segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Blog do Lula e os Blogs do Lula

Lula ainda não inaugurou o seu assim chamado blog e já está dissertando sobre o assunto. Não surpreende, vindo de quem é leviano até com os protestos da oposição iraniana e seus manifestantes mortos a tiros nas ruas. Lula não tem responsabilidade alguma com o que fala.

Em entrevista à imprensa, posou de analista dos efeitos da internet sobre a mídia impressa. Como sempre, deve ter recebido de seus assessores explicações resumidas sobre sobre o assunto e já fala como especialista. E como das outras vezes, claro que saiu bobagem.

Vejam o que ele disse: “O jornal [impresso] fica tão velho que todos os jornais criaram blogs para informarem seus leitores junto com os internautas do mundo inteiro”.

Os jornais criaram blogs, é verdade. Mas para informarem seus leitores, antes os jornais criaram sites. E ao menos por enquanto e muito mais no Brasil, destes sites é que vem a maior parte das informações que são transformadas em conteúdo da quase totalidade dos blogs.

Só estão fora desta influência direta os blogs com o conteúdo exclusivamente pessoal, mas estes, em sua maioria, são de uma espécie muito particular. E mesmo quando são muito bem escritos e lidando com criatividade com as ferramentas da WEB não me parecem se alinhar na categoria. Estão mais para diários pessoais ou obras com um tom próximo da literatura, sem a interferência direta que se espera de um blog.

Os sites nascidos da imprensa ainda são o suporte da internet atualmente. A Folha de S. Paulo, a revista Veja, o Estadão, e tantos outras publicações impressas, podem até estar com os dias contados como alguns prevêem, mas ainda são suas redações que dão o tom da internet brasileira. E acho que não será diferente, mesmo que tais publicações deixem de existir nas bancas. A apuração de notícias, o jornalismo investigativo, todo este trabalho cotidiano em busca de informações exige uma estrutura técnica e financeira que blog algum pode dar conta. E tem também a cooperação que só uma redação pode proporcionar para reportagens de maior fôlego.

Lua está como sempre falando besteira. E o interessante é que na tentativa de desqualificar os jornais, acabou é valorizando o objeto da crítica. O presidente inzoneiro, nosso Apedeuta Maior, anuncia que vai fazer um blog e fala... dos jornais.

A imprensa é imprescindível para a existência dos blogs, por mais original que seja a linguagem do blogueiro. Este quadro pode mudar, é claro, mas ao menos por enquanto não se vê um caminho para o total desligamento entre blogs e a imprensa. E nem longe no futuro vejo um tempo em que o blog seja um instrumento com esta autossuficiência. O que se vê, inclusive, é que a linguagem dos impressos vai dando forma ao conteúdo editorial da internet, óbviamente com as adequações exigidas.

Existe também uma confusão sobre o que pode ser definido como um blog. A definição é polêmica até entre os que vivem este processo desde o início. Lula não é do ramo. Daí a sua confusão. Ele deve até pensar que o que o seu capitão, o José Dirceu, publica na internet é um blog. E não é. É um material de propaganda política que jamais teria surgido em publicações impressas, pois o leitor não aceitaria a fajutagem.

Mas o que é um blog? Existem muitos por aí que não merecem esta definição, já que são clippings da imprensa e de sites da internet. Para mim, não basta intercalar uma rápida opinião pessoal entre um ou outro recorte de notícias para que o negócio seja definido como blog.

"Blogs" feitos desse modo são na verdade sites travestidos de blogs para fugir ao comparativo com os sites de fato ou para entrar em um nicho de comunicação mais, digamos assim, simpático. Pode ser também uma artimanha para o uso de material informativo de terceiros, muitas vezes um material de alto custo, sem o risco de complicações autorais.

Um blog exige estilo pessoal e uma interferência contínua em todo o material postado, especialmente quando a informação é colhida por outros veículos. Sem isso, o que se faz é mera pirataria de material alheio, o tal clipping de que falei.

Lula vai escrever o blog? É claro que não, já que mal sabe escrever bilhetes e comete erro ortográfico até em frases curtas, como já foi mostrado em fotografia de uma anotação rápida sua. Conforme o que disse de sua mãe, Lula também nasceu analfabeto. A diferença é que teve tempo e dinheiro para estudar e não o fez.

A manutenção de um blog também exige a busca de informação o tempo todo. E não só na internet. Aqui, os livros também tem seu papel. E não acredito que sejam dispensados em um prazo no espaço de nossas vidas. Se é que um dia isso ocorrerá.

Aliás, tendo em vista a precariedade de certas matérias primas indispensáveis para a manutenção das novas tecnologias, não está descartada uma reversão aos tempos do uso do papel. Alguns minérios essenciais estão com previsão de esgotamento para menos de vinte anos. Isso se o consumo se manter como está. Mas isso é outra história.

Continuando, a feitura de um blog exige um índice de leitura que fatalmente mataria Lula de azia. Não acho apropriado chamar de blog um espaço produzido por uma equipe muito bem paga de jornalistas, marqueteiros e toda uma variedade de profissionais ligados à comunicação. É o que vai ser feito para Lula assinar como se fosse um blogueiro.

Ademais, Lula já tem uma rede de capachos na internet que fazem blogs que podem ser chamados de Blog do Lula. É a rede de blogs oficiais e oficiosos de apoio ao governo, alguns pagos com boquinhas, privilégios e outros até com dinheiro suspeito. São os Blogs do Lula e já existem há muito tempo.
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POR José Pires

O aparecido

Agenda do presidente Lula. O acompanhamento da rotina de Lula acaba trazendo informações importantes sobre seu governo. Hoje, por exemplo, ele tem no final da tarde uma reunião com um tal de Luiz Barretto. E quem é Luiz Barretto? É o ministro do Turismo. Do Turismo do Brasil.

A importante informação é que o país tem um ministério do Turismo. Dava a impressão que ele tinha ido à breca junto com a famosa ex-ministra Marta Suplicy, mas ele ainda existe. E tem até um ministro, o Luiz Barretto.
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POR José Pires

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Tem até blogueiro na lista do sarney

Escrevi aqui outro dia, quando em viagem ao Cazaquistão o presidente Lula defendia o senador José Sarney, que procurando bem era possível que até lá no Cazaquistão fosse encontrado alguém empregado pelo Sarney.

Isto ficaria restrito aos exageros próprios do humor, caso o tema não fosse o senador maranhense eleito pelo Amapá. Mas tendo o Sarney como tema, mesmo a piada acaba sendo ultrapassada. Ainda não encontraram um apadrinhado dele no Cazaquistão (porém, ninguém ainda procurou), mas por aqui a imprensa já achou pelo menos nove casos novos em que o presidente do Senado faz o aparelhamento do Estado em proveito de seu clã. São mais nove aliados empregados no Senado.

Não é de surpreender esta rede de apadrinhados de Sarney, para a qual colaboram todos seus filhos aboletados em poderes variados. É um modo de operar antigo com o qual ele sustenta sua carreira política desde antes do golpe de 64, quando parou de bajular Juscelino Kubtscheck e passou para o lado dos militares.

O material que a imprensa publica hoje traz apenas os nomes visíveis. Mas em volta de Sarney pode-se encontrar centenas, senão milhares, de pessoas envolvidas na manutenção de sua carreira por conta de favores que vão de uma consulta em um posto médico no Amapá a um alto cargo em Brasília. Um ministério no governo Lula, um cargo numa estatal, esse tipo de favorecimento comum por aqui.

A lista de hoje traz até um blogueiro, Said Dib, responsável pelo blog de Sarney e que está empregado na Direção Geral do Senado. O blogueiro do Sarney é também seu assessor de imprensa para o Amapá.

E como gosto muito de blogs, não poderia deixar de dar uma sapeada no blog do colega Sarney. É um blog com interessantes revelações, conforme conto abaixo.
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POR José Pires

Conferindo o material

Já conhecia o blog do Amapá feito por contratados de Sarney. O perfil de identificação do blog diz que ele “foi criado e administrado pela Assessoria de Imprensa do gabinete do senador José Sarney(PMDB-AP)”. Menos mal. Caso fosse escrito pelo próprio Sarney é provável que tivéssemos que suportar as imitações baratas que ele faz de Guimarães Rosa.

Sem a mão do chefe, o blog é também mal escrito, mas ao menos é uma falta de qualidade despretensiosa e exercida com sinceridade. Esse negócio de contratar alguém para fazer blog não é coisa nova. De forma oficial ou oficiosa o governo Lula faz isso há bastante tempo. Portanto, neste caso o colega Sarney é até uma pessoa comum.

O blog é uma miscelânea de assuntos, juntando também charges extraídas de outros blogs e sites e também fotopotocas. Parte do material, incluindo as piadas, aparece também no blog pessoal de Said Dib. Nenhuma delas evidentemente é sobre Sarney, o político que no momento está em todas as charges da internet. Mas o problema é que todas atacam o senador. Então as charges publicadas nos últimos dias no blog são sobre a seleção de futebol do Dunga.

As figuras políticas atacadas no blog são, entre outros, o governador José Serra, o senador Pedro Simon e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em um texto publicado ontem seu governo é chamado de “governo de merda de FH Canastrão”. Este é o nível do blog de José Sarney.

Neste aspecto, o blog tem uma semelhança com os demais da blogosfera petista, rede de blogs oficiais e oficiosos de apoio ao governo Lula. A diferença é que espantosamente o blog do Sarney ataca também o PT. Hoje, por exemplo, eles publicam uma fotopotoca com a chamada “Português detido com cocaína na cueca em aeroporto no RN”. No balão que sai da foto lê-se: “Cara burro! Não aprendeu com o pessoal do PT que cueca é lugar pra se levar dólares?”

Será que o chefe anda lendo seu blog? Tenho a impressão de que o pessoal do Sarney na blogosfera anda meio solto, sem a supervisão do chefe.
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POR José Pires

Do blog do Sarney

Mas o blog do Sarney não deixa de ter serventia, mesmo de forma involuntária. Sapeando em seus arquivos encontrei uma entrevista com uma figura poderosa da Justiça do Amapá que revela de modo exemplar como funciona a política do senador amaranhense eleito pelo Amapá.

Dá para ter uma boa visão da independência entre os poderes no estado que ele escolheu para se eleger senador, apesar de sabidamente viver no Maranhão. Não que ele também não seja bem tratado pela Justiça no Maranhão, o que os últimos acontecimentos que levaram sua filha de volta ao governo do estado mostram muito bem.

Vejam um trecho bastante revelador da entrevista com o presidente do Tribunal de Justiça do Amapá, Dôglas Evangelista. A entrevista saiu no Diário do Amapá e foi transcrita para o blog do Sarney em abril deste ano. A grafia do nome é esta mesma. Fui conferir, visto que o blog do eminente acadêmico e beletrista Sarney é escrito sem o mínimo cuidado com a escrita.

Vamos à entrevista:
Diário - O senhor volta, portanto, muito mais experiente ao cargo de presidente e isso nos leva a comparar com o caso do senador José Sarney, criticado por alguns nessa volta dele à presidência do Congresso Nacional. Mas ele tem feito mudanças na Casa, então a pergunta é se nunca é tarde mesmo para recomeçar?

Dôglas - O presidente Sarney é um "hor concur" [sic], onde ele vai tudo dá certo. Ele é um homem de uma visão política enorme, é internacional a visão política dele. Com relação a mim não sou tudo isso não... (risos), de forma alguma, mas eu já venho com experiências, já fui presidente do Tribunal Regional Eleitoral, fui vice-presidente e corregedor lá, quando retornei fui corregedor aqui e vice-presidente, enfim, estou trazendo uma série de experiências.”

Reparem no currículo de Dôglas Evangelista, ou, conforme sua fala, na série de experiências que ele vem fazendo. Não é nada mal para um político ser admirado, mais que isso, idolatrado por alguém de tantas “experiências” e agora instalado na presidência do Tribunal de Justiça estadual.

Estou gostando do blog do Sarney. Anda contando coisas que até a imprensa tem deixado de lado.
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POR José Pires

Um país cercado

Estão chaveando tudo no Brasil. Parques, praças, instituições públicas, tudo está sendo cercado por grades. É uma política bem brasileira: quando julgam que algum local se torna inseguro, em vez da autoridade enfrentar o problema simplesmente passam grades em volta, chaveiam o portão, e está resolvido.

Dersse modo, no período noturno fica vedado o acesso da população — que o recurso dá a entender ser o problema. E durante o dia os passeios são feitos entre grades. Só falta a placa nas entradas: “Cuidado: Gente”.

Não é a melhor solução. Aliás, nem é solução, sendo apenas um arremedo próprio de um país que optou por conviver com seus problemas, muitos deles tão graves que trazem estampados a face do horror, como se fossem condição natural da raça humana.

Também não é nenhuma novidade. No início da década de 80 já comecei a notar as igrejas de São Paulo fechando suas entradas com altos portões de ferro e cercando todo o templo com grades também muito altas. Em algumas casas e prédios isso já vinha sendo feito, mas o fecho simbólico foi mesmo dado pelas igrejas.

Era uma variante do hábito de varrer a poeira para debaixo do tapete. Começavam então a cercar o problema. E o artifício tomou conta do país, de modo que já vi casas cercadas de grades até em cidades muito pequenas, dessas em que existem poucos crimes maiores que o roubo de galinha.

Aquelas cercas de ferro em volta das igrejas de São Paulo foram o começo. Ali, percebi que o Brasil havia tomado um rumo que nada tinha a ver com o bem comum.
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POR José Pires

Acerca do Senado

Mas já que julgam que a solução é cercar o problema com grades de ferro, temos com isso uma boa solução para a corrupção que tomou conta do Senado brasileiro.

O ideal mesmo seria colocar uma parte do pessoal da Casa, incluindo muitos senadores, atrás das grades. Mas como isso nunca acontece por aqui, o jeito é cercar o prédio todo com grades de ferro bem altas e chavear o portão. Mantendo os senadores fora, evidentemente.
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POR José Pires

quarta-feira, 24 de junho de 2009


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Jornalistas podem ter diploma do Senado do Sarney

A Constituição brasileira já não é nada respeitável. Além ser ampla demais, com a pretensão de abarcar uma variedade de assuntos, é confessadamente fraudada e, pior ainda, foi fraudada por uma pessoa que depois viria a ser ministro da Justiça, presidente do STF e hoje é ministro da Defesa. É o ministro Nelson Jobim, que confessou em entrevista que quando foi deputado constituinte incluiu artigos na Constituição sem a aprovação do Plenário.

Jobim falou da fraude em tom jocoso, até se gabou do que fez. E acabou ficando por isso mesmo. E o que em um país sério seria motivo para muita complicação para ele e até para a supressão do que foi enxertado sem votação, aqui ficou como uma história pitoresca da nossa política.

Pois como se já não bastassem desmoralizações desse tipo, o Senado ainda está elaborando mais uma emenda para desacreditar nossa Constituição.

O senador Antônio Carlos Valadares (PSB) pretende apresentar uma proposta de emenda à Constituição que exige o diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista.

Isso mesmo. Costumo fazer piadas aqui no blog, mas desta vez é sério. A colcha de retalhos que é usada em nossos tribunais, vai receber mais um remendo. O senador afirma já ter coletado 40 assinaturas, bem além das 27 que são exigidas para a apresentação da emenda. O projeto do senador Valadares, de quem eu ainda não tinha ouvido falar, é completo. Trata até da contratação de colaboradores, para os quais seria facultativo a exigência do diploma.

Se o artifício for aprovado, com mais esta emenda está aberto o precedente de usar a Constituição para resolver qualquer problema trabalhista. Os setores corporativistas do meio jornalístico também terão feito um belo estrago na imagem da profissão, colando-a definitivamente a este Senado que está aí, com toda sua corrupção, privilégios e falta de respeito com a verdade. Já tenho até o nome para esta preciosidade: é o diploma do Senado do Sarney.

E para piorar, os jornalistas também estariam no meio de uma crise entre o Senado e a Justiça, já que a emenda é uma evidente afronta a uma decisão do STF.

Eu deveria ser contra um negócio desses, já que sempre achei a exigência de diploma uma besteira sem tamanho. Mas acho que a aprovação de uma emenda dessas seria bem-vinda. Essa gente merece isso.
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POR José Pires

terça-feira, 23 de junho de 2009

A última do gabeira

A carreira do deputado Fernando Gabeira degringolou depois que foi descoberto que sua filha andou fazendo viagens com passagens aéreas de sua cota como parlamentar. As explicações também não ajudaram em nada sua reputação. Até ele veio com a conversa de que não existiam regras claras. Bem, se uma pessoa com mais de 40 anos de vida política sequer desconfia que uma verba do Congresso Nacional não é para ser usada para os filhos viajarem, então estamos definitivamente perdidos.

Outro problema de Gabeira é que em política não tem esse negócio de tratamento igual para todos. Depende sempre do papel que cada deputado representa. E o dele sempre foi de acordo com a ética e até com ganhos eleitorais de bom tamanho com a ligação de sua imagem ao tema.

Então é óbvio que isso aumenta sua responsabilidade. E ele também deveria saber que um deslize ético seu pode ser usado não só por seus inimigos diretos, mas também por quem tem o interesse em nivelar a política pelo metro da sarjeta. Por isso, faltou responsabilidade ao Gabeira naquela situação.

E o pior é que o problema não ficou só nas passagens para a filha. Agora aparece outro desagradável erro, desta vez com a verba indenizatória do deputado.

Ele usou R$ 20 mil da verba indenizatória em 2004 para contratar a Lavorare Produções, de sua mulher, Neila Tavares, para produzir um site.

É mais um problema para o Gabeira e também mais munição para quem quer aniquiliar qualquer preocupação com a ética. E o pior é que a explicação do deputado sobre mais este deslize é ainda pior do que a de antes.

Gabeira disse que na época Neila Tavares era sua namorada e que depois que casaram não a contratou mais com verba da Câmara. Ah, bom. Mas a piada não tem graça. Vamos esperar pela explicação séria.
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POR José Pires

Ministro sem carteira

No final do mês passado, escrevendo sobre o acidente provocado por um deputado estadual do Paraná em que morreram dois jovens, falei sobre a incompatibilidade inaceitável da situação de um legislador que deixava de cumprir leis básicas de seu país.

O caso do deputado paranaense foi chocante até pelo fato de que as revelações que surgiram em decorrência de suas ilegalidades ─ ele tinha a habilitação suspensa e acumulava 130 pontos na carteira, tendo sido multado 30 vezes, sendo 23 por excesso de velocidade ─ acabaram mostrando que boa parte de seus colegas deputados desrespeitaram a lei do mesmo modo.

Na Assembléia Legislativa paranaense, formada por 54 membros, 20 deputados estaduais tiveram a carteira suspensa, sendo que quatro desses faltosos são da Comissão de Ética da Casa, inclusive o presidente da comissão. É bom destacar que a imprensa não conseguiu consultar o histórico sobre infrações de 16 deputados.

Bem, como a fiscalização e feitura de leis no Paraná está nas mãos de gente que atropela até leis de trânsito é evidente que o estado não está em boas mãos.

Eu disse o Paraná? Novas revelações que vem aparecendo naquele estado mostram que o problema infelizmente não é localizado. Não é nenhuma surpresa, claro. Sabe-se que no Brasil só se mexe em determinados assuntos quando ocorre algum drama que mobiliza a imprensa e a sociedade. Fora isso, dá-se um jeito.

Agora apareceu a notícia de que o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, também teve a carteira de habilitação suspensa. Bernardo tem base política no Paraná, onde o trágico acidente fez a opinião pública se interessar por este assunto.

A maioria das multas do ministro, que é um dos mais próximos do presidente Lula, era por excesso de velocidade e por falar ao telefone no volante.

Seus assessores informaram que o ministro entregou a carteira de habilitação na última segunda-feira. É claro, que não é mais que sua obrigação. Mas sempre fica a suspeita de que em outra situação talvez ele não se preocupasse em fazer isso.

Também é evidente que temos no Planejamento um ministro que não se guia por responsabilidade pessoal, mas que tem que ser impedido pelo rigor da lei para que não coloque em risco a vida de outras pessoas.

Eu não confiaria em alguém assim nem para dirigir um carro velho, mesmo que estivesse com a carteira de habilitação. E para dirigir um ministério, então, nem pensar.
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POR José Pires

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Um bom editorial do Estadão

O jornal O Estado de S. Paulo tem uma história interessante na parte de seus editoriais. Sempre foram muito bem escritos e de grande qualidade política. Quando o Brasil estava sob ditadura militar sua página de editoriais era um desafogo até para a esquerda, servindo também como referência política, uma fonte confiável sobre as disputas políticas internas do regime. Fiquem calmos os patrulheiros vermelhos, não estou dizendo que era o único desafogo ou que a esquerda mantinha-se no papel de observadora, esperando os editoriais do Estadão. Nada disso. Havia a imprensa alternativa, bem mais combativa que o jornal dos Mesquitas. Eu estava lá nas redações desses jornais. E havia muita gente de esquerda, junto com os liberais que davam essa força de conteúdo ao Estadão.

Não percam também a referência de contexto. Isso é sempre importante. Naquela época, quem fosse fazer arruaça na frente de qualquer jornal, como nessas manipulativas manifestações contra o termo "ditabranda", poderia acabar preso ou algo bem pior que isso.

A Folha de S. Paulo não servia pra nada antes de 1975, quando Cláudio Abramo fez dela um jornal de fato. Ninguém se interessava então pela Folha. Não sei os peixeiros, não há dados históricos sobre isso. Mas a verdade é que até para este papel o Estadão, bem mais massudo que a fininha Folha, era bem melhor. Antes de Abramo o jornal nem percebia a importância da parte editorial, a opinião da casa e de seus colunistas sobre os acontecimentos políticos. O Estadão, ao contrário, já compreendia isso muito bem. Isto é histórico naquele jornal, mas quanto à qualidade havia também um pouco da mão talentosa de Abramo, que antes de reformar a Folha foi editor do Estadão.

Mas vamos logo ao que interessa. Até hoje os editoriais do Estadão são muito bem escritos, dando forma ao que se passa na política brasileira. Alguns são muito especiais, pelo fato de sintetizarem um conjunto de problemas em um texto claro e cheio de conteúdo.

É o caso do editorial de hoje, onde o jornal trata da relação viciosa entre o presidente Lula e o presidente do Senado, José Sarney, e do discurso oportunista de ambos sobre a ética, algo que Lula acabou consagrando como um método de governo.

Vejam o primeiro parágrafo. Gosto da síntese da primeira frase. Já resolvem o lead com uma frase só:

"O presidente Lula é um político que não tem princípios. Tem fins. Dele só se poderia esperar, portanto, que saísse em defesa do presidente do Senado, José Sarney, engolfado pela onda de escândalos na instituição que comanda pela terceira vez. É notório que Lula deve a alma, como se diz, a Sarney, seu aliado firme desde a campanha de 2002, e conta com ele e a sua patota para adquirir em 2010 a adesão do PMDB à candidatura da ministra Dilma Rousseff - a "sacerdotisa do serviço público", como o senador a endeusou em um comício. Além disso, desde que alcançou o Planalto, Lula tem demonstrado uma coerência impecável: sempre que se viu obrigado a escolher entre a ética e a conveniência, jamais desapontou os que apostavam que ficaria com esta em detrimento daquela. Ainda há pouco, quando rebentou na Câmara a história da farra das passagens aéreas, Lula deu de ombros. "Sempre foi assim", desdenhou, como que repetindo o comentário, no auge da crise do mensalão, em 2005, de que o caixa 2 é "usado sistematicamente" por todos os partidos."

Bom, não? E vejam neste outro trecho mais uma síntese muito bem feita, esta sobre a carreira política de Lula:

"Na política, ele não perde para ninguém em matéria de capacidade adaptativa. Vinte anos atrás, quando fazia questão de se exibir como o demolidor de 'tudo isso que está aí', dizia que Sarney era 'grileiro' e 'grande ladrão'. Hoje, quando inebriado pelas delícias do poder só pensa em desfrutá-las pelo maior tempo possível, ensina que 'Sarney tem história suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum'".

O texto do Estadão é tão interessante que o publico na íntegra no arquivo do blog. Clique aqui para ler.
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POR José Pires

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Encontro pop

Que ninguém se assanhe. Não comecei a usar o blog para baixar música de graça. Vamos falar de economia.

Não gosto nem um pouco do que o ministro Celso Amorim faz, mas não posso deixar de concordar que ele deu uma dentro no encontro dos Brics, a associação entre Brasil, Rússia, Índia e China. Eu andava olhando esses quatro esta semana e pensando como definir ajuntamento tão estranho, uma gente que não consegue se acertar nem no comércio de bife de boi.

Pois o ministro Amorim já fez isso para nós. Exaltando a “relevância” dos quatro países disse que os Brics “são os New Kids on the Block”. E quem são os New Kids on the Block? Bem, é uma banda pop dos Estados Unidos que fez sucesso nos anos 80 e da qual ninguém sabe o paradeiro. Menos o nosso ministro, claro, que deve curtir o som dos meninos em casa.

Essa comparação fora de contexto parece toque de marqueteiro. Será que estão pensando nele para subsitituir a Dilma Rousseff? Ou então o ministro está freqüentando demais o Orkut.

A tigrada está na foto aí de cima. E não é que o ministro Amorim acertou? Os Brics são mesmo os New Kids on the Block. Logo mais sai de moda.

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POR José Pires

WEB veloz

A velocidade das notícias é mesmo alucinante e o volume de informações é tão grande que fica difícil acompanhar. Sapeando com rapidez pela interne leio em um site a seguinte chamada: "Francine lança Playboy em shopping de Curitiba".

Puxa vida! Quem é Francine? E a revista Playboy ainda existe? Nos Estados Unidos ela vive uma crise tremenda, a ponto do editor Hugh Hefner pedir uma verba para o presidente Obama. E lançamento de uma revista que deve ter, espera aí, deixa eu pensar... trinta anos? A Playboy é do tempo em que a Suzana Vieira não precisava de photoshop para posar pelada. E estão lançando? Que novidade é esta? Ah, não é novidade?

É mesmo muita informação.
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POR José Pires

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Fim do diploma obrigatório

Caiu a obrigatoriedade do diploma de jornalista. Já vai tarde. Por oito votos a um o Supremo Tribunal Federal eliminou esta exigência nascida na Ditadura Militar e abraçada com todo o fervor pelo corporativismo da esquerda.

A obrigatoriedade do diploma atentava contra a liberdade de expressão. Concordo com essa argumentação comum entre os que sempre foram contra a obrigatoriedade. Mas sempre tive também a opinião de que a exigência de um curso universitário acabou por barrar o acesso dos mais pobres ao jornalismo.

Nossa imprensa sempre foi uma porta de entrada livre para todas as classes sociais. Desse modo, abria-se um espaço para participação ativa dos mais pobres em um meio de extrema importância na vida social do país. Parte substancial da revolução técnica na imprensa brasileira foi feita por jovens da classe baixa que viram no jornalismo a possibilidade de exercer um trabalho influente cultural e politicamente e também uma atividade com amplas possibilidades criativas.

Com o diploma, pobre passou a ter entrada nas redações apenas como notícia. E sempre notícia ruím. Não estou dizendo que esta seja a única razão para que a nossa imprensa tenha a baixa qualidade atual. Mas fazendo do exercício da profissão uma especialidade, o diploma obrigatório de jornalista acabou afastando muita gente de outras áreas (e até de autodidatas sem o interesse de fazer por obrigação um curso universitário) que sempre trouxeram no passado excelentes contribuições ao jornalismo.

A obrigatoriedade do diploma também sustentou durante este tempo uma infinidade de universidades privadas de baixíssima qualidade. A decisão do STF também traz de bom o fechamento dos cursos de jornalismo dessas instituições que mais parecem casas de estelionato. Nem dá para discutir tal assunto no âmbito do ensino universitário. O caso é mesmo para o código do consumidor.

A notícia é boa também para as as universidades públicas. Como elas estão sempre às voltas com problemas no orçamento, é um bom momento para redirecionar verbas em cursos que realmente tenham utilidade.
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POR José Pires

Funcionária internacional

Parece piada, mas até no estrangeiro tem gente ligada ao senador José Sarney recebendo salário pelo Senado. Apareceram duas novas nomeações, uma prima e uma sobrinha de Jorge Murad, marido de Roseana Sarney, a filha do presidente do Senado.

Virgínia Murad de Araújo foi nomeada em maio de 2007 e está até hoje no Senado onde ganha R$ 2.494. Ela é filha do ex-deputado Emílio Biló Murad, primo de Jorge Murad, genro de Sarney. A moça recebe todo mês, mas no local onde deveria trabalhar ninguém a conhece.

A outra nomeada é Isabella Murad Cabral Alves dos Santos. Também não aparece no Senado e nem poderia: vive em Barcelona, na Espanha. As duas não tem o sobrenome Sarney, mas são do clã como se vê. O Murad, marido de Roseana Sarney, é aquele que foi flagrado pela Polícia federal com 1,3 milhão de reais em dinheiro vivo. O casal guardava a bufunfa na gaveta de uma escrivaninha.

No Cazaquistão, o presidente Lula defendeu o companheiro Sarney com o estranho argumento de que Sarney tem “história suficiente” para não ser tratado como ‘pessoa comum”. Sem dúvida, o presidente do Senado tem uma história bem conhecida e infelizmente não pode mesmo ser tratado como “pessoa comum”, seja lá o que Lula quer dizer com isso. Entre tantos privilégios, ele tem direito também a foro privilegiado.

Mas Lula que se cuide com suas defesas. É capaz de ainda descobrirem até lá no Cazaquistão algum apadrinhado do Sarney recebendo pelo Senado.
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POR José Pires

terça-feira, 16 de junho de 2009

O discurso do chefão

O presidente do Senado, José Sarney, fez um discurso agora à tarde jogando a crise no colo de todos os seus colegas: “A crise é do Senado, não é minha”. Bem, se tivesse algum senador com dignidade no plenário, este deveria tomar a frase como uma acusação. E exigir provas do senador maranhense eleito pelo Amapá.

Mas ninguém cobrou nada de Sarney. Como o corporativismo é mais forte que qualquer senso de dignidade, cada um acomodou à sua maneira a bomba no colo. Parece que os senadores temem bem menos a opinião pública do que aquilo que o colega Sarney sabe sobre suas cumplicidades com o esquema de privilégios armado há mais de uma década naquela Casa.

E no final do discurso, ainda surgiu o senador Pedro Simon com uma estranha retórica com a qual pegou a fala de Sarney e assumiu-se como parte culpada. Vejam o que ele disse: “O presidente Sarney diz que a culpa não é dele, é de todo o Senado. Eu digo: a culpa é minha. Os erros acontecem pela nossa ação ou pela nossa omissão. Eu sou coresponsável”.

Se fosse outro senador eu pensaria que a reação foi combinada com o Sarney. Porém, sendo o senador Simon, a gente tem que dar um desconto. Mas ele acabou prestando um ótimo serviço para o Sarney. E de graça. O presidente do Senado nem tem que ajeitar nada para algum parente seu.

Pedro Simon é um ótimo exemplo para as novas gerações. Eu o apontaria para a juventude que esteja interessada em construir a vida com dignidade e ética. Sejam honestos, jovens, mas não como o senador Simon. Agindo do jeito dele, vocês só vão desmoralizar a honestidade.
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POR José Pires

Ponto final na biografia

Tudo tem seu lado bom. Até os escândalos do Senado. José Sarney encerra a carreira de acordo com sua trajetória. Imaginem o Sarney fora desse cargo neste momento histórico em que a cuia do Senado deixa vazar a lama acumulada nesses anos todos.

Ele, que sabe como poucos passar despercebido, poderia então ter todo seu passado escondido debaixo do tapete, junto às outras sujeiras acumuladas nesta terra em que tudo é esquecido.

A biografia do senador do Maranhão eleito pelo Amapá fecha de forma muito interessante. É assunto bom para algum jornalista especializado em biografar sujidades — atenção, aí não em erro de digitação: eu não queria escrever sumidades — ou até para ele mesmo, já que o presidente do Senado é um beletrista até com fardão da Academia Brasileira de Letras no guarda roupa.

Sarney já pode, portanto, sentar e escrever sua autobiografia. O fecho que está aí é excelente. E apesar do fato de que, pelo cheiro, não parece ter nada precioso nesta finalização de carreira, pelo menos no contexto editorial pode-se dizer que é um fecho de ouro.
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POR José Pires

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Fica, Sarney!

Todo mundo pedindo para José Sarney renunciar à presidência do Senado. Eu sou contra. Sarney tem que ficar na presidência do Senado.

O senador do Maranhão eleito pelo Amapá é o mais precioso símbolo daquela Casa. É mais que o homem certo no lugar certo. Poucos como ele simbolizam com tamanha força este rico (e põe rico nisso) período político brasileiro.
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POR José Pires

Sempre cabe mais um

E eis que aparece mais um Sarney no meio dos escândalos do Congresso Nacional. Não é novidade e também não é surpresa, já que conhecemos muito bem o chefe do clã, o presidente do Senado, José Sarney. Não é só o Maranhão que é usado para sustentar os privilégios dos apadrinhados do senador.

A imprensa descobriu agora que Maria do Carmo de Castro Macieira, nomeada por ato secreto no Senado, é também parente de Sarney. Ela foi nomeada para um cargo no gabinete da prima Roseana Sarney, então senadora pelo PMBD e hoje governadora do Maranhão.

Maria do Carmo Macieira é prima de Roseana por parte da mãe, Marly, mulher de Sarney. Esta é a segunda sobrinha do senador que a imprensa descobre ter sido nomeada por ato secreto. Além das duas, também um neto de Sarney foi nomeado por ato secreto. Pelo jeito, a família vai bem.

A família e também os amigos. O jornal O Estado De S. Paulo revela em sua edição de hoje que a filha de Silas Rondeau também foi nomeada por um ato secreto. Rondeau foi ministro das Minas e Energias, indicado por Sarney. Acusado de receber R$ 100 mil da construtora Gautama, acabou pedindo demissão em meio ao escândalo.

A nomeação de Nathalie Rondeau, sobrinha do ex-ministro, serve também para revelar o modo de operar de Sarney. Apesar de não ter nenhuma ligação com a área editorial, a jovem de 21 anos foi nomeada para o Conselho Editorial do Senado, uma criação de Sarney em 1997. Segundo o Estadão, pelo menos 20 movimentações secretas - entre nomeações e exonerações - envolveram o tal Conselho.

E 0 gabinete de Roseana Sarney, que abrigava a sobrinha nomeada por ato secreto, era chefiado por Doris Marise Romariz Peixoto, que coincidentemente é presidente da comissão que investiga o uso de atos secretos no Senado.
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POR José Pires

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Um batalhador de primeira

O jornalista Washington Novaes é um precursor do ambientalismo no país. Décadas atrás, muito antes do meio ambiente do planeta começar a emitir sinais preocupantes de desarranjo, ele já centrava seus esforços profissionais no tema, trazendo aos leitores informações sobre os efeitos da depredação da natureza praticada por interesses econômicos baseados apenas no lucro imediato, na ganância que acabou tendo um efeito de tal modo destrutivo que já começa a colocar em risco a própria humanidade. Ele foi um dos primeiros a emitir alertas sobre o que, na época, eram riscos futuros.

Em 1984, Novaes fez na extinta TV Manchete a memorável série sobre o Parque Indígena do Xingu, a reserva criada pelos irmãos Villas Bôas no norte do Mato Grosso. Mais recentemente, em 2007, ele fez outro documentário sobre a atual situação do Parque. Os nomes dos dois documentários mostram que a reserva também sofre os efeitos da ganância instalada no país. O primeiro, de 84, era “Xingu, a Terra Mágica”. Este último leva o nome de “Xingu, a Terra Ameaçada”.

Novaes tem um modo de escrever que recheia com informações substanciais cada parágrafo com números e estatísticas apresentados em um texto de uma fluidez facilitadora para o leitor. Com esta capacidade técnica, ele acaba sendo de uma eficiência ímpar na apresentação do que acontece no meio ambiente. Trata o assunto de um jeito hábil, com uma gama sempre variada de informações, porém sem perder a carga de emotividade que um assunto tão tocante para nossa vida não pode deixar de ter.

É um batalhador do meio ambiente e do melhor tipo. O que mescla a paixão pelo tema com um alto conhecimento técnico e um texto de grande qualidade.

Ele publica semanalmente seus artigos em O Estado de S. Paulo e no diário O Popular, de Goiânia. O texto no Estadão pode ser acessado livremente. Já o jornal goiano faz a besteira de proibir o acesso aos que não são assinantes. Evidentemente não é por isso que ninguém conhece O Popular, mas é certo que é por isso que muitos deixarão de conhecer.

A qualidade de um texto basicamente pode ser medida por sua durabilidade. Isso vale ainda mais hoje, quando temos jornais diários que depois da primeira leitura já deixam de ter interesse.Tenho guardados textos de Novaes que já duram anos sem perder a qualidade. Suas entrevistas feitas no passado também podem ser lidas com todo o interesse.

É um prazer ler toda semana o que ele escreve no Estadão. De vez em quando ele entra no terreno da economia, como faz hoje em sua coluna. E também deste terreno que outros tornam árido e impenetrável surge uma quantidade de informações que esclarecem com precisão o quanto é preciso mexer na estrutura política que impede o mundo de rodar de forma igualitária para todos os seres humanos.

Confiram aqui, na sua coluna de hoje.

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POR José Pires

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Gripe sobe para o alerta 6

A Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou o nível de alerta sobre a gripe suína para o nível seis. O anúncio foi feito no início dessa tarde. Agora a doença está no grau de pandemia, a primeira que se declara em quarenta anos. A anterior começou em Hong Kong em 1967, matando um milhão de pessoas.

Pandemia quer dizer que a doença se espalha rapidamente. Ela já foi identificada em 29 países europeus, 3 norte-americanos, 6 do Oriente Médio, 11 asiáticos, 3 da Oceania, 16 na América Latina e 6 aqui na América do Sul.

A elevação para o nível 6 não significa que o vírus tenha se tornado mais grave. O que acontece é que ele se propagou além dos níveis que o mantinham na catalogação anterior. Mas isso não atenua as preocupações e nem deve servir como apoio à alegações irresponsáveis (como as do presidente Lula) de que não existem riscos maiores devido ao fato do vírus ser muito fraco.

A gripe espanhola começou do mesmo modo, em 1918, e no final estavam mortas entre 25 e 50 milhões de pessoas. No caso da gripe suína, até o momento foram confirmados quase 28 mil casos no mundo. No Brasil ocorreram 52. Isso evidentemente cobre os doentes mais graves que buscaram o atendimento em algum serviço médico. Sendo uma doença ainda fraca, é possível que haja enfermos que não tenham sido localizados.

A mudança de categoria determina que não se gaste trabalho para tentar deter o vírus. Com esta mudança, a indicação da OMS é que de agora em diante o mais importante é atender aos infectados. Análise e diagnóstico consomem tempo e dinheiro, fatores que devem ser direcionados ao ataque direto à doença.
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POR José Pires

O padrinho

O presidente do Senado, José Sarney, foi padrinho do casamento de Rodrigo Cruz e Mayanna. A noiva é filha de Agaciel Maia, ex-diretor da Casa. Maia é aquele que que comprou sem declarar ao Imposto de Renda uma casa de R$ 5 milhões. Com seu envolvimento em escândalos administrativos, o ex-diretor foi afastado recentemente do Senado.

O jornal O Estado de S. Paulo conta que Sarney "vestiu o figurino" de padrinho embalado pela música tema do filme O Poderoso Chefão. Participaram também do casório figurões do PMDB como Renan Calheiros e Edison Lobão, ministro nomeado por acordo entre Sarney e o presidente Lula.

Estarão de ironia, já que sabem que as mutretas ficarão impunes? A certeza de que nada vai acontecer é tanta que não se preocupam nem em manter discrição, mesmo que seja por razões táticas. Deve ter sido tocante a entrada de Sarney sob o mesmo tema musical do chefe mafioso do filme, apesar de que Sarney está mais para o gato malandro Batatinha, da turma do Manda Chuva, do que para Marlon Brando.

O casamento que teve Sarney como padrinho foi em um dos salões mais luxuosos de Brasília. O noivo é um dos nomeados por atos secretos internos do Senado revelados pelo Estadão. O jornal descobriu 300 boletins secretos em que parentes e amigos de senadores eram nomeados para cargos no Senado sem que seus nomes aparecessem em publicações oficiais.

Cruz era um desses. Em janeiro de 2007 ele foi nomeado por Agaciel com o salário de R$ 2,6 mil. A nomeação foi por ato secreto, assim como sua promoção um ano depois com um salário bem mais alto: R$ 8,1 mil.

A música de O Poderoso Chefão é um tema marcante. Sua escolha simboliza bem o que estamos vivendo. Aliás, se não forem tomadas medidas severas contra o que se faz com o país, logo mais esta música pode substituir o hono nacional.
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POR José Pires

País dos juros

É mesmo a piada, aquela da qual rimos com certa dificuldade, já que, infelizmente, estamos dentro dela. O Brasil tem uma taxa de 1 dígito de juros. E ainda comemora.
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POR José Pires

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A saúva da política

No Maranhão é impossível viver sem topar com um Sarney. É Ponte José Sarney, Avenida José Sarney, Rodoviária Kiola Sarney. Tem também as escolas: escolas:a Sarney Neto , a Roseana Sarney, a Fernando Sarney, a Marly Sarney e a José Sarney. E tem o Posto de Saúde Marly Sarney, a Biblioteca José Sarney, a Maternidade Kiola Sarney... e também o Tribunal de Contas Roseana Murad Sarney. É Sarney para todo lado.

E nem pense que essa é uma daquelas piadas que correm na internet. É a triste realidade do Maranhão. Fui ao site de busca dos Correios e está lá a avenida José Sarney. Lá, ele tem também rua, travessa e praça em seu nome. A tal da ponte também parece piada, mas pode ser vista aqui. E a maternidade tem até site, onde você entra clicando aqui.

Se há um feudo no Brasil, este é o Maranhão dos Sarney. Dominam a vida política daquela terra há quarenta anos, com um resultado desastroso: o estado só não é o mais atrasado do país porque tem o pobre Piauí à frente. Ou melhor, atrás.

É claro que para estruturar e manter este poder os Sarney dominaram a mídia local. Essa é uma lição velha. Até político do baixo clero sabe que é preciso controlar a informação, coisa que o governo Lula está colocando em prática no plano nacional usando até o dinheiro de estatais como a Petrobras.

A família de José Sarney tem um grande jornal diário publicado na capital e a TV Mirante, repetidora da TV Globo no estado. Eles são proprietários também de rádios. São mais de 30 emissoras em todo o estado. A TV Mirante tem também 13 repetidoras espalhadas pelo interior.

Este controle foi contruído com a estreita ligação criada pelo chefe do clã, o senador José Sarney, com todos os governos que existiram nos últimos anos. Da ditadura militar ao governo Lula, Sarney está sempre dentro.

O espertalhão sabe também como poucos mudar de lado no momento certo, como fez no estertor da Ditadura Militar, quando pulou da ditadura para a chapa de Tancredo Neves em 1985. Foi o maior azar do país. Fez o governo mais desastrado que já houve em nossa história, instalando a corrupção, falta de planejamento e má administração no pós-ditadura, quando o Brasil precisava exatamente do contrário para começar tempos novos.

Nosso país tem muitos azares, mas sem dúvida um desses maiores azares tem nome: José Sarney. Mas o pobre do Maranhão foi mais afetado por esta falta de sorte. Tem aquela famosa frase que diz que "ou o Brasil acaba com a saúva ou...". Pois o método Sarney de fazer política é a nossa saúva social.

Mas parece que o eleitor não aceita pragas política com facilidade. Mesmo com este controle financeiro e econômico no Maranhão, os Sarney não tem segurança alguma por lá. Nas últimas eleições, Roseana Sarney perdeu a eleição para o governo. Foi conduzida ao cargo com a cassação do eleito, Jackson Lago, numa dessas decisões que só ocorrem no Brasil, país em que o derrotado no voto vai ao poder quando cai o eleito.

No entanto, a reeleição no ano que vem da filha de Sarney ou a eleição de alguém escolhido pelo clã deve ser muito difícil. O eleitor maranhense parece ter tomado aversão pelos Sarney.

O manifestação mais clara do risco político do clã é que o próprio José Sarney não se arrisca a disputar o Senado pelo Maranhão, preferindo a maior facilidade conquistada no Amapá.
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POR José Pires

Dinheiro público saindo pelas cuias

Mas se o Maranhão é tomado como propriedade pelos Sarney, não é diferente o que eles fazem com o Brasil. É certo que em razão do maior conflito de interesses no plano nacional, cabe ao clã maranhense apenas parte do espólio que a classe política conquista na guerra permanente aos brasileiros.

Nem é uma porção tão grande assim. Sarney se contenta com privilégios de bastidores. Sabendo que sua liderança não tem alcance nacional, construiu uma rede obscura de pequenos e grandes proveitos pagos pelo dinheiro público.

O Congresso Nacional é onde essa rede tem a amarração mais forte, envolvendo depois todo o poder executivo, inclusive estatais. Em cada escândalo revelado no legislativo nota-se uma ligação com o modelo de administração imposto por Sarney desde que foi presidente da República e depois nas suas passagens pela presidência do Senado. É dali que sai sua força política. Nas costuras internas na Câmara e no Senado — sempre em conluio com o governo, qualquer um deles — ele obtém até serviços pessoais ou eleitorais, como foi descoberto recentemente, com a revelação da alta funcionária do Senado que trabalhava para ele também em campanhas eleitorais no Amapá.

Agora, com a descoberta dos mais de 300 atos secretos no Senado para criar cargos ou vantagens absurdas como a que estende assistência vitalícia odontológica e psicológica a marido ou mulher de ex-parlamentares, eis que surge mais um Sarney, desta vez um neto do senador.

João Fernando Michels Gonçalves Sarney tem apenas 22 anos e ainda nem se formou na universidade particular onde estuda e já tinha um alto cargo. Sua presença por quase dois anos nos quadros do Senado, com salário mensal de R$ 7,6 mil, só se tornou conhecida com a revelação dos atos secretos.

O tempo acabou dando uma irônica função simbólica para a arquitetura criada por Oscar Niemeyer para o Congresso Nacional. Quando olho aquelas duas cuias, vejo sempre naquela em pé o dinheiro público entrando e na cuia emborcada o mesmo dinheiro saindo para os bolsos dos políticos brasileiros e seus apaniguados.
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POR José Pires

terça-feira, 9 de junho de 2009

Ética à moda da casa

Internet serve para tudo. E sua ocupação é parte tática da estratégia de informação do governo Lula. Fazem isso de maneira oficial, mas usam também os meios oficiosos, até com a instalação de blogs que passam por independentes, mas que, na verdade, tem seus autores atrelados ao esquema de propaganda governista.

Agora, com o blog criado pela Petrobrás, o governo veio com uma inovação no uso da nternet. O blog publicou perguntas encaminhadas pelos jornais O Globo, O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, com questionamentos sobre as atividades da Petrobrás. O blog publicou as perguntas e as respectivas respostas da empresa.

Publicaram antecipadamente o material. Matéria que seria publicada no domingo teve divulgada informações na sexta-feira pelo blog. É um recurso tão absurdo que coisas do tipo costumam ser praticadas apenas de forma apócrifa. Que uma estatal assuma algo assim é mais um sinal dos tempos petistas.

Seria assombroso, caso não conhecêssemos de sobra essa gente. Mas já é bem sabido o efeito que o governo Lula e o petismo tem sobre qualquer tipo de ética, daquelas ligadas a questões morais básicas, como, por exemplo, não usar o dinheiro público em proveito próprio, até a ética que protege atividades profissionais ou o bem comum.

Pois não é o PT um partido que faz campanhas, até com manifestações de rua, contra a imprensa? E não é também o PT e o governo Lula que reativaram o programa nuclear brasileiro? Pois é.

É uma ética própria, à moda da casa, como foi o projeto político capitaneado por José Dirceu. O que deu no mensalão. Que gororoba ética... Misturada com as mãos por gente como Antonio Palocci, Genoíno, Delúbio Soares, Luiz Gushiken, João Paulo Cunha, e tantos outros, ah sim, tudo gente como o deputado petista dos dólares na cueca, que hoje é federal e, aliás, é irmão do deputado Genoino. E com Marcos Valério cuidando de arrumar verba.

Independente de divergências políticas ou ideológicas, no aspecto profissional e ético é uma barbaridade o que a Petrobrás fez com seu blog. Não há intelectual ou jornalista que honestamente possa defender algo do tipo.

Usar a justificativa da “transparência” para isso, então, é sinal de uma má-fé típica de quem passou dos limites não por acidente, mas como um recurso baseado em estratégia política muito bem estudada.

Costumo dizer que nada qualifica tão bem uma tese política quanto o histórico de seu defensor. Pois a diretoria da Petrobrás encontrou o filósofo certo para defender suas ideais.

O deputado José Genoino, do PT de São Paulo, notório por ter afirmado que assinou sem ler um contrato para o empréstimo de milhões de reais quando era presidente nacional do partido, já está em campo e sem medo (algum) de ser feliz.

Vejam o que ele disse: “Defendemos a transparência ampla, geral e irrestrita da informação. Faz parte do projeto de acesso à informação, sempre disponível em tempo real”. Pronto. A Petrobrás encontrou o porta-voz perfeito para sua ética particular. Desse tipo de transparência o deputado José Genoino entende bastante.
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POR José Pires

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Projeto político

Aécio Neves e José Serra se encontraram hoje e falaram juntos com a imprensa. É sobre 2010, claro. Deve-se elogiar o bom senso de Serra, que não estimula o assunto, mas desta vez não podia deixar de se manifestar, já que não contente em colocar em pauta uma eleição que ainda tem mais de um ano pra acontecer, a imprensa agora começou a discutir quem é o vice de quem.

A incapacidade de fazer jornalismo sério é que afunda a imprensa. O advento da internet é uma boa desculpa dos jornais para a perda de leitores, mas qual é o leitor que não se sente ludibriado em abrir o jornal e encontrar um assunto chocho desses?

Mas vamos à entrevista de Aécio Neves e Serra. Tem algo que o governador mineiro falou que me deixou em dúvida. Ele disse o seguinte: "Seja o governador Serra, ou seja eu amanhã eventualmente o presidente da República, a certeza de que os rumos traçados serão muito parecidos”.

Peraí, não deu para compreender. Precisamos conhecer bem a proposta para saber em quem votar. Sendo assim, caso um ou outro se eleja presidente é o Serra que vai passar todo o tempo namorando enquanto outros governam ou é o Aécio Neves que vai se concentrar intensamente no trabalho?
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POR José Pires

quinta-feira, 4 de junho de 2009

terça-feira, 2 de junho de 2009

Algazarra em Brasília

Viajando, como sempre, Lula fala das coisas do Brasil. Na Guatemala, o presidente inzoneiro não quis conversar com seriedade com os jornalistas sobre o confronto entre o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e outros ministros. Os problemas de Minc são principalmente com Reinhold Stephanes, da Agricultura, e Alfredo Nascimento, dos Transportes.

Para não variar, Lula saiu com uma piada, desta vez desrespeitosa com seus ministros. A uma pergunta sobre as divergências internas de seu governo, ele respondeu: "Eu tenho muitos filhos, e toda vez que o pai sai de casa, a meninada faz algazarra".

Já sabíamos que Lula tem seus aloprados. Agora ele informa que também está cercado de crianças malcriadas. Pode ser uma explicação para o fato das obras do PAC não saírem do papel. Nos primeiros dois anos, o governo concluiu só 3% das 10.914 obras previstas.

Mas vamos à criançada do Lula. A idade de Carlos Minc é de 58 anos, Nascimento está com 57 anos e Stephanes, com 68 anos, é até mais velho que Lula, que completa 64 este ano. Todo mundo está naquela idade em que se deve dar ao respeito. Mas para durar neste governo é preciso agüentar muitos desaforos. Ser tratado feito moleque é um deles.
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POR José Pires

Lula lá no alto

Lula está nas alturas em pesquisas de popularidade. E leitores me telefonam perguntando sobre a minha opinião. Claro que antes de leitores são amigos meus, gente que me conhece razoavelmente bem para saber que não gosto da popularidade do Lula. Por isso mesmo, a pergunta também tem um pouco provocação, é claro.

Mas vamos lá. Não dou um peixe podre por pesquisa no Brasil. A da CNT/Census não tem valor algum para mim. Não serve nem para embrulhar o citado peixe podre. A CNT da sigla é a Confederação Nacional do Transporte, entidade corporativa muito poderosa e com laços fortes com o poder federal, qualquer que seja o partido que estiver no poder. O orçamento da CNT é impressionante. É maior que o orçamento de 16 dos 26 estados brasileiros.

Seu presidente há muitos anos é Clésio Andrade, um dos maiorais do PTB. Ele já foi deputado federal da base de Lula, mas, bem, seu PTB sempre está na base de qualquer governo. O presidente nacional da sigla, não devemos esquecer, é Roberto Jefferson, o que denunciou o mensalão e hoje parece já ter feito as pazes com o governo petista. Clésio Andrade foi vice-governador de Minas Gerais na primeira gestão de Aécio Neves, hoje senador e liderança nacional do PSDB. Bem, foi com o tucano Azeredo que o publicitário e homem de negócios Marcos Valério deu início ao mensalão.

O presidente da CNT foi denunciado pelo Ministério Público junto com mais 14 pessoas, todos acusados de participar de um esquema de desvio de recursos públicos do estado de Minas Gerais, no caso que ficou conhecido como "Mensalão mineiro". O mensalão começou, em 1998, na campanha eleitoral do governador tucano Eduardo Azeredo. A lembrança de Azeredo aqui, aliás, dá substância ao que penso sobre a real popularidade de Lula. De forma negativa, claro, na construção de uma situação sem valores comparativos na oposição, o que acaba dando um suporte importante a esta popularidade.

Ali, segundo a ação da Procuradoria-Geral da República, é que foi montado primeiramente o esquema ligado à agência de publicidade de Marcos Valério, então chamada de SMP&B Comunicação e que depois passaria a se chamar DNA Propaganda, como ficou conhecida no mensalão do governo Lula. Na ação o procurador-geral da República define a atuação de Clésio Andrade assim: "Em outras palavras, Clésio Andrade ofereceu os serviços delituosos de sua estrutura empresarial para a prática dos crimes de peculato, bem como de lavagem de capitais".

A denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, junta, entre outros, Clésio Andrade, o senador Azeredo e Walfrido dos Mares Guia, que foi vice-governador na chapa de Azeredo. Hoje Mares Guia é ministro das Relações Institucionais. Está com Lula desde o primeiro mandato.

Vejam a ciranda de nomes que vão dar em Lula e seus esquemas de manutenção de poder. Ministros, o ex-governador do PSDB e atual senador e também seu vice, todos em um sólido círculo de cumplicidade. Assim, Lula só pode subir nas pesquisas. Azeredo era, inclusive, o presidente nacional do PSDB quando foi descoberto o esquema do mensalão. Dá para entender que os tucanos não tenham ido a fundo na denúncia.

Andrade é também citado na ação da Procuradoria-Geral da República sobre o mensalão que está em andamento no STF. No documento ele é citado como “padrinho” (aspas do procurador) e mentor de Marcos Valério, de quem foi sócio na famosa DNA Propaganda.

Mas mesmo tirando todas as implicações políticas do presidente da CNT, Clésio Andrade, não confiaria em uma pesquisa que tem por detrás uma entidade corporativa.

Você confiaria numa pesquisa de popularidade de Lula ou de qualquer presidente patrocinada pela CUT ou pela Força Sindical? Eu não. Então, pesquisa da CNT, nem pensar.
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POR José Pires

Efeito Tostines

Mas também o Datafolha avalia a popularidade de Lula como bastante alta. Bem, quanto ao Datafolha não há o que questionar em credibilidade. O instituto de pesquisas é da mesma empresa que edita o jornal Folha de S. Paulo. Se faltasse independência às suas pesquisas certamente eles teriam péssimos resultados para o mais importante produto da empresa, que é o jornal.

Até por questões práticas seu instituto de pesquisas tem que ser tocado com independência. A menos que se dependure em publicidade do governo ou coisa pior, credibilidade é matéria prima indispensável para uma empresa jornalística. Jornal impresso é ainda mais. TV e rádio ainda podem enganar com certa eficiência seus consumidores. Para um jornal é mais difícil.

Então o Datafolha está certo? Em parte. Os institutos de pesquisas, mesmo o Datafolha, tem tido uma dificuldade danada para apresentar números em pesquisas eleitorais que estejam próximos dos apresentados de fato após a eleição. As últimas eleições mostram bem isso. Isso em análises de um quadro já perfeitamente definido, com os candidatos já apresentados em horário eleitoral e nas demais propagandas políticas. Alguns institutos erram, se é que é mesmo apenas um erro, em números apresentados algumas semanas antes do voto do eleitor.

Tirando a maracutaia, muito comum nesta área, eu acho que no Brasil existem mesmo certas dificuldades técnicas para colher dados em trabalhos que lidam basicamente com opinião, caso das pesquisas eleitorais, e muito mais as pesquisas de popularidade. Até as classe sociais não são bem definidas neste país. Também não temos uma classe média sólida, tanto no aspecto econômico quanto histórico.

O que as pesquisas fazem, sem dúvida, é criar um novo quadro a partir da apresentação de seus próprios números. Dilma Rousseff está crescendo nas pesquisas? Claro que sim, pelo simples fato de que está crescendo nas pesquisas.

Acima do conhecimento técnico de uma realidade, as pesquisas são um fato jornalístico, um material de informação que dependendo do uso que se faz delas pode dar viabilidade política até para o poste que surge sempre neste assunto. Isso ocorre até mesmo com pesquisas na área científica. Grandes corporações do setor farmacêutico ou de biotecnologia fazem fortuna e demolem opositores com este processo. Estes dois setores muito ativos na manipulação da opinião pública dispendem grandes somas em dinheiro e privilégios no aliciamento de jornalistas, cientistas e a área acadêmica para dar credibilidade às porcarias que enfiam goela abaixo dos consumidores.

Isso funciona até melhor até na área política. É importante, claro, ter à mão a máquina pública. E isso Lula tem. E em conjunto com um partido, o seu PT, a organização política brasileira que mais soube fazer uso da instrumentalização do Estado em benefício partidário e eleitoral.

Vamos à intenção de voto para presidente da República, antes da popularidade de Lula. Todos estão de olho em Serra e Dilma. Eu fico mais embaixo, em Heloísa Helena. A ex-candidata do PSOL é hoje vereadora em Alagoas e tem na pesquisa do Datafolha, 10% das intenções de voto.

Eu fico imaginando alguém hoje em dia pensando em votar em Heloísa Helena. Não em Alagoas, mas em Campinas, por exemplo. O sujeito acorda, escova os dentes, e enquanto toma o café da manhã pensa lá com seus botões: “Eu vou votar na Heloísa Helena”. E tem também o Ciro Gomes. Está com 15%. É a mesma coisa. Fico aqui imaginando esta imensidão de brasileiros querendo votar no boca suja. Não é muita gente, não?

Na eleição de 2006, Heloísa Helena ficou com 6,85%. Ciro Gomes em 2002 ficou com 11,97%. O Datafolha mostra um crescimento danado dos dois. Heloísa Helena só pode ter saltado para 10% por causa de sua vibrante atuação na Câmara de Vereadores de Maceió, já que só foi assunto nacional nos últimos dias quando a imprensa descobriu que ela deu passagens aéreas da sua cota parlamentar no Senado para o filho viajar mesmo depois de ter saído do cargo.

E Ciro Gomes? Talvez o bate-boca com os jornalistas no cafezinho do Congresso tenha dado lucro, enfim, ao mais nobre deputado do baixo clero.

Para mim, o que existe é a apresentação dos nomes. Apenas isso. E o eleitor pesquisado, muitos movidos por um “minha-mãe-mandou-escolher-esse-daqui”, aponta o preferido. O trabalho posterior é que torna a pesquisa “científica”.

Dilma Roussef está crescendo nas pesquisas simplesmente porque está crescendo nas pesquisas. É um “efeito Tostines” no qual você entra com o dinheiro e eles é que comem o Tostines.
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POR José Pires

Comícios e propaganda dão resultado

Por isso é que na pesquisa espontânea todos vão pra baixo. Ciro Gomes e Heloísa Helena estão em seus devidos lugares: ambos com 1%. Acho muito, mas vá lá. Aécio Neves tem o dobro de Heloísa Helena, 2%. Acho que agora vai. E os cabeças, Serra e Dilma, estão respectivamente com 5% e 4%.

Reparem que as pesquisas já fazem até um trabalho de marketing antecipado. A ministra Dilma Roussef já é chamada simplesmente de Dilma, o que fez até eu aqui grafar a ministra Rousseff apenas como Dilma. Isso economiza bastante em propaganda.

É só para isso que as pesquisas servem. Para revelar as marcas. O posicionamento posterior de tais marcas vai depender dos donos. Serra cuida da sua e Lula cuida da sua, a Dilma, agora em sabor light.

É óbvio que já com marca na praça, Heloísa Helena levaria sua candidatura às alturas, se tivesse o apoio da máquina federal. É bastante parecido com a popularidade de Lula.

Conforme a Folha de S. Paulo informou numa ótima reportagem no domingo, atualmente a propaganda de Lula chega a 5.297 veículos. O governo tem toda uma máquina de informação oficial e oficiosa em funcionamento no rádio, televisão, jornais, revistas, internet e qualquer atividade cultural ou informativa que chega aos brasileiros, incluindo patrocínio de shows, teatro, exposições, rodeios ou qualquer outra coisa que junte gente.

O governo petista montou uma máquina de propaganda eficiente. Foram bem competentes nisso, o que eu não vejo como qualidade, porém como algo imoral e que só ocorre devido à uma condição política que envolve a promiscuidade de todos os partidos. Tem até aspectos ilegais, mas ninguém se mexe para condenar, pois praticamente todo político apenas espera o momento em que ele possa usar também. Se é que já não o fez quando esteve antes no Poder.

Essa instrumentalização do Estado é imoral no aspecto político e também muito perigosa. Forma-se uma cultura estatal que não deu bons resultados em nenhum país onde foi experimentado.

Mas a construção desta máquina faz efeito. Os tucanos nunca foram bons neste tipo de coisa e não vejo isso como um defeito. Acho até que é exatamente pelo fato de não terem construído esta habilidade em instrumentalizar o Estado no aspecto cultural e de informação que os tucanos são menos ruíns que o PT.

E para impulsionar a popularidade Lula também não sai do palanque. A atividade é tão intensa que até a própria ministra e candidata Dilma Rousseff já cometeu ato falho em lançamento de obra do PAC em Belo Horizonte, quando chamou o evento de “comício”.

A exposição de Lula na mídia é intensiva. Todo dia ele é notícia, muitas vezes com assuntos de governo da maior banalidade. A imprensa brasileira é bastante criticada pelos petistas, mas na verdade ela é uma mãe para Lula. Desconheço jornais em outros países mais abertos às banalidades da política que os do Brasil.

As viagens também ajudam a manter a exposição da imagem de Lula. Dos 122 dias úteis de trabalho deste ano, a previsão é que até o final deste mês o presidente, que aliás está viajando, tenha passado 73 em viagem. E com a imprensa atrás. Os jornais noticiam até lançamento de obra em cidade do interior do Nordeste.

Mas claro que a oposição ajuda bastante, pois o poder se desgasta de dois modos: ou pela crítica ou pelo contraste. Bem, se pela crítica não dá para esperar nada desta oposição, pelo contraste muito menos. O contraste seria mostrar ao eleitor uma opção de poder.

Outro dia estava olhando uma foto senadores dos tucanos Tasso Jereissati e... ai, ai, ai, como é mesmo o nome daquele tucano do Amazonas?, ah sim, o senador Arthur Virgílio ... Eu pensava então o que um amazonense ou um cearense responderia caso algum pesquisador perguntasse se ele prefere o PT ou um desses senadores no Poder.

Bem, tomara que ninguém faça essa pergunta.
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POR José Pires