terça-feira, 31 de julho de 2012

Caindo fora

O ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos anunciou na manhã de hoje que sai da defesa de Carlinhos Cachoeira. Seu escritório já deu várias versões sobre o abandono da defesa do bicheiro, alegando inclusive o desgaste na relação com o cliente, mas não deixa de ser o tipo de saída que é tão suspeita quanto a entrada.

E não é o único caso jurídico em que a presença de Thomaz Bastos parece que foi bem desgastante para a sua imagem. É óbvio que ele deve ganhar bastante dinheiro com isso, mas será que o custo-benefício compensa? O ex-ministro alcançou uma condição em que sua presença num tribunal sempre chama mais atenção que a do réu que defende. É claro que sendo assim, dependendo do caso é impossível distanciá-lo das implicações políticas do crime de que seu cliente é acusado.

Além da defesa de Cachoeira o ex-ministro também participa do julgamento do mensalão. Defende um dos peixes menores do cardume de tubarões ligados ao PT, o ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado. Mas até isso torna sua presença no caso mais suspeita.

O caso do bicheiro Cachoeira interessa tanto ao ex-presidente Lula — seu chefe quando ele era ministro da Justiça — que até resultou numa CPI que o PT pretendia usar para atingir os adversários. E o mensalão guarda relações estreitíssimas com Thomaz Bastos. O caso estourou quando ele comandava a pasta da Justiça, mas no entanto, sua atuação foi no sentido de apoiar as autoridades e dirigentes políticos acusados do crime, atuando até no papel de conselheiro jurídico e político de mensaleiros e também de Lula.

Sei que no Brasil pode até parecer purismo, mas ainda acredito que o dever de um ministro da Justiça numa situação daquelas tinha que ser o de agir com rigor e buscar o esclarecimento, até porque aquele esquema pretendia golpear a próprio funcionamento do Estado.

Mas o fato é que quando foi ministro ele atuou políticamente de forma intensa durante as crises do governo Lula e depois veio pegar esses dois casos cabeludíssimos e de tantas relações com o interesse de Lula e seus companheiros. A saída do caso Cachoeira só ameniza o pesado desgaste de ter entrado. E no mensalão ele não tem outro jeito senão de ir até o fim.

Independente do que aconteça daqui pra frente, politicamente Thomaz Bastos já foi derrotado nos dois casos, pois foi atingido de forma inapelável na sua imagem. É impressionante ver alguém tão experiente cometer desse jeito um erro após o outro. Me parece que faltou ao ex-ministro a assessoria de um Márcio Thomaz Bastos.
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POR José Pires


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Imagem: O então ministro Márcio Thomaz Bastos em reunião com o chefe e o então colega José Dirceu, citado pela PGR como o "chefe da quadrilha" do mensalão.



Pagando sempre mais caro

Saiu mais um índice Big Mac da revista The Economist, ainda com o famoso sanduíche custando mais caro no Brasil do que nos Estados Unidos. O Brasil tem o quarto Big Mac mais caro do mundo: nos Estados Unidos o lanche custa U$ 4,33 dólares e aqui pagamos U$ 4,94 dólares.

Mas o índice da The Economist não é para comer Big Mac. A comparação é feita para medir poder de compra. Em tese, sendo um produto padronizado e existente em todo mundo, o preço do Big Mac daria uma ideia da economia em diversos países e permitiria uma comparação do poder de compra. Na interpretação de economistas o índice divulgado hoje aponta uma sobrevalorização do real em mais de 10% em relação ao dólar.

Pode até valer esta porcentagem na comparação entre as moedas, mas é claro que na vida prática o índice Big Mac mostra que a vida pesa no Brasil bem mais do que estes 10%. Mesmo se pensarmos apenas no sanduíche, na comparação do preço do lanche teria de haver também a relaçao entre a média salarial de americanos e brasileiros. E além disso, a receita teria de conter os demais custos de cada povo em seu país. É muito mais fácil para um americano juntar as crianças e ir comer Big Mac na lanchonete, já que nos Estados Unidos ele não tem de arcar com outros custos cotidianos que pesam muito no bolso do brasileiro.

Além do índice Big Mac, temos no Brasil o “Índice Telefonia”, “Índice Habitação”, “Índice Internet”, "Índice Informática", “Índice Transporte”, “Índice Educação”, “Índice Segurança”, além de outros índices que incluem uma variedade de produtos e serviços que no Brasil sempre pesam muito mais para o consumidor. Aqui temos até o “Índice Juros” e também o “Índice Serviços Bancários”. E nem vou me aprofundar na comparação entre a qualidade do que somos obrigados a comprar aqui e aquilo que o consumidor americano tem à sua disposição. Os Big Macs podem ser até parecidos, mas o resto do que se compra no Brasil é sempre inferior ao que se tem lá fora. E o brasileiro vai engolindo.

Evidentemente estou citando os americanos em razão do nome que esta porcaria de sanduíche deu ao índice, mas vários preços no Brasil são muito altos em comparação com muitos países de população com poder aquisitivo bem maior do que o nosso. É mais barato comer em restaurantes de bom nível em Paris do que em restaurantes de cidades como São Paulo ou Rio de janeiro

E além do preço do Big Mac o brasileiro paga também por meio de altos impostos por muita coisa que nem consegue receber. Como exemplo de um só ítem, na Noruega o Big Mac custa mais caro do que aqui, mas o norueguês paga só pelo que comer. Não precisa contratar segurança monitorada para sua casa, aumentar o muro, colocar cerca elétrica, pagar caro por seguro contra roubo ou então morar em condomínio ou apartamento com custos semelhantes. E nem corre o risco de ser roubado ou assassinado quando volta para casa do McDonald's.
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POR José Pires

sábado, 28 de julho de 2012


Recesso eleitoral

Advogados do PT pediram o adiamento do julgamento do mensalão. A tese é revolucionária: eles acham que a lisura do julgamento fica comprometida por causa da coincidência com as eleições municipais. O pedido de adiamento foi feito em ofício à ministra Carmen Lúcia, presidente do TSE e membro do STF.

Está aí uma contribuição (revolucionária, repito) do PT para uma reforma judiciária. Políticos só poderiam ser julgados ano sim e ano não, já que nos anos pares temos eleição no Brasil. Com certeza a ideia teria uma acolhida favorável e entusiasmada no Congresso Nacional. E já que o protelamento de julgamento é praticamente uma especialização da advocacia no Brasil, os advogados iriam empurrando os processos para anos eleitorais.

Uma novidade dessas evitaria de vez qualquer julgamento de político corrupto, o que, por sua vez, também livraria nossos tribunais do trabalho de inocentá-los, que é o que acaba acontecendo na maioria das vezes.
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POR José Pires

Verdade nua

A honestidade anda tão em falta no mercado que fiquei impressionado com a sinceridade de uma atriz da Globo que vai posar nua para a revista Playboy. Nathália Rodrigues é o nome da moça, outra global famosa que eu desconhecia, mas só por uma questão muito pessoal: não vejo TV. E como não tenho serviçais, não dá para dar uma sapeada nem quando passo pelo quarto de empregada.

Nathália trabalha na minissérie Gabriela. E quase escrevo “atua na novela Gabriela”, mas mudei rápido o verbo porque poucos estão atuando de fato nessa novela. E não sei como está a Nathália, que faz uma das prostitutas do bordel Bataclan. Na imagem, vejam ela em cena.

Vi dois capítulos espaçados de Gabriela e mesmo para os padrões artísticos sempre muito baixos das novelas da Globo achei um desastre a performance de quase todos os atores. O problema é de direção, por isso salvam-se uns maiorais que sabem fazer o serviço sozinhos. Mas o resultado do conjunto chega ser constrangedor. Tem ator fazendo caricatura de personagem. Em várias cenas parece que estão ensaiando falas em início de peça teatral. Mas o trabalho já foi pro no ar, não é mesmo?

Juliana Paes também foi uma escolha errada para o papel central. A moça é boazuda, mas não é sensual. Há muito tempo que na TV brasileira é feita essa confusão com a sensualidade. Na telinha acham também que sensualidade tem a ver apenas com a beleza, o que também não é o caso. Só como exemplo, uma das atrizes brasileiras mais sensuais que temos nem pode pode ser colocada entre as belas de momento algum da televisão brasileira, ao menos nos padrões em voga: é Marília Pera. E uma pessoa pode ser até feia para o gosto comum e nem por isso deixar de ser sensual. O contrário também acontece. Mas vale dizer novamente que no palco ou na tela mesmo a sensualidade natural precisa de um bom diretor para que isso seja uma expressão marcante da personagem.

Mas eu falava sobre a honestidade da Nathália Rodrigues. Novela tem disso: um assunto vai puxando o outro e pode-se até esquecer do começo da conversa. Nathália vai posar nua para a Playboy e foi honesta ao falar sobre isso. Não veio com aquela conversa de nu artístico ou qualquer outra justificativa suspeita. Ela disse que é mesmo por dinheiro que vai tirar a roupa para os leitores.

Vejam o que ela falou: “Aceitei posar nua porque foi uma proposta irrecusável. Prefiro não citar valores, mas posso dizer que dá para mudar um pouco a minha vida e conseguir um apartamento próprio”.

Bacana, não? É de gente honesta assim que o Brasil está precisando. E neste caso especificamente a franqueza facilita até a vida dos marmanjos que vão comprar a Playboy para ver a moça pelada. Ninguém vai precisar usar a desculpa de que está comprando a revista por causa de alguma reportagem ou da entrevista do mês que está muito boa.
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POR José Pires

quinta-feira, 19 de julho de 2012


Juventude com o pé na cova

A presidente Dilma Roussef anda querendo abandonar o PIB como indicador de desenvolvimento e prosperidade. Então que tal a segurança pública? Saiu um estudo novo que coloca o Brasil entre os quatro países com maiores taxas de homicídio de jovens. Não que seja novidade que policiais, mílicias e traficantes estão matando nossos jovens e até crianças. Já sabemos disso. Basta abrir um jornal ou ligar a internet para ver todos os dias a matança.

Mas agora saiu a nova edição do Mapa da Violência, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e o Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos (Cebela). De 92 países do mundo apenas El Salvador, Venezuela e Guatemala apresentam taxas de homicídio maiores que a do Brasil, que está com 44,2 casos em 100 mil jovens de 15 a 19 anos.

Entre os dados deste estudo está um que bate com um grave sintoma da violência revelado recentemente pela Anistia Internacional. É uma “epidemia de indiferença” por parte de grande parcela da sociedade com o assassinato cotidiano da juventude mais pobre. O que deveria ser tratado como calamidade é recebido como se fosse um fato natural incorporado à vida nacional.

Esta acomodação dos brasileiros à má qualidade de vida pode ser percebida em relação aos mais variados assuntos, mas no caso da violência a situação é absurda demais. Nem nas cidades menores do país existe mais espanto com os frequentes assassinatos. E até no interior já é recebido como uma normalidade o fato de não ser mais possível andar com segurança nas ruas depois do pôr-do-sol.
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POR José Pires

Gestão com nota baixa

Entre os indicativos sociais negativos que aparecem o tempo todo o mais preocupante é o da educação. Já virou lugar-comum falar sobre a importãncia da educação, mas isso tem mesmo que ser dito sempre. Sem uma educação de qualidade é impossível fazer qualquer coisa.

Saiu nesses dias uma pesquisa sobre este assunto que coloca o Brasil mais uma vez numa situação extremamente negativa. Apenas 35% das pessoas com ensino médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas. A pesquisa é do Instituto Paulo Montenegro e a organização não governamental Ação Educativa.

Outra informação impressionante da pesquisa é que 38% dos brasileiros com formação superior têm nível insuficiente em leitura e escrita. Isso é que é o mais preocupante, afinal são essas pessoas que deveriam estar sendo preparadas para elevar o nível educacional e cultural do país. E já é absurdo que um número tão alto de ignorantes tenha entrado na universidade, já que o ensino superior não existe para ensinar a ler. Mas, de qualquer forma, saiam da universidade com alguma formação.

Mas é preciso tomar cuidado com este tipo de encaminhamento porque ele nunca resulta em aumento de verbas na educação e tem servido também para evitar a discussão sobre o que está sendo feito com o dinheiro que já existe nesta área.

Perde-se muito dinheiro com a má gestão dos recursos da educação e parte considerável também se vai com a corrupção. Um estudo recente da Federação do Estado de São Paulo (Fiesp) informou que o Brasil perde R$ 56 bilhões por ano com a má gestão do dinheiro público investido nesta área. Divulgado em novembro de 2010, o estudo é muito interessante quando faz comparativos entre o Brasil e os outros países da América Latina.

Com um percentual de gastos acima do conjunto do continente (4,3% do PIB contra 4% dos demais países) o Brasil teve resultados sempre piores. A taxa brasileira de analfabetismo ficava em 11,3% e os demais em 8%. A repetência nos quatro primeros anos era de 21,4% enquanto nos outros era 5,8%. Há menos de dois anos Uruguai e Chile gastavam o mesmo que o Brasil e conseguiam resultados muito melhores.

O estudo trata apenas dos aspectos administrativos do uso dessas verbas. Não tocou na questão da corrupção, que também é outra barreira séria para uma boa gestão na educação não só pelo dinheiro que é surrupiado mas também pelos maus hábitos que a roubalheira acaba criando.

É claro que é preciso valorizar a educação e sem dúvida alguma é necessário investir em infraestrutura e bons salários para os professores. Mas se não tivermos uma melhoria bem grande da gestão pode ser que o aumento de verbas não traga a melhoria de qualidade que o Brasil precisa.
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POR José Pires

quarta-feira, 18 de julho de 2012


Buscando indicativos que dão voto

Já sabendo que seu governo terá de conviver com um PIB bem pequeno, a presidente Dilma Rousseff busca encaixar um discurso político desqualificando seu uso como indicador de desenvolvimento. Ela está atrasadinha neste assunto e só por conveniência é que agora entra nele. Há muitos anos anos que o modelo do PIB vem sofrendo fortes críticas e na minha opinião muito bem colocadas.

É claro que estou falando de gente séria. A retórica de Dilma é sem vergonha. O PIB é um indicador que, como qualquer outro, pode ajudar a administrar melhor. Se ela tem alguma dificuldade com ele, basta sentar ao lado de um bom economista que ele vai extrair o que pode ser nocivo para a compreensão dos problemas que o país enfrenta.

E Dilma teve sua própria vitória eleitoral conquistada em grande parte com o uso do PIB como material de propaganda. Quem não se lembra? O PIB era um conceito tão forte para eles que o então presidente Lula até manipulou de forma arbitrária os dados econômicos para propagandear no ano da eleição um crescimento no PIB e previsões formidáveis de desenvolvimento futuro, sempre baseadas neste modelo.

Porém, mesmo tirando os números do PIB fora da discussão econômica a realidade brasileira bate forte revelando a baixíssima competência deste governo em qualquer setor. E como é um governo já no terceiro mandato (uma década de poder!) fica muito difícil vir com a safada tática de colocar a culpa no governo anterior, um discurso desonesto e de baixa qualidade técnica que coloca a eterna e saudável disputa entre os partidos acima da responsabilidade na condução do Estado.

Qualquer método que possa medir a qualidade de vida no país e os resultados de um modelo econômico vai sempre colocar este governo em seu devido lugar: um zero. À esquerda ou isolado, mas sempre um zero. Por isso, eu penso que seria melhor para o país que tivéssemos governantes implicando mais com a receita do que com a forma de medir os resultados.

Mesmo com o desmerecimento do uso do PIB será difícil para Dilma arrumar outro indicador para extrair os dados positivos que seu governo tanto precisa. Ela e seu partido podem até aumentar a propaganda e a manipulação política que já é de uso comum e com este artifício conquistar boas vitórias eleitorais. Mas isso não vai alterar a péssima realidade que faz infeliz esse nosso Brasil.
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POR José Pires


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Imagem: Depois de seu governo criar um PIBinho, Dilma não gosta mais do indicador.


Enciclopédia militante

A polêmica em torno da reclamação que o ministro Gilmar Mendes, do STF, vem fazendo sobre o site Wikipédia bem que podia servir para um debate sobre a precariedade da internet brasileira na qualidade de seu conteúdo. Mendes ficou muito bravo com sua biografia publicada no Wikipédia. E com toda a razão. O texto que pretensamente apresenta a vida do ministro é um amontoado de críticas políticas e de ataques à sua atuação como juiz. O texto firma posição contra o ministro ainda antes de sua posse, em 2002, nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.

O que deveria ser um verbete informativo é na verdade um longo artigo de opinião. O Wikipédia se apresenta como uma enciclopédia, mas no caso da biografia de Mendes e em tantas outras que o site publica não é tecnicamente esse o produto que apresentam.

A partir da reclamação do ministro do STF à direção do Wikipédia foi revelado em parte como é feita a edição de perfis no site. Na publicação em português são cerca de 1.500 editores ativos e entre eles os que eles chamam de “eliminadores”, além de um “conselho de arbitragem” que analisa conflitos entre os usuários.

Quando Gilmar Mendes procurou publicar em seu perfil informações com uma visão diferente do amontoado de críticas que lá estavam um dos “eliminadores” acabou sendo identificado. É Chico Venâncio, que se opôs aos textos que o ministro tentou incorporar à sua biografia publicada.

Venâncio tem um blog na internet onde à primeira vista já é possível identificar uma posição governista. Na leitura de seus textos também fica logo clara uma grande dificuldade pessoal com a escrita. Mas a gramática não é o ponto mais problemático das suas intervenções no Wikipédia, apesar de não haver confiabilidade no site também neste aspecto.

O problema são os ataques à uma personalidade pública, o que não é, repito, papel de um site que se apresenta como “enciclopédia”. Acontece isso no perfil de Mendes, onde se vê um amontoado de críticas em tom panfletário, com a mesma parcialidade podendo ser vista nos perfis de outras figuras de destaque da oposição.

Me parece óbvio que o Wikipédia foi aparelhado por uma militância partidária que vem sendo organizada e orientada para ocupar de todas as formas a internet. Muitos fazem essa militãncia como profissionais, inclusive recebendo salário para isso.

O modelo do Wikipédia apresenta brechas perfeitas para esta ocupação. Como o site é aberto para voluntários, no Brasil dificilmente o site alcançaria uma boa qualidade de conteúdo, mesmo que não estivesse em prática esta estratégia de domínio político. Qual é o profissional profissional ou intelectual que pode dispor de tempo para colaborar de graça com um site como este? Escrever com seriedade e ainda mais numa “enciclopédia” é algo custoso. Mas isso não é problema para uma militância que bate cartão para fazer política partidária o tempo todo e não vê no conteúdo da internet nada mais que uma ferramenta para manter o poder em posse de um partido.
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POR José Pires


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Imagem: O Wikipédia vira instrumento da militância partidária.


terça-feira, 10 de julho de 2012


Sindicalismo a serviço do poder

A CUT pode ir às ruas para defender os mensaleiros do PT. A promessa é do novo presidente da central sindical, Vagner Feitas, que disse que “o julgamento não pode ser político”. Freitas foi mais além e afirmou também o seguinte “Não queremos um país desestabilizado por uma disputa político-partidária, entre o bloco A e o bloco B”.

Quando o cinismo é demais ele deve ser apontado, mesmo que seja em pessoas ou entidades com este traço já incorporado à sua forma de agir. Freitas ameaça colocar nas ruas em manifestações políticas a maior central sindical do país e fala em “politização do julgamento” e em “disputa político-partidária”, se referindo a um julgamento que vai ocorrer no Supremo Tribunal Federal. Pode haver maior pressão política sobre a mais alta instância do Poder Judiciário do Brasil?

Mas a CUT já está nas ruas em luta político-partidária desde que foi criada. Um dos espetáculos mais tristes para o nosso sindicalismo tem sido sua atuação nas eleições que interessam ao PT, não só dando apoio ao partido inclusive com o uso da estrutura dos sindicatos, mas também criando problemas para os partidos adversários.

A central costuma agir para interferir até em eleições municipais, colocando até mesmo a sua pauta sindical a serviço do projeto de poder do partido. Se a CUT for mesmo às ruas para defender os mensaleiros será apenas mais um lance da instrumentalização política de seus sindicatos.
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POR José Pires


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Imagem: No sindicalismo a serviço de um partido o logotipo da CUT se junta ao do PT.


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Doutrina burra

Chega a ser maluco que a esquerda não se dê conta da imensa falta de cultura que vem sendo estabelecida entre sua própria militância com os métodos que são usados na divulgação e na análise de assuntos de seu próprio interesse. Com essa forma de pensar e agir terão sempre em volta das ideias que defendem uma massa de ignorantes, gente que vai passar inclusive vergonha quando fora dos círculos partidários for defender qualquer coisa com este ponto de vista de poucos horizontes.

Agora há pouco entrou na caixa do meu correio eletrônico um email de uma entrevista num site de esquerda, onde uma pessoa identificada como “o mais importante ativista dos direitos humanos paraguaio” ataca a deposição do ex-presidente Fernando Lugo. Seu nome é Martin Almada.

Ele é contra a destituição de Fernando Lugo da presidência do Paraguai e até aí tudo está dentro da normalidade de um site desses. É dessa forma parcial que eles levam qualquer assunto. Um site ou um blog de esquerda não traria uma opinião que não fosse totalmente contrária a queda de Lugo.

Na entrevista, Almada faz uma relação da destituição de Lugo com a Operação Condor, um arranjo feito na década de 70 entre as ditaduras da região para perseguir e matar adversários políticos. Ora, mas a cassação foi feita de forma constitucional e sem nenhuma violência. O próprio Lugo confirma isso. Mesmo que o site de esquerda e Almada seja contra sua deposição em que esta relação tão rasa e absolutamente mentirosa ajuda a entender o ocorrido no Paraguai?

E Almada vai adiante na sua particular explicação sobre o que aconteceu em seu país. Ele diz que foi uma “trama muito bem montada” pela direita paraguaia. E junta nesta conspiração uma porção de atores políticos: “E quando digo direita paraguaia, me refiro à oligarquia Vicuna, aos grandes fazendeiros, me refiro aos donos da terra, os plantadores de soja transgênica, me refiro às multinacionais, como a Cargil e a Monsanto, e também aos partidos tradicionais ligados a essas oligarquias”. Ele não livra nem a imprensa. Segundo suas palavras, “os meios de comunicação estavam todos a serviço do golpe”.

Pelo que eles dizem, o único certo nesta crise era Lugo. Não dão nenhum atenção aos desacertos do governante que, pelo que transparece no que eles estão falando, seria a redenção do Paraguai em sua desastrosa história política. Não existe qualquer visão crítica sobre a conduta política de Lugo e muito menos a pessoal. Ele é um político que desmoralizou até a credibilidade da sua função como religioso, pois durante a vida usou os poderes do sacerdócio para se aproximar de mulheres jovens e humildes e seduzi-las, inclusive engravidando uma porção delas. Era um bispo que sempre fez com as mulheres paraguaias o mesmo que qualquer patife.

Tudo bem que sejam contra a queda de Lugo, mas a forma que encontram para defender esta posição terá como resultado a criação de uma militância cada vez mais burra em seu entendimento do mundo. O nosso trabalho (e que trabalheira!) é atuar para que essa idiotice política não se espalhe além de seus círculos políticos.
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POR José Pires


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Imagem: Uma das peças da retórica da doutrina da esquerda brasileira, o ex-presidente Lugo, que no exercício da presidência da República se fantasiava de religioso. Usava blusões que pareciam roupas clericais, mas estava suspenso das suas funções de bispo.


Repassando qualquer coisa na rede

Para que serve a foto de uma criança repassada pela rede social, quando essa imagem não traz informação alguma sobre o que o que de fato ocorreu com ela? É uma das imagens que me caiu na frente hoje. O post fala sobre uma menina e afirma que ela foi "sequestrada" no litoral norte de São Paulo. Mas não traz nenhuma outra informação. Os compartilhamentos já vão além de seis mil. Mas até a foto que publicam não serve pra nada. É de 2005. Ou seja, se o sequestro foi em 2005 já é bem tarde para resolvê-lo pela rede e se o caso aconteceu agora a menina já está bem diferente da foto.

Uso esta situação como exemplo, mas esta tem sido a regra dos mais variados assuntos que aparecem na rede, mesmo em ataques a políticos ou outras questões. Em questões criminais, casos policiais só podem ser resolvidos pela própria polícia e o uso da internet não ajuda em nada se os próprios policiais não estiverem aparelhados e tiverem conhecimento para isso.

Um exemplo de que essas coisas que caem na rede são apenas vozerio sem resultado aconteceu recentemente em Londrina, no Paraná. Uma menina desapareceu e começou um repassamento do caso pelas páginas. Poucos dias depois a criança foi encontrada morta em um vale, há poucos quarteirões de sua casa.

Não era preciso usar internet e nem qualquer outra tecnologia moderna. A solução estava em sair a pé fazendo uma busca intensa pela região onde ela sumiu. E nem para isso a polícia tinha estrutura. E teriam muito menos para organizar e monitorar uma extensão da investigação pelas redes sociais.
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POR José Pires


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Imagem: Um comportamento que vem se tornando muito comum nas redes sociais, o repassamento de posts que não fazem sentido. Para ajudar a resolver um suposto sequestro temos uma foto feita em 2005. E se a criança aparecer terá de ser feito um post para encontrar seus pais.


terça-feira, 3 de julho de 2012


segunda-feira, 2 de julho de 2012

As cidades em segundo plano nas eleições

Nas cidades é que estão os grandes problemas brasileiros e também é delas que deveriam surgir soluções práticas e os encaminhamentos para questões complexas que exigem enfrentamentos de longo prazo. Mas quem é que deixa isso acontecer?

Claro que o ambiente perfeito para um debate aprofundado sobre a pesada carga de problemas das nossas cidades seria a eleição municipal que já começou. Entretanto, a disputa pelas prefeituras e câmaras de vereadores acabou virando um mero instrumento no domínio das máquinas partidárias e na estratégia para a manutenção do poder nas mãos de caciques políticos.

As coligações partidárias não são motivadas pelas necessidades dos municípios. O que determina as alianças são as disputas que virão dentro de dois anos, nas eleições para governador, para deputado estadual e federal e também para o Senado, tendo como centro os benefícios pessoais de que os políticos usufruem em torno da presidência da República e dos governos estaduais.

A eleição municipal é moeda de troca nesse poder que se estabelece acima do interesse das cidades. E um elemento que pesa demais neste mercado político desavergonhado é exatamente aquele que é pago diretamente pelo eleitor e que foi instituído, ao menos em teoria, como instrumento de ampliação da qualidade da democracia: o horário eleitoral.

A eleição municipal é usada hoje em dia para os caciques se perenizarem no poder. Muitos deputados federais e também estaduais se reelegem indefinidamente fazendo o uso do partido na barganha que se estabelece nessa época. E ganhe quem for, na continuidade esses políticos se acertam para a busca de emendas orçamentárias e a divisão do poder político. Os acordos permitem inclusive roubar junto com o adversário.

A condução de um candidato à prefeitura se faz mais pela sua função no fortalecimento posterior desses caciques políticos do que por sua ação na defesa do interesse do município. Em grande parte das cidades do interior do país o prefeito nada mais é que um cabo eleitoral de chefes de partido que detêm poder sobre a partilha do poder em seus estados e no plano federal.

É evidente que o caminho que tomou a eleição municipal não oferece possibilidade política e muito menos técnica para a escolha de cidadãos capacitados para a fiscalização e a administração dos bens públicos. É difícil eleger um bom prefeito ou bons vereadores dessa forma. O própria entrada na disputa é determinada por máquinas partidárias fechadas à renovação e ao empenho pessoal de qualidade.
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POR José Pires


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Imagem: Eleger um bom prefeito ou vereador nas cidades brasileiras é difícil, já que os partidos nem permitem que gente boa participe da disputa em igualdade de condições.