segunda-feira, 31 de maio de 2010

Agora vai

O mundo estava preocupado com o vazamento de petróleo no golfo do México, mas toda a aflição acabou nesta segunda-feira pela manhã, quando o presidente Lula deu a receita para conter o vazamento.

Foi em um evento ecológico no Rio de Janeiro, o 10º Challenge Bibendum. Vejam o que ele falou: "Você sabe, tem que chegar uma nova sonda. Tem que fazer um novo poço para poder implodir aquele. E tem que ser tamponado para parar de sair petróleo".

Agora é só alguém traduzir isso para o inglês e passar para os técnicos, que estavam com a maior dificuldade para chegar numa solução que, vê-se agora, até que é bem simples.

O cara está impossível. Para problemas menores, como este do golfo do México, está dispensando até o olho no olho.
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POR José Pires

Campanha de Dilma tem vaga

Está pintando vaga de tesoureiro na campanha de Dilma Roussef. No começo dessa tarde a candidata do Lula disse que a coordenação da campanha está "avaliando” a permanência do tesoureiro José Filippi Júnior.

Essa conversa de “avaliação” é lorota da Dilma. Filippi já está fora. A menos que os petistas queiram carregar até a eleição um tesoureiro de campanha condenado pela Justiça a devolver mais de R$ 2 milhões aos cofres públicos.

Esta é a quantia que Filippi, que também é ex-prefeito de Diadema, foi condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo a devolver aos cofres da prefeitura da sua cidade.

O dinheiro foi pago ao escritório de Luiz Eduardo Greenhalgh, conhecido ex-deputado do PT que já teve seu nome ligado a casos suspeitos do partido, a começar pelo famoso Caso Lubeca, de 1989, escandaloso esquema de corrupção na prefeitura de São Paulo.

Greenhalgh era o vice da prefeita Luiz Erundina, eleita pelo PT, e também secretário de Negócios Jurídicos da prefeitura. Com o escândalo de corrupção, acabou sendo demitido por Erundina da secretaria.

No caso que deve derrubar o tesoureiro de Dilma, o escritório de Greenhalgh foi contratado pela prefeitura de Diadema sem licitação e ganhou R$ 2,1 milhões para defender apenas duas causas. Segundo a Promotoria, a prefeitura tinha 51 procuradores para fazer o mesmo tipo de serviço.

O cargo de tesoureiro da campanha de Dilma está num rodízio danado. Primeiro caiu João Vaccari Neto, suspeito de desvio milionário na Banccop, a Cooperativa de Habitação dos Bancários de São Paulo. Agora é Fillippi que despenca exatamente do lugar que Vaccari perdeu com a descoberta do escândalo da Bancoop.

Vaccari continua sendo tesoureiro do PT. O rigor moral no partido pode ser bem menor do que numa campanha, afinal tudo não passa de um jogo de aparências.
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POR José Pires

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Um peso, duas medidas


Já que não se importa de servir para plantação de notícia, a imprensa podia pelo menos organizar melhor esta agricultura política que usa demais o adubo da má-fé.

Quem lê estes textos com olhos profissionais sabe muito bem medir as intenções e avaliar que são os ganhadores de notas plantadas e, muitas vezes até reportagens com manchetes de capa, como a curiosa matéria da Folha de S. Paulo do último domingo, que prevê como destino de Lula a possibilidade dele escolher entre mandar na ONU ou no Banco Mundial.

Que chato, hein? Minha mãe que nasceu analfabeta me mandou bater nessa daqui, mas como sou teimoso vou bater nessa daqui!

É um jornalismo com interesses evidentes. Só que é despropositado para o leitor que busca informação consistente. É perda de tempo. E volto a dizer que é esse tipo de atitude, esse quase método, que faz a imprensa perder leitores. Não é a internet, não senhores.

Esta forma de jornalismo, que infelizmente das publicações impressas saltou para os
sites, atinge os três candidatos, mas ninguém pode negar que Serra sofre um bocado mais que os outros.

Peguem jornais antigos. Ou façam uma busca entre a poeira do Google. Todas as previsões, pitacos, entrevistas, estatísticas, praticamente tudo que foi escrito sobre a candidatura de Serra estava errado.

O rigor sobre sua candidatura chega a ser cômico. Só não é engraçado pelo fato da candidatura oficial transgredir limites morais e até legais e não receber tratamento igual ao do tucano.

Ao contrário, bem diverso mesmo. Lula usa a máquina pública de uma forma que nunca se viu. Até o Itamaraty foi forçado a tentar obter uma visita de Barack Obama ao Brasil antes da eleição. O cara tem programa de rádio em todo o interior, colunas em jornais, propaganda do governo e de estatais relacionadas com conceitos que reforçam sua imagem. Tem até a TV Brasil, "a minha TV", como ele diz.

E o que é Lula para a imprensa? Ah, ele é muito carismático. É um puxador de votos como nunca se viu.

Lorota. Tanto que o próprio Lula não confia tanto neste suposto magnetismo pessoal. Tanto que usa todo seu poder de mando para catar tudo quanto é partido para os lados de sua candidata. E até fez pressão para que Ciro Gomes fosse esmagado do jeito que vimos.

Mas a imprensa bate na mesma ladainha do líder carismático.

Já com o Serra não. O tucano tem defeitos, é claro, qual é o político que não tem? Mas o rigor com ele é excessivamente acima do que é usado com Lula, o manipulador dos cordões da candidata Dilma. Com Lula, na verdade, não há rigor algum. Hoje o petista é como se fosse um Paiakã da política. Parece inimputável.

Querem que eu dê um exemplo? Então imaginem o que sairia na imprensa se o Serra, em vez de denunciar a conivência do governo boliviano com o tráfico de drogas, botasse um colar de folhas de coca no pescoço.

Agora, com o empate diagnosticado pela pesquisa do Data Folha, coitado do Serra, ele já pode ter perdido a disputa, apesar de faltar ainda quase cinco meses para a eleição e de seu nome nem ter sido ainda oficializado na convenção de seu partido.

E é desse jeito que o monte de papel velho vai aumentando no quartinho dos fundos.
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POR José Pires

De olho na retaguarda

Tudo bem, ninguém é ingênuo de achar que a coisa vai parar, que esse pessoal tome vergonha pelo menos em respeito às eleições, mas os cultivadores das plantações podiam ao menos fazer uma edição da boataria, aplicando lógica ao que chega às suas mãos.

Tenho lido que Serra tem um problema agora com seu vice. Tem um jornal que até avisou que a solução precisa ser encontrada até a data da convenção do PSDB. Puxa vida, essa o candidato tucano tem que agradecer.

Com julgam que Aécio Neves já é opção totalmente descartada (o que, conhecendo bem o neto de Tancredo, ninguém deveria fazer até o momento final), já listam uma série de vices. Isso facilita. Serra pode escolher.

Mas creio quem quem redige uma notícia deve usar a lógica, não? Então por que ficar aventando o nome de Itamar Franco, quando todos dizem que o maior problema de Serra seria a defesa do governo FHC? Ah, então defender o governo FHC é dureza, não? E o de Itamar? Apesar disso não ter entrado no estranho raciocínio, parece que seria a maior moleza.

Dando mais uma olhada na lavoura, também dá pra perceber pontos muito interessantes. Daria um bom tema em aula de jornalismo, pois imagino que é diplomado o pessoal que anda escrevendo essas coisas.

Um nome muito forte para ser vice de Serra, dizem os agricultores da notícia, é o do senador Tasso Jereissati. Até pode ser. Não tem problema, a não ser o fato de que, se eleito, Serra teria que aumentar o número de guarda-costas da presidência da República.

Não é por ser vice que Jereissati vai deixar para trás o hábito de dar facadas pelas costas. Aliás, como vice a mania pode até piorar.

Mas vamos à “lógica” das notícias. Jereissati estaria bem cotado por ser nordestino, ter popularidade no Ceará e (se preparem, porque é porretada, tanto que vou aspar) “ajudar Serra a capitalizar os votos dos eleitores do ex-presidenciável Ciro Gomes”.
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POR José Pires

África e Nordeste

Chega a ser engraçado, pelo menos pra mim que não sou nordestino, a forma como a imprensa aqui do lado debaixo do mapa brasileiro analisa o Nordeste. Esta região do país é tratada como se fosse de uma unidade política tremenda, de forma que em Teresina, São Luís, Salvador, Recife, Aracaju, João Pessoa, Natal, Maceió e Fortaleza existisse um pensamento político uniforme e manipulável.

Claro, pois não vivem dizendo pra gente que Lula é forte no Nordeste por causa do Bolsa Família? Temos então uma região onde para ter força basta colocar um cacique na chapa.

O Nordeste é a África das nossas seções de política. Calma, sem ofensa, já explico. Não se vive falando aqui no Brasil em uma tal de (dai-me paciência) cultura africana?

Parece que agora até é obrigatório nas escolas. Opa, com um vice da África a gente conquista todo aquele eleitorado de “cultura africana”. Pois é, mas eu quero ver alguém juntar um argelino, um angolano, um moçambicano e um egípcio e explicar isso para eles.

É parte desta visão torta sobre o Nordeste identificar Luiz Gonzaga como músico nordestino e Caetano Veloso não. Ou, para pegar gente de uma mesma geração, Alceu Valença é tratado como nordestino. E Gilberto Gil e Maria Bethânia não são.

Querem ver como estas análises rasteiras se cercam de preconceito? Quando o nome é o de Aécio Neves, é citado apenas o eleitorado mineiro. Por que não se fala então na estratégia de agregar sua força no Sudeste? Ou então, se fosse cogitado um nome gaúcho, deveria se falar no peso político em todo o Sul.

Ninguém escreve essa besteira por aqui simplesmente pelo fato de que sabemos que... é uma besteira. A maioria sabe que não existe esta bizarra unidade que daria a um nome paranaense ou catarinense a capacidade de sedução do eleitorado de toda a

Este raciocínio parece o de “festa nordestina” feita aqui no sul. Tem sanfoneiro, tem chapéu de cangaceiro, boneco do estilo de Vitalino e ficamos assim: esta é a cultura nordestina. Será que nordestino gosta disso? Cartas para a redação.

Aqui no Sul não é dessa forma que o assunto é tratado. Não temos essa de alguém dando uma unidade regional para o voto, como esperam do Jereissati. Vamos lá, não estou dizendo que seja exclusivamente preconceito. É mais por desconhecimento que se fala essa besteira.

Mas, já fechando, tem também os votos do Ciro Gomes. É isso, Serra precisa do eleitorado do deputado cearense que mudou o título eleitoral para São Paulo. Então nada mais simples que pegar um político do Ceará, não?

Eu não sei o que seria do Serra se não fosse essa gente para passar essas sacadas políticas pala ele.
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POR José Pires

Fonte transbordante

A imprensa brasileira tem um modo curioso de cobrir os assuntos. Por que o deputado cassado José Dirceu tem que ser ouvido sobre as críticas do pré-candidato José Serra à leniência — ou cumplicidade mesmo, como eu posso dizer, já que não sou candidato — do governo da Bolívia com o tráfico de drogas?

Ele não é o coordenador da campanha da Santinha, não é líder de bancada, não é presidente do PT. Então qual é a justificativa que os jornalistas podem dar para ouvir tanto o José Dirceu?

No vocabulário político temos diversos tipos de fonte. Tem a "fonte que não quer se identificar",a "fonte ligada a este ou aquele poderoso", a "fonte oficial", é um aguaceiro danado, muitas "fontes". E quase todas não tem outro significado que facilitar o enchimento das colunas do jornais e agora dos sites.

Na minha visão, isso tem feito os leitores se encherem de ler notícia que não dá em nada. É um tal de deputado fulano falou isso, senador sicrano pensa aquilo, que nada acrescenta à informação. Isso não é jornalismo. É só embrulho de peixe.

É muita armação. Nalgumas vezes os jornais chegam ao ponto de pautar um assunto com uma pergunta capciosa feita a algum político — algo assim como "fulano, o que você acha daquilo que o sicrano fez?" — e depois vão ao sicrano perguntar se ele não vai responder ao outro. Só não avisam que foram eles que inventaram o assunto.

Para que tem servido isso, além de aumentar a pilha de papel velho no quartinho dos fundos? Para nada. É o caso de pitacos do José Dirceu. Ora, todo mundo sabe que sua atuação é de lobbysta (falando nisso, o bom lobbysta é igual agente secreto: sua capacidade se mede também pela discrição, não?). Então, quando um jornalista vai buscar sua opinião forçadamente sobre tantos assuntos, não dá pra gente deixar de suspeitar que o jornalista traz algo mais que a opinião. Mas isso ele não mostra pra ninguém.

José Dirceu é uma fonte transbordante. Não sei como é que sua opinião não invadiu ainda os cadernos de cultura (o que será que Dirceu acha do último disco do Caetano?) Ora, isso é embrulho de peixe podre.

Jornal vive de credibilidade. Blog idem, está bem? Então quando uma fonte é quase permanente num desses veículos, a gente logo fica pensando sobre as motivações do jornalista. Será que o uísque da casa do José Dirceu é tão bom que, além, de sair trocando as pernas o jornalista vai pra casa com uma opinião novinha de Dirceu sobre qualquer assunto? Eu disse uísque? Bem, deixa pra lá.

O ex-titular do governo petista e capitão valoroso que Lula teve que chutar do time teria que ser ouvido quando o assunto é mandracaria, corrupção ativa, formação de quadrilha, suas atividades mais marcantes na política, segundo a Procuradoria-Geral da República, e pelas quais ele ainda tem que responder ao STF.

Aliás, logo adentramos o mês de junho, quando pululam as quadrilhas pelo país afora. Neste caso não seria forçação de barra ouvir José Dirceu, afinal o procurador-geral da República o identificou como um dos maiores chefes de quadrilha do país.
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POR José Pires

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A Santinha e o Garotinho


Anthony Garotinho foi cassado agora à tarde pelo Tribunal Regional do Rio (TRE-RJ). Rosinha Garotinho, sua mulher e prefeita de Campos, também foi cassada. A marotagem é antiga, vem da acusação de abuso de poder econômico na eleição de 2008 em que Rosinha se elegeu prefeita.

Está todo mundo à espera da reação da brava blogosfera petista contra esta decisão do TRE carioca, logo agora que a Santinha e o Garotinho já tinham acertado tudo.

Esta tarde em seu site, Dilma já partiu em defesa do companheiro Evo Morales, presidente da Bolívia, de onde vem quase toda a cocaína que chega ao Brasil. Mas ainda não falou nada sobre este outro companheiro maroto, o Garotinho.

É provável que ela esteja preparando um bom discurso, uma coisa mais elaborada, afinal não se deve fazer algo banal para alguém que, como ela já disse com toda emoção, "é um companheiro histórico".
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POR José Pires

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Toc, toc, toc, torcida brasileira!


Ninguém precisa de incentivo para torcer contra a Argentina em Copa do Mundo, mas o técnico Maradona acaba de dar mais um motivo para isso. Ele vai ficar pelado em público se a Argentina ganhar a copa. Puxa vida, o mundo precisa evitar um espetáculo grotesco desses.

Mas o Brasil tem mais problemas que a Argentina, sendo que o mais grave acabou de acontecer em Brasília. Veja em primeira mão na foto que acabei de pegar na Secretaria de Imprensa da Presidência da República: a Seleção cometeu mesmo a imprevidência de ir visitar o pé-frio.

Avisamos sobre o perigo. Até publicamos provas sobre o assunto, na famosa lista de vítimas do seca-pimenteira, mas não teve jeito. A ziquizira está feita. Agora a torcida brasileira vai ter que fazer um esforço extrordinário, bem maior do que já estava sendo exigido pela Seleção do Dunga.

Lá no fundo da foto dá para perceber o ministro dos Esportes, Orlando Silva, e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, conversando animadamente, talvez combinando a divisão da tapioca da Copa de 2014, no Brasil. A tranquilidade do Lula faz a gente crer que a tapioca dele já está garantida.
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POR José Pires

O encontro da CNI entre presidenciáveis

Assisti ao debate entre os presidenciáveis, promovido ontem em Brasília pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Está disponibilizado na íntegra no site da CNI e também outros sites e blogs estão divulgando trechos mais interessantes. No site da CNI está disponível inclusive a entrevista coletiva de cada político.

Estavam presentes Marina Silva (PV), Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Foi na verdade um encontro com os presidenciáveis. Não teve perguntas entre eles. Mas o caráter de debate acaba se instalando, pois na fala de um ou outro surgem as comparações e até críticas ao adversário.

Surpreendeu positivamente o nível técnico da preparação do encontro, com apresentação ao vivo pelo site. As propostas da CNI foram divulgadas em um documento que também merece uma boa leitura. O download do vídeo poderia talvez ser menos pesado, não sei se é possível, mas, enfim, tenho que fazer este comentário senão os leitores não me reconhecem. E também pode haver um outro mais danado que pode achar que estou levando jabá para falar bem da CNI.

Neste encontro fica evidente de forma muito clara como o pré-candidato José Serra chegou a um nível de qualidade política como poucas vezes se viu neste país, como diria o Lula (Lula diria que nunca se viu, melhorando como sempre a piada).

Eu não precisaria de um evento desses para elogiar o Serra. Tenho uma admiração pelo ex-governador desde antes dele se projetar como agora, ainda quando ele perdia eleições importantes, como da primeira derrota para a prefeitura de São Paulo, mas isso é outra história.

Serra tem qualidades técnicas e intelectuais infelizmente raras na política brasileira. Também escreve bem, o que sempre acaba atraindo minha atenção e respeito, porque a escrita é uma das coisas que me dão razão de viver. O que seria de mim sem a leitura? Não haveria esteira de ginástica capaz de repor tal vazio existencial.

Mas chega do Serra, antes que os petistas me acusem de ser tucano, eu que jamais fui de partido algum. Isso foi só para deixar claro que não precisaria do encontro da CNI para gostar da performance do ex-governador.

Mas eu quero falar mesmo é de outro candidato, a santinha do PT, que sempre pensei que encontro iria fazer eu gostar menos do que sempre gostei. Mas aí é que eu me enganava. Essa candidata se supera dia-a-dia.
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POR José Pires

Meu nome é Dilma!

O que o encontro de ontem entre os presidenciáveis trouxe de mais chocante e de enorme peso simbólico foi a performance da ex-ministra Dilma Rousseff e candidata do PT.

Dilma é representativa de vários vícios políticos deste governo e do partido que está no poder. Sua escolha em momento tão expressivo e até crucial na história do PT, mostra bem a eficácia a derrocada de um modelo político, que pode muito bem ser chamado de lulo-petismo. Não acho que exista um “lulismo”. Sem a chave do cofre, Lula deterá o poder que tem agora sobre o petismo? Duvido. E também não terá a expressão que imagina para seu futuro, ele e a Folha de S. Paulo, que até coloca em manchete que basta que ele escolha entre a secretaria-geral da ONU e o Banco Mundial.

O caminho do PT tinha mesmo que dar na Dilma. Falei lá em cima da primeira derrota Serra para prefeito. Foi em 1988, ano da Constituinte, e ele perdeu para Luiza Erundina, que saiu do PT lá atrás praticamente excluída do partido. E Dilma? Nessa época era gaúcha (parece que agora é mineira) e do PDT.

A destruição gradativa dos quadros petistas, seja pelo corte implacável feito pelos caciques ou pela queda política causada por escândalos de corrupção, acabou abrindo o espaço que hoje é dela. Um cacique impôs uma que não é relevante nem na história do próprio PT. Isso é auto-explicativo para um partido que pegou todos os velhos defeitos da política brasileira.

Por isso a santinha deve ser vista como um símbolo. Um partido famoso pela qualidade parlamentar e capacidade de sua militância para o debate (para o bem ou para o mal, mais para o mal) acabou em uma candidata que nem sabe falar em público. Dilma não sabe como dizer e quando diz alguma coisa passa a impressão de que não sabe do que está falando. No encontro, não respondeu a nenhuma das questões que foram colocadas. Tratou também cada assunto com a agressividade contida de que já falei.

Perde-se em digressões que não dizem nada, traz números que não se referem ao assunto tratado, e faz isso em todos os assuntos. Não tem uma fala que se aproveite. Imagino o desespero de um marqueteiro que for editar o material produzido pela candidata. Não vai encontrar nada que preste e ainda corre o risco de ser xingado por ela.

Dilma é efeito tostines. Sua candidatura revela a falência do partido ou foi a falência que deu numa candidata tão despreparada? Se Dilma não representasse um partido que está no poder há oito anos e que esteve presente na vida política brasileira de forma atuante nas últimas décadas, além de administrar prefeituras importantes e até estados brasileiros, certamente seria tratada pela opinião pública com o mesmo tom jocoso que merecem candidatos nanicos que entram nas disputas apenas para sofrer vexames.

Não seria um exagero dizer que Dilma é um Enéas. E um Enéas que tem pela frente a dificuldade de não poder dizer apenas o nome (Meu nome é Dilma!), uma candidata que sofre com a exigência de um discurso mais longo e aprofundado.

Sua escolha, feita com um dedaço de Lula, passando por cima do PT e alijando da disputa nomes do partido mais competentes em todos os aspectos e até lançando fora da disputa com a pressão da máquina pública um aliado como Ciro Gomes, é o retrato que finalmente foi revelado de um partido que cresceu na cômoda situação de uma oposição sem responsabilidades e que chafurdou na corrupção sempre que que obteve o poder.

Dilma candidata à presidente da República é duplamente assustador. Primeiro pelo óbvio: ela pode ser a presidente. E depois, porque este despreparo cômico e até constrangedor reforça a apreensão sobre a situação real do nosso país. Nos dois mandatos de Lula ela esteve atuante no círculo mais alto do governo e no segundo mandato era a segunda em poder de mando. Até poucos meses atrás, era ela quem mandava. E mesmo hoje, a máquina de governo caminha sempre em conformidade com os passos da sua campanha eleitoral.

Observar essa tecnocrata de má-qualidade faz temer o que virá no ano que vem, quando a caixa-preta for aberta ou explodir de tantos problemas.
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POR José Pires

Não há vaga, santinha

Não vou correr agora atrás do perfil dos empresários, mas dá para notar pelo vídeo que alguns dos que fizeram perguntas têm um perfil parece raro hoje em dia no setor, o daquele empresário que não recebeu do céu, ou melhor, do papai aqui da terra, as coisas que têm. É o empresário que construiu a carreira com esforço e dedicação, não raro começando bem de baixo.

Até por minha idade, convivi algumas vezes com empresários assim e sei que o perfil humano pesa bastante nas suas avaliações. E dá para entender isso muito bem. Imagino quantas vezes eles não tiveram um idiota à sua frente repetindo com exatidão números, estatísticas, projeções e tantas enrolações sem resultado prático e, pior, surgidas apenas do palavrório de tantos livros de gurus da Administração.
Com todo o respeito, Dilma é um desses idiotas. Ela parece aqueles picaretas que faziam conferências pelo país afora discursando sobre as maravilhas da reengenharia. Dava para seguir o rastro desses cretinos pela má-qualidade dos serviços e as empresas destruídas espalhadas pelo caminho.
Bem, Dilma não é parecida com esses idiotas ao menos por uma coisa: não consegue recitar com habilidade o lero-lero.

Com os três presidenciáveis ali sendo avaliados pelos empresários, fiquei imaginando qual deles seria contratado se estivessem disputando uma vaga de trabalho.

Eu acho que a Dilma ia ter pegar o currículo (será que já eliminou o doutorado que nunca fez?) e caçar vaga em outro canto. 
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POR José Pires

Apoio insalubre

Se dependesse apenas do mérito pessoal, sem o escoramento das indicações políticas e do poder de grupos, como tem sido sua carreira a candidata do PT teria dificuldade de colocação mercado. Essa é uma verdade dura que os companheiros têm de encarar e que para alguns deve ser uma vergonha danada.

Puxa vida, apoiar uma figura como a Dilma é de uma insalubridade política até desumana. No aspecto intelectual, então, deve ser tão abalador quando fazer campanha para o Berlusconi. Eu não escreveria a favor de uma incapaz como essa nem que fosse por um bom empréstimo a fundo perdido do BNDES. Mas nem que o Franklin Martins ou a Teresa Cruvinel aceitasse um projeto meu muito bacana e bem pago para a TV Brasil.

Seguir a liderança de Lula também não deve ser fácil. Puxa vida, cada vez que a gente encarasse um Karl Popper ou um Isaiah Berlin na biblioteca iria ser um vexame. Mas com Lula e sua proverbial ignorância, sempre é possível justificar com sua suposta história esse rebaixamento intelectual e até mesmo moral e político.

Como candidata, Dilma é um estouro. Ou quase. Ela está sempre à beira da explosão. E a granada só mantém o o pino porque o momento exige. Não é como um ataque de nervos. Não, isso até seria justificável, ainda que fosse recomendável a camisa de força. Na realidade ela vive de forma permanente na situação de toda pessoa autoritária que, por força das circunstâncias, não pode mandar o próximo às favas.

Em qualquer situação, mesmo que seja em um clima sem nenhuma agressividade política, como foi este encontro, Dilma tem uma dificuldade danada em ouvir o outro. Dá a impressão de que é capaz de responder com agressão até a um elogio. Bem, ainda bem que disso estou livre.
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POR José Pires
No encontro da CNI as perguntas foram bem educadas, tanto no tom quanto no conteúdo, sem a extrapolação grosseira dos limites do bom senso e a falta de cortesia que costuma acontecer em eventos do tipo promovidos por sindicatos de trabalhadores. Isso pelo menos os sindicalistas deveriam aprender com os patrões.

Porém, mesmo com este clima, eu já estava esperando Dilma dar um pito em algum empresário. Toda questão era recebida por ela de forma tensa. Quando o jornalista responsável pela mesa chamou sua atenção para que parasse de exceder o tempo, ele se arriscou a ser chamado de “santinho”.

Ela fica extremamente desconfortável com qualquer questionamento, mesmo com uma indagação técnica. Mas como tem uma eleição aí na frente, a candidata busca usar de forma habilidosa as palavras para não transparecer a impaciência. E aí arruma outro problema, pois a palavra é uma das ferramentas que ela não sabe usar.

Então se enrola em um palavreado que no final não tem significado algum. E o corpo também não atende seu comando para não parecer que está doida para dar uma patada no intrometido perguntador. A expressão corporal, o tom de voz, tudo que ainda foi domado por especialistas em marketing fica contido, mas sempre no limite da explosão.

Essas exposições públicas estão pelo menos ajudando a entender as histórias de grosserias, gente chorando pelo corredor, ministros ofendidos em público, as tantas histórias que contam o inferno que era com Dilma quando ela era ministra-chefe da Casa Civil.

O PT tem uma candidata que não tem competência nem para exercer papéis básicos de um político em campanha, como falar com certa habilidade, dominar números e estatísticas e saber utilizá-los em seu devido contexto, enfim fazer bem feito uma campanha política.

E ela pode vencer. Até um poste teria essa chance, com o poder político e econômico que cerca sua candidatura, com um partido influente em sindicatos fortes e na maior central sindical do país e a posse da máquina do governo federal, que vem sendo usada além do limite da legalidade.
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POR José Pires

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Zerando

Hoje foi lançado o canal internacional da TV Brasil. A TV do Lula está ficando importante: agora é Lula News. O canal transmitirá sua programação para 49 países da África. Numa segunda etapa, a programação será estendida para os Estados Unidos, América Latina e Europa.

Segundo a presidente da emissora, Tereza Cruvinel, o custo será "praticamente zero". Ela não falou, mas convém informar que a audiência também será praticamente zero.
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POR José Pires

Não dá pra não deixar de não gostar


Certas notícias forçam a gente a voltar ao texto para verificar se não houve algum erro de leitura do que acabamos de ver. Hoje com a facilidade da pesquisa na internet, não é raro que eu corra para outros sites para ver se o fato está mesmo sendo colocado corretamente.

Textos sobre o meio ambiente sempre obrigam a esta verificação, não só porque é um assunto que lida muito com números, mas também pelo susto que levamos em cada notícia. Infelizmente em cada verificação vemos que a coisa é mesmo de assustar.

Essa reforma da Folha de S. Paulo, que começou no jornal de ontem, deu um estranhamento que me fez voltar a olhar com atenção o modelo anterior. A edição de domingo veio com um caderno inteiro para convencer o leitor de como está corretíssima a reformulação. É um caderno falando bem deles. Puxa vida, isso é algo que o jornalismo devia evitar. A Folha gosta bastante desse negócio de "ouvir o outro lado", não? Pois deviam ter pedido para a redação do Estadão editar este caderno que avalia a reforma que fizeram.

É claro que toda reforma é projetada para melhorar o produto, mas vejam os dois jornais acima. O da esquerda é a Folha antes da reforma e a da direita é como fica a partir de agora. Será que sou o único louco por aqui? Eu acho a melhor a Folha de antes.
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POR José Pires

Novidadeira e ansiosa para botar catraca na internet

Os outros jornais devem estar mesmo morrendo de inveja. A redação da Folha é um celeiro de gênios segundo... a própria redação da Folha.

Leio, por exemplo, no caderno que fizeram para exaltar a reforma que a renovação gráfica “facilita a leitura, reforça a organização das páginas e aumenta a identidade entre os cadernos do jornal”. Uau! Como é que O Globo, o Estadão, ou qualquer outro concorrente não pensou nisso antes.

É o que dá jornalista começar a escrever feito publicitário. Acaba sempre ficando pior que a própria publicidade porque o critério de avaliação de um texto supostamente jornalístico é sempre acima, mas bem mais alto mesmo, do que a leitura de um anúncio.

O texto sobre a reforma faz uma relação entre o impresso e a internet. E aí deve ter alguma sacada genial que não peguei. Aliás, não pegamos, pois se existe hoje uma unidade de pensamento sobre a relação entre o impresso e a internet é a de que cabe ao impresso dar ao leitor mais conteúdo, não só na qualidade quanto na quantidade.

E a Folha passa a partir desse domingo a ter menos conteúdo, já que aumentou bastante a fonte do jornal. Nem vou falar da qualidade, mas por aí este foi um domingo também difícil com a manchete de primeira página que coloca o futuro de Lula entre a ONU e o Banco Mundial.

Mas, voltemos à reforma. Os jornais brasileiros já tinham perdido bastante espaço com o corte de papel feito em 1992. Por medida de de economia os jornais brasileiros, quem tinham até então 35 centímetros de largura, sofreram um corte que os deixou com 32 centímetros. Quem trabalha em jornal sabe como estes três centímetros de corte alteram bastante a quantidade de texto.

E é curioso que no gráfico (hoje chamam de "infográfico", mas é a mesma coisa) publicado neste caderno explicativo tenham lembrado que houve um "corte de papel", mas não disseram exatamente como. Eu acho que tem malandragem, aí. É óbvio que só quem é do ramo é que vai lembrar como foi. Mas, enfim, é isso que dá colocar jornalista para fazer publicidade dos feitos da empresa.

Este projeto sacrifica ainda mais o texto. Ou seja, vão a contramão da opinião da maioria dos analistas deste assunto. O jornal passa a utilizar uma letra maior, o que significa menos espaço para os textos. Vou dar um exemplo: com a fonte nova a cada 35 linhas de uma coluna o jornal (e o leitor) perde duas linhas.

A fonte foi desenhada por uma dupla de norte-americanos especialmente para o jornal, o que é, novamente, só recurso de publicidade. A Folha adora essas superficialidades que nada trazem de qualidade ao jornalismo e nem às artes gráficas. Já existem dezenas de fontes apropriadas para para fazer uma publicação bonita e eficiente para a leitura e quase todas essas letras tem até mais de um século.

A letra que o jornal usava anteriormente, de nome Folha Serif, também era feita exclusivamente para eles. O que aconteceu? É mais uma novidade da Folha. Uma fonte muito usada, como a Garamond, é de 1530, mas temos outras muito populares e bem mais novas, como a Times New Roman, que é de 1931. A fonte exclusiva, que era uma novidade anterior da Folha, mal completou 15 anos.

Não sei o que os donos da Folha pretendem com um jornal com menos conteúdo, mas tenho
certeza de que nesta linha a estratégia de conquista de leitores desta era pós-internet fica ainda mais capenga. Não sou dos que acham que as dificuldades dos jornais impressos surgiram com a internet. Sou até bem mais discordante nesta questão. Para mim, a internet nem sequer agrava problemas que já vinham se acumulando muito tempo antes da WEB.

Na verdade, a internet pode até ser uma ferramenta para ajudar na solução da queda do número de eleitores dos impressos. Ninguém tem a fórmula de como isso deve ser feito, mas várias publicações vêm tentando agregar esta força extra e algumas vem fazendo isso com acerto. Não existe ainda receita alguma para isso. Todos ainda lutam para descobrir até como tirar dinheiro da internet nesta área. Porém, este é um processo em andamento, o que todos sabem é que é preciso marcar lugar na WEB.

A Folha é um jornal que tem errado bastante neste aspecto. E o curioso é que é a primeira empresa a ter um site jornalístico na internet. Para se ver que pioneirismo não é tudo, muito menos na internet.

Desde que Otávio Frias Filho pegou o jornal das mãos de Cláudio Abramo, a Folha virou um jornal novidadeiro. A remexida que Abramo deu no jornal na década de 1970 transformou a Folha em um jornal de fato, o que ela nunca foi antes. Era um jornaleco de província.

A história da "fonte exclusiva" é só um ponto dessa busca incessante (e talvez excitante) pelo novo. Neste domingo trazem mais esta novidade, mas é só isso. Na realidade, não há nenhuma transformação de qualidade e ainda vieram com uma reforma visual que implica em cortes substanciais no conteúdo, o que acaba sendo um erro numa época em que todos dizem que os jornais só sobrevivem se derem mais do que a internet oferece.

Eles sempre insistem no fato de que Folha é “o primeiro jornal em tempo real na língua portuguesa”. É a propaganda mais anacrônica que existe: são pioneiros em um processo que se renova a todo instante e no qual todo interesse está no que se faz agora. E em vez de caprichar no espetáculo ou trazer argumentação de peso para este debate, só sabem a ladainha da cobrança de entrada. Só pensam na danada da catraca. Os pioneiros ficaram para trás. E neste momento quem está fazendo a coisa certa internet são outros jornais e não a Folha.
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POR José Pires

Sem ingresso não entra

Em relação à internet os donos da Folha de S. Paulo têm uma obsessão econômica: de cobrar pelo acesso. Isso faz com que eles privilegiem matérias que endossam esta visão e até forcem à barra, como no jornal desse domingo, quando publicaram na capa a notícia sobre um jornal dos Estados Unidos que elevou suas vendas depois de começar a cobrar pelo acesso na internet.

O jornal de que falam é da capital do Arkansas, Little Rock, cidade que só é conhecida porque os Clinton são de lá. O jornal é o Arkansas Democrat-Gazette. Isso, eu também pensei a mesma coisa: qual é mesmo o nome? Sua venda é de exatos 169.458 em dias da semana e 258.160 aos domingos.

São números que fazem a gente se perguntar porque a Folha não colocou a matéria no caderno de humor. Ou um novo caderno, para trazer ao mercado, aí sim, uma revolução de conteúdo: o Caderno de Manipulação.

E não estou exagerando, pelo menos neste assunto de cobrar pelo conteúdo, que parece ser regra básica do manual de redação da Folha. Tratam como gênio um editor caipira do interior dos Estados Unidos que resolveu cobrar pelo acesso ao site do jornal. O título da matéria: "Arkansas mostra alternativas para a indústria dos jornais".

E o que o gênio fez além de cobrar entrada? Investiu na equipe. Uau, se os velhinhos da academia sueca conseguirem localizar Little Rock no mapa é bem capaz do editor do Arkansas levar um prêmio Nobel. Qualquer um serve para um gênio desses.

Na matéria que traz a sacada do conceituado órgão de Little-Rock, a jornalista coloca no final do texto a opinião de um consultor norte-americano sobre a cobrança de conteúdo: “Acho que [Hussman, o editor] tem uma visão míope do futuro da indústria. Está sacrificando o sucesso futuro em favor de lucros rápidos baseados em um produto que está morrendo”.

A jornalista poderia até escrever que o Arkansas Democrat-Gazette (Como?) comete o mesmo erro da Folha, que também impede o acesso para seu conteúdo na internet. Yes, nós temos catraca.

Ainda vai levar um tempo para sabermos quem está certo, mas o resultado para a Folha neste processo da internet é que eles devem manter os leitores já habituados com o jornal impresso e dificilmente conquistarão a geração que raramente pega um jornal nas mãos.

Como vários jornais não restringem o acesso e a internet tem uma profusão de conteúdos variados, quando o internauta bate com a cara na porta fechada da Folha, segue no mesmo instante para outro jornal ou site.

Ah, e não adianta vir com números que refutam meus argumentos — os do Arkansas Democrat- Gazette (Como?), nem pensar. Pelo seu já manjado caráter tecnicista, é provável que seja desse modo que a direção da esteja Folha se guiando. Mas é bem o que disse o consultor que teve a opinião escondida na matéria. Isso pode ser um lucro imediato e sem futuro.

Trabalhar o comportamento da rede exige bem mais que este raciocínio de contabilidade. Se essa experiência está sendo feita à portas fechadas fica difícil dos internautas saberem se vale a pena acompanhar.

Então eu acho que não se deve cobrar pelo conteúdo? Não acho nada. Como disse, é um processo em andamento. Mesmo se for para cobrar entrada, este é um método a ser criado e ninguém sabe ainda tem uma proposta viável. Tem que ser criada uma cultura na internet para que se aplique esta cobrança.

É uma besteira apenas instalar a catraca, como a Folha vem fazendo e também propagandeado em matérias fajutas com a deste domingo. Eles acreditam piamente que é esta a verdade absoluta para se dar bem na rede. Bem, é tanta coisa para ler hoje na internet que acho difícil alguém pagar ingresso só para ver se o espetáculo é bom.

Bem, eu sou dos que pensam que o hábito de ler jornal já vinha em decadência antes da internet. E não só por uma questão de número. Quem já deu fim a uma pilha de jornais guardados no quartinho dos fundos já sabe bem a perda de tempo que é a leitura de jornais. Mas o fato é que ainda existe uma caminhada para sabermos no que isso vai dar.

Com a catraca da Folha fechada o que eu sei é que muitos leitores não voltam ao site. E é claro que esta pessoa nunca vai pensar em comprar a Folha na banca ou um ingresso para saber das novidades.
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POR José Pires

sábado, 22 de maio de 2010

Equipe unida

A jornalista Helena Chagas, que quando era diretora da sucursal de O Globo, em Brasília, repassou para os governistas a informação sobre depósitos na conta do caseiro Francenildo na Caixa Econômica Federal, está na equipe de comunicação da campanha de Dilma Roussef desde o mês passado. Não deixa de fazer parte do ciclo.

De qualquer forma, ela foi fundamental na formação da equipe de jornalismo da TV do Lula. E talvez por um ato falho, o nome dela é mantido como Diretora de Jornalismo até hoje no site da emissora na internet. Vocês podem ver no print que acabei de tirar na página da emissora. Para aumentar, clique na imagem.

A TV Brasil precisa bem mais que um "manual" para cobrir as eleições. Vamos trabalhar, gente. Tem que tirar o nome da Helena Chagas da equipe. Ou melhor, deixa assim. Afinal, que diferença isso vai fazer?
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POR José Pires

Ética para profissionais

Já disse aqui que a campanha do PT tem dois departamentos aliados: o departamento de criação e o da explicação. Este último é muito importante, pois explica o que a criação tentou fazer e até sai a campo para amenizar os ferimentos quando o tiro atinge o próprio pé.

O espírito criativo petista evidentemente não emana apenas do núcleo da campanha. Nada disso, como petista é um ser altamente criativo — nisso ninguém ali é uma pessoa comum, como diria Lula — de todos o cantos surge uma sacada política.

Nesta semana foram duas as ideias geniais que se destacaram. A Marta Suplicy entrando na campanha com dois pés (no Gabeira) e a TV Brasil fazendo provocação com o candidato José Serra. Numa coletiva um repórter da TV do Lula perguntou ao Serra se ele vai acabar com o Bolsa Família.

Já falamos aqui da fala da Marta e se ajunto sua sujeira com a da TV Brasil é não só pelo caráter similar das ações, mas porque ambas têm a mesma origem, mesmo que a decisão não tenha cindo exatamente do mesmo grupo de pessoas. Apesar de que não me espantaria se um dia aparecer a revelação de que foi mesmo desse jeito que houve a decisão.

A provocação feita pelo profissional da TV Brasil tinha a evidente intenção de colher uma imagem de Serra se alterando. A tropa de choque petista já percebeu que esse pode ser um ponto fraco do tucano. Já falam bastante disso nos blogs chapas-brancas e tentaram pegar o Serra na rápida discussão que ele teve com a jornalista Miriam Leitão, mas não colou. Apesar de ter sido mais rigoroso com a jornalista que de costume, foi sem nenhuma grosseria.

A pergunta sobre o Bolsa Família veio dessa tática. Mas como não deu certo, foi necessário o rápido recuo da direção da TV Brasil, que veio com a conversa de que vão preparar um “manual” para evitar esse tipo de problema.

O recuo é tão maroto quanto a pergunta capciosa. Já sabem que não conseguirão nada por aí, então o negócio é amenizar os danos. Mas e se a provocação desse certo? Bem, então teriam colhido imagens desastrosas para o tucano e ótima para a campanha da candidata do Lula. Aí, garanto que não apareceria "manual" algum.

Mas como a questão é ética, chega a ser até engraçado que tenham que criar uma regras lá na TV Brasil para que seus jornalistas cubram esta eleição de forma honesta. Profissional ético, é? E como será que são em casa essas pessoas? Bem, eu sou da opinião de que deviam evitar esse trabalho. Para evitar o que foi feito na coletiva com Serra, basta não combinar antes na redação.

O “manual” para a cobertura das eleições será adotado pela EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) a partir da próxima semana, segunda sua presidente, a jornalista Teresa Cruvinel.

Isso parece aquelas discussões sobre “ética jornalística” que o pessoal da esquerda gosta tanto. Parece que existe até esta aula nos cursos de jornalismo, estou certo?

Nisso eu penso como o velho Cláudio Abramo, um dos fundadores do moderno jornalismo no Brasil. Não existe uma ética específica do jornalista. Sua ética é a mesma do cidadão. Abramo, reformulou nos anos 50 e 70 dois importantes diários, o Estadão e a Folha de S. Paulo, com uma completa mudança no primeiro e fazendo do segundo um jornal de verdade, o que a Folha nunca foi antes de ele ser seu editor.

Abramo dizia que ética de jornalista é um mito que precisa ser desfeito, no que concordo absolutamente, até porque essas conversa de “ética jornalística” tem servido mais é para ocultar a discussão sobre os reais problemas da profissão.

Para mim, Abramo já definiu essa questão há muito tempo, de forma inteligente e até com ironia, o que é necessário nesse tipo de debate hipócrita. “O cidadão não pode trair a palavra dada, não pode abusar da confiança do outro, não pode mentir. No jornalismo, o limite entre o profissional como cidadão e como trabalhador é o mesmo que existe em qualquer outra profissão”, ele dizia.

Então para uma profissional antiga como Teresa Cruvinel, que está sob a chefia de Franklin Martins, outro velho jornalista, um profissional precisa ter regras internas para saber que perguntar ao Serra sobre a extinção do Bolsa Família nesta altura da eleição nada mais é que um golpezinho eleitoral? Bem, aí a situação se complica: só não é culpado quem alegar incompetência.

O grande Cláudio Abramo também dizia algo importante sobre ética. Vamos ouvir o mestre. “Os chefes e os responsáveis pelo jornal têm que dar o exemplo ao pessoal mais novo, senão é o caos”.

Mas aí tudo se complica de vez na TV Brasil. A diretora de jornalismo da emissora é Helena Chagas. Para quem não se lembra, Helena Chagas esteve no centro do escândalo da quebra de sigilo do caseiro Francenildo e não foi fazendo a cobertura jornalística do caso.

Foi dela que veio a informação de que Francenildo havia recebido uma grande quantia de dinheiro em sua conta na Caixa Econômica Federal, a deixa para a quebra de seu sigilo e para os governistas começarem a acusá-lo de receber dinheiro da oposição.

Em depoimento à Polícia Federal, Palocci disse ter recebido da jornalista a informação de que o caseiro Francenildo “tinha um bom dinheiro”. Na versão da jornalista a informação chega por outra via ao ministro, que acabou caindo do cargo em função do escândalo. Ela disse que comentou com o senador Tião Viana (PT-AC) ter ouvido de seu jardineiro que Francenildo teria recebido dinheiro. Viana então levou a notícia para Palocci.

O episódio acabou causando a demissão da jornalista do cargo de diretora da sucursal do jornal O Globo em Brasília. Sua colega da TV Brasil, Teresa Cruvinel, também trabalhava no jornal, onde tinha uma coluna política. O chefe de todos, ministro Franklin Martins, era também do mesmo grupo, atuando na TV Globo.

Os três estiveram em cargos importantes na TV Globo e no jornal O Globo em momentos importantes do governo Lula, como o caso do mensalão e a quebra do sigilo do caseiro. Helena Chagas comportou-se do modo que se viu no caso do caseiro.

Contra Teresa Cruvinel, que tinha uma coluna importante no jornal, e Franklin Martins, que era comentarista da televisão em horário nobre, não existe nenhuma comprovação de favorecimento direto do governo Lula. No entanto, são muito os reparos ao trabalho dos dois durante crises cruciais no governo petista.

E no final, com Lula reeleito, foram todos servir ao governo que tiveram a responsabilidade de cobrir como jornalistas.
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POR José Pires

quinta-feira, 20 de maio de 2010

O pé-frio ataca novamente

Não adianta avisar, o pessoal gosta mesmo de colocar a sorte em risco. A seleção brasileira vai fazer uma visita ao presidente Lula na próxima quarta-feira, antes do embarque para a África do Sul.

É evidente que deve ser uma exigência do Lula, que precisa estar sempre na mídia para poder alavancar a campanha de sua candidata à presidência da República. Até aí, não há o que fazer. Isso é do jogo político e para quem vem praticando várias ilegalidades eleitorais, como o Lula, receber jogador de futebol no Palácio do Planalto é fichinha.

Nossa preocupação lé outra. Lula é um notório pé-frio nos esportes, com uma lista de azaração como nunca se viu antes na história deste país. Com a visita ao seca-pimenteira a seleção brasileira adentra um campo onde vários esportistas tiveram sérias dificuldades.

O risco é grande. E se houver muita gracinha nesse encontro, com beijo em camisa da seleção ou coisa parecida é para se temer até a viagem de avião para o continente africano. Toc, toc, toc! Que o avião da nossa seleção consiga chegar bem depois de voar sobre o Oceano Atlântico.
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POR José Pires

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Parcerias com prejuízo certo

O presidente Lula gosta bastante de futebol. É um pé-frio danado, mas este esporte o agrada tanto que ele até faz das imagens futebolísticas um instrumento de linguagem. Está certo, qualquer botequeiro faz isso. Mas Lula tem lucrado bastante com isso, mesmo que para mim seja inexplicável que atitudes que dariam fama de chato a qualquer vagabundo sejam vistas como qualidade carismática.

O cara é um fanático, porém está desatento sempre à máxima criada por um dos grandes gênios do futebol e que serve para qualquer assunto: “alguém combinou com o adversário?”. É de Garrincha, craque de muitas ferramentas e pensador de uma frase só. Mas ele não precisa de outra para ser lembrado sempre. É frase com serventia até para acordo nuclear.

Para o olho no olho com Ahmadinejad dar certo faltou Lula combinar com os grandes. Quase de imediato à divulgação do acordo entre o Irã, a Turquia e o Brasil, a secretária americana de Estado, Hillary Clinton, anunciou que as principais potências também chegaram num acordo sobre as novas sanções contra o Irã. A decisão inclui Rússia e China.

Nem vou perguntar o que pode ser feito das amplas análises escritas sobre a diplomacia vitoriosa de Lula. É bastante texto, muita apologia, alguns até insinuando que o Brasil teria dado uma bela rasteira diplomática nos Estados Unidos. Os escritos da internet basta deletar, já os que estão impressos em papel eu teria outra sugestão, mas vou deixar pra lá. O blog é de família.

O papel no qual Lula mais sabe atuar é o de songamonga. Nunca este país teve um presidente da República mais capaz de se fazer de bobo. Mas de bobo Lula não tem nada. Em sua aliança com Ahmadinejad o que tem de menos é ingenuidade.

Penso até que, além do interesse mútuo em relação à questão nuclear, existem outras razões para este alinhamento praticamente incondicional a um regime isolado mundialmente por suas conhecidas más-qualidades, que vão desde a cruel opressão interna até o apoio e financiamento de atividades terroristas pelo mundo afora.

Me parece ser dívida alta, mas este é um daqueles assuntos que só o tempo pode esclarecer.

Só dá para entender a lógica da diplomacia petista pelo ditado gaúcho que diz que "os gambás se cheiram". Não há teoria que sustente o que vem sendo feito. E como é que a inteligência de um país pode suportar coisas toscas como a pretensão do redesenhamento do mapa mundial, a exigência de "uma nova ordem mundial" feita de braços dados com o companheiro iraniano e sandices semelhantes ou até piores? Em parte isso pode ser explicado pelo caixa baixo das empresas decomunicação, mas isso não é tudo. Me parece ser também um problema de racionalismo e inteligência.

Quando a gente pensa que as parcerias já não são boas, eles arrumam outra pior. Não está gostando do Chávez, do Morales ou do Zelaya, companheiro? É quando aparece o Ahmadinejad. Cá pra nós, você compraria um carro usado do Ahmadinejad? Nem eu. E muito menos uma bomba atômica usada.

O acordo com o Irã não tocava nas questões que mais importam para barrar a loucura armamentista do companheiro de pupilas do Lula. E o motivo é o óbvio: o centro do acordo era protelar as sanções internacionais  para que o Irã ganhasse tempo para obter suas armas nucleares.

O mundo se encaminha para uma situação muito difícil, provocada principalmente por problemas ambientais e superpopulação e agravados pela ação de gente como Ahmadinejad. Que Deus e Alá nos livre de uma realidade difícil lá na frente no aspecto ambiental e ainda com essa gente com a bomba atômica. <

O Brasil deveria se projetar nesse momento pela via do equilíbrio e do bom senso, mas ocorre o contrário. Embarcamos na nave dos loucos. O país é levado por Lula e seus companheiros à parcerias com tipos como Ahmadinejad.

Que o Brasil esteja neste alinhamento internacional, já no final da primeira década do século 21 se explica pelos anacronismos do lulo-petismo. E isso não espanta. O que é surpreendente é ver a conivência de uma parte substancial dos brasileiros com esta estupidez.
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POR José Pires

terça-feira, 18 de maio de 2010

Cenas tristes do país do companheiro Ahmadinejad

Vamos falar um pouco mais do país de Ahmadinejad, o amigo do Lula, com quem ele gosta de um olho no olho. Em março foi preso em Teerã o cineasta iraniano Jafar Panahi. Ele foi arrancado de sua casa pela polícia, teve a residência vasculhada e bens confiscados. Acusado de fazer um filme contra o regime, ele continua detido.

O Irã tem um cinema de alta qualidade e Panahi é um de seus grandes diretores. Em 2006 ele foi o ganhador do Urso de Prata do Festival de Berlim. Também ganhou o Leão de Ouro do Festival de Veneza, em 2000.

Na semana passada, na apresentação do Festival de Cannes, havia uma cadeira simbolicamente vazia em protesto pela prisão do cineasta iraniano. Ele era convidado para fazer parte do júri que escolhe o vencedor da Palma de Ouro.

Foi lida também uma carta enviada da prisão pelo cineasta. Alguns trechos mostram como está sua situação. “Não assinarei nenhuma confissão forçada devido a ameaças", ele disse na carta, revelando que a ditadura de Ahmadinejad segue o curso de tantas outras, buscando a submissão da arte.

Em outra parte ele manda “calorosos abraços de minha pequena e escura cela na prisão de Evin", agradece o apoio da França pela sua libertação, mas pede para que não esqueçam “os milhares de outros presos indefesos no Irã". Esta parte mostra como está a situação política naquele país, enquanto o nosso presidente presta um apoio praticamente incondicional ao regime dos aiatolás.

"Assim como eu, eles não cometeram crime algum e a minha causa não é mais importante que a deles”, diz o cineasta na carta.

Hoje no festival o cineasta Abbas Kiarostami, que também é iraniano, comentou em entrevista a prisão de seu compatriota. Kiarostami concorre à Palma de Ouro com o filme “Copie conforme”, com a atriz francesa Juliette Binoche como protagonista.

Vários sites mostram fotos de Binoche chorando durante a apresentação do filme à imprensa. Suas lágrimas foram provocadas no momento em que a fala de Kiarostami em defesa do colega foi interrompida por uma jornalista que disse que havia a informação de que Panahi tinha começado uma greve de fome.

O filme que levou à prisão de Panahi ainda está em andamento e é sobre a eleição presidencial iraniana de 2009, quando Ahmadinejad foi reeleito sob denúncias de fraude. As manifestações de protesto foram reprimidas pela polícia, com dezenas de mortes e — como se vê na carta do cineasta — milhares de prisões.

Na época, o presidente Lula fez questão de apoiar de imediato a reeleição de Ahmadinejad e situou as manifestações de protesto no Irã no mesmo nível das discordâncias entre torcidas de futebol.

A fala vai na íntegra, para lembrarmos sua fineza de estilo: "Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã. Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas, sabe, uma coisa entre flamenguistas e vascaínos".

Uma declaração de Juliette Binoche sobre o filme que fez com Kiarostami também denuncia de forma sutil outro grande problema do regime presidido pelo amigo do Lula. No Irã a opressão às mulheres não permite que elas usufruam nem dos direitos mais básicos.

Binoche é aquele tipo de artista que leva a gente a ver um filme e raramente nos decepciona. É uma atriz que poderíamos definir como "autoral", que segue uma linha de criação em sua carreira. O filme apresentado em Cannes foi filmado no Irã onde, conforme ela disse, aproveitou “para descobrir mais sobre o cinema iraniano, sobre as mulheres”.

“Fiquei muito animada com a forma como ele [Kiarostami} filma mulheres, é o oposto do que seu país diz sobre elas”, disse Binoche, numa frase que sintetiza de forma inteligente a condição feminina sob o regime iraniano e o esforço artístico do cineasta para elevar o ser humano acima desta situação ultrajante.

No festival de Cannes também apresentaram um curta-metragem sobre outra prisão de Panahi, anterior a detenção atual. No curta, o cineasta conta que foi interrogado de forma ameaçadora durante três horas e na saída, depois de dizerem que ele seria convocado novamente, um policial perguntou: “Por que você fica no Irã? Por que não vai fazer filmes no exterior?".
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POR José Pires

Extra! Extra! Tem católico novo na praça e não é a Dilma

Como todo mundo estava atento ao olho no olho do presidente Lula com o iraniano Ahmadinejad, outro grande acontecimento internacional passou praticamente despercebido. O presidente Evo Morales encontrou-se com o papa Bento XVI.

O encontro foi no Vaticano e teve uma revelação surpreendente: Morales é católico. “Quero falar a verdade: eu sou católico", disse o presidente boliviano na saída do papo, que teve a duração de 25 minutos.

Isso deve ter sido uma decepção para a esquerda latino-americana, que vê em Morales a redenção do índio boliviano, um inca redivivo e redentor da verdade histórica dos povos oprimidos da América Latina — opa, ficou estranho esse final, parece coisa de esquerdista; preciso me cuidar.

Houve até quem pensasse que Morales acendesse velas para Pachamama ou qualquer outra divindade primitiva bem bacana, dessas que exigem sacrícios humanos à beira de abismos ou crateras fumegantes. Mas não, o índio é católico. Graças a Deus, dirão alguns, mas para outros é a perda talvez irremediável da crença no bom selvagem.

Essas coisas acontecem. Aqui no Brasil essas conversões costumam ocorrer em período eleitoral. É num nível espiritual que coloca no mesmo plano buchada de bode e deglutição da hóstia, mas de um dia para o outro esquerdista vira carola. A cristã-nova Dilma Roussef que o diga. Amém.

Mas, como bom católico, Morales foi beijar o anel do papa e aproveitou para fazer um pedido: o fim do celibato. Isso mesmo, o fim do celibato. E com certeza a surpresa de Bento XVI deve ter sido bem maior do que a nossa vendo um esquerdista boliviano se meter num assunto desses. Se ainda fosse o esquerdista paraguaio Fernando Lugo, ainda haveria algum sentido. O presidente do Paraguai pelo menos usou batina um dia. Sem honrá-la, de acordo, mas teve pelo menos alguma relação com o celibato. Ou a falta de.

Morales entregou uma carta a Bento XVI com a reivindicação da liberação do sexo para seus subordinados. “A Igreja não deve negar uma parte fundamental da nossa natureza de seres humanos e deve abolir o celibato. Assim, haverá menos filhos não reconhecidos por seus pais", afirma uma das passagens do documento, que certamente será um dos mais bizarros nos arquivos do Vaticano.

Imaginem como esse papel vai ficar legal três gavetões acima de um De revolutionibus orbium coelestium, de Copérnico, ou próximo de um Sidereus Nuncius, de Galileu Galilei.

Mas Bento XVI que se cuide. Morales é de uma turma que não descansa, mesmo diante da lógica mais clara da inoportunidade de suas reivindicações. Gente que dá conselhos ao presidente Barack Obama, se mete na confusão do Oriente Médio e até acerta negócios nucleares com a teocracia iraniana dificilmente vai voltar atrás de sua missão política de ensinar bispo a rezar a missa.

Não duvido que um dia desses o papa não seja obrigado, depois de um olho no olho, a acabar com esse negócio de celibato.
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POR José Pires

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Marta Suplicy: armando confusão na luta armada

Marta Suplicy entrou na campanha eleitoral. E com a Marta não tem essa de entrar com o pé direito, não. Ela entra mesmo com os dois pés.

E isso porque ela estava na defesa da mais recente embrulhada eleitoral do PT, a de tentar elevar a candidata do Lula às alturas do Nelson Mandela. Está uma dificuldade danada encontrar uma identidade para a Dilma então tentaram criar a Dilmandela, mas foi demais até para quem já está acostumado com os exageros do partido que reiventou o Brasil. E então os petistas saíram a campo para explicar.

Está assim desde que Dilma saiu da campanha eleitoral que fazia no ministério e foi pra pré-campanha de fato. Cada ação de sua equipe de criação imediatamente detona todo um processo de explicação da besteira que foi ao ar ou publicada no site da campanha. Não é só o Lula que precisa de tradutor. A campanha da sua candidata está sempre precisando de explicação. E isso, ó raios, mesmo ela sendo feita em toda português.

Foi nessa situação que Marta Suplicy entrou com os dois pés no Gabeira. Neste momento todo mundo deve estar sabendo. Ontem em um comício em São Paulo, para defender o passado de Dilma na luta armada, ela usou como exemplo atuação de Gabeira na luta armada.

Vai na ìntegra, até porque sintetizar sua fala poderia afetar de forma prejudicial o requintado estilo desta grande dama:

"E eu quero dizer mais: Todo mundo aqui já ouviu falar do Gabeira? Já? A maioria! Pois é… Vocês notaram, Aloizio, que o Gabeira…, ninguém fala… Esse, sim seqüestrou! Eu não estou desrespeitando ele. Ao contrário. Mas ele (rindo ironicamente ) seqüestrou. Ele era o escolhido para matar o embaixador. Ninguém fala porque o Gabeira é candidato ao governo do Rio e se aliou com o PSDB. Então, dele, não fala. As pessoas, na sua juventude, lutaram contra essa ditadura, lutaram com o que podiam, como sabiam, como podiam."

Como vem da Marta Suplicy nem posso dizer que é impressionante, afinal trata-se de uma pensadora que já firmou marca, sendo autora de um dos grandes pensamentos políticos da nossa época, o "ele é casado, tem filhos?", da sua campanha para prefeito de São Paulo.

Mas fiquemos no ataque ao Gabeira. Para justificar a atuação de Dilma na luta armada, a candidata petista ao Senado foi buscar comparação com outro guerrilheiro de então e conseguiu a proeza de criar categorias entre os grupos que fizeram a luta armada. Dilma, companheiros lutava pelo bem, pela democracia, já o Gabeira... bem, "ele era o escolhido para matar o embaixador".

Agora temos os guerrilheiros do bem e os guerrilheiros do mal. Nisso, é claro, Marta está apenas seguindo as pegadas históricas de seu partido. Os petistas passaram as últimas décadas rotulando de forma leviana tudo e todos que não atendiam seus interesses. Então por não fazer mesmo na luta armada?

Então havia também na luta armada "os nossos" e os "deles". Se eu lembrar pra Marta que tinha até tucano em grupo guerrilheiro é capaz dessa mulher — com todo o respeito — até gozar.
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POR José Pires

O bem e o mal de trabuco na mão

Pelo raciocínio da Marta, a candidata Dilma foi uma guerrilheira do bem, a Dilmandela, que não teve outra opção senão pegar o trabuco e, como ela disse no programa eleitoral antecipado do PT, lutar "pela liberdade e pela democracia"

Desculpem o pleonasmo, mas Dilma mente. Tanto ela como o Gabeira lutavam para trocar a ditadura militar por uma muito pior: a ditadura comunista. A diferença com o Gabeira é que ele já fez há bastante tempo a crítica dessa forma de luta e suas motivações políticas.

Dilma não faz nada disso. Ali não tem autocrítica, companheiro. Ao contrário, o discurso político da candidata é de que a luta armada foi a única opção que existia na época, o que é uma mentira histórica. Se quisesse mesmo lutar pela democracia, bastava Dilma ter procurado, por exemplo, o Ulysses Guimarães, ou qualquer outro líder da oposição democrática, o movimento social que acabou criando a pressão da sociedade civil que levou à abertura política, com o fim da didatura.

A luta armada no Brasil atrapalhou a luta pela democracia. Até fortaleceu a posição de grupos radicais mais à direita dentro do regime. Sorte do Brasil que além de equivocada a atuação da esquerda armada foi de uma incompetência similar ao PAC. Não fosse isso e provavelmente teríamos aqui dramas semelhantes ao da Argentina, cujas feridas devem demorar bem mais para cicatrizar.

Marta entrou nesta discussão para fazer cartaz com a militância petista neste início de campanha, mas como tem mão pesada acabou trazendo mais problemas e não o conserto que pretendia. A discussão promete. O que já não era uma dificuldade pequena na campanha petista acabou aumentando de tamanho com a patada da Marta.

E a questão, ao contrário do que os petistas tentam fazer crer, não é de um peso menor nesta eleição. Dilma tem que esclarecer se aquilo lá atrás foi apenas uma barbeiragem política ou se ela ainda tem na cachola o projeto de implantar o comunismo. Isso é importante. Afinal, ela pode vir a ser presidente da República.
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POR José Pires

Nova ordem mundial

Lula e o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, se juntaram ontem para pedir "uma nova ordem mundial". Muito bacana. Não seria mesmo nada mal uma mudança neste mundo tão injusto, mas convém combinar muito bem antes com o companheiro estadista Ahmadinejd para que não não haja arrependimento depois. Esses persas teocráticos têm hábitos muito diferentes dos ocidentais.

É preciso ver se essa "nova ordem mundial" não terá certos elementos muito fortes do regime que Ahmadinejad faz de conta que lidera.

Vamos juntar só umas coisas do Irã de Ahmadinejad, como a censura à imprensa, televisão, literatura e cinema, além de falta de liberdade sexual e opressão ao homossexualismo, inclusive com enforcamentos públicos. Lá tem também prisão, tortura e morte de oposicionistas, sem falar nos seqüestros e na repressão permanente de qualquer tipo de liberdade de pensamento. E tem também a falta de liberdade religiosa. E as mulheres não têm direitos mínimos, sendo tratadas como seres de segunda categoria, para quem não é dado o direito sequer de escolher o marido.

Existem muitos outros elementos bem próprios da República Islâmica de Ahmadinejad e os aiatolás, mas creio que esta lista já possibilita uma boa visão sobre quem é o companheiro estadista que se juntou ao Lula para exigir o fim das injustiças no mundo.

Então vamos combinar: se for para criar uma "nova ordem mundial" com isso que o Ahmadinejad tem no país dele é melhor deixar as coisas como estão.
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POR José Pires

domingo, 16 de maio de 2010

Elogio que envergonha

Certos elogios agridem bem mais do que críticas. Em encontro com o presidente Lula, o aiatolá Ali Khamenei elogiou o Brasil, dizendo que o nosso país é independente diante da "arrogância" dos Estados Unidos. "O Brasil adotou posturas independentes ao negociar com as políticas arrogantes dos Estados Unidos nos últimos anos", disse Khamenei, segundo a agência de notícias IRNA, a agência oficial do governo, pois lá não se usa o estranho método dos arrogantes dirigentes dos Estados Unidos de fazer uma entrevista coletiva com a imprensa para prestar contas do que está sendo conversado ou negociado.

Na foto do encontro entre Lula e Khamenei fica bem claro como funciona a teocracia iraniana. Num retrato oficial na parede, dominando a cena, está o aiatolá Kohmeini com a cara enfezada de sempre. A mensagem é clara: o poder é do clero e fim de papo.

E nada de olho no olho. Khamenei está situado numa posição superior, até numa poltrona especial, enquanto o visitante foi colocado em um sofá comum. É bem diferente, mas muito diferente mesmo do informalismo de Barack Obama e outros líderes ocidentais que tratam Lula ou qualquer outro governante como um igual. Lula está bastante inchado, a barriga esticando a camisa branca e levantando a gravata. Faz bem o papel de coadjuvante para o aiatolá atacar os Estados Unidos.

O petista está no Irã para ter um olho no olho com o presidente Ahmadinejad para convencê-lo a parar com esse negócio de querer fazer a bomba atômica. E não duvido que ele volte ao Brasil com algum fato sem nenhuma influência sobre o que virá a seguir na relação do Irã com as grandes potências, especialmente com os Estados Unidos, mas de muito proveito na campanha de sua candidata à presidente. O papel de estadista pode render bem na eleição.

Mas é pena que nesta viagem Lula não possa ter um olho no olho também com o aiatolá Sadegh Khalkahlli, uma das figuras mais importantes no estabelecimento das bases do regime dos aiatolás. É impossível agendar, companheiro. O cara morreu em 2003.

Khalkahlli era de Qom, a cidade sagrada dos xiitas. Foi um juiz implacável no nascedouro da teocracia islâmica iraniana, que eles chamam estranhamente de República Islâmica. Calcula-se que tenha encaminhado para a morte pela forca ou fuzilamento cerca de oito mil pessoas. Che Guevara e Fidel Castro são pinto perto do aiatolá, que foi contemporâneo da figura máxima da República Islâmica, Ruhollah Khomeini (1900-1989), e um de seus auxiliares mais poderosos até cair em desgraça e ser tirado de cena pelo regime.

O escritor V.S Naipaul relata um encontro com o aiatolá Khalkahlli em “Entre os Fiéis”, livro em que narra a experiência islâmica relacionada à política em quatro países — Irã, Paquistão, Malásia e Indonésia. O livro completa-se com outro de sua autoria, "Além da Fé".

São relatos sobre estes países, que visitou em 1979 e depois no final da década de 90. Os dois períodos se completam nos dois volumes, para contar o que viu da prática política e religiosa nesses lugares.

No caso do Irã o material ficou acima da média dos outros relatos, todos muito bons, porque no caso desse país a forma que Naipaul adotou acabou sendo mais ajudada pelo tempo. Esteve no Irã, como já disse, primeiro em 1979,ano da queda do Xá, para voltar depois em 1997 para ver como as coisas haviam andado o regime islâmico já estabelecido.

No primeiro livro, Naipaul narra o encontro com Khalkahlli. Enquanto o escritor percorria o Irã em 1979, o aiatolá havia dado uma entrevista ao jornal Tehran Times gabando-se de ter condenado a morte cerca de 400 pessoas em Teerã. Ele já estava temendo a perda de poder pessoal que de fato viria e tentava com isso manter o prestígio. Khalkahlli contava então que condenara “mais de quatrocentas pessoas”. Segundo ele disse, “em algumas noites grupos de trinta ou mais pessoas eram trazido em caminhões”. O Tribunal Revolucionário Islâmico em Teerã funcionava dia e noite.

Na entrevista citada por Naipaul, o aiatolá explica o método jurídico utilizado para dar conta de tanto trabalho. Sobre um caso específico de suposta conspiração, ele disse o seguinte: “Examinei todos os casos em uma úunica noite e mandei-os para a frente do pelotão de fuzilamento”.

Khalkahlli é um desses casos em que a gente lamenta que ele esteja errado na sua crença, pois o inferno estaria bem servido. No encontro com o escritor ele foi bastante otimista nos prognósticos sobre a duração do regime. Para ele, a República Islâmica teria dez mil anos. Pois nem chegou nos cinqüenta e já mostra sinais de esgotamento.

A descrição de Khalkhalli feita por Naipaul é ótima: “O aiatolá era branco, careca e muito baixo, um gnomo clerical, vestido com desleixo”.

O encontro teve uma lúgubre revelação. Khalkhalli contou que tinha ainda a arma que matou Amir Abbas Hoveyda, primeiro-ministro do Xá. A história do "julgamento" e execução de Hoveyda segue a lógica da justiça na Revolução Islâmica. Ele foi arrancado da cama e levado ao tribunal, acusado de “corrupção
na Terra” e de conduzir “uma batalha contra Deus”. Foi morto pelo filho de um famoso aiatolá.

O juiz foi o aiatolá Khalkhalli. Para Naipaul ele contou que ordenou a morte e depois pediu a um guarda revolucionário a arma que executou Hoveyda. Em 1979 ainda guardava com orgulho este estranho souvenir. Estará hoje em algum museu da história recente do Irã? Seria bom saber.

É do regime criado por este tipo de gente que Lula espera boa vontade. E para lá vai colher elogios baseados em desaforos contra a pátria de Washington, Lincoln, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, Emerson, Samuel Addams, Tom Payne, Thoreau e tantos outras personalidades democráticas e de um brilho que ilumina até hoje a história humana.

Não é que valha como elogio, pelo absurdo da cena do aiatolá revelando o estranho objeto que guardou por anos, mas não consta que algum deles tenha guardado como troféu simbólico a arma que executou um prisioneiro político.

Enfim, cada revolução tem seus valores simbólicos. Que Lula assuma a vergonhosa subserviência que tem revelado perante a teocracia iraniana é um problema dele. O tempo se encarregará de mostrar seu erro. Mas esse tipo de elogio nós brasileiros não queremos não.
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POR José Pires

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Norma Bengell e Mandela: o marketing mandando na política

Ainda sobre o programa de ontem do PT, que foi usado inteirinho para a campanha eleitoral de Dilma Roussef, é óbvio que a escolha de Nelson Mandela como figura, digamos assim, emblemática do programa traz uma relação com o 13 de maio, dia da Abolição da Escravidão. Dilma até faz uma alusão a isso no final do programa. Eles tentam fazer da data o "Dia Nacional de Luta Contra o Racismo", mas para a maioria dos brasileiros isso não pegou.

Mas o que é que o Mandela tem a ver com isso? Nada, além de ser do continente de onde vieram os escravos para o Brasil, mas marqueteiro costuma criar essas supostas relações simbólicas que, no fundo, não tem significado algum.

Mas fazem na política o que vinham fazendo na propaganda comercial antes do marketing político começar a dar dinheiro. Propaganda é uma cultura superficial que não admite análise crítica muito apurada de produto algum.

Já imaginaram o Duda Mendonça analisando profundamente uma dessas porcarias que eles vendem nos supermercados para avaliar se aceita ou não fazer a propaganda do produto? Bem, seria o mesmo que pedir que ele avaliasse a honestidade do Maluf. O pobre do Duda estaria hoje com suas comemorações regadas com vinho Sangue de Boi ou coisa pior.

O raciocínio que colocou Mandela na propaganda da candidata do Lula é o mesmo que levou a campanha petista a usar uma foto da Norma Benguell para parecer a Dilma. É simples, nem precisa desenhar. Lá precisavam de uma imagem para caracterizar o perfil feminino da candidata. E como o programa do PT de ontem foi veiculado num 13 de maio, então pegaram um líder negro para fazer figura. Esse deve ser o tal do "elo de ligação" de que tanto falam.

É simples assim. Parece idiota no aspecto intelectual e bem amador até para publicidade. E isso é que é. A técnica indigente é que leva também alguém a escrever aquilo que saiu na boca do Lula, que Dilma tem a "ternura e a sensibilidade dos mineiros e a intrepidez dos gaúchos". O que querem dizer com isso? Me parece que estão dizendo que os mineiros são uns bananas.

Mas o grande problema mesmo é esta superficialidade da propaganda ter contaminado a política em seu todo. Hoje nossos políticos vão apenas no que parece certo para obter ganho eleitoral. E política feita assim deixa de ter sentido, pois atinge apenas fins particulares.

Nem dá para imaginar alguém como Abraham Lincoln baseando-se em pesquisas eleitorais ou qualitativas para tomar algum rumo na política, Bem, nem estaríamos aqui discutindo o assunto, pois se Lincoln não agisse inclusive contra a opinião pública de sua época com certeza o mundo seria outro.

E já que estamos falando em 13 de maio, o exemplo serve também, pois bem sabemos que se dependesse da percepção da sociedade brasileira na época sobre a questão da escravidão a abolição não sairia de jeito nenhum.

Este fenômeno da publicidade tomando a frente da política é trágico, mas não deixa de ser bem interessante. Os publicitários, que de início eram contratados apenas para servir ao interesse eleitoral imediato dos candidatos, são hoje os definidores conceituais e até do conteúdo da política brasileira, pois nossos políticos nunca responsabilidade administrativa. Como não descem do palanque, estão sempre à reboque do marketing.

A gramática da política contaminou-se de tal forma pelo marketing que hoje fica difícil saber se o que sai da boca de um político vem do seu cérebro ou de alguma pena alugada.

Uma função essencial da política é a construção de novidades ainda sem aceitação entre as pessoas. Muitas vezes a ação política tem até de ser contrária a conceitos firmados socialmente. Isso, evidentemente, é impossível de ser obtido com a associação entre política e marketing.

Sem essa qualidade da política fica muito difícil promover avanços políticos e culturais ou em qualquer setor da sociedade. Este papel dos políticos, aliás, é importante até para as atividades de fato comerciais dos publicitários. Dessa forma, a publicidade pode até ter produtos de mercado melhores para vender.
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POR José Pires

Aposta no lucro certo

O grande problema ético no Brasil é que fica barato transgredir a lei. Em política então é quase sempre um negócio certo. Normalmente é até mais barato passar por cima da lei do que seguir qualquer regra moral. Fazer política com ética é coisa muito trabalhosa, exigindo um esforço cotidiano na construção partidária e no convencimento do eleitor usando processos democráticos que nunca atendem ao ritmo acelerado exigido por espertalhões.

O presidente Lula sabe bem disso. Pegou experiência no assunto nas variadas reuniões partidárias pelo país afora, tendo que ouvir e algumas vezes acatar opiniões das quais ele discordava. São os trâmites partidários e regras de relações de qualquer grupo democrático, um comportamento que é na maioria das vezes objeto de ironia, mas que é o correto. É o que tem ser feito.

No ano anterior a sua eleição para presidente Lula chutou o balde. Disse que só continuava na brincadeira se pudesse contratar um bom marqueteiro, ter bastante dinheiro pra campanha e fazer o que bem quisesse. E como deu certo, nunca mas ele aceitou outra coisa.

Deu certo pra eles, é claro, porque para o país... Ora, companheiros, mas o que é o país em relação a um projeto como nunca houve neste país desde Cabral, ou melhor, até um pouquinho antes desse português que, a exemplo de D. Pedro II, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitscheck, João Goulart, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, nunca soube o que é bom para o Brasil.

Nesta questão de legalidade e padrões morais, Lula e seus companheiros continuam chutando o balde até hoje. E como o ingrediente ativo deste jogo sujo é a impunidade, algo sempre certo na política brasileira, não tem como errar. É menos uma questão de sorte e muito mais de ter a cara-de-pau para fazer a safadeza.

Então acabam ganhando mais do que aplicando na Bolsa em papéis de empresas de áreas de seu domínio político.

Ontem o Tribunal Superior Eleitoral resolveu pela punição do PT pelo programa exibido em dezembro do ano passado. Não foi um programa eleitoral tão descarado quanto o que foi exibido pelo partido também no dia de ontem, mas só porque enquanto esgarçam as malhas da lei eles vão avançando mais e mais na ilegalidade.

O programa do ano passado que motivou a punição era também um absurdo. Nada tinha de partidário. Era propaganda eleitoral da candidata Dilma fora do prazo legal e usando um horário do PT concedido para fins partidários.

E ficou barato. A multa para o PT é de R$ 20 mil para o partido e a de Dilma Roussef é de R$ 5 mil. O PT terá cassado também o horário semestral do partido, mas (não, não é piada...) isso será só em 2011, bem depois desta eleição onde esperam colher o resultado da maracutaia. Imaginem quanto tempo não seria consumido para que a candidata do Lula conquistasse algo parecido pelos meios legais. E, também, R$ 25 mil reais chega a ser ridículo numa campanha que deve custar, por baixo, R$ 150 milhões.

Não falei que dá lucro desrespeitar a lei? Só falta o Duda Mendoça para fazer como na primeira eleição do Lula e mandar trazer um Romanée Conti, o vinho mais caro do mundo, para a comemoração do feito. Se é que falta.
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POR José Pires