sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Passando a limpo

Não vejo razão nenhuma para ficarem atacando o PSDB por causa do pedido dos tucanos por uma auditoria das urnas. A desconfiança dos eleitores sobre este sistema eletrônico de votação já vem de longe. O que ocorreu é que nesta eleição as suspeitas aumentaram. Na minha opinião, o descrédito está de um jeito que o próprio Tribunal Superior Eleitoral devia ter tido a iniciativa de convocar uma auditoria independente para evitar que a falta de confiança chegue ao ponto de prejudicar a própria ideia de democracia.
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POR José Pires

Mais um partido chegando

O Brasil já tem 32 partidos, um excesso impressionante de siglas num país em que a diversidade de opinião não é tanta assim. Ao contrário, em nosso país o debate político é sempre muito restrito e eleições são definidas geralmente no contra ou a favor. É um voto do tira ou põe, em que raramente pesa a influência de propostas consequentes. E mesmo quando o brasileiro vota num determinado sentido político exposto durante uma campanha, logo aparece uma "Carta aos Brasileiros" ou qualquer outro documento desfazendo tudo o que havia sido prometido e mantendo o país na mesma linha de sempre. E não estou fazendo juízo de valor sobre o que é colocado em prática, apenas apontando os caminhos da política e da economia sempre empurrados da forma convencional.

Mas pode vir mais um partido para se juntar aos 32 já registrados no TSE. É o Novo. Não estou brincando. O nome do novo partido é exatamente este: Partido Novo. Soube de mais essa pela coluna de Rodrigo Constantino, no site da revista Veja. E ele está animado com a criação de mais esta sigla. O título é "Há algo de NOVO no ar… Ou: A energia veio para ficar e agora precisa se mobilizar", sendo esta "energia" de que ele fala o indiscutível vigor oposicionista entre a população revelado na campanha do candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves. E não estou falando no expressivo número de votos, mas no envolvimento espontâneo de parte considerável da população, com uma participação que na minha opinião foi consequência do estilo mais rigoroso da campanha dos tucanos em relação ao governo do PT.

Ficou claro que o crescimento político da oposição se faz pelo confronto com ideias de esquerda que estão cada vez mais implantadas na sociedade brasileira e não só por meio do partido que detém o governo. A máquina pública vem sendo usada para isso, impondo de forma gradativa uma pauta de esquerda por meio de entidades de classe e as instituições do Estado. As universidades também vêm sendo um meio eficiente para isso, especialmente na formação de novos profissionais que já saem formados com uma visão engajada de esquerda.

Até para o fortalecimento da democracia é preciso de partidos sérios que atuem na linha contrária. No entanto, a campanha dos tucanos apenas revelou este sentimento político como um potencial muito vigoroso na sociedade civil e de muito peso especialmente por vir também de setores qualificados da população e alcançar uma quantidade muito grande de pessoas jovens. Esta necessidade foi suprida eleitoralmente pelo PSDB, mas o partido terá que trabalhar muito e reformar-se bastante para incorporar como seu este potencial. O pessoal que pretende fazer o tal do Novo parece ter a consciência desta situação diferente que temos hoje na política brasileira.

Seria o caso de perguntar qual é a razão de não trabalhar esta ideia no próprio PSDB, sem vir com esta novidade até cômica de fazer mais um partido num país com 32 deles. Mas deixa pra lá, pois um questionamento desses com certeza baterá de frente num grupo que pretende criar um partido com um nome desses. O Partido Novo evidentemente é liberal, daí a animação de Constantino, que já começou de forma errada em sua coluna a propagação desta ideia. Fez algo parecido a um release, sem expor com objetividade o que realmente está por detrás dessa novidade. Constantino fez proselitismo em vez de jornalismo, o que nunca contribui para que o leitor compreenda de fato qualquer assunto.

Ele começa pela velha batida de que "o estado, muitas vezes, é o problema, não a solução" e segue o tempo todo com chavões liberais muito simplistas, na base da demonização do Estado e da exaltação da iniciativa privada. Pessoalmente, Constantino é defensor exaltado da venda da Petrobras. É um dos que acreditam que a solução para a ineficiência das estatais é passá-las nos cobres e depois deixar que a liberdade do mercado se incumba do papel que elas tem na nossa economia. Bem, creio que na atualidade esta é uma proposta que deve ser colocada em dúvida até mesmo de um ponto de vista liberal, mesmo que seja só por uma visão estratégica que leve em conta a progressiva carência dos recursos naturais. E um liberal responsável vai no mínimo ponderar que é preciso esperar para ver no que vai dar este desarranjo geopolítico e econômico que acontece atualmente em todo o mundo.

Além do mais, esta visão da iniciativa privada isolada da corrupção que aflige nossas estatais e a ideia do Estado como um estorvo ao crescimento econômico é de difícil convencimento num país subdesenvolvido em que tantas necessidades dependem do governo. O Partido Novo é muito parecido com o DEM, que com ideias semelhantes só tem trazido problemas nas eleições presidenciais em que está sempre atrelado ao PSDB. As dificuldades estratégicas do Partido Novo serão exatamente essas do DEM, que prejudicam bastante qualquer campanha política e que levaram a destruição deste partido. O DEM acabou, deixando até uma piada que não posso evitar: a causa de sua destruição deve ter vindo da virtude das leis de mercado.

É preciso esperar para ver. Porém, como Constantino garante que o Partido Novo será validado ainda este ano, a construção dessa ideia careceu de um debate público amplo. Nada liberal isso, não é mesmo? O partido apareceu do nada, sem ter buscado de forma aberta na sociedade civil os subsídios políticos para sua formação. Mas é sempre assim na política brasileira. Nisso o Partido Novo não mostrou nada de novo.
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POR José Pires

Ainda sob a proteção do PT

Os petistas vivem dizendo que os demais partidos são iguais ao deles. Pode até ser que em certas questões alguns sejam mesmo muito parecidos com o PT, mas não existe nenhum outro que tenha tanto espírito de corpo na defesa de companheiros, mesmo quando flagrados em atitudes nem um pouco éticas. O deputado André Vargas foi até forçado a sair do PT, mas mesmo assim a máquina partidária mantém-se na defesa do ex-petista. Ele pode até conseguir fugir da cassação, em razão da cobertura que o partido de Lula tem dado a ele no processo de cassação que corre na Câmara Federal.

Nesta quarta-feira, o deputado José Mentor (PT-SP) conseguiu mais um adiamento na Comissão de Constituição de Justiça. E o caso foi transferido para a próxima terça-feira. Esta era a quarta tentativa de analisar o recurso de Vargas contra a ação. Mentor argumentou que o parecer negando o recurso “não estava adequado”. É óbvia a intenção de protelar para que não haja mais tempo para que o plenário vote a cassação, mas a política brasileira já tem incorporada como um hábito oficial essas tramoias.

O processo de cassação do deputado petista já está rolando há seis meses no Conselho de Ética da Câmara. Houve até falta de quórum para apreciar o recurso, o que significa simplesmente que os deputados não foram trabalhar, mesmo tendo como serviço esta tarefa importante. O que será que estavam fazendo, não é mesmo?

O pedido de cassação já está aprovado pelo Conselho de Ética desde agosto. Para o colegiado, o deputado do Paraná fazia parte do “contexto de uma imensa rede criminosa especializada na lavagem de dinheiro e na evasão de divisas como o agente responsável por abrir as portas da administração pública”. Não é pouca coisa, mas mesmo assim o PT age para enrolar, com o objetivo de livrar Vargas da cassação.

Por aí, fica evidente a grande dívida do partido com o deputado, que hoje em dia deve ser um dos arquivos vivos mais preciosos da política brasileira, que exige uma atenção especial. Até ter denunciada sua relação com o doleiro Alberto Yousseff, o deputado era um dos políticos mais poderosos do PT. Vargas era do grupo do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. O rápido sucesso de sua carreira sempre foi favorecido pela relação muito próxima entre os dois, tendo sua eleição para deputado facilitada pelo acesso à base eleitoral transferida para ele quando Bernardo virou ministro no primeiro governo de Lula, outra figura de quem Vargas sempre foi muito próximo. Suas relações, sempre foram poderosas, incluem também o ministro Gilberto Carvalho e o mensaleiro José Dirceu. Pode ser um risco deixar um homem desses sentir-se contrariado. Talvez seja por isso que mesmo fora do partido Vargas continua sendo tratado ainda como alguém de casa.
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POR José Pires

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Imagem- O chefe Lula fala e o deputado André Vargas confere uma mensagem no celular: um homem de contatos importantes

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Eleição de Dilma já começa a cobrar juros

Na primeira reunião após a eleição de Dilma Rousseff, o Banco Central elevou os juros de 11% para 11,25% ao ano. Isso significa que era mais uma lorota de Dilma, quando ela dizia na campanha que a inflação está controlada. Não durou uma semana a confiança do eleitorado dela nesta questão. É óbvio que o BC sabe que existe um descontrole. Até nós aqui de fora sabemos disso, pois não é difícil perceber que o governo não está se mexendo para dar um jeito na economia. Você soube de algum bom plano ajuste nas contas? Nem eu. Nos últimos dias eu vi a mesma coisa que todos os brasileiros, que foi a Dilma candidata e seus companheiros acusando todos, a começar por Aécio Neves, que diziam que a coisa está feia.

Temos visto também nos últimos meses que o os companheiros têm trabalhado pouco, tendo se ocupado quase que exclusivamente em falar mal, primeiro de Marina Silva, e depois, no segundo turno, do atacar de forma caluniosa o candidato do PSDB. No último antes da eleição, aliás, a imprensa mostrou que Dilma e seus ministros não pegaram no pesado. Nem apareceram em Brasília. Se você tem por perto aquele amigo que falava de Dilma em tom altamente otimistas e até tirava um sarro dizendo que você não olhava para a parte cheia do copo com água pela metade, pode começar a fazer com ele as cobranças políticas a partir desta alta de juros desta quarta-feira. Temos que reclamar de uma medida neoliberal como esse aumento de juros, não é mesmo? Mas pegue leve. Vá devagar porque daqui por diante será uma cobrança atrás da outra. E a coisa vai piorar bastante quando Dilma receber no ano que vem uma herança maldita produzida por ela mesma mesma.
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POR José Pires

terça-feira, 28 de outubro de 2014


Alarde sem razão de ser

As redes sociais estão se contaminando com uma tática política que consiste em pegar determinado assunto e ficar explorando para tirar algum proveito, seja como ataque ao adversário ou como um autoelogio disfarçado. A jogada é até anterior à invenção da internet, mas agora este instrumento pode fazer um assunto render com rapidez além até do que estava planejado.

Essa conversa sobre preconceito contra nordestinos é um exemplo disso. É um assunto que surgiu de desabafos numa página ou noutra do Facebook depois do resultado da eleição. Veio o contra-ataque e uso político de governistas e daí o assunto rendeu. Estes posts, que deveriam ficar restritos à conversação nos grupos pequenos e isolados em que surgiram, acabam tendo sua divulgação multiplicada em matérias na internet e pelos próprios internautas. Até grandes jornais e sites de muita audiência fazem reportagens em que pegam um post de uma figura que costuma ser lida apenas num grupo de amigos e faz daquilo um assunto nacional.

Se existisse uma onda fenomenal na internet, com milhares de pessoas expressando de fato esta visão errada sobre o resultado da eleição até faria sentido dar tanta atenção a este assunto. Aí daria para levar a sério essa conversa de divisão territorial do país, mas quem sabe não teríamos a vantagem de surgir do Facebook um Lincoln brasileiro nessa história, não é mesmo? Mas do jeito que está, tudo é apenas um equívoco de leitura, no qual a imprensa é em grande parte culpada. Ainda ontem vi uma matéria no site do jornal O Globo sobre uma manifestação pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, que aconteceu em São Paulo. Fui ver a matéria e eram duas ou três dezenas de pessoas, todas muito jovens, com algumas faixas feitas às pressas.

Pois uma coisa dessas vira um assunto nacional, que até pode ser depois debatido durante dias. Bem, se jornalismo é isso, então acho que vou juntar umas pessoas para uma manifestação qualquer e chamar um repórter de uma grande publicação nacional. Já nem estamos mais numa realidade virtual. O clima é mesmo de farsa. E muitas vezes isso ocorre por falta de cuidado profissional nas redações. A imprensa hoje em dia faz alarde até de tuitada de personalidade menor da classe, digamos assim, artística. Dessa irresponsabilidade é que surgem bobagens como este falso clima de divisão entre os brasileiros.

E com essa facilidade de hoje em dia, de qualquer um escrever qualquer coisa e mandar pra frente, ficou muito fácil pegar alguns textos escabrosos e fazer sociologia barata em cima. O problema é que com isso temos pela frente mais uma das confusões que vêm demolindo a cultura brasileira: fica cada vez mais difícil identificar o que de fato interessa às nossas vidas diante de tanta coisa banal que toma uma importância que nada tem a ver com o seu significado real.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Espalhando drogas na internet

Esta eleição me meteu numa situação até engraçada, quando eu me via defendendo o candidato do PSDB dos sórdidos ataques que falavam em consumo de bebida e de cocaína. Isso foi muito engraçado e não só pelo fato do grande líder desses bandos ser um notório cachaceiro, o que percebe-se inclusive em falas suas gravadas em vídeo. Mas muita gente bebe e isso nem é ilegal. E não foi por este vício que sempre me mantive bem afastado do que Lula representa — eu que sou admirador do bom de copo e excelente em tudo o mais Winston Churchill. No entanto, cocaína não é permitida por lei e dá até cadeia.

E aí que as minhas intervenções em defesa do tucano eram mesmo muito engraçadas. Já explico. Eu nunca fumei na minha vida nem cigarro. E obviamente não uso cocaína e sou contra, absolutamente contrário a esta droga perigosíssima. E nisso está o humor negro (epa!) da situação. Era eu escrevendo contra esta absurda acusação e gente que faz o maior cartaz com papos favoráveis à discriminação das drogas sentando o pau no tucano. E algumas dessas figuras que atacavam ou aplaudiam os ataques a Aécio dessa forma preconceituosa e suja não são favoráveis apenas em teoria às drogas, inclusive a cocaína.

Mas é assim mesmo. Para a esquerda as palavras servem apenas como justificativa para seus fins, que sempre são uma droga. O conteúdo para eles não importa. São capazes de sair de uma passeata contra a homofobia e sentar depois à frente de um computador para afirmar em tom de acusação que alguém é viado.
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POR José Pires

Vitoriosos ainda no ataque

Logo que saiu o resultado da eleição dei uma navegada pela internet para sentir o clima entre os apoiadores do PT. Quem sabe não seria possível nos abraçarmos em praça pública e sairmos de mãos dadas para fazer um país melhor, não é mesmo? Não é não. Aquela agressividade dos partidários de Dilma Rousseff durante a eleição até aumentou depois que souberam da vitória. Respeito aos vencidos não é algo que existe no PT. Descer do palanque e ir pro trabalho, nem pensar. É até grotesco, mas neste domingo eles já estavam em campanha por Lula em 2018. E descendo a lenha nos derrotados nesta eleição.

O clima entre os adversários é o de que não existem adversários: eles continuam inimigos. E não estou falando de moleque zoando na internet ou militante maluco cometendo grosserias, que não sou igual petista que na campanha pegava uma ou outra mensagem preconceituosa para acusar todo o conjunto de eleitores do PSDB de anti-nordestinos ou anti-qualquer coisa que desse voto. Fui ler os blogs e sites governistas, dei uma boa conferida no Twitter e no Facebook, mas tudo em páginas de petistas influentes, onde é possível saber dos rumos do novo mandato petista.

O petista que escolhi como exemplo do que vem por aí é o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, figura influente no PT e amigo do ex-presidente Lula e de José Dirceu, o mensaleiro preso por corrupção. Ele é fundador do partido e já esteve ao lado de Lula em episódios importantes do partido, inclusive em situações até muito tristes, como a morte do prefeito petista Celso Daniel, de Santo André.

A mensagem da imagem eu tirei de seu Twitter e nela Greenhalgh antecipa o que virá no segundo mandato de Dilma. A mensagem: “Nossos companheiros Delúbio Soares, José Dirceu e João Paulo Cunha, pela grandeza e sofrimento, são partícipes dessa vitória histórica”. Alguém duvida que o mensaleiro condenado e preso por corrupção José Dirceu ainda será recebido com honras no Palácio do Planalto? Isso só não acontecerá se aparecer no Brasil uma oposição de verdade, séria, rigorosa e consequente. Sem oposição firme, O PT deve avançar em seu projeto político.

Vem mesmo mudança por aí. A limpeza da reputação dos companheiros é parte disso. O experiente advogado petista os trata como mártires e dedica a eles a eleição de Dilma. E são criminosos condenados pela mais alta corte do país. A pesada maquiagem que tentarão fazer na imagem de mensaleiros nem é pelo respeito entre colegas. É que a mudança de visão sobre o criminoso pode eliminar a rejeição popular quando ao crime. A partir daí, abre-se na política um vasto campo para coisas piores do que já foram feitas. E cabe sempre destacar que teremos a nomeação de mais 5 juízes do STF, que podem ser de casa.

Com a vitória, o Twitter de Greenhalgh parecia curva de rio do triunfo petista. Por ali apareceram muitas personalidades importantes na sustentação do poder petista, inclusive figurões do esquema de comunicação que ataca adversários e defende o governo. Sobrou cacetada para todos do lado tucano. Greenhalgh gozou e atacou até o jogador Neymar, ele que deu um apoio público a Aécio da forma mais respeitosa.

Greenhalgh é uma figura bastante representativa do PT. Foi fundador do partido e esteve envolvido no famoso Caso Lubeca, escândalo nacional que estourou durante a administração da prefeita Luiza Erundina, eleita pelo PT na capital paulista em 1988. Greenhalgh era vice-prefeito e comandava a Secretaria de Negócios Jurídicos. Foi demitido por Erundina, que alegou “quebra de confiança”. O advogado petista também agiu para tentar dar ao assassinato de Celso Daniel a conclusão como crime comum. Outro que queria dar fim às investigações foi Gilberto Carvalho, assessor de Lula na época do crime. Existem gravações feitas pela polícia em que aparecem em conversações os dois petistas e também o Sombra, acusado pelo crime e preso. Os três eram amigos pessoais do prefeito petista, que foi torturado antes de ser morto com vários tiros. O conteúdo das gravações é de arrepiar.
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POR José Pires

Do lado de cá

Foi até engraçado ver Dilma Rousseff em seu primeiro discurso como eleita “conclamando” os brasileiros a se unirem, mas ela mesma sem paciência alguma nem com a militância petista presente que interrompia seu discurso com uma animação natural nessas ocasiões. Como não precisa mais ganhar voto, de dentro daquele doce de pessoa da campanha na TV já começa a ressurgir a velha Dilma de sempre. Mais um pouco e era capaz dela mandar os alegres companheiros tomar naquele lugar que agora parece que virou moda mandar a própria presidente da República. Dá até medo de ser feliz perto dessa presidente. Os desportistas vão ter ainda mais oportunidades para falar o palavrão nos próximos quatro anos, se é que o próximo mandato vai durar tanto.

Mas todo mundo sabe que o chamamento à deposição de armas é lorota. Animados como estão com a vitória conquistada pisando nas regras e nas pessoas, é capaz até que sejam estimulados a avançar em seu terrível projeto. E esse apelo à paz funciona no discurso também como uma enganação, pois dá a impressão de que existem dois lados em conflito, quando se sabe que as porradas sempre vieram de cima, dos que detém o poder e incitam sua militância, que já está chegando bastante próxima da violência física. As calúnias, difamações e tantas grosserias usadas como intimidação já estamos recebendo desde o governo Lula. Não foram ânimos exaltados numa eleição, coisa nenhuma. É agressão medida, planejada para tirar de cada cacetada uma vantagem política.

Da minha parte, mantenho-me do lado oposto, numa posição que faço questão que seja clara inclusive para eu não ser confundido com políticos capazes de baixezas lamentáveis e até de deslealdades com seus próprios companheiros. A divisão do país é muito forte, mas não é da forma que se corta uma laranja, com uma metade para cada lado. Não é Norte e Nordeste pra lá e o Sul e Sudeste pra cá. Isso não existe nem na contagem total dos votos, que dá em muito mais da metade do país que não votou no PT. A divisão real me coloca do lado dos que não compactuam com o roubo ao dinheiro público, a demagogia que faz uso da pobreza e o desrespeito à democracia. Tem também o papel vergonhoso do país no exterior, apoiando ditaduras e pedindo às outras nações acenos de paz a terroristas que cortam cabeças de jornalistas. Tem a incompetência até nas menores responsabilidades no governo. São muito fortes os motivos para permanecer neste lado de cá, onde estão os que não gostam de golpes abaixo da cintura e nem de golpes nos cofres públicos. Somos milhões de brasileiros de todos os cantos do Brasil que pensam assim, mas mesmo se existissem apenas três pessoas neste lado, eu estaria nesta trinca e não junto a este esquema indecente de poder que infelizmente terá um novo mandato.
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POR José Pires

domingo, 26 de outubro de 2014

O aceno autoritário do PT

Tomara que o eleitor brasileiro tenha juízo e dê um final neste domingo na situação grave em que o PT meteu o Brasil. Em 12 anos de poder o partido corroeu a moral na política de tal forma, que foi instituída até uma comissão obrigatória nas compras da maior empresa brasileira, a Petrobras. Na prática fizeram a oficialização da corrupção no Brasil. Esta demolição da ética vem também contaminando a cultura brasileira, tornando o nosso país um lugar onde ser honesto e cumpridor das leis vai gradativamente relegando o cidadão ao papel de um tolo que se dá bem na vida passando por cima dos outros.

O clima de mentira, de manipulação, de desrespeito ao próximo foi ao máximo nesta eleição. A candidata do PT à reeleição, Dilma Rousseff, não aceitou de forma alguma a discussão dos problemas criados pelo seu governo, enquanto sua campanha colocava em campo tropas de militantes para apontar no adversário até o defeito de não arrumar a cama na juventude. A calúnia e a difamação foram espalhadas numa campanha odienta que já vinha do primeiro turno, com uma agressividade como nunca se viu em nosso país.

O ápice de tudo foi a censura à revista Veja, publicação que desde o primeiro governo do PT mantém-se numa linha editorial independente que desagrada tanto o Palácio do Planalto, que levou até um líder petista a publicar uma lista negra de jornalistas brasileiros, entre eles colunistas desta publicação apontados publicamente como inimigos do partido. A esquerda que vive falando do macartismo nos Estados Unidos — com as lista negras contra comunistas — quer fazer seu “macartismo” por aqui.

Com a perseguição à Veja, o PT teve seu primeiro ato explícito de censura à imprensa. O partido impediu até que a empresa faça publicidade desta edição, uma prática de qualquer revista. O programa eleitoral do PT atacou Veja e no dia seguinte a sede da editora Abril foi vandalizada por militantes petistas. A reação à absurda intolerância acabou ocorrendo nas ruas, como se vê na imagem. E não venha nenhum militante azucrinador dizer que foram pedidos do partido ao TSE. Todo mundo sabe disso. Mas a perseguição do governo petista é óbvia. Várias publicações governistas atacaram os adversários de Dilma e nenhum deles apelou para atitudes de censor. Folha de S. Paulo e Estadão publicaram o mesmo assunto da Veja, mas só a revista da Abril sofreu tamanha pressão. É dessa forma insidiosa que atitudes arbitrárias começam a se instalar num país. De início, na Venezuela o governo bolivariano de Hugo Chávez foi se impondo usando as leis que já existiam, tendo para isso evidentemente funcionários públicos e juízes favoráveis ao bolivarianismo. Depois, com o tempo o regime foi criando leis próprias e abolindo as que respeitavam a democracia.

Se Dilma for reeleita, o partido poderá compor o Supremo Tribunal Federal da forma que quiser. E aí está um grave perigo. Hoje em dia a nossa mais alta corte já não tem uma composição que permita independência de fato dos interesses do Executivo. O próximo presidente vai nomear 5 novos ministros do Supremo. E o governo do PT já mostrou como eles gostam de fazer essas nomeações.

Para dar uma ideia de da forma dos petistas se relacionarem com a tal da independência entre os poderes, o ministro do TSE, Admar Gonzaga, que concedeu direito de resposta ao PT no site da Veja, foi advogado de campanha do PT. Cabe lembrar também que antes de ser nomeado para o STF, o atual presidente do TSE, Dias Toffoli, trabalhou para o partido e foi advogado de José Dirceu, mensaleiro que está preso por corrupção.

A primeira censura a gente nunca esquece. E quem conviveu com a censura da ditadura militar, como aconteceu comigo e outros jornalistas, sabe como a intolerância acaba com um país. O PT grudou mais esta nódoa na sua história. É o primeiro partido brasileiro depois da ditadura a perseguir e censurar uma publicação. Vamos torcer para que esta triste experiência não avance.
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POR José Pires

sábado, 25 de outubro de 2014

Resposta desqualificada

A melhor questão que veio dos chamados eleitores indecisos no debate da Rede Globo foi de uma economista desempregada, que falou da triste situação criada pela demagogia que o PT instalou na economia brasileira, especialmente no caso dos empregos. O governo petista exalta números que mesmo se fossem verdadeiros escondem uma realidade que está destruindo tecnicamente o país. Os empregos gerados são de baixa qualificação e profissionais mais qualificados estão tendo suas vidas destruídas em vários setores, em todo o país. Eu sei bem disso, porque sou jornalista, uma profissão onde o cenário é de terra arrasada no que toca ao emprego e à qualidade técnica.

A pergunta da eleitora é a mais bem construída, porque não foca o problema apenas na dificuldade material da falta de emprego. Não tenho dúvida de que neste aspecto o drama é de fato muito triste, pois o trabalho tem um peso essencial até na nossa própria sanidade mental. Mas a eleitora falou também na falta de valorização da "experiência de trabalho" e aí é que pesa ainda mais esta questão, criando uma tragédia coletiva para a qual temos cada vez menos tempo para resolver. Sem profissionais qualificados o país se auto-destrói não só na economia, mas na sua própria condição como Nação. É isso mesmo: o Brasil acaba. E sem gente mais antiga no mercado de quem os novos receberão a experiência de cada profissão?

Aécio Neves compreendeu de imediato a questão e também o drama pessoal de quem fez a pergunta. Foi educado, mencionou a capacidade de entendimento da eleitora sobre o assunto (num ponto, ele disse, "a Fundação Getúlio Vargas, que você certamente conhece") e falou sobre a necessidade da criação de empregos qualificados. Mas a qualificação de Aécio para o cargo que se propõe é muito acima, bem além mesmo do que pode fazer Dilma em qualquer área.

Por sinal, a própria candidata do PT é a expressão da quantidade de pessoas sem qualificação que tomaram os postos de comando no Brasil por meio da política. Mesmo em seu partido, que já sofreu desmonte parecido com o que os petistas fizeram depois com o nosso país, ainda tem gente melhor que ela. Mas era necessário uma desqualificada para o cargo. Dilma é a pior pessoa que já apareceu para ocupar o cargo de presidente da República. E o que ela disse à eleitora é a demonstração disso. A candidata do PT foi desrespeitosa, inclusive dando sua resposta daquela forma que ela usa para se dirigir ao outro como se a pessoa fosse tão idiota quanto ela. E quanto ao conteúdo, eu sou da opinião de que Dilma em sua visão de mundo não vai mesmo além disso. Leiam o diálogo, que eu tive a santa paciência de transcrever.
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POR José Pires

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ELEITORA
"Meu nome é Elisabete Maria Costa, tenho 55 anos e sou economista. Sou uma pessoa qualificada profissionalmente, mas pelo fato de estar com 55 anos atualmente me encontro fora do mercado de trabalho formal. Qual é a sua proposta para que pessoas maduras tenham sua experiência de trabalho valorizada e possam manter sua empregabilidade?"

DILMA ROUSSEFF
"Muito boa a sua pergunta. Eu não acho que o Brasil não está gerando emprego. O que eu acho, Elisabete, que seria interessante que você olhasse nesses vários cursos que têm sido oferecidos, inclusive pelo Senai, que são cursos para pessoas que têm a possibilidade de conseguir um salário e um emprego melhor, se você não acha colocação."
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O esperado fiasco de Dilma

É até uma injustiça com Aécio Neves dizer que ele foi melhor que a petista Dilma Rousseff no debate desta sexta-feira, na Rede Globo. O tucano merece melhor comparação. A candidata do PT à reeleição é uma pessoa desqualificada e não é só para debates. Não costumo avaliar políticos apenas pela performance em debate. Não acho que se deva dar um valor absoluto à habilidade com as palavras e na condução dos assuntos. O que importa de fato é o conteúdo e o envolvimento verdadeiro da pessoa com o que é apresentado.

É claro que a habilidade com as palavras é uma ferramenta que acrescenta muito numa carreira política. Falar bem é muito útil em qualquer carreira em que a comunicação se faz bastante no contato pessoal, nas palestras e nos debates. Mas não vejo problema algum que a pessoa não seja um fenômeno de comunicação. E nisso sem dúvida Aécio Neves é muito bom. Neste ponto específico, o candidato do PSDB se destaca entre todos candidatos brasileiros bons de comunicação que já passaram por eleições presidenciais, desde a abertura democrática.

Porém, tal qualidade não seria suficiente para eu aplaudir de pé sua apresentação no debate de ontem, que é o que ele merece de fato e espero que esta aprovação seja expressada também pelas urnas eleitorais neste domingo. Aécio é muito melhor que Dilma, e obviamente não é porque fala melhor que ela. Um desastre do tamanho da petista não serve para essa comparação. Neste campo, Aécio leva até uma desvantagem que atinge todo craque numa competição desequilibrada. Atletas de primeira divisão jogarão muito bem num campeonato de várzea, mas nunca poderão mostrar de fato o que sabem, por causa da falta de exigência dos adversários.

O tucano está entre os melhores candidatos de todas as eleições presidenciais que já aconteceram desde a abertura democrática e não estou falando apenas dos vencedores. Ele se alinha historicamente, par a par, com ótimos candidatos que nem chegaram a passar para um segundo turno eleitoral, políticos como Mario Covas, Leonel Brizola, Ulysses Guimarães, José Serra e o próprio Lula da primeira vitória para a presidência, já que não elenquei essas figuras em razão do meu respeito político. Na capacidade de comunicação, dos que não passaram ao segundo turno coloco também Marina Silva.

Percebe-se de imediato nesta lista a falta de Fernando Collor, mas é que este é um político que apenas “fala bonito”, como diz o povo. Tanto é assim, que a mesma habilidade que serviu para destruir Lula na eleição de 1989 Collor usa hoje em dia para elogiar e defender o governo do PT. O ex-presidente que saiu correndo do Palácio do Planalto, acusado de ladrão, é uma voz sem conteúdo verdadeiro e também não é representativo de nada especificamente, a não ser do que lhe dá uma vantagem imediata.

Neste aspecto Dilma tem muito de Collor. Ela fala muito mal, é verdade. Nunca se viu em eleição presidencial alguma no Brasil tanta precariedade na comunicação direta. E isso porque ela teve treinos exaustivos. Mas o problema maior de Dilma está no conteúdo falso de suas propostas e na ausência de algo decente para falar sobre o que já fez no governo. A corrupção na Petrobras, por exemplo, não exige elaborados discursos. Não precisa falar bonito. Para quem já é presidente da República resume-se primeiro em: “não deixo acontecer o roubo”. É claro que se a petista fosse assim, a estatal brasileira não seria saqueada. Mas na hipótese de que o roubo fosse possível sem que a presidente soubesse, três palavrinhas resolveriam o assunto: “investigo”, “reuno as provas” e “mando para a Justiça”.

Mas é claro que isso não combina com a realidade política do PT. A presença de Dilma como candidata é a expressão mais autêntica do desmonte político feito no partido pelo grupo comandado por Lula e seu companheiro de chefia, José Dirceu, um corrupto que hoje está preso na Papuda. Dilma é um Collor sem habilidade pessoal de comunicação. Mente e tenta se acomodar a qualquer situação. Pode prometer computadores para todos os professores do país, mas se isso não estiver mais na moda oferece as riquezas do pré-sal. Igual a Collor, Dilma também ataca sem nenhum escrúpulo os adversários. Talvez ela nem saiba a diferença entre calúnia e difamação, mas não importa: faz as duas coisas com a cara mais lavada deste mundo. A candidata do PT não tem projeto algum, a não ser o de manter o poder nas mãos de um grupo restrito, do qual é uma patética marionete. Além da falta de habilidade de comunicação de Collor, nisso ela também se diferencia dele. Collor pelo menos era o chefe.
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POR José Pires

A ameaça da censura do PT

Já é muito grave que a candidata Dilma Rousseff tenha tentado censurar uma publicação brasileira, como fez esta semana com a revista Veja, mas é ainda mais lamentável ver jornalistas partidários de sua candidatura defendendo esta agressão à liberdade de expressão. A candidata do PT à reeleição queria censurar também o Facebook. Ela pediu a retirada de links e também a proibição da veiculação de outras publicações de conteúdo similar. Felizmente o pedido da campanha de Dilma foi negado pelo ministro Admar Gonzaga, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Se a Justiça cedesse ao PT este poder de censura, o partido de Lula teria um controle inédito da imprensa, o que não deixa de ser uma antecipação do que eles pretendem ainda impor aos meios de comunicação. O governo do PT tem uma terrível ambição autoritária, que procura mascarar de várias formas, inclusive fingindo que busca um meio legal de impedir o domínio de grandes grupos sobre um conjunto de veículos. Quem é que pode ser contra a criação no Brasil de um ambiente mais democrático nos meios de comunicação? Ninguém, obviamente. Porém, o caminho para isso não deve passar jamais pelo crivo ideológico de um governo.

Analisando tudo o que se publica hoje no país por meio de um conceito essencialmente jornalístico, nenhuma (e eu disse mesmo nenhuma) publicação bancada por este governo ou que tem ligação política com os que gravitam em torno do poder seria aprovada numa análise sobre o respeito básico à verdade e abertura para a opinião divergente. Todos mentem no elogio ao governo e nos ataques aos adversários. Isso sem falar que são porcarias sem nenhuma qualidade de leitura. Por aí é possível perceber qual é o controle que os companheiros querem. É o da informação que não aplaude de forma conivente ou cúmplice tudo o que eles fazem no poder.

Junto com essa obsessão pelo controle da informação e do conhecimento, esta temporada do PT no poder trouxe também esta contraditória categoria do jornalista que pede censura, aplaude o controle da própria profissão e exalta de forma até tola um governo que dá vergonha alheia em quem tem um mínimo de bom senso, além de causar repulsa pela roubalheira e incompetência. É lamentável que a esquerda brasileira tenha descido a um nível tão baixo, com jornalistas aplaudindo a censura e sendo favoráveis ao controle da própria profissão, em desrespeito ao dever ético essencial da defesa da liberdade de expressão de todas as formas.
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POR José Pires

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Estratégia do ódio sem pensar no futuro

É de se perguntar o que é que vai sobrar depois desta campanha do PT à reeleição. O país foi lançado numa confusão que divide os brasileiros de tal jeito, que cabe questionar de que forma Dilma Rousseff pretende governar se for reeleita. O PT nunca teve a responsabilidade de fazer política cuidando para manter um respeito ao debate democrático e evitando uma violência prejudicial à necessidade posterior de governar, seja deles próprios ou do adversário. Essa política petista de terra arrasada vem desde os tempos em que o partido atuava na oposição. Nesses tempos o PT agia na base do quanto pior melhor. Não procuravam manter um relativo equilíbrio nem mesmo quando a democracia brasileira ainda exigia mais cuidados, com o país dando os primeiros passos eleitorais, ainda na insegurança da ditadura militar. Eram tempos em que valia até petista se juntar com a direita para derrubar as grades do Palácio Bandeirantes, como aconteceu em 1983, apenas um mês depois da posse de Franco Montoro no governo paulista, nas primeiras eleições diretas estaduais ainda durante a ditadura militar. Foi a primeira tentativa de Lula alcançar um cargo executivo, quando ficou em quarto lugar, com apenas 9% de votos.

O curioso deste PT de cara furibunda que estamos vendo nesta campanha de 2014 é que ele é muito parecido ao PT de antes de Lula se eleger presidente. O PT fez então sua “Carta aos Brasileiros”, onde davam a impressão de terem tomado juízo, mas foi só na economia. Em política continuaram com a mesma pretensão de terem um país só deles. O melhor termo para o PT que derrubava grades da sede de governo eleito é o de partido de porras-loucas, uma expressão muito usada então. Para o partido de Lula o que valia era extrair de cada conflito algum ganho eleitoral, sem nenhuma responsabilidade com o que podia resultar de negativo para a população ou mesmo ao próprio sistema político. Valia tudo para garantir o crescimento do partido. Se não fosse a habilidade do governador Montoro, o Brasil teria ali o retrocesso político que a direita queria.

Esse método político do tudo ou nada é muito parecido com o que fazem agora, com a diferença de atualmente a agressividade ser usada para evitar que o voto os tire do poder. E hoje a força agressiva do partido é também bastante elevada. O PT tem uma máquina política muito eficiente e com bastante dinheiro, que envolve inclusive o uso de sindicatos e todo tipo de entidade representativa, além de ONGs e empresas com ligação financeira com o governo. Os ataques aos adversários são multiplicados por uma máquina de comunicação que invade todos os cantos da internet, com gente paga para defender o governo e atacar de forma virulenta a candidatura de Aécio Neves, do PSDB.

É barra-pesada, outro termo da época em que os petistas eram porras-loucas de oposição. A cizânia criada nos dias de hoje terá um resultado bem grave para o país, caso o partido receba das urnas seu quarto mandato. O PT devia ter sido mais equilibrado em campanha, até pelo fato do partido já exercer o governo. Como não souberam ter modos mais democráticos, uma vitória trará para o ano que vem uma grande dúvida, junto com a imensidão de problemas abafados até o momento por Dilma, escondendo dados negativos e de arrecadação. A questão é saber como é que o PT vai governar num país dividido e com uma parcela importante dos brasileiros atingidos por uma violência eleitoral que nunca se viu na história brasileira recente. E para piorar, essa situação exigirá no governo um bom senso e equilíbrio que infelizmente nunca fez parte da história desse partido.
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POR José Pires

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Agressões à História

Até que enfim uma instituição reagiu a um dos abusos que o ex-presidente Lula cometeu nesta campanha. Foi a Confederação Israelita do Brasil (Conib), representante da comunidade judaica brasileira, que lançou uma nota repudiando a menção de Lula ao nazismo, quando o petista comparou em um comício as ações do candidato do PSDB, Aécio Neves a "agressões nazistas". A esquerda brasileira costuma usar com leviandade expressões relacionadas ao nazismo, mas desta vez houve pelo menos uma reação exigindo respeito com as palavras.

Para a Conib não se deve "banalizar um episódio trágico para a Humanidade". E é exatamente isso que não só Lula, mas também vários companheiros seus, vêm fazendo já faz bastante tempo. A banalização de episódios e conceitos políticos e históricos é com eles. Elite branca, fascista, nazista, direitista, qualquer palavra serve para ser usada contra os adversários políticos e muitas vezes até contra quem apenas discorda do governo.

A nota da Conib vem em boa hora, para mostrar que nem todos vão permanecer calados com a cultura de ódio que vem sendo estimulada. Já ficou até comum a irresponsabilidade no uso das palavras. Tudo vai perdendo o sentido com essa forma de fazer política que coloca o conteúdo em segundo plano. O que vale é o insulto, independente do peso histórico que pode ter o conceito berrado. É bem-vinda a reação da Conib, mas esta nota faz a gente perceber também a passividade de todas as outras nossas instituições perante esta cultura do ódio que vem se instalando progressivamente no país.

A entidade da comunidade judaica brasileira foi a única que demonstrou com franqueza sua contrariedade com o que vem acontecendo. No texto divulgado é pedido o respeito "à manutenção de padrões que sirvam à causa da democracia, e não ao aprofundamento de divisões em nossa sociedade". E desde o primeiro turno a divisão entre os brasileiros vêm sendo incitada pela campanha governista sem que nenhuma entidade civil se manifeste.

Não se vê nenhuma intervenção exigindo bom senso e equilíbrio, com o exercício da política buscando um entendimento para enfrentarmos os graves problemas que aí estão. Ficaram caladas as mais variadas entidades, como a OAB, as organizações empresariais da indústria e também do comércio, os sindicatos de jornalistas, de arquitetos, da área da engenharia, dos professores do ensino fundamental, das universidades e tantas outras instituições representativas. Seja qual for o resultado desta eleição, a partir desta próxima segunda-feira o Brasil amanhecerá ainda mais dividido pela estratégia da discórdia que vigorou nesta campanha. E em seu choque com a intolerância política que vem assolando a vida brasileira, a sociedade civil não se viu representada por nenhuma entidade.
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POR José Pires

Sujeiras que desconhecem fronteiras

"A proliferação de panfletos pelas ruas de Lima e províncias, com as mais estapafúrdias denúncias, era incomensurável, e Álvaro já não estava mais conseguindo encontrar tempo para desmentir todas as calúnias e, inclusive, para ler aquelas dezenas ou centenas de folhas e papeluchos que entraram na campanha de intoxicação da opinião pública (...). Álvaro selecionava algumas pérolas daquela proliferante esterqueira, que, em nossas reuniões matutinas, comentávamos, ironizando às vezes sobre minha angelical pretensão de fazer uma campanha de ideias. Uma versava sobre o fato de eu ser viciado em drogas; outra me mostrava rodeado de mulheres nuas, numa montagem de uma entrevista que a Playboy fizera comigo, e se perguntava: "Será que por isso que ele é ateu?".

O trecho é retirado de "Peixe na água", livro de Mario Vargas Llosa sobre sua campanha para presidente do Peru em 1990. É muito parecido com o que o PT vem fazendo com Aécio Neves, não é mesmo? O escritor peruano perdeu a eleição para Alberto Fujimori, que dois anos depois da vitória fechou o Congresso Nacional e o Poder Judiciário e com o respaldo das Forças Armadas implantou uma ditadura no país, que lançou o Peru numa década trágica. O relato de Vargas Llosa traz em detalhes toda sujeira que houve na campanha para derrubar sua candidatura e colocar no poder o então desconhecido Fujimori. É grande a semelhança com o que o PT vem fazendo desde o primeiro turno, até pelo fato do escritor peruano ter levado ao eleitor um projeto liberal e Fujimori ter feito uma campanha com um populismo muito parecido ao de Dilma Rousseff.

No caso peruano não faltou nem um governo populista no poder, que fez um tremendo uso da máquina pública e do jogo sujo. O governo era de Alan García, que havia arruinado a economia peruana e não queria de forma alguma ver colocado em prática as reformas liberais prometidas por Vargas Llosa. Se tivesse uma Petrobras no Peru, com certeza, García e Fujimori fariam as mesmas acusações falsas de privatização feitas pelo PT. Um Bolsa Família peruano seria usado da mesma maneira que vem sendo feito pela candidata petista, tanto para o ataque ao adversário como para ganhar o voto dos mais pobres por meio do terror eleitoral. E uma Marina Silva peruana sofreria também as mesmas calúnias.

É tudo muito parecido, com o mesmo objetivo de perpetuação no poder e o uso do Estado para manipular a população por meio do populismo, mantendo o comando político do país nas mãos de um grupo restrito, que vai barganhando sua sustentação com privilégios e o dinheiro que sai dos cofres públicos. O livro de Vargas Llosa é de uma leitura muitas vezes estarrecedora, pelo alto grau de desmando e desrespeito com a democracia. Sua candidatura havia sido uma esperança do Peru se livrar do populismo desastroso de Alan García, mas a derrota para Fujimori lançou o país numa era ainda pior. E até hoje, passados quase quinze anos, o Peru ainda não se restabeleceu do desenrolar atroz do enredo que o escritor colheu da realidade diária de sua campanha. Tomara que no caso brasileiro o leitor dê neste domingo um belo ponto final nesta história até agora, para que os brasileiros possam começar a fazer um país melhor, em páginas mais limpas.
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POR José Pires

sábado, 18 de outubro de 2014

Nas mãos do marqueteiro

O PT perdeu-se tanto nos esquemas marqueteiros que vem cometendo desatinos que até políticos menos experientes sabem que é preciso evitar. É claro que não estou falando da própria candidata, que é tão desqualificada em tantos assuntos que acho que, se for honesto, até um petista se diminui defendendo uma figura inexpressiva dessas num partido pelo qual passou tanta gente brilhante. Acontece que a cúpula partidária foi pouco a pouco destruindo os bons quadros do partido. O que ficou no PT são paus mandados dos articuladores do grupo restrito que hoje dá as ordens. Mas apesar de agora o padrão moral ser bem baixo, eles não deixam de ser muito experientes, com décadas de política nas costas.

Mas estão todos presos a um marqueteiro, o que também mostra que perderam a mão. Todo marqueteiro só é um gênio quando tudo o mais vai bem. Basta dar uma olhada nesta eleição e observar o estrago que foi a campanha de Paulo Skaf comandada por Duda Mendonça, ele mesmo, o marqueteiro que dizem que foi um gênio na primeira vitória de Lula. Pois a campanha de Skaf para o governo paulista foi um fiasco. Mas o Duda Mendonça piorou? Nada disso, sua condição profissional é da mesma qualidade e com certeza ele acrescentou ao seu conhecimento técnico muita coisa nova. Mas acontece que tudo o mais não foi bem na campanha de Skaf, então o Duda Mendonça não foi um gênio.

Está acontecendo algo parecido na campanha de Dilma e isso dá pra ver nos debates, quando no intervalo o marqueteiro João Santana corre até a candidata para dar instruções. É muita confiança num publicitário, não é mesmo? O PT não aprendeu essa: quando as coisas não vão bem, de forma alguma o marqueteiro deve ser tratado como um gênio. O tempo encurtou demais, mas ainda dá para aprender um pouco observando o candidato Aécio Neves nos mesmos debates em que Dilma dá vexame. Você sabe quem é o marqueteiro do Aécio? Pouca gente sabe. Não vou falar para não estragar essa excelente qualidade do marqueteiro do tucano, que é também um sinal de capacidade política no entorno do candidato. Quando o marqueteiro de uma campanha é praticamente desconhecido, isso é um sinal de que por lá tem gente fazendo política, uma ferramenta que nenhum marqueteiro domina.

Existe uma regra básica em qualquer debate, mesmo que seja na disputa da associação de um bairro chinfrim, que é a de jamais trazer uma questão que pode ser usada pelo adversário. Dessa forma, quem tem um irmão em cargo comissionado de prefeitura de um colega antigo deve evitar o tema nepotismo. Teste de bafômetro também é um tema perigoso se no seu partido existe um famoso cachaceiro. Muito cuidado também para falar de mulher, se a esposa do chefão do seu partido acabou de passar por uma humilhação pública com a descoberta das falcatruas de uma amante em um alto cargo dado por ele. Vou ficar só nesses exemplos, mas a abertura de espaços pro adversário pode ser vista em quase todas as questões que Dilma trouxe no último debate. Questionamentos muito pesados — como o do bafômetro, que já citei — exigem também uma avaliação sobre a personalidade do adversário. O efeito de um bom contra-ataque é sempre relativo e às vezes superior ao tamanho da pancada que propiciou a reação.

A gente sabe que a presidente Dilma está cercada de homens covardes, sem a dignidade inclusive profissional de expor com franqueza suas opiniões. Então, antes de um marqueteiro explorar a agressiva personalidade da candidata cabe analisar com prudência se o adversário é também um banana. E deixo bem claro que não estou fazendo do marqueteiro do PT um bode expiatório do desastre que vem sendo as atuações de Dilma. É uma questão de habilidades próprias, que um bom político adquire com a experiência e raramente um marqueteiro consegue ter, até porque não é sua função. Todo marqueteiro tem sempre uma ideia genial para resolver um problema, isso é função deles. Um jingle bacana, mudança nos cabelos, uma olhada esperta para a câmera, tudo isso e um pouco mais são coisas importantes numa campanha. Mas nada dessas criações funciona bem se não tiver em volta gente fazendo política e atuando em conjunto com que o marqueteiro faz. E às vezes é preciso até, com todo o respeito, mandá-lo enfiar uma ou outra ideia genial naquele lugar. O lixo, é claro. Me parece que é isso que está faltando em torno de Dilma: política. Ah, e não adianta chamar o Lula, viu? Ele também virou marqueteiro.
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POR José Pires