quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Donald Trump, agora sob o ataque de seu ex-advogado de defesa

"Ele é um racista. Ele é um vigarista. Ele é um trapaceiro". São palavras de Michael Cohen sobre o presidente Donald Trump, de quem ele foi advogado e confidente durante anos. Ele falou isso em uma audiência nesta quarta-feira no Congresso americano. A definição é perfeita. Está aí um cara que ninguém pode duvidar que conhece Trump mesmo muito bem.

Cohen esteve envolvido no escândalo da compra do silêncio de duas mulheres — uma atriz pornô e uma ex-coelhinha da Playboy — que supostamente tiveram relações com Trump. O advogado gravou conversas com Trump em que os dois discutem o pagamento do silêncio da ex-coelhinha da Playboy. Em depoimento a um comitê da Câmara dos Deputados, o advogado afirmou que o presidente americano sabia da divulgação de e-mails roubados para prejudicar sua rival na eleição, a democrata Hillary Clinton. Um dos colaboradores de Trump estava em contato com Daniel Assange, do Wikileaks.

Cohen disse aos deputados que sabe de mais ilegalidades de Trump, mas nada poderia dizer, porque são assuntos de uma investigação em andamento. Ele colabora em um processo semelhante ao delações premiadas do Brasil e o interessante é que para tentar escapar das acusações, o ídolo da direita brasileira usa o mesmo argumento do chefão petista Lula. “Ele está mentindo para reduzir sua pena de prisão”, tuitou Trump. Ele está no Vietnã, para um encontro com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un.

O depoimento do ex-advogado de Trump tomou o lugar das notícias sobre o encontro do presidente americano com o ditador comunista. A precisa definição de Cohen já corre o mundo. Ficou perfeita em francês, na capa do jornal Libération.
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POR José Pires

Joice Hasselmann, uma líder da pesada

Joice Hasselmann é a líder do governo no Congresso, escolhida pelo presidente Jair Bolsonaro, o que demonstra sua capacidade como dirigente. A jornalista é deputada de primeiro mandato e não tem um histórico como articuladora, tarefa fundamental de um líder de governo. Joice tem dificuldade de trânsito até em seu próprio partido — o impagável PSL — e com certeza também não é bem acolhida em outros partidos. A deputada é do atrito e não do entendimento, o que pode ser uma qualidade para atingir determinados objetivos, como aliás demonstra o próprio sucesso dela na sua área profissional e na última eleição, quando teve uma espetacular votação na primeira vez que foi candidata na vida.

Como jornalista, ela fez carreira com uma linguagem agressiva, que parece vir de sua própria personalidade, pois quebrou o pau e teve que sair de dois veículos de imprensa que fizeram dela um nome nacional, o site da revista Veja e a rádio Jovem Pan. Faz bastante sucesso também com seu canal de vídeos no Youtube e nas outras plataformas das redes sociais, como o Facebook, sempre buscando o confronto, chegando até ao ataque pessoal. Foi dessa forma que vinculou-se a Jair Bolsonaro e formou uma legião enorme de seguidores nas redes sociais na onda direitista que elegeu Bolsonaro e fez dela uma deputada muito bem votada.

Creio que quase todo mundo sabe que ela é barra-pesada, mesmo para os padrões atuais da internet brasileira e tendo como referência o temperamento das tropas bolsonaristas. Imaginem a quantidade de pessoas que odeiam essa mulher. E não estou com isso fazendo nenhum juízo de valor. Tecnicamente foi por meio do atrito que ela procurou obter sucesso profissional. E com isso evidentemente conquistou grande rejeição em todo o conjunto da classe política que atua por detrás do voto final de cada deputado. Junto aos jornalistas, nem preciso falar da sua aceitação.

Como eu disse, Joice Hasselmann como líder do governo é a referência da qualidade de Bolsonaro como dirigente e de sua lucidez para montar equipe. Não me surpreenderá que ele volte atrás de mais esta decisão. A dimensão de suas complicações no Congresso ficam na dependência do tempo que levará para tomar consciência deste tremendo equívoco.
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POR José Pires

Gilmar Mendes, o juiz do "matar ou morrer"

Muito irritado depois da Receita Federal vasculhar suas contas, o ministro Gilmar Mendes disse à Folha de S. Paulo qual será sua reação: “Sou do Mato Grosso. Lá a gente lida com chantagista assim: é matar ou morrer”. Não que haja surpresa, vindo de quem vem, mas esta aí mais uma indiscutível prova de que vai muito mal o Supremo Tribunal Federal e embora não seja também novidade, comprova que Gilmar Mendes não tem qualificação para ser ministro.

Tem vários problemas graves nesta apologia da violência, no “matar ou morrer”, que segundo ele é uma solução tradicional de quem é do Mato Grosso. Em um país que já vai para mais de 70 milhões de homicídios, com milícias dominando com extrema crueldade populações inteiras, mulheres sendo espancadas e mortas, crimes e violências cotidianas pelas razões mais banais, bem, num país com este clima de horror não ajuda muito uma das nossas mais altas autoridades afirmar que é no “matar ou morrer” que se resolvem os incômodos.

Outra coisa que é até curiosa é que não haja uma revolta no Mato Grosso, nem mesmo reação mais forte nas redes sociais, com alguém dizendo que um dos nossos estados é terra de ninguém, onde não existe lei. Foi um ministro do STF que disse: Mato Grosso é um lugar de “matar o morrer”. O interessante é que se a fala fosse sobre oo Nordeste, por exemplo, ele dificilmente se livraria de processos por preconceito e certamente estaria sendo alvo de uma revolta nacional nas redes sociais. Com o Mato Grosso pode?

Essa conversa de “matar ou morrer” me faz lembrar um diálogo famoso entre os bate-bocas do STF, quando o ex-ministro Joaquim Barbosa disse a ele o seguinte: “Quando vossa excelência se dirige a mim, não está falando com os seus capangas no Mato Grosso, ministro Gilmar”. Como é típico no Brasil e nisso as altas esferas dão o mau exemplo, tudo ficou por isso mesmo, sem esclarecimento sobre um ministro da mais alta corte do país fazer uso de capangas. Como “capangas” não costumam servir para serviços jurídicos ou qualquer outra tarefa burocrática, sempre fica a suspeita de que haja crime no meio.

O ministro Gilmar pode até alegar que foi apenas uma forma de dizer, apesar de ser imperdoável conversa de cangaceiro na boca de juiz do Supremo. Porém, sabe-se que qualquer pessoa comum que afirme na frente de um delegado que com ele o negócio é “matar ou morrer”, terá aberta na hora uma investigação e um pedido de prisão preventiva, que certamente será aceita se o valentão não for rico e o pedido não for apreciado por um Gilmar Mendes, que parece achar isso tão comum que serve até como figura de linguagem.

Mas estamos no país em que um ministro do STF diz em plenário que o outro tem capangas e nada acontece, de modo que a confirmação de que com ele é no “matar ou morrer” também não deverá ser tratada com o merecido rigor.
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POR José Pires

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Vélez Rodríguez, o ministro patrioteiro que quer fazer a estudantada cantar o hino nacional

Num governo danado para criar complicações desnecessárias é do Ministério da educação que vem uma porção delas. O ministro Ricardo Vélez Rodríguez é um desastre de tal proporção que toda vez que fala com a imprensa a encrenca é certa. Uma entrevista recente, dada para a revista Veja, obrigou a uma retratação quase imediata, pois o ministro — nascido na Colômbia — disse que “o brasileiro viajando é um canibal”.

Para chegar a esta generalização grosseira sobre os habitantes do país pelo qual foi generosamente acolhido, por certo Vélez Rodríguez deve ter se baseado nas histórias de brasileiros mal educados que aprontam no exterior. A generalização idiota permite dizer que se for usado o mesmo raciocínio torto do ministro pode-se chegar também a conclusões igualmente estúpidas sobre quem nasceu na Colômbia.

E uma barbaridade dessas tinha que vir logo do Ministério da Educação, onde com certeza o pessoal deve ter muito o que fazer, não só para consertar o estrago provocado em mais de dez anos de “política educacional” do PT, como para fazer a pasta funcionar ao menos no básico. Sobre esta parte, digamos, mais trivial, os indicativos são de que o trabalho não está andando.

Mas continua aparecendo coisa esquisita na pasta da Educação. Parece que o ministro anda com tempo de sobra para inventar. Nesta segunda-feira o ministério mandou e-mail a todas as escolas do país pedindo que os estudantes sejam perfilados cantando o hino nacional e que filmem as crianças e os vídeos sejam enviados ao governo.

A notícia corre a internet. O Ministério da Educação pede também que seja lida para os estudantes uma carta de Vélez Rodríguez. A carta termina com “Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, slogan do governo Bolsonaro, que foi também de sua campanha. Felizmente não pedem palanques, o que descomplicará bastante mais esta tarefa dos professores brasileiros, que o ministro deve achar que andam com espaços vazios na carga horária.

Vélez Rodríguez já está tendo que explicar melhor sua pretensão. “Isso é ilegal, o MEC não tem competência para pedir nada disso às escolas”, já avisou o diretor da Associação Brasileira de Escolas Particulares, Arthur Fonseca Filho. A mensagem do ministério foi enviada também para escolas particulares. Logo a assessoria de imprensa do MEC informou que a carta é apenas uma recomendação.

Ah, não era uma ordem? Que bom, mas o clima criado com essa infeliz ideia tem muito a ver com outro slogan de exaltação patrioteira, de um pouco antes de Vélez Rodríguez chegar ao Brasil, quando na metade da década de 1970 a estudantada era obrigada a cantar o Hino Nacional e se perfilar nos pátios das escolas. O slogan era “Brasil, ame-o ou deixe-o”.

O ministro talvez não saiba, mas quem foi obrigado quando criança a fazer esse papelão sabe que em vez de aumentar o espírito cívico da molecada, cantar hino serve para chatear, afastando-os desse sentimento. Se Vélez Rodríguez quiser fazer um bem para o Brasil, que cumpra sua obrigação no cargo. O que estimula o espírito cívico é educação de qualidade.
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POR José Pires

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Discurso de ódio e fake news na mira do Youtube: Nando Moura é um dos atingidos

Preparem-se, pois deve vir por aí uma onda de protesto da direita nas redes sociais falando em censura no Youtube. É tudo cascata. Na verdade, o Youtube vem atuando contra uma rede de pedofilia dentro da plataforma e contra vídeos que propagam discurso de ódio e fake news. Quanto a esses últimos, o Youtube resolveu desmonetizá-los — retirou as publicidades, eliminando as receitas que fez muito ativista de direita ganhar bastante dinheiro nos últimos tempos atiçando a militância fanatizada.

Um dos youtubers atingidos nesta limpa de discurso de ódio e fake news foi Nando Moura, uma grande estrela do bolsonarismo, que teve inclusive seu canal recomendado por Jair Bolsonaro durante a campanha. O sujeito é um bárbaro, bem no estilo do que é um youtuber no geral, com aquela desfaçatez para falar com determinação sobre um monte de assuntos sobre os quais não sabe nada, o que Nando faz com uma grosseria incomparável. Ele deve ser o mais chucro youtuber direitista hoje em dia, o que não é nada fácil com essa direita que temos no país.

Nando Moura foi um dos exaltados propagadores da idiotice de dizer que nazismo é de esquerda, uma mentira histórica que se não me engano veio de Olavo de Carvalho, mas com certeza teve no guru da direita um propagador entusiasmado. Nando Moura foi na cola do mestre, não só nesta bobagem perigosa que teve até um desmentido da embaixada da Alemanha muito vergonhoso para os brasileiros.

Recentemente, o youtuber direitista veio com outra grande besteira, afirmando que Stálin ganhou duas vezes o Prêmio Nobel da Paz. É tão absurdo que parece até difamação para diminuir a credibilidade intectual do rapaz, mas de fato ele disse isso. Idiotices desse tipo poderiam ser engraçadas, mas o problema é que a desinformação vai se propagando, o que fez a direita brasileira superar a esquerda em ignorância, montando tropas de idiotas políticos em muito menos tempo que os companheiros do Lula.

Nando Moura já está histérico com a desmonetização de seu canal. Fala em censura, pressão contra a direita, falta de liberdade de expressão, esse lero-lero da direita que também é muito parecido com o que a esquerda faz quando tem seus interesses atingidos. Não há o que reclamar. O pessoal do Youtube está agindo na linha que a direita defende, do bom e velho capitalismo. A plataforma de vídeo está com sérios problemas de credibilidade por causa da proliferação do discurso de ódio e fake news e precisa resolver ela própria este problema, antes que autoridades americanas e de outros países intervenham. Bem ao modo capitalista, seguiram o dinheiro. E cortaram. Não tem mais almoço de graça para celerados no Youtube e sua proliferação de barbaridades.
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POR José Pires


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Imagem- O furibundo youtuber direitista Nando Moura

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Bolsonaro: o mito desmoralizado pelo WhatsApp

As gravações de mensagens de áudio de WhatsApp trocadas entre o ex-ministro Gustavo Bebianno e o presidente Jair Bolsonaro têm um efeito parecido ao das gravações de telefonemas de Lula, liberados pelo então juiz Sérgio Moro na época em que Lula e Dilma Rousseff tentavam encontrar um modo de encaixá-lo em um cargo no governo petista para evitar que fosse preso.

Os diálogos entre Lula e a então presidente da República e outros companheiros, em março de 2016, revelaram uma pessoa mesquinha e grosseira, muito diferente do mito de propaganda que fazia o sucesso de Lula. Com Bolsonaro aconteceu algo parecido. Embora o chamado “mito” não tenha o peso histórico do chefão do PT, Bolsonaro se elegeu com a fama da integridade, da firmeza de propósitos, um político empenhado em atacar os graves problemas públicos brasileiros com rigor e seriedade.

Pois foi pego numa ordinária lavagem de roupa suja, alimentando futricas de uma cama de hospital, enquanto o subordinado que acabou sendo demitido procura colocar panos quentes na crise que o próprio filho do presidente criou e alimentou com um espírito da mais irresponsável molecagem. O diálogo absurdo mostra um presidente da República obcecado com uma questão irrelevante, deixando de lado a responsabilidade do comando de um país ainda atolado em uma crise econômica e moral muito grave. O eleitor brasileiro colocou no comando do país um sujeito que tem cabeça e temperamento de tia do WhatsApp.

Como o papo entre Bebianno e Bolsonaro foi por meio desta revolucionária tecnologia pode-se perguntar se os dois maiorais não tinham louça pra lavar. E todo mundo sabe da pilha de serviço por fazer. Coisas sérias para avaliação e estudo, talvez a Reforma da Previdência, o projeto de Sérgio Moro, assuntos desse tipo. E foi mais ou menos isso que Bebianno tentou dizer na conversa, apontando a irrelevância do tema levantado pelo presidente da República e o filho mimado, no ridículo debate público sobre quem mentiu quanto a existência de uma conversa sem importância. E no final ficou provado que o mentiroso é Bolsonaro. Mentiroso e otário. Hoje em dia não é preciso ser um craque em comunicação digital, como ele acha que é seu filho encrenqueiro, para saber do uso que costuma ser feito de diálogos pelo celular.

Bolsonaro sofreu um golpe forte, de uma forma parecida à repercussão entre a população das conversas privadas de Lula, reveladas pelo ex-juiz federal que hoje é seu ministro da Justiça. O impacto contra um mito pode vir de fatos muito simples como este, de uma conversa atravessada, que desmascara o sujeito que uma grande parcela de brasileiros pensava ser um estadista, revelando que ele não passa de um político tosco obcecado com picuinhas.
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POR José Pires

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Reforma da Previdência: o pior vendedor de um produto essencial

Jair Bolsonaro não é um bom garoto-propaganda da Reforma da Previdência. E não estou dizendo isso por causa de sua personalidade destrambelhada, demonstrada de forma impactante nesse episódio da demissão do ministro Gustavo Bebianno, quando, numa só tacada, demonstrou total falta de lealdade com parceiros e com pessoas motivadas a se articular para resolver problemas de governo. Só não entende o recado quem for muito besta. Quando Bolsonaro estiver metido em encrenca, o político que não tomar cuidado ao dar-lhe a mão pode acabar ficando mais arrasado que o presidente.

O complicador de Bolsonaro no papel do presidente com a proposta de reforma é sua trajetória política como deputado federal. Na Câmara, ele foi sempre contrário a essa questão, do mesmo modo que se posicionou com radicalismo no ataque a tentativas de organização e do controle fiscal por parte do Governo Federal, independente do partido que estivesse no governo. Bolsonaro foi contra até o Plano Real. Militou e votou contra um plano econômico da maior importância, que ficou comprovado ter sido fundamental para evitar que o Brasil caísse num buraco de onde dificilmente se livraria um dia.

No caso da Reforma da Previdência, sua atuação contrária como deputado foi ainda mais extremada, aproveitando para defender privilégios, garantindo votos entre os militares e popularidade entre os milhões de desavisados sobre a imprescindível necessidade da reforma. Mexer na Previdência foi sempre um risco sério de impopularidade e muitos políticos responsáveis e muito mais qualificados que Bolsonaro deixaram de se eleger por não concordar em atuar de forma demagógica numa grave questão econômica.

Bolsonaro atuou de forma espetacular contra a Reforma da Previdência e teve largos benefícios eleitorais, atingindo com essa e outras demagogias insensatas um sucesso inédito na política brasileira, se elegendo presidente da República. Sua trajetória é a melhor propaganda contra a Reforma da Previdência e o pessoal que está hoje na Câmara dos Deputados sabe muito bem disso.
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POR José Pires

— Deixe-me ver se entendi, Holmes. Se o presidente do PSL vai ser investigado por SUPOSTO caixa dois, isso significa que os investigadores irão atrás de supostas evidências, ouvirão supostas testemunhas, colherão supostas provas, para enfim apontar um suposto culpado, certo?

— Supostamente elementar, meu caro Watson!
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POR José Pires

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

El Chapo finalmente enfrenta a lei. Nos Estados Unidos, é claro

O traficante Joaquín Guzmán, conhecido como El Chapo, foi condenado nesta terça-feira pela Justiça dos Estados Unidos. El Chapo era chefe do cartel de Sinaloa e foi tão poderoso no México que não só tinha tratamento privilegiado na prisão como conseguiu fugir duas vezes de presídios de segurança máxima. No México, o relacionamento do crime organizado com a classe política e autoridades é mais ou menos parecido com o que pode ocorrer no Brasil, caso o domínio do crime sobre a vida dos brasileiros não seja interrompido com todo o rigor e seja definitivamente eliminada a interação dos criminosos com a política.

Se não houver uma política de segurança séria, que dê um corte rigoroso ao crescimento do crime organizado, o Brasil caminhará para uma “mexicanização”, com toda violência e crueldade característica dos chefões do narcotráfico do México, que por lá dominam estados inteiros e matam políticos, jornalistas, passando por cima de qualquer um que não baixe a cabeça.

Até a eleição recente de Miguel López Obrador o crime organizado mandava no México. O presidente anterior, Enrique Peña Neto, foi apontado durante o julgamento nos Estados Unidos como recebedor de milionárias propinas do narcotráfico. A relação entre o crime e governantes mexicanos, ao menos até agora, sempre foi em clima de parceria. Por isso, o único medo de chefões como El Chapo era o da extradição para os Estados Unidos, que foi o que ocorreu após sua captura, seis meses depois de uma fuga espetacular do que era tido como o presídio mais seguro do país. Ele escapou em julho de 2015 de uma solitária com câmeras de vigilância, saindo por um túnel de mais de um quilômetro cavado sob chuveiro da cela. Na fuga anterior, em 2001, saiu da prisão escondido em um carrinho da lavanderia.

Nos presídios dos Estados Unidos não existem essas facilidades que parece coisa de cinema de má qualidade. E com a Justiça americana também não tem moleza. É provável que o megatraficante seja condenado à prisão perpétua. El Chapo foi considerado culpado em todas as dez acusações contra ele, como lavagem de dinheiro e distribuição internacional de drogas. Testemunhas também relataram assassinatos e torturas. O terror e a crueldade impostos pelo crime organizado entre os mexicanos é espantosamente desumano. Existem vídeos chocantes sobre isso na internet.

A sentença sairá em 25 de junho, lembrando que o caso de El Chapo não percorreu várias instâncias, nem levou muitos anos até parar em um Supremo frouxo com a criminalidade que conta com altos poderes por detrás. El Chapo foi extraditado em janeiro de 2017 e já teve finalizado seu julgamento. Ficará em regime fechado à espera da sentença, que com certeza será pesada e cumprida na sua integridade, porque com os americanos não é como no Brasil, onde até criminoso da pesada tem progressão de pena e o benefício de dar uma saidinha para visitar a mamãe.
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POR José Pires


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Imagem- Capa da revista mexicana Processo na época em que El Chapo fugiu da prisão

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Homenagem da pesada

A ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro, desabou pela terceira vez na madrugada desta quinta-feira. O primeiro desabamento foi em janeiro de 2016, logo depois de inaugurada pelo então prefeito Eduardo Paes, causando a morte de duas pessoas.

Construída à beira-mar, há três anos a ciclovia teve mais de 50 metros arrancado depois de ser atingida por ondas. Em fevereiro do ano passado um forte temporal derrubou outro trecho. Agora, novamente o desastre veio de cima. A queda foi causada pelo temporal que atingiu a capital do estado. Ou seja, a obra construída à beira-mar não resiste às ondas e também não pode chover muito.

A desastrosa ciclovia do Rio demonstra muito bem o risco que os nossos administradores públicos são para a população e o perigo sério que é ser homenageado por eles. A memória de Tim Maia que o diga.
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POR José Pires

O Psol de Marielle fazendo o que aponta como defeito nos outros

A filha de Marielle Franco foi nomeada para um gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a notória Alerj. Claro que a moça vai para um gabinete do Psol. Luyara Santos, de 19 anos, foi nomeada pela deputada Renata Souza. Tudo bem, eu sei que o Psol é um partido revolucionário, mas todo o enredo é praticamente o mesmo que se vê na política tradicional.

Renata Souza e Marielle Franco se conheceram durante a campanha de Marcelo Freixo, o líder do Psol, para deputado estadual em 2006 e foram colegas no gabinete de Freixo. Quando Marielle se elegeu vereadora, Renata foi ser sua chefe de gabinete. E agora, como deputada, Renata emprega a filha de Marielle.

Sim, eu sei que teve o assassinato de Marielle no ano passado, mas não vejo como isso pode legitimar procedimento que nos outros é apontado como anti-ético. Para melhor combater práticas políticas que apelam até para assassinatos, talvez fosse necessário até ser mais exigente, aplicando a integridade na vida pública com mais decoro do que costuma ser cobrado da própria mulher de César.

Mas é como eu disse: o Psol se vende na propaganda como um partido diferente dos outros, mas para mim tudo isso que esse pessoal faz é muito parecido ao que se vê há muito tempo na política brasileira.
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POR José Pires

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Sabrina Bittencourt e o confuso caso de um alegado suicídio

Houve uma comoção com o anúncio do suicídio de Sabrina Bittencourt, ativista que atuou nas denúncias de abuso sexual de João de Deus e que também vinha apontando outros líderes religiosos como abusadores. O alegado suicídio da ativista criou um impacto nas redes sociais quando veio a público no domingo em uma nota da ONG Vítimas Unidas, da qual Sabrina participava. A nota afirmava que ela se suicidara em Barcelona na noite de sábado. A imprensa passou a tratar do caso, porém sem nenhuma confirmação de fato da sua morte. Logo após, um filho de Sabrine desmentiu a versão da ONG, afirmando que a morte de sua mãe ocorrera no Líbano.

A história é confusa e cercada de versões contraditórias, o que acabou contribuindo para suspeitas sobre a veracidade do suicídio. Três dias após o anúncio da morte, até agora não houve nenhuma confirmação oficial. O filho Gabriel Baum, que tem apenas 16 anos e se apresenta em vídeos como “ativista social”, foi quem afirmou que o suicídio foi Líbano. Ele disse ter visto a mãe pela última vez em Paris, antes de ela viajar a Barcelona e finalmente para o Líbano. O que ele anda dizendo sobre o assunto também não faz sentido. Em entrevista para a revista Época, publicada nesta segunda-feira, disse o seguinte, por meio de mensagens trocadas com o repórter: "Nenhuma polícia, governo ou hospital atestará a morte de minha mãe. Não vou dar esse prazer para eles".

Outra afirmação do filho de Sabrine à Época também contribui para tornar confusa uma história que poderia ser resolvida de um modo simples, com a apresentação do atestado de óbito, obrigatório em qualquer país. A declaração de Gabriel parece coisa de panfleto esquerdista: "Minha mãe não é propriedade do Estado. O Itamaraty ou qualquer governo corrupto do mundo jamais terá qualquer informação sobre a minha mãe".

Já foi aberta uma página em memória no Facebook, mas por enquanto os posts seguem a toada usual das redes sociais: sem objetividade e apelando para a emoção. Um dos administradores da página é o filho da ativista, que publicou vários posts, mas até o momento nenhum deles com informações objetivas sobre o alegado suicídio.

A página de Facebook da ONG Vítimas Unidas trata o caso da mesma forma confusa. Maria do Carmo Santos, fundadora da ONG, que informou primeiro sobre o alegado suicídio — dizendo que ocorrera em Barcelona para logo ser corrigida pelo filho da ativista — posta vídeos em que fala de supostos perseguidores, faz lamentações pessoais sobre cansaço e problemas de saúde, mas não vai ao ponto que interessa: a confirmação da morte. A ONG que ela preside é feminista radical e a página de Facebook está envolvida nessas guerras de redes sociais, com discussões centradas em um universo muito fechado, com trocas de acusações e denúncias deterministas demais pelo grau de gravidade na vida das pessoas, sejam vítimas ou quem sofre a denúncia.

Em um texto publicado nas redes sociais, que teria sido o último publicado por Sabrine Bittencourt, ela cria para si própria o perfil de uma heróica combatente pelas vítimas de abuso, fala de perseguições e até aponta nomes de pessoas, fazendo acusações graves. O texto é escrito em tom de despedida, começando com a seguinte afirmação: “Marielle me uno a ti”. Ela também cita de forma crítica a ministra Damares Alves, o que me parece muito esquisito do ponto de vista psicológico. Soa mais como uma pontificação política, seguindo o tom, por sinal, da composição de todo o texto, elaborado de uma forma que parece querer atingir um objetivo político.

Espero francamente que eu esteja certo nas minhas dúvidas. Primeiro porque desejo que Sabrine Bittencourt esteja viva, por ela e pelos que a amam de verdade. Depois, no meu distanciamento pessoal desta confusa história, penso que a situação brasileira anda complicada demais e perigosa de uma forma que nunca se viu antes, de modo que tudo vai se complicar ainda se houve de fato um suicídio, que já vem sendo tratado pela imprensa com um emocionalismo e de forma apressada, sem a devida confirmação dos fatos. Essa imprensa atual, que corre a divulgar apressadamente tudo o que aparece, precisa corrigir com urgência esse comportamento que adere à histeria ao invés de se pautar pelo equilíbrio do profissionalismo.

Na minha visão, paixões políticas e o sensacionalismo da esquerda e da direita que atualmente influencia muito a luta pelos direitos civis e o respeito aos direitos humanos só atrapalham na resolução de problemas graves que envolvem até violência física e o domínio cruel de seres humanos. Tomara que Sabrina reapareça e resolva-se tudo isso apenas como um lamentável mal-entendido.
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POR José Pires