sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Papai, não esqueça a minha metralhadora giratória


Você já deve ter lido e ouvido em muitos lugares que educação é tudo. Então, que tal um presentão desses para o seu filho enfrentar este mundo com competitividade e espírito de vencedor? Não é barato, custa 42,99 dólares, mas veja a coisa como um investimento no futuro da criança. E você pode pedir pela internet — pode não, tem que ser pela internet; a menos que um de seus filhos seja um craque nos games como o filho do Lula e já tenha ganho seu primeiro milhãozinho de uma grande empresa.

Não espere o Natal ou o Dia da Criança. Até lá, pode ser tarde. Pense na educação do pimpolho e clique aqui.
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POR José Pires

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O 171 que virou refugiado político

O caso do italiano Cesare Battisti, o criminoso italiano que recebeu a condição de refugiado político das mãos do próprio ministro da Justiça, Tarso Genro, chega a ser engraçado. Claro que sempre dentro daquela lógica de que temos que abstrair o fato de vivermos dentro da piada, mas não tem como não rir desta burrada do governo Lula, nem a primeira, muito menos a última, mas um dos desconcertos petistas que está dando até problema internacional.

Este é o problema de um governo que joga para várias platéias ao mesmo tempo. Tem que contemplar o grande capital e para isso seguiu na risca o receituário anterior do governo de Fernando Henrique Cardoso, com especial atenção aos ganhos por fora na jogatina dos juros, mas precisa dar atenção também aos setores, digamos assim, mais à esquerda da sociedade e, de forma preferencial, aos do partido. Não que seja difícil segurar esses tipos. Eles se contentam com algumas boquinhas, uns ministérios e secretárias sem poder algum, mas, de vez em quando, exigem um reforço na ideologia. Ao menos para parecer que ainda estão ativos na luta contra o sistema.

O imbróglio em torno de Battisti evidentemente vem disso. E tenho a impressão de que neste caso Lula foi enrolado por Tarso Genro e o próprio ministro acabou sendo surpreendido pela conseqüência do que fez. Não esperava a reação italiana, o que não comprova de imediato nenhum despreparo, mas apenas a distração de que foi vítima. Na verdade, visava apena uma platéia, a da esquerda de seu partido, onde trava uma luta intestina para ser candidato à presidente.

Lula é ladino, sem dúvida, mas não é o tipo de governante que centraliza toda a estratégia política. Se fosse assim, José Dirceu não daria nem mais um telefonema para o Palácio do Planalto. Muito menos Luiz Eduardo Greenhalgh, claro. Não adianta, a barriguinha é igual a do Getúlio Vargas, mas as semelhanças acabam aí.

O presidente da República é alimentado pelo famoso sopro no ouvido. Ele mesmo confessou que nem lê jornais e, digo eu, evidentente não faz análise própria. Imagino o Lula na internet: quantas tardes será que ele precisa para ler, por exemplo, o "Estadão"? Não dá. Quem sopra as notícias pra ele são os assessores.

Colocou o caso Battisti na sua agenda política embalado pela lábia de Tarso Genro. É claro que o peixe que comprou não é este que aí está, de fedor até internacional, mas agora é tarde. E, repito, o que aconteceu depois surpreendeu o próprio ministro. Ele decerto não esperava a reação italiana, pois aí, então seria caso de hospício.

Isso não comprova de imediato nenhum despreparo, mas apenas a distração que pode ocorrer com qualquer um que se concentra demais em um ponto e perde a noção do conjunto. É quando acontece a trombada. Genro visava apenas uma platéia, a da esquerda de seu partido, onde trava uma luta intestina para ser candidato à presidente. Mas não deu pra desviar da árvore, ou melhor, dos italianos.

Já observaram bem a “faccia” de Cesare Battisti? É de fazer babar de contentamento seu conterrâneo Cesare Lombroso, aliás, também um xará seu e com uma "faccia" nada confiável. Veja lá em cima a cara de criminoso do colarinho branco que ele, Lombroso, ostenta com orgulho. E o outro Cesare, o Battisti... bem, tenho um cachorro rotweiller que, coitadinho, jamais daria para o italiano levar pra passear.

A teoria de Lombroso já nasceu ultrapassada. Ele afirmava que o criminoso pode ser identificado por suas características faciais, o que é uma bobagem. Mas tem tipo que não engana. E a verdade sobre Battisti não está só na cara. Sua história pessoal é a de um delinqüente comum, um espertalhão oportunista que viu uma boa chance de aplicar um estelionato ideológico. Na Itália não se enganaram. Aqui no Brasil deu certo. Sempre dá.

E por que Tarso Genro foi se misturar com um tipo como esse, arrumando um problema internacional para O Brasil? Bem, para uma melhor explicação ajuda bem lembrar a atuação do ministro da Justiça na questão da revogação da Lei da Anistia. Esta é outra causa inoportuna que ele abraçou recentemente, com metodologia e objetivos muito parecidos com os de agora. Para ficar bem com a esquerda de seu partido é preciso fazer essas coisas, estranhas para nós aqui de fora, extraordinariamente bizarras até, mas normais e até muito bem-vindas pelos seus correligionários. E para ser candidato à presidente da República pelo PT, Genro só conta com esse pessoal à esquerda.
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POR José Pires

Anistia: uso e abuso

A articialidade do caso do delinquente italiano que virou refugiado político pode ser encontrada nas incoerências do discurso de Tarso Genro. É o de sempre. Como está sempre procurando palavras para justificar seus interesses pessoais, hábito seu de muito tempo, obviamente antes de ser ministro de qualquer coisa, as falas de Genro apresentam incoerência o tempo todo. Um especialista em tantas áreas acaba misturando as bolas.

Quando foi ministro da Educação ele não sabia tudo do tema? Sabia sim. Na época ele dava aulas em público sobre universidade pública para os professores universitários. Com Deus faria a mesma coisa. Pois agora repete-se o enredo. Recheia o discurso com conceitos de credibilidade política e até jurídica para tentar dar razão ao que na verdade foi essencialmente pura jogada política.

O economista Paulo de Tarso Venceslau, dissidente petista que conheceu de perto essa gente, inclusive o ministro da Justiça, matou a charada em entrevista à rádio Eldorado em outubro do ano passado, quando a polêmica sobre a revogação da Lei de Anistia estava quente. Venceslau foi preso político e sofreu torturas na prisão, porém é contra a revogação. Tarso Genro quer mexer na lei para favorecer setores da esquerda. “Ele [Tarso Genro] deve estar fazendo uma média com o pessoal mais de esquerda. É mais uma jogada para a platéia que uma garantia, uma luta política reforçada em qualquer coisa mais generosa e ambiciosa. É alguma coisa pensando em 2010 e por aí vai", disse Venceslau.

E a revogação da Lei de Anistia é apropriada também para apontarmos uma incoerência, mais uma, esta bem, grave, nas falas de Tarso Genro defendendo a porcaria que fez. Comentando ontem a reação do governo italiano, o ministro soltou esta pérola: "Não existe crise entre o Brasil e a Itália nem atos de hostilidade. Acho que esse, realmente, é um caso doloroso para a sociedade italiana. Como a Itália não teve uma lei de anistia, essas graves questões, dos anos 70, ainda não estão cicatrizadas."

Espere aí, mas não é o ministro que luta para revogar a Lei de Anistia? Sim, o ministro é o mesmo, mas é o Tarso Genro. E com ele é assim: a Lei de Anistia serve pra qualquer coisa, desde que atenda a seus interesses pessoais imediatos.
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POR José Pires

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Obama na cabeça



Nem todo mundo gosta. Hillary Clinton odiou desde o começo e só agora está aceitando melhor. Reinaldo Azevedo abomina, Diogo Mainardi detesta, mas o planeta está em fase de Obamania. Esta coisa horrorosa ao lado é mais um produto que explora a imagem do presidente dos Estados Unidos.

Funciona como aqueles bonecos ecológicos. É o Chia Obama: basta regar e o cabelo do Obama cresce bem verdinho. São dois modelos, o Obama Determinado e o Obama Feliz, ao preço de US$ 19,90 cada um. Se não fosse a crise, uma invenção dessas já teria chegado aqui. Seria um produto bom para vender no Fórum Social, no Pará, já que junta dois temas quentes do evento: a salvação da pátria — qualquer uma delas, Bolívia, Venezuela, ou até mesmo os Estados Unidos — e a ecologia.

Mas aqui não custa nada. Você pode dar uma passadinha todos os dias no blog para ver o cabelo do Chia Obama (este aí é o Determinado) crescendo verdinho, enquanto o do Obama de verdade vai ficando branco lá em Washington. E quem gosta de ver bobagem na internet ou até é doido de comprar uma coisa dessas, pode clicar aqui.
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POR José Pires

Um esquecido na equipe de Obama

Mesmo para um santo como Barack Obama é uma dificuldade formar um governo. Ou melhor, para um santo como ele (precisa beatificar o homem; é o primeiro passo) é ainda mais complicado.

O Departamento do Tesouro, peça das mais importantes em uma máquina atolada na crise, já tem comandante, mas foi uma indicação polêmica que provocou debates acalorados no Senado (é, o Senado de lá debate as indicações do governo) e teve 34 votos contra e 60 a favor (é, de novo: no Senado de lá não tem apoio unânime ao governo).

O problema com Geithner é que ele não pagou impostos à seguridade social quando trabalhou como economista no Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele deixou de pagar 34 mil dólares, alegadamente por erro no preenchimento das respectivas declarações. Nas discussões no Senado também entrou a descoberta recente de que ele continuou a empregar uma imigrante como diarista após o visto de trabalho dela nos EUA ter expirado.

São coisas que acontecem, nós aqui sabemos bem disso. Tanta coisa maior acabam sendo esquecida por nossos políticos e tecnocratas, uns distraídos empedernidos. A diferença é que o nosso Senado também de nada lembra.
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POR José Pires

Veja errou

Falando em erro, a revista Veja fez uma matéria com o ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso sobre seu divórcio com a deputada Maria Lúcia Cardoso e cometeu uma falta com o político mineiro.

O divórcio de Newtão, como é chamado, é um barraco: ele é acusado pela ex-mulher de tê-la agredido com “unhadas, puxões de cabelo e bofetões”, mas não é disso que falamos. Em 2006, o ex-governador declarou à Justiça Eleitoral ter um patrimônio de 12,7 milhões de reais. Veja afirmou que é bem mais: 150 milhões de reais. Sua mulher aumentou a suspeita: disse que, na verdade, a fortuna do marido chega a 2,5 bilhões de reais.

Newtão ficou muito bravo. Convocou uma entrevista coletiva e disse que a revista e a mulher erraram feio. Ele gritou, chorou e deu socos na mesa. E esclareceu o assunto.

A revista disse que ele possuiria 25 carros. São 150, corrigiu. Veja disse também que ele é dono de setenta fazendas. Aí ele ficou fulo. Vai lá, em sua voz peculiar: “Não tenho só essa merda de setenta fazendas. São 145, sendo que em uma delas foram encontrados dois poços de petróleo”.

E fez relato de suas posses: não tem um, mas dois apartamentos nos Estados Unidos; tem apartamento e um hotel em Paris e uma casa em Roma; na Bahia tem uma praia e no Rio uma ilha.

Newton Cardoso começou pobre na política e hoje é bilionário. Sua fortuna pode chegar a 3 bilhões. Mas que surpresa é essa? Nosso presidente da República também começou pobre na política, metalúrgico morando em casa popular, e hoje é milionário. Mas fiquemos no Newtão.

Para ele, os jornalistas de Veja são “jumentos” e “imbecis”. Vejam mais, na sua própria fala: "A revista diz que descobriu R$ 150 milhões, mas só no Banco do Brasil tenho R$ 200 milhões aplicados. Como é que eu posso ter essa merda de dinheiro só?"

Com se vê, o ex-governador sabe muito bem o dinheiro que tem. A imprensa que se corrija. Aliás, mesmo porque talvez mais do que a própria fortuna Newton Cardoso conhece muito bem o Brasil. Num país como o nosso, ainda é capaz da Veja ser condenada porque errou pra menos a fortuna de um político endinheirado.
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POR José Pires

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Juros caem um pouco, mas Meirelles não

E agora? Uma revista, a Carta Capital dessa semana, garante que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já está quase fora do cargo. A outra, a Veja de outubro do ano passado, afirma que Meirelles ficou ainda mais firme para passar 2009 enfrentando a crise.

O editor de Carta Capital, Mino Carta, já alertou em seu blog que a demissão não é pra já. Ele até faz a ressalva de que a revista talvez tenha induzido a esse erro de avaliação por causa do título da reportagem de capa. Ele diz que é coisa para “dois ou três meses, quem sabe mais”. Mas é notícia para este ano? A pergunta é minha. Esperemos, portanto, para saber qual das duas capas acertou.

Porém, mais dois ou três meses de Meirelles não é dose muito forte para a doença da economia brasileira? Pensem bem: é tempo demais para ele deixar de fazer o que deve ser feito, coisa, aliás que ele faz, ou melhor, deixa de fazer há mais de seis anos.

Ontem o BC diminuiu os juros em um ponto percentual, que vai de 13,75% para 12,75% ano. Como dizem por aí: demorou... O desemprego aumenta e a produção industrial cai: nem é preciso olhar para a Bolsa, a de valores,  para ver que a situação é terrivelmente difícil. Em dezembro o país perdeu quase 700 mil posto de trabalho formal,  número corresponde a mais que o dobro da média registrada para o mês e o pior dos últimos dez anos.

O governo Lula não aproveitou o período de bonança da economia internacional para cuidar da infra-estrutura ou de qualquer outro aspecto da governabilidade, além de se embolar na lorota da “marolinha”. Agora com o maremoto é preciso acelerar. Mas como um governo que mal cuida das questões administrativas básicas do país pode fazer isso? Talvez o Lula tenha uma resposta e também é provável que logo arrume um tempo para se ocupar disso. No momento ele está ocupado com a eleição de Sarney para presidente do Senado.

Se fosse para agir como os petistas faziam na oposição, diria que não é problema meu. Mas é de todos nós. E um problemão. Depois de perder tanto tempo, como é que o BC vai fazer agora? Redução semanal de juros? Ou vai rebaixar os juros dia sim, dia não. Para que os juros cheguem em um nível razoável, estas receitas prováveis nem podem ser tomadas como piada. Piada é uma economia onde se reduz os juros para... R$ 12,75%.

O problema é que só daqui a 45 dias tem nova reunião do Comitê de Política Monetária, o Copom. E o país aguenta, agora sem trema, até lá? Analistas econômicos e lideranças empresariais, como o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, afirmam que é muito tempo. E dá até para sentir um certo desespero na fala de muitos deles.
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POR José Pires

Dois na mesma cadeira

Tucano é mesmo um bicho esquisito. De salto alto é mais estranho ainda. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, por exemplo só dá para ser visto de baixo pra cima, de tão alto é o sapato em que se empoleirou.

“Temos a convicção de que podemos ganhar a eleição com Aécio Neves ou com José Serra”, foi o que ele disse. Bem, então é só encomendar o terno da posse, sendo que a nós, eleitores, cabe apenas dar uma passada em Brasília no dia para aplaudir o eleito, José Serra ou Aécio Neves, tanto faz.

Ah, o tempo... bem, que viveu sabe que ele, na verdade, nada ensina. O que o tempo faz é tirar de foco as questões, dando a impressão de que elas foram resolvidas ou compreendidas.

A última vez que vi tucano de salto tão alto foi na eleição paulistana de 1985, quando Fernando Henrique Cardoso sentou-se na cadeira do prefeito — fácil então, já que o prefeito em exercício, em mandato-tampão, era Mário Covas. A história todo mundo sabe: quem tomou posse foi seu adversário Jânio Quadros, não sem antes desinfetar a cadeira onde FHC havia colocado suas nádegas de favorito.
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POR José Pires

Tacada certeira

Falando nisso, o governador José Serra colocar Geraldo Alckmin na secretaria de Desenvolvimento de seu governo é uma excelente tacada política. Claro, nos níveis em que a política se nos apresenta; real politik, é assim que se fala?

Alckmin na tal secretaria é excelente para o desenvolvimento da candidatura de Serra a presidência da República.

Foi bem hábil da parte de Serra, mas Aécio Neves e seus parceiros tucanos têm ajudado bastante também dando entrevistas para todos os veículos de imprensa do país dizendo que não sentiram o golpe.
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POR José Pires

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Conversa de pescador

O presidente Lula telefonou para
George W. Bush no dia anterior
à sua saída da presidência
dos Estados Unidos e o convidou
para vir pescar no Brasil.
Não, não é piada.
É o que temos na presidência
da nossa república.
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POR José Pires

Símbolos de um lado e de outro

A frase “o uso do cachimbo deixa a boca torta” devia ser brasileira, tantos são os desvios de atitude ou de pensamento que tornam-se norma por aqui. Com a esquerda, talvez devêssemos mudar só o objeto, colocando nas bocas tortas um charuto. Cubano talvez, alguém aí pensou? Está certo.

A crise financeira que explodiu nos Estados Unidos criou um ar de felicidade danada em nossa esquerda, com muitos analistas até vendo no acontecimento o final do capitalismo. Uma tirada até fora dos propósitos do guru maior, Marx, que disse que o capitalismo não acaba, mas se supera. É o cachimbo aí. De tanta fixação na derrocada do capitalismo, a esquerda vê óbito onde existem apenas sintomas, graves, sem dúvidas, mas apenas sintomas de uma doença muito perigosa.

Bem, se é para falar dos sinais, temos que ir às fontes. E a primordial da esquerda no aspecto prático é a revolução russa. Sem ela, aliás, charuto na boca nem seria símbolo revolucionário pois o mundo jamais teria ouvido falar de Fidel Castro.

Pois o que temos nestes dias é a renovação óbvia do capitalismo — numa provável superação, como disse Marx — com a eleição de Barack Obama e um retrato do que sobrou do comunismo soviético com o assassinato de Serguei Markelov, advogado da família de uma jovem morta por um ex-coronel do exército russo. O advogado foi morto na segunda-feira, no centro de Moscou e seu assassinato é um dos elos de uma corrente de atrocidades em um país que saiu do comunismo com males gerados pelo totalitarismo e a falta de liberdade.

O pistoleiro matou também a jornalista Anastasia Baburova, da publicação quinzenal Novaya Gazeta, que acompanhava o advogado. Para a morte de Baburova existem duas versões, a de homicídio premeditado ou que ela teria tentado deter o criminoso.

O advogado Markelov concedera entrevista exatamente sobre a retomada das acusações contra o ex-coronel Budanov antes de ser morto pelo pistoleiro. Quando ainda estava na ativa no exército russo, o ex-coronel Budanov seqüestrou a jovem chechena Elsa Kungáyeva e depois a matou por estrangulamento durante um interrogatório em março de 2000. Condenado há dez anos de prisão, Budanov foi solto pelo tribunal de Dimitrovgad em função de um benefício que podem obter os presos que cumprem mais da metade da pena (parece um outro país que conhecemos bem).

A Novaya Gazeta, publicação onde trabalhava Anastasia Baburova, teve outra jornalista assassinada, a repórter Anna Politkovskaya, que fazia um trabalho bastante crítico em relação à política da Rússia na Chechênia e que desagradava os maiorais do Kremlin. Ela foi morta também à tiros na porta de sua casa em Moscou em outubro de 2006. Em sua morte estão implicados membros do ministério do Interior russo e da FSB, a antiga KGB do comunismo.

Em 2008 cinco jornalista foram assassinados na Rússia, que também tem outros profissionais da imprensa desaparecidos. A cifra de mortos é contínua — em 2007 foram oito jornalistas assassinados e nove em 2006.
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POR José Pires

Simbolismos para todos os gostos



Que a posse de Barack Obama ontem foi um marco já se escreveu muito por aí, apesar de que, na minha visão, o sinal de demarcação mais importante não é a cor da pele do novo presidente dos Estados Unidos mas sim o divisor de águas que seu mandato significa para um sistema político dominante desde a Segunda Guerra Mundial e que hoje tem um desafio crucial no terrorismo internacional, na crise econômica e nos problemas ambientais criados por seus próprios padrões políticos e econômicos.

Mas viveremos a partir dessa terça-feira um período interessante em que o mundo vai buscar sentido para o que pode acontecer a partir da matriz mais importante do capitalismo internacional. Aparecerão muitas comparações e serão desencavados os mais variados simbolismos.

Antes mesmo de Obama sentar na cadeira presidencial já vimos issso bastante aqui no . Tem até quem tente forçar a barra tentando estabelecer analogias entre Obama e o presidente Lula, com o próprio Lula, claro, buscando se favorecer com tal comparação.

Enfim, cada país busca em sua realidade aspectos simbólicos para fixar na imagem de Obama, claro, como acontece com esta sacada muito boa que vem da Espanha.

Lá, alguém criou uma teoria baseada em ciclos de 30 anos em que um dirigente nefasto é desapeado do poder. É apenas humor evidentemente. E até que ficou bom. Começa em Hitler, em 1945 e vai até o final do governo de George W. Bush. Serve só para a Espanha, caindo lá como uma luva para a morte do ditador Francisco Franco e o final de um regime político retrógrado que manteve os espanhóis “encadenados” durante muitos anos.

E nem é preciso traduzir a peça, pois num aspecto a cultura deles é bem próxima da brasileira: a canalha do mal é chamada lá pelo mesmo nome que usamos aqui.
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POR José Pires

terça-feira, 20 de janeiro de 2009


George W. Bush entra para a História


É logo mais que George W. Bush vai para o lixo da história. Barack Obama receberá do presidente republicano um país com o maior déficit fiscal em seis décadas. Além disso, terá de buscar solução para uma crise financeira que abala os até mesmo os paradigmas do capitalismo. George W. Bush é um homem-bomba. Com truculência e incompetência conseguiu fortalecer até o terrorismo internacional.

Obama toma posse daqui a pouco, no entanto, já encanta os norte-americanos desde que surgiu, de modo empedernido, para tirar de Hillary Clinton a candidatura que parecia destinada a ela. Mas o destino tinha outros planos, para a família Clinton, além de uma ironia: Hillary passou todo o tempo no ataque a Obama e agora vai para a Defesa.

Não é exagero dizer que o mundo torcia para Obama antes mesmo de ele vencer do partido Democrata. É um caso singular, claro, e ajudado bastante pela performance do presidente que sai. A animação de todos sempre foi basicamente movida pelo alívio de livrar-se do que fica para trás.
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POR José Pires

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Fim da era do bushismo

Barack Obama senta amanhã na cadeira mais importante do mundo, um acontecimento fantástico por todas as razões que já foram ditas por tantas pessoas, mas também muito importante porque finalmente George W. Bush sai de cena.

Foi um dos piores presidente dos Estados Unidos, talvez o pior pelo fato dos estragos que fez terem uma destrutiva sintonia com o pior momento do planeta no aspecto ambiental. Junte Bush e aquecimento global e nada do que você pode imaginar pode ser tão terrível qianto a realidade.


O mundo perdeu oitos anos que poderiam ter sido aplicados em políticas construtivas — dentro do capitalismo mesmo e talvez até com o caráter imperialista de sempre, pois não sou ingênuo de esperar grandes avanços concedidos pela metrópole — em vários âmbitos, mas especialmente nos sentido da organização política e econômica mundial e sua conseqüências ambientais.

Barack Obama tem muita coisa para consertar. O que ficou para seu governo nem possibilita grandes comemorações em sua posse. Isso nem é legado: está mais para rescaldo. Mas o fato de George W. Bush estar indo embora já uma boa notícia.

Mas, junto ao amontoado de desgraças que construiu para a humanidade, isso sim uma herança maldita, o presidente Bush deixa também um número altíssimos de bobagens, ditas com toda a solenidade garantida pelo poder da Casa Branca, é verdade, mas de um nível de ignorância espantoso até para os padrões de seu partido, que levou para a Casa Branca seu próprio pai, George Bush, e Ronald Reagan, além de Richard Nixon e Gerald Ford.

Será que os Estados Unidos já tiveram um presidente capaz de falar tantas asneiras? Só se for em épocas em que os meios disponíveis para captar e compilar asneira não fossem tão bons quanto hoje. Mas certamente em quantidade Bush ganha de qualquer um. Com sua língua destravada, o falastrão George W. Bush acabou levando à criação até de um neologismo nos Estados Unidos, o “bushismo”, para definir o amontoado de bobagens que falou nesses oito anos.

Poucos chefes de governo no mundo estão à altura da capacidade dele de falar bobagens absurdas como se fossem sentenças históricas — e se você pensou em Hugo Chávez, da Venezuela, e Luiz Inácio da Silva, do Brasil, aí digo que são hors-concours neste caso.

Não há como não lembrar de Lula quando Bush vinha com suas tiradas acacianas, vazias, óbvias, mas colocadas em tom solene, como quando disse que “ler é básico para todo o aprendizado”. Não é à toa que, se lá eles têm o termo "bushismo", aqui temos dois neologismos para a verborragia do nosso presidente: lulismo e lulices.

Com seu pouquíssimo domínio da língua e o total desconhecimento de história e geografia — estou falando de Bush — ele é a piada pronta. Asneiras e frases ambíguas com duplo sentido saem da sua boca o tempo todo, como, quando ao se referir aos inimigos dos Estados Unidos disse: “Eles nunca deixam de pensar em formas novas de prejudicar nosso país e nosso povo, e nós também”.

Seu desconhecimento é vasto. Os demais países do planeta são para ele uma incógnita — o mundo termina não é nem na fronteira dos Estados Unidos, mas na do Texas. Tem até uma frase relacionada ao Brasil e que, estranhamente, ficou fora de todas as compilações de bushismos que li até agora, quando em abril de 2002 ele perguntou ao então presidente Fernando Henrique Cardoso: “Vocês também têm negros?”.

E como seu caráter populista obriga-o a se mostrar em público como um cara bem bacana, nisso lembrando novamente um conhecido nosso, ele acaba cometendo gafes muito engraçadas, como aconteceu numa cerimônia de recepção na Casa Branca quando elogiou a fala do papa Bento 16: “Obrigado, Sua Santidade. Discurso incrível”.

Também querendo parecer simpático, confessou em 2003 que fez um extremo sacrifício após o atentado que naquele ano matou o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, na representação da ONU em Bagdá. Bush disse que deixou de jogar golfe, pois não queria que "uma mãe que perdeu o filho visse o comandante-em-chefe jogando golfe”.

Mas vamos aos bushismos. Colhi na internet várias dessas frases para homenagearmos o quase ex-presidente e rirmos um pouco, pelo menos para amenizar tantas desgraças. Afinal, humor serve também para isso.

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POR José Pires

Os bushismos

SOBRE SI MESMO
"Eles me mal-subestimaram."
(Bush inventou a palavra 'misunderestimated')
Bentonville, Arkansas, 6 de novembro de 2000


“Estou atento não só para preservar o poder executivo para mim, mas também para os meus predecessores.”
Na Casa Branca, em janeiro de 2001

"Não há dúvida de que no minuto em que eu fui eleito, as nuvens de tempestade no horizonte estavam chegando quase diretamente sobre nós."
Washington, 11 de maio de 2001

“Eu não posso esperar para me juntar a vocês na alegria de receber de volta os vizinhos nos bairros, e de ver os pequenos negócios sendo retomados, e cortar as fitas de inauguração de que alguém está criando novos empregos.”
Em 5 de setembro de 2005, em encontro com moradores de Poplarville, Mississipi, após a tragédia do furacão Katrina.

"Eu quero agradecer ao meu amigo, o senador Bill Frist, por se juntar a nós hoje. Ele se casou com uma menina do Texas, eu quero que vocês saibam. Karyn está conosco. Uma menina do Oeste do Texas, exatamente como eu."
Nashville, Tennessee, 27 de maio de 2004

“Não se enganem sobre isso. Eu sei como é difícil agüentar isso. Eu falo com famílias que morrem.”
Em 7 de dezembro de 2006, em um evento ao lado do então primeiro-ministro britânico, Tony Blair

POLÍTICA EXTERNA
“Creio que estamos em um caminho irreversível para mais liberdade e democracia. Mas, as coisas podem mudar.
Em maio de 1998

“A África é uma nação que sofre uma incrível enfermidade.”
Entrevista coletiva em setembro de 2000

“Falei com Vicente Fox, o novo presidente do México, para ter petróleo para enviar aos Estados Unidos. Assim não dependeremos do petróleo estrangeiro.”
No primeiro debate presidencial em março de 2000

“Estamos empenhados em trabalhar com ambas as partes para levar o nível de terror a um nível aceitável para ambas as partes.”
Na Casa Branca, em fevereiro de 2001

“Entendo que a agitação no Oriente Médio cria agitação em toda a região.”
Na Casa Branca, em março de 2002

“Essa coisa de política externa é um pouco frustrante.”
Em 23 de abril de 2002

“Nossos inimigos são inovadores e cheios de recursos, e nós também somos. Eles nunca param de pensar em novas maneiras de ferir nosso país e nosso povo, e nós também não.”
Em 5 de agosto de 2004, na cerimônia de assinatura de uma lei que ampliava os orçamento da Defesa

"Há um século e meio, os Estados Unidos e o Japão formam uma das maiores e mais duradouras alianças dos tempos modernos. Desta aliança saiu uma era de paz no Pacífico”
Discursando em Tóquio em fevereiro de 2002, esquecendo da Segunda Guerra Mundial

“Nem sempre os Estados Unidos e a América tiveram uma relação próxima. Afinal de contas, 60 anos atrás estávamos em guerra.”
Em 29 de junho de 2006, na Casa Branca, em encontro com o então primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi

"A guerra contra o terror envolve Saddam Hussein por causa da natureza de Saddam Hussein, da história de Saddam Hussein, e a sua determinação de aterrorizar a si mesmo."
Grand Rapids, Michigan, 29 de janeiro de 2003

“Não há dúvida na minha mente, nenhuma, de que vamos fracassar.”
Em 4 de outubro de 2001, em Washington, em um plano contra ataques terroristas.

"Eu acho que a guerra é um lugar perigoso."
Washington, 7 de maio de 2003

"O embaixador e o general estavam me relatando sobre como a grande maioria dos iraquianos querem viver em um mundo pacífico e livre. E nós vamos achar essas pessoas e levá-las à Justiça."
Washington, 27 de outubro de 2003

"Sociedades livres são sociedades cheias de esperança. E sociedades livres serão aliadas contra os poucos odiosos que não têm consciência, que matam ao gosto de um chapéu."
Washington, 17 de setembro de 2004

"Você sabe, uma das partes mais difíceis do meu trabalho é conectar o Iraque à guerra ao terrorismo."
Washington, 6 de setembro de 2006

“O povo americano está orgulhoso de receber sua majestade nos Estados Unidos, uma nação que conhece muito bem. Afinal, sua majestade jantou com dez presidentes americanos, e ajudou a celebrar o bicentenário da nossa nação em 17... em 1976.”
Em 8 de maio de 2007, dando as boas-vindas à rainha Elizabeth

“Essas são grandes realizações para esse país, e o povo da Bulgária deve estar orgulhoso das realizações que realizou.”
Em 11 de junho de 2007, em Sófia, na Bulgária

“Senhor primeiro-ministro, obrigado pela apresentação. Obrigado por ser um anfitrião tão bom para o encontro da Opep.”
Em setembro de 2007, em Sydney, na Austrália, durante reunião da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, que, na sigla em inglês, é a Apec.

“E eles não têm desprezo pela vida humana.”
Em 15 de julho de 2008, na Casa Branca, criticando os militantes que vivem no Afeganistão.

EDUCAÇÃO
“Raramente a pergunta é feita: nossas crianças estão aprendendo?”
Janeiro de 2000, durante um evento de campanha na Carolina do Sul.

“O sistema público de educação dos Estados Unidos é uma das fundações mais importantes da nossa democracia. É lá que as crianças de todo o país aprendem a se tornar cidadãos responsáveis e aprendem a ter as habilidades necessárias para tirar proveito da nossa fantástica sociedade oportunista.”
Em 1º de maio de 2002, em Santa Clara, na Califórnia

"Ler é básico para todo o aprendizado."
Reston, Virginia, 28 de março de 2000

"Como governador do Texas, eu estabeleci altos padrões para as nossas escolas públicas, e eu cumpri esses padrões."
Entrevista à CNN, 30 de agosto de 2000

"Você ensina uma criança a ler, e ele ou ela ('he or her' em inglês, em vez do correto: 'he or she') vai conseguir passar em um teste de escrita."
Townsend, Tennessee, 21 de fevereiro de 2001

ECONOMIA
"Eu entendo o crescimento dos negócios pequenos. Eu fui um."
Entrevista ao New York Daily News, 19 de fevereiro de 2000

"É claramente um orçamento. Tem muitos números nele."
Entrevista à agência de notícias Reuters, 5 de maio de 2000

"Eu continuo confiante em Linda. Ela será uma ótima secretária de Trabalho. Do que eu li na imprensa, ela é perfeitamente qualificada."
Austin, Texas, 8 de janeiro de 2001

"Primeiro, deixe-me esclarecer bem, pessoas pobres não são necessariamente assassinos. Só porque você não é rico, não significa que você está disposta a matar."
Washington, 19 de maio de 2003

"Eu abandonei os princípios do livre mercado para salvar o livre mercado."
Em 16 de dezembro, sobre as medidas do governo para combater a atual crise econômica

“Eu analisei a situação e decidi que não queria ser o presidente durante uma depressão maior que a Grande Depressão, ou no começo de uma depressão maior que a Grande Depressão.”
Em 18 de dezembro, em Washington, sobre a crise econômica

SAÚDE
"Eu não acho que nós devamos ser sublimináveis sobre a diferença entre nossos pontos de vista sobre remédios que exigem prescrição."
Inventando a palavra 'subliminable', em Orlando, Flórida, 12 de setembro de 2000

“Muitos médicos estão saindo do mercado. Muitos obstetras e ginecologistas não têm mais como praticar seu amor pelas mulheres no país.”
Em 6 de setembro de 2004, em um comício em Poplar Bluff, no Missouri

TECNOLOGIA
“Seria um erro para o Senado dos Estados Unidos permitir que qualquer tipo de clonagem humana saia dessa reunião.”
Em 10 de abril de 2002, na Casa Branca, quando pediu ao Senado para vetar a clonagem humana

"A informação está em movimento. Você sabe, o noticiário da noite é uma forma, é claro, mas também está se movimentando pela blogosfera e através das internets."
Washington, 2 de maio de 2007

GOVERNO
“Dick Cheney (o vice-presidente) e eu não queremos que esta nação entre em recessão. Queremos que qualquer um que encontre trabalho consiga trabalhar.”
No programa 60 Minutos, em dezembro de 2000

"Eu tenho uma visão diferente de liderança. Uma liderança é alguém que consegue unir as pessoas."
Bartlett, Tennessee, 18 de agosto de 2000

"Eu sou o decisor, e eu decido o que é melhor."
Washington, 18 de abril de 2006

"E a verdade é que muitos relatórios de Washington nunca são lidos por ninguém. Para mostrar como este é importante, eu o li e Tony Blair o leu."
Sobre o relatório Baker-Hamilton, em Washington, 7 de dezembro de 2006

"A única coisa que posso dizer é que quando o governador liga, eu atendo o telefone."
San Diego, Califórnia, 25 de outubro de 2007

"Eu já terei morrido há anos antes que alguma pessoa esperta descubra o que aconteceu dentro do Salão Oval."
Washington, 12 de maio de 2008

“As pessoas perguntam: você escuta mais alguém além de algumas pessoas? Claro que eu escuto”
Em 18 de dezembro, falando na capital, também sobre a crise

OUTROS ASSUNTOS
Penso que se você sabe do que se trata, será muito mais fácil responder responder à sua pregunta. Não posso responder à sua pregunta.”
Também numa coletiva, na Califórnia, em setembro de 2000

“Deveria perguntar a quem me fez a pregunta. Não tive a oportunidade de perguntar a quem me fez a pregunta. De que pregunta se trata?”
Em coletiva com jornalistas, em Austin, no Texas, em janeiro de 2001

“Muitas de nossas importações vem de além mar.”
Em 26 de setembro de 2000

“Sei que em Washington existem muitas ambições. Mas espero que os ambiciosos se dêem conta que é mais fácil triunfar com um éxito que com um fracasso.”
Entrevista a Associated Press em janeiro de 2001

“Nossa fonte de energia mais abundante é o carvão. Temos carvão suficiente para durar 250 anos, e o carvão impede o desafio ambiental.”
Em 20 de abril de 2005, em Washington

"Eu sei que os seres humanos e os peixes podem coexistir pacificamente."
Saginaw, Michigan, 29 de setembro de 2000

"Famílias são onde a nossa nação encontra esperança, onde as asas viram sonhos."
LaCrosse, Wisconsin, 18 de outubro de 2000

"Aqueles que entram no país ilegalmente violam a lei."
Tucson, Arizona, 28 de novembro de 2005

"Isso é George Washington, o primeiro presidente, é claro. O que é interessante sobre ele é que eu li três – três ou quatro livros sobre ele no último ano. Isso não é interessante?"
Washington, 5 de maio de 2006

“O fato de que eles compraram a máquina significa que alguém teve que fabricar a máquina. E quando alguém fabrica a máquina, isso significa que há empregos no lugar onde se fabricam máquinas.”
Em 27 de maio de 2008, em Mesa, no Arizona

“Eu me lembro de encontrar com a mãe de uma criança que foi sequestrada pelos norte-coreanos bem aqui no Salão Oval”
Em 26 de junho de 2008, durante uma entrevista coletiva, com uma frase confusa que faz da Casa Branca palco de sequestros

“Por toda a história, as palavras da Declaração [de Independência] inspiraram imigrantes de todo o mundo a navegar para nossas costas. Esses imigrantes ajudaram a transformar 13 pequenas colônias em uma grande nação com mais de 300 pessoas”
Em 4 de julho de 2008, na Virgínia. A população dos EUA supera, na verdade, os 300 milhões de pessoas

“As pessoas da Louisiana devem saber que por todo o país há muitas orações – orações por aqueles cujas vidas foram viradas de cabeça para baixo.”
Em 3 de setembro de 2008, em um centro de emergência em Baton Rouge, na Louisiana, após a passagem do furacão Gustav pela região

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Meirelles fora do Banco Central?

A revista Carta Capital deu um furo ou levou uma barriga histórica? A edição da semana informa em matéria de capa que Henrique Meirelles já comunicou ao presidente Lula que deixará a presidência do Banco Central.

Até o início desta noite nenhum site, além do Estadão, repercutia a notícia. Neste site, porém, Meirelles desmente a notícia.

No entanto, o desmentido não vale por enquanto, pois vindo de figurões desta República até desmentido pode ser mentira.

Para o assunto ficar ainda mais estranho, o jornalista Luís Nassif, que na mesma edição da Carta Capital escreve um artigo analisando a gestão de Meirelles, informou no início da noite em seu blog que não conseguiu confirmar com nenhuma fonte que Henrique Meirelles esteja demissionário.

Mas a gente tem que acreditar que Mino Carta está com uma fonte muito boa — sim, ele mesmo, o Tosco, o que recebe o pedido de demissão — para ter colocado uma informação dessas na capa de sua revista.

Apostou alto. Ou vai para as alturas com um furo extraordinário ou será motivo de chacota nos meios político e jornalístico, além de fazer a alegria de muitos blogueiros que, no momento, devem estar torcendo para que não haja demissão alguma.

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POR José Pires

A China é aqui

Alguns empresários brasileiros são tão fascinados

com o modelo econômico da China que, num

ato falho — pois em economia também tem

disso —, estão querendo aproveitar a crise para

aplicar o modelo chinês aqui no Brasil.

Mas só na área trabalhista.

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POR José Pires

Por que no te mexes?

Está faltando solidariedade do presidente venezuelano Hugo Chávez na querela internacional entre Brasil e Itália criada pelo asilo político ao fugitivo da lei Cesare Battisti, que fugiu da Itália para não ser preso por quatro assassinatos e se escondeu no Brasil.

A Itália quer Battisti de volta para encarcerá-lo perpetuamente. E o Brasil resolveu dar-lhe refúgio oficial. Com isso, a crise ente os dois países esquentou. E cadê o Chávez?
Já passou da hora da Venezuela expulsar o embaixador italiano e romper relações com a Itália.
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POR José Pires

Mentindo em família

“Nós criticamos Lula não por comprar o avião, mas o Aerolula, a luxuosidade. O governo federal tem a Embraer”. É um tucano, o senador Álvaro Dias, do Paraná, falando das críticas de quatro anos atrás ao governo Lula quando foi feita a compra do Airbus presidencial, o Aerolula.

Quando tucano explica críticas é certo que é porque fizeram igual. É que a governadora Yeda Crusius também quer comprar um avião, um jato executivo para voos intercontinentais, com capacidade para até 20 passageiros, que pode custar entre US$ 8 milhões e US$ 26 milhões.

O desejo da governadora gaúcha tem um sério entrave político: o Rio Grande do Sul vive uma grande crise econômica. Além disso, a comprinha de Yeda Crusius é um fenomenal tiro no pé, pois atualmente ela só recebia elogios na mídia nacional pelo fato de ter conseguido dar uma ordem no caixa do governo gaúcho. Quem explica uma compra dessas agora? Maquiavel, Freud? Menos, menos. Para essa gente um Robert Mangabeira Unger já é o bastante.>
Já se disse bastante que tucano é primo de petista. Que ambos são a mesma coisa. Bem, que os dois gostam de reescrever a história é fato comprovado.

Mas reescrever a história com todos que a viveram ainda bem vivos e atentos é algo bem difícil. Estávamos todos aqui e vimos na compra do Aerolula como foram pesadas as críticas do tucanos. Pesadas e justas pois foi mesmo um capricho do Lula. Então o que os tucanos criticaram foi a "luxuosidade" e não a compra em si? Vou soletrar: é men-ti-ra. Estávamos lá neste período da história e vimos como foi.

Mas agora que pretendem fazer igual, a conversa muda. Mas isso os tucanos não precisam reescrever. A história deles com os petistas é mesmo coisa de primos. O problema é fazer o papel do primo bobo, como acontece quase sempre com os tucanos.
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POR José Pires

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Hillary Clinton no C.O.N.T.R.O.L.E


Acredite, é a pura verdade.

Lendo com olhos alheios

Agenda do Lula. Nela tem alguém que aparece com freqüência e é sempre com estranhamento que leio seu cargo, senão o maior da República, mas pelo menos o mais carregado de pompa. Parece coisa de filme de humor. É Clara Ant, a, peraí, vou colocar aspas, “chefe de Gabinete-Adjunto de Informações em Apoio à Decisão do Gabinete e Atendimento do Presidente da República”.

Apoio à decisão? Bem, acho que menos quando ele acorda invocado e decide telefonar para o presidente George W. Bush, porque não deve dar tempo de reunir o gabinete para avaliar sua decisão, se é que o cargo de Ant não é apenas de “apoio à decisão” do presidente da República, sem a função de avaliação. Aí, então, está certo. É só apoiar o Lula: "está certo, presidente, esse Bush tem mesmo que ouvir umas verdades de vez em quando".

Nesses dias pelo menos ficou clara uma parte da função da, lá vai, “chefe de Gabinete-Adjunto de Informações em Apoio à Decisão do Gabinete e Atendimento do Presidente da República”. É ela quem lê para o Lula.

Isso mesmo. É a assessora que lê tudo o que sai na imprensa e depois conta tudo para ele, pois, como confessou em entrevista à revista Piauí, ler jornais, revistas e sites porque “tem problema de azia”. Adepto incondicional da oralidade, Lula conta também com Franklin Martins, da Comunicação, para lhe passar o que vai pelo mundo.

Hoje a agenda reserva para Clara Ant uma hora inteirinha de reunião com Lula. Acabou agora há pouco. Acho que deu pra passar um resumo da Veja, algumas considerações sobre a Época e ainda comentar umas duas ou três colunas jornalísticas. Os sites ficam para amanhã, talvez.

Na agenda de hoje não tem nenhuma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pois como a coisa está ficando bastante feia na área econômica, com desemprego crescente, baixa na produção e os etc. de sempre, Mantega saiu de férias.
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POR José Pires

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quac! Parece que eu conheço essa cara


Onde a ministra Dilma Roussef fez a plástica que a transformou, pelo menos por fora, em outra pessoa? Os jornais e sites dizem que foi em uma clínica particular de Porto Alegre, mas o resultado é o mesmo de sempre que a gente vê nos rosto de tantas outras que remodelaram a fachada. E o bico de pato? Deve ser uma grife exigida por todas: "Não saio dessa clínica sem o meu bico de pato".

A ministra, por enquanto, mexeu pouco, menos que uma Ana Maria Braga, por exemplo, mas ela chega lá. A experiência demonstra que plástica vicia: quem começa não consegue parar mais.

A impressão que dá é que elas fazem essas plásticas na clínica de Walt Disney, mais exatamente com seu cirurgião mais talentoso, o doutor Carl Barks.

E para não dizerem que isso é coisa da oposição, vejam nas imagens acima a incrível semelhança da "mãe do PAC" com a pata Margarida desenhada por Carl Barks, um dos melhores autores de quadrinhos que já existiu. A ministra Dilma Roussef ficou a cara da namorada do Pato Donald.
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POR José Pires

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Agora vai

Pela lingüiça na língua

Perspicaz como sempre, João Ubaldo Ribeiro encontrou o pior defeito na reforma ortográfica: na palavra lingüiça, que com as novas regras fica sendo linguiça. É bem estranho mesmo. Por esse e outros problemas que a reforma pode acarretar, o escritor não pretende abandonar o trema. E como estamos em uma era carente de bandeiras, vamos seguir João Ubaldo – agora nosso líder ortográfico − e também manter o trema. Lutaremos até a morte pela lingüiça com trema.

O jornal Correio Braziliense mandou umas perguntas por e-mail ao escritor e ele respondeu por meio de um arquivo de áudio. Vale a pena ouvir. É uma ótima aula sobre o tema.

Na entrevista, João Ubaldo diz que a reforma “não enriquece em nada o idioma, mas que alguém enriquecerá com ela”. É esse exatamente o ponto. E mais, ele afirma que a reforma é perfunctória. E vocês que se virem aí pra descobrir o que isso significa. E para ouvir o escritor, clique aqui.
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POR José Pires

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O Apedeuta bem que avisou

Lula está de férias até o dia 12, que ninguém é de ferro. Curte uma marolinha na praia, mas devia antecipar sua volta para opinar mais sobre a crise econômica, pois tem capacidade premonitória.

O jornal espanhol El País publicou hoje uma notícia sobre a crise na indústria pornográfica norte-americana. Não é brincadeira: é uma imensa indústria, que gera muito dinheiro e empregos nos Estados Unidos. Não sei em que faixa está na balança de exportações, mas deve ser bem expressiva sua participação. Basta ver a quantidade de pornografia dos Estados Unidos em todos os meios.

Larry Flint, editor da notória revista Hustler, Joe Francis, da revista Girls Gone Wild, pediram ao 5 bilhões de dólares Congresso para se safarem da crise.

E o que o Lula tem a ver com isso? Pois foi ele, com sua extraordinária capacidade de vidente, quem disse primeiro que com essa crise nós “sifu”.
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POR José Pires

Quem apanha lembra?

Tem gente que apanha e não aprende. E nisso nossos acadêmicos de esquerda dão lições: de não aprender, claro. O sociólogo Francisco de Oliveira é um desses tipos.

Foi um dos fundadores do PT, depois ajudou a criar o Psol, onde hoje está após ter saído forçosamente do partido de Lula, chutado inclusive por dois maiorais petistas, o próprio Lula e José Dirceu, que então era ministro da Casa Civil e muito poderoso no governo e no partido. Depois ele seria acusado de ser chefe da quadrilha do mensalão e cassado por falta de decoro na Câmara dos Deputados. Porém, falemos de Oliveira, que continua na luta, agora no Psol. Vá entender essa gente: será que o sociólogo pensa em fazer com Heloísa Helena o que não conseguiu com Lula? Não dá para torcer por ele, claro.

De Lula, o sociólogo levou logo cedo uma patada. Lula exerceu a censura sobre seu trabalho quando impediu a publicação de um artigo em um livro editado pelo Instituto da Cidadania, onde ele, Lula, sempre foi o chefão. Era lá que antes de se eleger presidente da República ele recebia salário mensal para fazer política. Fez isso durante anos. Se o Brasil teve algum político profissional, este foi Lula. E os intelectuais de esquerda que o apoiavam não sabiam disso?

A pedido de Lula, a edição do livro seria também de Francisco de Oliveira. Os estudos saíram de um daqueles seminários progressistas que o PT fazia antes de ser poder. Já eleito presidente, Lula impediu a publicação do artigo. Com menos de seis meses de governo Lula já deixava bem claro, mesmo para aqueles que antes fecharam os olhos, sua personalidade autoritária e o desprezo pelo trabalho intelectual.

Mas Oliveira só viria a sair do PT bem mais tarde, quando o ex-ministro José Dirceu o ameaçou de processo, que veio de fato, mas por mãos outras, as de Delúbio Soares.

Um palestra na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o sociólogo chamou o então ministro de “espertalhão” e “safado”. Isso foi em novembro de 2003. Sob pressão, Oliveira retratou-se, mas foi uma questão de tempo para que ocorressem fatos corroborando o que o levou a xingar José Dirceu. Em junho de 2005 explodiria o mensalão e em agosto de 2007 o Supremo Tribunal Federal aceitou a denúncia da Procuradoria Geral da República (STF) em um inquérito com palavras bem mais fortes para definir o papel de Dirceu no esquema criminoso.

Mas aí, Francisco de Oliveira já havia saído do partido de Lula. Mas aprendeu? Parece que não.
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POR José Pires

Põe o cinto que o PT vai engrenar

Nesta semana Francisco de Oliveira deu uma entrevista ao site Carta Maior, onde faz uma boa análise da crise financeira e seus desdobramentos na economia mundial. É uma das melhores já vistas e, novidade na qualidade, vinda de um intelectual da esquerda, que se fixou nessa burrada de acreditar que o capitalismo veio abaixo e conquentemente pouco tem produzido de bom sobre o tema.

Ele chama a atenção para o fato desta crise financeira ser apenas uma manifestação de um problema bem maior, que está na própria condição atual do capitalismo. O sociólogo dá até um saudável puxão de orelhas nos setores da esquerda que de forma precipitada e nada inteligente tentam encontrar na crise um sintoma do final do capitalismo. Ele lembra Marx, que dizia que “ao se destrói o capitalismo, o capitalismo se supera”.

Em sua opinião, a crise financeira é, no capitalismo, “sua epiderme mais visível, mas não essencial”, o que concordo, mas o mais interessante é que ele vê neste quadro de crise sistêmica do modelo capitalista um espaço para a criação de um padrão de desenvolvimento no Brasil, o que tem também minha concordância, que, aliás, cessa (para não escreve um pára sem acento) aqui.

O problema é que Oliveira acredita que esta superação econômica dependeria de uma “reinvenção do PT”. Logo ele traz à memória o que Getúlio Vargas fez na década de 30 e fala que a implantação de um modelo transformador via PT “reinventado” traria um arranque de desenvolvimento para fazermos − está sentado?, se não está, senta aí − “cinco EMBRAERS” por ano.
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POR José Pires

Me engana que eu gosto

Parece caso de hospício acreditar que um partido que faz um governo que, só para dar um exemplo da incompetência, no ano passado, só teve capacidade de gastar 15,3% dos R$ 3,3 bilhões destinados às estradas federais. Ou não é o PT que está no poder?

Chega a ser surpreendente ver um intelectual e, ainda mais, da sociologia, que foi um militante orgânico do partido e um de seus primeiros teóricos, sem entender que não existe base política e intelectual alguma que poderia dar sustentação a esta, vá lá, ô palavrinha, “reinvenção” do PT. A eliminação que Stálin fez na prática de quadros competentes na antiga URSS, no PT foi feito na base do compadrismo, da propina corruptora de cargos e favores e na exclusão dentro das regras programáticas do partido.

Mas Oliveira e tantos outros intelectuais, ingênuos ou coniventes quanto ao verdadeiro caráter de Lula e os interesses na sua ascensão ao poder, são recorrentes nesta falta de objetividade analítica quando se trata do PT. Em 2002, com Lula eleito, Oliveira viu em sua vitória uma "refundação do Brasil", só comparável, sempre conforme as palavras do sociólogo, a outros três momentos da história brasileira − a Abolição, a proclamação da República e a Revolução. A eleição de Lula, ele afirmou, seria o quarto marco histórico. Para sustentar a bobagem, explicou então que dizia isso porque "pela primeira vez, os dominados estão fazendo a história".

Ufa, mas onde estava este cara? Eu estava aqui, acompanhando, além disso já conhecia bem a história de Lula. Vejam bem: Oliveira disse esta bobagem com Lula já eleito. Já havia acontecido tudo aquilo que vimos naquela eleição.
A queda moral do PT chama bastante a atenção, mas o que mais infuiu na sua destruição de sua capacidade de transformações de qualidade dentro das regras democráticas é, na verdade, a corrosão da base política e intelectual do partido, processo, aliás, anterior aos mensalões e outras corrupções.

Outro equívoco grave e que denota também uma incrível falta de lucidez deste setor da esquerda que não faz parte da banda podre que detém o poder de fato é o de acreditar, primeiro que na esquerda a banda podre não seja hegemônica, e depois que haja toda uma imensidão de esquerdistas íntegros e capazes prontos para pegar o leme e levar o Brasil no caminho da prosperidade econômica. Sempre, claro, com bastante ética.

Mas deixando de lado os delírios futurísticos de Francisco de Oliveira (como eu disse, ele apanhou e não aprendeu), vale a pena ler sua entrevista. Tirando essa surpreendente tolice onde entra o PT liderando uma alavancada em nosa economia em meio aos detroços da crise, é uma das melhores análises que vi sobre esta crise que nos assola e onde Lula viu apenas uma “marolinha” e uma boa parte da esquerda vê a derrocada do capitalismo. Para isso, clique aqui.
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POR José Pires

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um fla-flu sobre Gaza

É interessante como o conflito no Oriente Médio entre palestinos e judeus detona um acirrado debate no Brasil. A questão palestina sempre recebeu muita atenção da nossa esquerda, que historicamente em qualquer embate alinha-se de forma incontinente ao lado dos palestinos e contra Israel, muitas vezes sem ponderar com o devido cuidado sobre as razões de cada lado no conflito. Chega-se ao absurdo de fechar os olhos à crescente influência do fundamentalismo islâmico entre os palestinos e até mesmo evita-se apontar equilibradamente as diferenças entre atitudes defensivas e o terrorismo deliberado.

Ainda entre nós, o setor mais à direita neste debate sobre o Oriente Médio nada fica a dever à esquerda em sua falta de discernimento na análise do conflito permanente travado entre palestinos e judeus. Se um lado se alinha automaticamente aos palestinos, o outro de pronto se coloca em defesa de Israel. E claro que aqui também bate a cegueira quanto aos fundamentalistas judeus e também quanto aos terroristas deste lado da luta – não esqueçamos que o primeiro-ministro israelense Itzhak Rabin foi morto não por um árabe e sim por um terrorista de seu próprio país.

Mas sabemos que o embate travado no Oriente Médio é na verdade apenas munição para explorar divergências ideológicas locais, muitas vezes mais expressivas em nossa realidade do que lá entre árabes e judeus.

E, hoje em dia, com o espaço da internet tomado por blogs e sites que fazem diariamente este confronto político, uma notícia como a invasão da Faixa de Gaza por Israel esquenta bastante o bate-boca.

E não peça aos analistas de ambos os lado que, aproveitando o distanciamento até geográfico dos combates, se ocupem com mais responsabilidade de suas análises, mantendo uma parcela equilibrada de isenção, sem a qual não há substância que resista. Ou que apareça.

Este é outro fato interessante. Como o matraquear das metralhadoras está longe, e põe longe nisso, e os foguetes caem bastante distante de nós e de nossos filhos, seria de esperar o aproveitamento desta situação para um debate equilibrado. Nem precisaria ser em torno da busca da concórdia lá no Oriente Médio, mas que ao menos fosse esclarecedor. Mas não é o que acontece. Parece que a distância do front estimula os "guerreiros". O pessoal quer ver sangue, mesmo que seja de criancinhas.

Quando o petista Marco Aurélio Garcia acusa Israel de fazer “terrorismo de Estado”, por exemplo, ele está se lixando para os fatos. E tampouco está ocupado em esclarecer a opinião pública ou estimular um entendimento entre as partes. Ele já escolheu o lado e está em pleno ataque. O fato de ele ser assessor especial da Presidência da República, claro, é apenas detalhe. E não será agora que um petista fará a necessária diferenciação entre a atuação em um cargo público e no partido. Ou no boteco.

Também entre os que se colocam a favor de Israel a truculência não é menor, com muita tentativa de desinformação como, por exemplo, tentar vincular o crescimento do Hamas apenas à erros políticos de Yasser Arafat, quando é sabido que foi Israel que fez a besteira de fortalecer o grupo terrorista como tática para enfraquecer o líder palestino.

Enfim, não é um debate onde a informação seja importante. Ao contrário: a desinformação é um forte instrumento argumentativo. Não se busca aqui o conhecimento ou estimular nas pessoas o raciocínio lúcido, humanista. O negócio é apelar para os mais baixos instintos, para que ajam como torcida deste ou daquele bando de matadores.
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POR José Pires

Bach e Gaza? Tudo a ver

Mas o assunto da invasão da Faixa de Gaza é tão apaixonante que apareceu até em blog de música, desses onde se pode baixar álbuns inteiros. Foi no PQP Bach, excelente blog, o melhor dos que conheço, pois além de trazer boa música clássica, publica também textos muito bem escritos, altamente informativos, além de espirituosos na medida certa.

Mas cito o PQP aqui apenas para dar o crédito de onde tirei uma carta aberta do maestro Daniel Barenboim publicada na semana passada, logo nos primeiros dias do conflito. A carta de Barenboim trata diretamente do conflito de agora de forma bastante lúcida e também faz um interessante relato das razões que o faz acreditar no entendimento pacífico como a melhor forma de enfrentar o problema vivido por judeus e palestinos.

Foi publicada por um leitor na seção de comentários, o que mostra a sofisticação de nós, leitores do PQP Bach, e logo depois alçada ao primeiro plano pelos editores do blog, com a seguinte explicação: “se a música erudita tem a ver com Barenboim e Barenboim tem a ver com a guerra, a publicação em post em nosso blog é pertinente”.
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POR José Pires

Maestro tocou Richard Wagner em Israel

Daniel Barenboim tem mesmo muito a ver com aquela guerra. Ele é argentino naturalizado israelense e está no lado dos que tentam criar uma convivência respeitosa entre palestinos e judeus, já que só um fundamentalista − judeu ou palestino, não importa − pode acreditar na possibilidade de expulsar um dos povos daquele lugar ou criar um ambiente de paz na base da repressão militar.

Barenboim é um homem ousado. E não é só por tentar instalar a fraternidade no Oriente Médio. Também na sua arte é capaz de surpreender com atitudes inesperadas para um maestro, no geral gente fixada em formalismos e quase sempre ausente em ações políticas ou incapazes de atitudes públicas mais próximas do cotidiano.

Em 2001 ele provocou polêmica em Israel quando lá executou em público um trecho da ópera “Tristão e Isolda”, de Richard Wagner. O compositor alemão teve sua imagem associada ao nazismo, que fez uso de sua obra de forma muito forte. Ele era também o compositor preferido de Adolf Hitler.

Então por que colocar uma orquestra israelense para tocar sua obra em solo de Israel? Pura provocação? Barenboim queria evidentemente quebrar um tabu – e conseguiu – além de alertar para o erro de uma sociedade permanecer submetida à censura mesmo em relação à temas ou autores que tocam profundamente em seus medos e tragédias históricas.

Vejam abaixo o texto de Daniel Barenboim, uma voz sensata entre os tiros e bombardeios. E quem quiser conferir a alta qualidade do PQP Bach, basta clicar aqui.
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POR José Pires

Carta aberta de Daniel Barenboim

Por Daniel Barenboim, (publicado no THE GUARDIAN)

O regente e pianista Daniel Barenboim é judeu, cidadão israelense e cidadão de honra da Palestina.

Tenho apenas três desejos para o ano-novo. O primeiro é que o governo de Israel se conscientize, de uma vez por todas, que o conflito no Oriente Médio não pode ser resolvido por meios militares. O segundo é que o Hamas se conscientize que não defenderá seus interesses pela violência, e que Israel está aqui para ficar. O terceiro é que o mundo reconheça que esse conflito não é igual a nenhum outro em toda a história.

É um conflito intricado e sensível, um conflito humano entre dois povos profundamente convencidos de seu direito de viver no mesmo pedaço de terra. É por isso que não poderá ser resolvido nem pela diplomacia nem pelas armas.
Os acontecimentos dos últimos dias são extremamente preocupantes para mim por várias razões de caráter humano e político.

Embora seja óbvio que Israel tem o direito de se defender, que não pode e não deve tolerar os constantes ataques contra seus cidadãos, os bombardeios brutais sobre Gaza suscitam profundas indagações na minha mente.

MORTES
A primeira é se o governo de Israel tem o direito de considerar todo o povo palestino culpado pelas ações do Hamas. Será que toda a população de Gaza deve ser responsabilizada pelos pecados de uma organização terrorista?

Nós, o povo judeu, deveríamos saber e sentir mais profundamente do que qualquer outro povo que o assassinato de civis inocentes é desumano e inaceitável. Os militares israelenses argumentam, de maneira muito frágil, que a Faixa de Gaza é tão densamente povoada que é impossível evitar a morte de civis.

A debilidade desse argumento me leva a formular outras perguntas. Se as mortes de civis são inevitáveis, qual é a finalidade dos bombardeios? Qual é a lógica, se é que existe alguma, por trás da violência, e o que Israel espera conseguir por meio dela? Se o objetivo da operação é destruir o Hamas, a pergunta mais importante a ser feita é se esse objetivo é viável. Se não é, todo o ataque não só é cruel, bárbaro e repreensível, como também é insensato.

Por outro lado, se for realmente possível destruir o Hamas por meio de operações militares, que reação Israel espera que haja em Gaza depois que isso se concluir? Em Gaza vivem 1,5 milhão de palestinos, que seguramente não cairão de joelhos de repente para reverenciar o poderio do Exército israelense.

Não devemos esquecer que o Hamas, antes de ser eleito, foi encorajado por Israel como tática para enfraquecer o então líder palestino Yasser Arafat. A história recente de Israel me faz acreditar que, se o Hamas for eliminado por meio de bombardeios, outro grupo certamente tomará o seu lugar, um grupo que talvez seja mais radical e mais violento.

VINGANÇA
Israel não pode se permitir uma derrota militar porque teme desaparecer do mapa. No entanto, a história demonstrou que toda vitória militar sempre deixou Israel em uma posição política mais fraca do que a anterior por causa do surgimento de grupos radicais.

Não pretendo subestimar a dificuldade das decisões que o governo israelense precisa tomar a cada dia, nem subestimo a importância da segurança de Israel. Entretanto, continuo convencido de que o único plano viável para a segurança em Israel, no longo prazo, é obter a aceitação de todos os nossos vizinhos.

Desejo para o ano de 2009 a volta da famosa inteligência que foi sempre atribuída aos judeus. Desejo a volta da sabedoria do Rei Salomão para os estrategistas israelenses, a fim de que a usem para compreender que palestinos e israelenses gozam de idênticos direitos humanos.

A violência palestina atormenta os israelenses e não contribui para a causa palestina. A retaliação militar israelense é desumana, imoral e não garante a segurança de Israel. Como disse antes, os destinos dos dois povos estão inextricavelmente ligados e os obriga a viver lado a lado. Eles terão de decidir se querem que isso se torne uma bênção ou uma maldição.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Crise sem jeitinho

O bilionário alemão Adolf Merckle cometeu suicídio atirando-se na frente de um trem. Antes, Merckle havia sido atropelado pela crise econômica. Só em uma operação na qual apostava na baixa de títulos da Wolkswagen ele perdeu cerca de 1 bilhão de euros. Suas empresas também estavam em situação muito difícil, com dívidas financeiras de 14 bilhões de euros.

Capitalismo de verdade – ou país de verdade, o que dá no mesmo − é assim. É muito difícil dar um jeitinho. E pedir para o maioral do país mudar esta ou aquela regra para se safar da quebradeira, então, nem pensar. Na Alemanha, Merckle teve que pegar o trem de um modo mortal. Aqui, um avião para Brasília já resolveria seu problema.
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POR José Pires

Mudando para deixar como está

E o país em que as crianças entram na escola e saem semi-analfabetas na adolescência fez uma mudança ortográfica. Grande novidade: com a reformazinha os estudantes que saem da escola sem nada aprender irão agüentar, com trema, ou aguentar, sem trema, as dificuldades para entrar no mercado de trabalho e ganhar a vida?

Com esse ensino, será tão difícil quanto antes colocar a bóia na mesa. A única diferença é que a bóia − ou a falta dela − vira boia, agora sem acento. E se os estudantes terminam os estudos sem saber sequer ler, agora a explicação será diferente: não é que eles não lêem; na verdade, agora eles não leem.

Bem, se havia a necessidade de alguma reforma, é óbvio que ela devia ter sido feita na educação. Mas isso dá um trabalho danado, muito esforço para só oito anos de governo. Em dois mandatos o que dá é para mexer em alguns acentos e olhe lá.
Mas temos que nos conformar e seguir as regras aprovadas. O período de transição termina em 2012 e até lá, como informa hoje o jornal O Estado de S. Paulo, iremos conviver com duas ortografias. Sorte nossa que as mudanças são tão pífias que não interferem em muita coisa.

Para aqueles que, ao contrário de Lula, usam o computador para outras coisas além de ver fotografias, tem sempre a chateação de ficar trabalhando contra o revisor ortográfico automático, que insiste em colocar os tremas e acentos onde a regra não permite mais, mas logo mais a gente soluciona este pequeno problema.

Muitas instituições manterão textos e documentos com as normas antigas, inclusive, e sem nenhuma surpresa para nós, o governo federal. Os livros estão todos aí, já impressos, sendo que boa parte deles, de muita importância são anteriores até de outras reformas. E em um país de pouca leitura como o nosso muitas dessas preciosidades não passam da primeira edição.

E quanto ao Lula e seu governo, bem, o Supremo Apedeuta pouco está se importando se assembléia é com acento ou sem acento. Seu interesse é o de sempre: que a assembléia, ou assembleia, seja ganha por ele e seus companheiros.

Clique aqui para ler a reportagem de O Estado de S. Paulo e aqui para saber quais são as mudanças na língua portuguesa.
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POR José Pires

Mexendo com a língua

Um puxadinho na língua portuguesa

E Lula fez uma reforma, enfim, e justo numa das áreas mais engraçadas de seu governo: a ortográfica. Foi só um retoque, bem chinfrim, mas o governante mais ágrafo que já tivemos acabou mexendo na língua portuguesa. É um acordo ortográfico que já vai para quase vinte anos. Se pemanecesse na gaveta não faria falta. Ao contrário, evitaria chateações. E para um governo que chama qualquer "puxadinho" de reforma, vão acabar dizendo que fizeram uma reforma ortográfica.

Fico aqui pensando o que os petistas não fariam se fosse Fernando Henrique Cardoso que se metesse a retocar nossa língua. Eles iriam para as ruas, com CUT, MST, tomariam a fazenda da família do tucano, subiriam em cima daquela cuia virada pra baixo, lá no Congresso Nacional, para gritar ao mundo contra a reforma neoliberal da língua portuguesa. Ou então acampariam nos salões da Academia Brasileira de Letras.

Talvez até, querendo ir ao “X” da questão, também viessem de “CH” como o revoltado do cartum acima.

Bem, talvez nem tanto. Lula, pelo menos, teria um assessor para escrever sua faixa, o que evitaria maiores maltratos com a ortografia. Mas que seriam contra, ah isso seriam, afinal quando o PT era de oposição qualquer coisa servia de pretexto para manifestações políticas. Outro exemplo, também com os tucanos no poder: o que aconteceria se, quando presidente, FHC dissesse que de tão desgastado o Palácio do Planalto parecia uma favela? Bem, aí a petelhada faria um escarcéu. Por muito menos que isso, quando o presidente tucano disse que tinha um “pé na cozinha”, só faltaram denunciar para a ONU.

Pois o Lula falou que aquilo "está uma favela" e não vi nenhum protesto entre os petistas. Na blogsfera petista, então, sempre atentos e prontos para fazer manifestos, foi o maior silêncio. É a mesma coisa agora com o Supremo Apedeuta mexendo na ortografia.

Mas deixa pra lá. É uma bobagem que só vai torrar nossa paciência e, claro, encher os bolsos de muita gente no mercado gráfico e editorial. E, cá pra nós, não será por causa de uns hífens e alguns acentos que o Lula irá dar uma espiada nos livros para ver se sua "reforma" pegou.
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POR José Pires