costuma-se criar uma nova instituição para dar uma mão às que já existem. É por isso, por exemplo, que temos uma variedade de tribunais no país, inclusive um que nunca mostrou verdadeira serventia, os tribunais de contas.

Foi também a partir desse hábito nacional que surgiram as milhares de ONGs para trabalhar com questões que o Estado não dava conta. Bem, os problemas continuaram do mesmo tamanho ou até pioraram, com o agravante do custo financeiro a mais para os cofres públicos com estas ONGs, além da corrupção de grande parte delas. A guarda municipal apareceu da mesma forma. Com os crimes aumentando, apesar de já existirem duas polícias para cuidar disso, por que não criar mais uma? Surgiu então esta proposta milagrosa de uma polícia para o município. Muitos políticos ganharam votos com isso e se safaram em parte da responsabilidade pela insegurança, que continua. E se você acha que vamos mal de prefeitos e vereadores no país, então prepare-se: é deles o comando da polícia local.

Com o desespero criado com a crescente violência, nem deu para o brasileiro questionar que raio de solução é essa de criar uma nova polícia para consertar uma situação gravíssima que outras duas muito mais aparelhadas e bem mais experientes não deram conta. Mas agora parece tarde para esta discussão. A guarda municipal já é um fato concretizado, com poder de polícia e o porte de arma. Considerando o descuido histórico em nosso país com os desmandos policiais e o despreparo das nossas polícias, além da tremenda banalização da violência, é muito provável que logo estejamos lamentando bastante o gosto deste novo remédio milagroso.
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POR José Pires

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Um país inacreditável


O Brasil parece aquela seção que antigamente aparecia em jornais e tinha até um programa na televisão, apresentado pelo ator americano Jack Palance. Era o "Acredite, se quiser!", que trazia casos difíceis de aceitar como verdadeiros. O Brasil está desse jeito já faz tempo. Soube nesta tarde, por exemplo, que os 11 policiais militares condenados pelo assassinato da juíza Patrícia Acioli, no Rio de Janeiro, ainda não foram expulsos da PM e continuam recebendo salário. Considerado o mandante do crime, o tenente-coronel Cláudio Oliveira recebe mensalmente R$ 26.295,09. Exatamente hoje o crime completa três anos.

E isso vem acontecendo por uma razão muito simples: a Polícia Militar informou que ainda não foi notificada oficialmente da condenação pela Justiça. Porém, depois que a imprensa foi atrás do assunto, a Polícia Militar do Rio informou em nota que "assim que o Tribunal de Justiça enviar a conclusão do processo com o pedido de perda do cargo público, a exclusão vai se confirmar”. Acredite, se quiser.
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POR José Pires

O governo do PT reescrevendo o Wikipedia

É preciso se indignar com a manipulação de informações do site Wikipedia, que foram feitas por meio de computadores do Palácio do Planalto. O PT tem o grave defeito de não aceitar a liberdade de expressão e não ter respeito para com a verdade histórica. É um sinal de nascença que vem de longe, dos tempos em que prevalecia o sentido totalitarista na esquerda mundial. A queda do comunismo na União Soviética e nos países dominados do leste europeu serviu para curar disso alguns partidos de esquerda, principalmente os europeus. Mas o PT ainda sofre dessa peste autoritária, com efeitos não só na sua relação dentro do país como também na política externa deste governo. E logo ele, um partido que veio depois da queda do muro de Berlim, é o que não larga desse vício ditatorial.

A manipulação de um site coletivo da internet, vinda de computadores oficiais, mostra o perigo que está instalado no poder no Brasil. É preciso tirar de lá pelo voto este risco à nossa democracia. A alteração com falsas informações negativas em biografias de oposicionistas e de jornalistas (entre eles, Miriam Leitão, Carlos Alberto Sardenberg e Reinaldo Azevedo) era feita em paralelo aos elogios acrescentados à biografias de políticos ligados ao governo. Por aí dá para saber o interesse por detrás dessa a manipulação. Não é uma irresponsabilidade meramente pessoal. Está mais para uma conspiração política organizada. O processo é indecente, mas não tem nada de novo. O governo do PT vem procurando fazer isso de outras formas com outras ferramentas. Eles querem recontar toda a história do Brasil ao modo deles. E é claro que é uma versão com heróis só do lado deles. A pretensão até resultou no jargão petista involuntariamente cômico, o do "nunca-antes-na-história-deste-país".

A atitude é condenável não só no aspecto político. É uma transgressão muito grave porque debilita nossa cultura. Se esse tipo de manipulação prevalece onde irá parar a qualidade da nossa formação intelectual e profissional? No lixo da história, é claro, que é de onde essa gente tira seus argumentos. A manipulação de informações históricas e biográficas tem que ser repudiada não só por ser uma fraude política, mas também pelo dano que pode causar à formação de todos os brasileiros. É preciso falar a verdade e ter respeito aos fatos. E isso vale em qualquer sentido do debate político, com a exigência de um apego à verdade histórica quando for para escrever contra este governo que aí está. Não é correto inventar nada e isso nem é necessário para condenar o que esse pessoal fez no poder e com suas carreiras políticas. Os petistas já se incumbiram de sujar sua própria história. E agora querem fazer o mesmo com a vida de quem não pensa do jeito deles.
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POR José Pires

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O PT dando uma mão ao companheiro Maluf

A solicitude do governo do PT com políticos de fichas encardidíssima é algo tão exagerado que parece coisa de otário. Tem gente que costuma colocar lá no alto a esperteza do Lula, por exemplo. E eu costumo também discordar. Não vou negar que Lula soube se dar bem na política. Não é qualquer pai de família que tem um filho que há quatro anos ganhava menos de mil reais como monitor de visita em zoológico e hoje o garoto prodígio é um dos grandes milionários do país. Lula teve esperteza para ganhar muito com a política, mas não são poucos os políticos que fizeram isso. Sem dúvida, o chefão petista teve uma carreira de sucesso, mas compromete sua imagem além do necessário, assumindo ônus que outros chefes políticos sabem evitar.

Recentemente, por exemplo, Lula esteve no Pará apoiando a candidatura de Helder Barbalho ao governo do estado. O candidato é filho do senador Jader Barbalho. Pois no palanque Lula disse o seguinte: "Helder, você tem que dizer que é filho [do senador] com muito orgulho". É preciso se comprometer desse jeito? É claro que não. Até o Jader Barbalho sabe que não precisa tanto. Mas tem sido assim, desde que Lula subiu ao poder. Ele cede os nacos de poder aos caciques políticos, mas acaba colando demais sua imagem a eles. O presidente Fernando Henrique Cardoso governou com o apoio dos mesmos coisas ruins que Lula tem hoje ao lado, no entanto o tucano não permitia e muito menos estimulava esse tipo de intimidade. E é o Lula que é o esperto?

Tem mais uma notícia que comprova este descuido na esperteza petista. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, atuou junto ao governo dos Estados Unidos para ajudar Paulo Maluf. O ministro fez um pedido ao governo americano para que Maluf fosse ouvido no Brasil no processo que responde sob a acusação de evasão de divisas. O governo americano recusou. Foi Maluf quem falou sobre a ajuda petista, em entrevista no final do mês passado ao programa "Poder e Política", do site da Folha de S. Paulo e do UOL. É claro que ele fez isso para contar vantagem e favorecer sua candidatura a deputado federal.

Mas o governo do PT precisava se comprometer dessa forma, interferindo oficialmente em favor de um político que nem pode sair do país que seria preso pela Interpol? É claro que não. Essa ajuda internacional de Lula e seus companheiros veio logo depois do apoio de Maluf ao PT na eleição para a prefeitura de São Paulo. Na época ele fez leilão de seu apoio político, mas os tucanos não entraram em seu jogo. Foi o PT quem levou. Os petistas imaginam-se os mais espertos nesse tipo de negócio, mas a verdade é que não sabem usar seu poder de compra. Pagam muito caro e até misturam-se aos que se vendem.
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POR José Pires


Cartão da discórdia

O senador Roberto Requião está achando que seu projeto que libera cobrança diferenciada em pagamentos em cartão de crédito pode ser uma boa bandeira nesta eleição, mas as primeiras reações da opinião pública mostram que ele está errado. Porém, quem conhece o senador sabe que ele é cabeçudo e deve levar o assunto adiante, sem avaliar de forma equilibrada o clima negativo criado pela notícia de que o projeto começou a andar. O plenário do Senado aprovou nesta quarta-feira a proposta, que vai para a Câmara.

No popular, Requião deu um tiro no pé que pode afetar sua candidatura ao governo do Paraná. Os próprios senadores da base aliada do governo já haviam percebido a mancada e tentavam empurrar o assunto para o ano que vem. Mas quem segura o Requião? Sua argumentação é a de que o projeto permitirá economia, principalmente para os mais pobres. Ele cria uma estranha distinção nestes supostos descontos, mas não convence nesta divisão de classes na hora da compra. De qualquer modo, a economia prevista pelo senador é muito pequena. Diz ele que será de 3 ou 4%. Creio que o consumidor consegue mais que isso com o cartão e sem o Requião para atrapalhar a negociação.

A proposta do senador derruba uma resolução que proíbe a prática do soprepreço, que vinha acontecendo. Não existe lei que possa proibir desconto. Isso é demagogia. É óbvio que caso vá adiante mais essa loucura do Requião haverá uma desorganização geral em uma relação econômica que já está estabelecida. Se for para ter alguma alteração, ela deve ser feita no âmbito do acordo entre o comerciante e os bancos. Sabemos que os bancos arrocham quem vende pelo cartão, que hoje é a moeda de fato do país. Mas não é sensato jogar para o consumidor a responsabilidade sobre essas dificuldades. Já dá para imaginar a bagunça que vai virar. E ao contrário da alegada boa intenção de Requião, o que virá é o sobrepreço e não descontos na compra a dinheiro.

Tem também o problema da segurança. O governo do PT, do qual Requião faz parte, lançou o país na mais desesperadora violência que já existiu. E por isso não dá para andar com dinheiro em espécie. Por este aspecto, o projeto é até de uma cretinice espantosa. Nem dá para imaginar a população saindo por aí hoje em dia com os bolsos estufados de grana para aproveitar a chance dada pelo senador bonzinho para pechinchar na compras. E creio que nem é preciso dizer nada sobre os riscos de um comerciante cheio de dinheiro em espécie no caixa.

Além de todas essas dificuldades, a alteração de preço para cima continua ocorrendo. É causada pela desastre da política econômica do governo do PT, que Requião defende na base aliada governista, do mesmo modo que se cala quanto aos volumosos escândalos de corrupção. Já vi preço sendo cobrado de forma diferenciada em comércios que fazem recarga de celular. O comerciante cobra a mais se o serviço for pago com o cartão. Ainda dá para reclamar. Mas com a lei do Requião abre-se a oficialização desta prática para todas as compras. E com a crise que vem estourando, já dá para imaginar o que é que pode acontecer. É óbvio que vai bagunçar a vida do consumidor, desacreditando o uso do cartão e lançando os preços ainda mais pra cima.
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POR José Pires