sábado, 9 de dezembro de 2017


sexta-feira, 8 de dezembro de 2017


terça-feira, 5 de dezembro de 2017

As cidades brasileiras colhem tempestades


O Brasil está ficando inabitável. Eu disse “está ficando”? Me retifico: dependendo do lugar onde a pessoa mora, já está inabitável. Mas em alguns lugares ainda dá para ir levando, porém já no limite do suportável e sempre contando com a sorte. A violência, os desastres de trânsito, a desordem urbana e suas consequências, essas desgraças todas estão em qualquer parte. Vivemos com medo. E agora apareceu uma nova fobia: o medo da natureza. A coisa é séria. Já estávamos numa situação em que a preocupação era grande com a segurança da nossa casa. O medo era de ladrão. Agora, quando estamos fora de casa, o medo é da chuva e dos ventos.

Houve uma época em que no Paraná a chegada da chuva era recebida com alegria. Já fazia parte da consciência coletiva o significado do aguaceiro nas lavouras, com o benefício financeiro para a cidade. Mas hoje em dia quando o tempo fecha apertam-se também os corações, pelo que pode vir com o exagero do que cai do céu e pelas ventanias violentas que derrubam tudo por onde passam. O mês de novembro foi todo assim em Londrina, no norte do estado, trazendo um pavor geral com as ventanias, alagamentos e derrubada de muros e casas. Ainda me alegro de correr de bicicleta no meio da chuva, na lama de uma estrada rural. Mas sempre bate o peso da preocupação do que pode acontecer na cidade com o que cai do céu.

Nesses dias, árvores enormes foram abaixo, abaladas pela força dos ventos, mas também como conseqüência da falta de qualquer política ambiental, seja na cidade ou no campo. A queda de árvores de grande porte, aliás, vai estimular ainda mais o corte de árvores, agora com o temor de que elas causem danos e machuquem as pessoas. Não deve ter efeito explicar o óbvio, sobre a origem dos problemas, que vem exatamente da falta de árvores. Até mesmo as ventanias avançam em volta da cidade, agora sem nenhuma barreira natural depois de tanto desmatamento, para depois os ventos varrerem violentamente todo o meio urbano, sem o anteparo de uma boa arborização.

O que deve ocorrer a partir de agora é ainda mais corte de árvores, o que é um problema também para quem anda a pé, que vai sofrer com falta de sombra, que já era pouca. Mas para que se preocupar com quem anda a pé? Outro agravante, além do vento, será o de mais enxurradas correndo soltas pelas ruas e causando alagamentos e desmoronamentos, já que teremos cada vez menos árvores para reter a água da chuva. Mas não há como conter as derrubadas, até porque agora, de fato, existe mesmo o risco de queda.

E não importa que isso venha acontecendo pela falta de cuidado de muitos anos com a natureza no entorno da cidade e com a própria ecologia urbana. Não é fácil fazer isso entrar na cabeça das pessoas. A consciência talvez venha quando a situação estiver muito mais grave, numa condição em que obviamente será muito mais difícil e custoso atacar os problemas. Mas este é o jeito de ser deste país inabitável, onde um indivíduo pode muito bem ser tachado de louco se vier com a proposta de colocar a tranca na porta antes do ladrão entrar.
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POR José Pires

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Imagem- Uma das belíssimas árvores do meu bairro, de que eu gostava tanto, não resistiu à ventania. Poderia durar muitos anos, mas estava isolada, sem o anteparo que uma boa arborização urbana pode dar em caso de ventanias, protegendo as próprias árvores e também as pessoas