terça-feira, 28 de março de 2023


 

Lula contra Sergio Moro, no deboche ao ataque do PCC: a desumanidade que desmascara a armação da propaganda

Não faz sentido ter surpresa com a reação estúpida de Lula em relação ao plano do PCC de sequestrar e matar o senador Sergio Moro, um plano criminoso que pretendia atingir também outras autoridades brasileiras. Isto é o Lula sendo Lula, o que é óbvio que tem piorado com o passar dos anos. Cabe apontar também as graves consequências deste ataque, caso o plano da facção criminosa tivesse tido sucesso. Seria trágico em todos os sentidos, com um impacto que poderia atingir a própria democracia brasileira.


Não é difícil compreender a gravidade deste acontecimento, independente do que se possa pensar sobre Moro ou qualquer outra pessoa que fosse atingida pelos criminosos. Ao contrário do que parte da imprensa parece querer fazer seus leitores pensarem, na sua função de juiz, Moro teve embates muito sérios com o crime organizado. Já era alvo de chefões do crime tanto do Brasil como de países estrangeiros.


Não é difícil imaginar o desastroso efeito de um atentado como o que estava sendo planejado. O crime político lançaria o país em um caos difícil de administrar. A condição pessoal de cada brasileiro estaria fragilizada. Se um ex-juiz federal e senador da República pode ser atingido dessa forma, o que pode acontecer com qualquer um de nós, caso um chefão do PCC ou de qualquer outra facção não goste de algo que tenhamos falado em uma conversa pessoal ou escrito nas redes sociais?


O Brasil esteve a um passo da instalação do terror na vida nacional, mas alguém acha que Lula tem sensibilidade para compreender uma questão dessa magnitude? Até não seria difícil que o chefão do PT avaliasse como promissora do ponto de vista político a confusão em que passaríamos a viver. Acabaria a cobrança, por exemplo, do tal do “arcabouço fiscal”.


Quando ele riu da notícia das ameaças criminosas, dizendo que achava que tudo era uma “armação do Moro”, procurava simplesmente criar um clima político contrário a um adversário. O dramático cenário em torno desse crime nem passou por sua cabeça.


Não está entre suas preocupações o compromisso com as obrigações que lhe confere o cargo de presidente da República, que evidentemente impõe a necessidade de agir de forma apartidária sobre acontecimentos que atingem a segurança de qualquer brasileiro, independente do alvo dos criminosos ser alguém que o tenha mandado para a cadeia — na minha opinião, com toda razão e as provas dos delitos.


Moro fez um questionamento oportuno quando soube da acusação injuriosa do presidente de que o atentado do PCC era uma “armação”. “O senhor tem decência?”, perguntou o ex-juiz federal e atual senador. Era visível sua emoção ao fazer a pergunta. O plano do PCC era de sequestrar toda sua família, a esposa Roseane e seus dois filhos. Já estavam preparados pelos bandidos os locais para manter os sequestrados.


A pergunta, porém, não tem o poder de atingir a consciência de um sujeito como Lula. A desumanidade do chefão do PT tem uma longa linha do tempo que atravessa sua vida pessoal e se alarga nas traições e abandonos de companheiros e de compromissos durante a carreira política.


Um dessas traições é a destruição do projeto do PT como um condutor de um socialismo democrático, com a criação de verdadeiras políticas públicas de igualdade e um tratamento honesto com o dinheiro público. Na mão de Lula, o PT virou um partido de caciques que só pensam em benefícios próprios, até mesmo nas patéticas nomeações meramente para ficar com bons salários e outros ganhos, de petistas e aliados de espinhas maleáveis.


O sociólogo Chico de Oliveira, fundador do PT que morreu em 2019 rompido com Lula e estava fora do partido desde 2003, foi quem deu uma definição perfeita de seu antigo parceiro da construção do socialismo, sobre a relação do líder petista, na sua trajetória de poder que foi atropelando os projetos de melhor qualidade do partido e fazendo do PT uma sigla sem nenhuma diferença com as demais, com a companheirada se refestelando com a vida fácil e o dinheiro que a política brasileira oferece. “O Lula não tem caráter”, disse o sociólogo. É a palavra de alguém que o conheceu de perto e inclusive foi um dos responsáveis pela sua ascensão.


A asneira da acusação de “armação” de Moro, quanto falava do plano do PCC, veio depois da outra asneira, na sua confissão de que que durante os anos de cadeia por corrupção pensava todos os dias em vingar-se do então juiz. É óbvio que continua alimentando essa vingança. Também não duvido que, havendo um descuido da sociedade brasileira, ele seja capaz de usar os instrumentos da República para atingir o inimigo que não tira da cabeça.


Dessas suas asneiras, no entanto, veio a compreensão coletiva do que ele é capaz. Ao dar risada de um homem ameaçado de morte pelo crime organizado, com a sua ironia grosseira atingindo até mesmo a esposa e os filhos de Moro, o chefão do PT deixou cair a máscara de propaganda do velhote boa-praça. Os insultos de Lula atingiram também o promotor Lincoln Gakiya, que desvendou o plano do PCC e também é marcado pela facção criminosa para morrer, além de ser uma grave ofensa ao Ministério Público e ao trabalho da Polícia Federal.


Na verdade, a grosseria de Lula atinge aos brasileiros na sua totalidade, pois afinal estamos todos cercados pelo crime. Mas como eu já disse, seria ingenuidade acreditar que isso penetre a consciência de Lula. Sua desumanidade é blindada contra bons sentimentos. Vou fechar com um fato exemplar da sua frieza. Um dos acontecimentos mais trágicos da história do PT foi o assassinato de Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT, prefeito de Campinas, assassinado em setembro de 2001.


Na opinião da víuva do prefeito petista, Roseana Morais Garcia, seu marido havia sido assassinado por denunciar superfaturamento de obras e licitações públicas, que teria sido feita com "cartas marcadas". Em depoimento no Senado, ela chegou a citar a licitação para construção do metrô de superfície de Campinas, cotado no valor de US$ 80 milhões e que jamais entrou em funcionamento.


Nessa época, Lula ainda encenava o papel de político honesto e compromissado com valores políticos de alta qualidade. Durante a campanha para presidente, de passagem por Campinas, ele chegou a afirmar que sua primeira medida, se eleito, seria reabrir o caso Toninho do PT.


Na cerimônia de posse no primeiro mandato, ainda houve uma uma cena emocionada, quando o presidente eleito avistou a viúva de Toninho do PT entre a multidão que tomava o salão do Palácio do Planalto, em Brasília. Ordenou então aos seguranças que abrissem o cordão de isolamento: "Abram! Quero abraçar esta mulher aqui". Foi a última vez que Roseana Morais Garcia viu Lula. Ele nunca recebeu a viúva de seu companheiro de partido. E a morte do marido dela ficou na mesma, sem o devido esclarecimento.

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Por José Pires

terça-feira, 21 de março de 2023

Lula e seu governo do vai-não-vai

Com o PT completando 70 dias no governo, uma pergunta une os eleitores que votaram contra ou a favor da volta de Lula ao poder — ou ao local do crime, como falava seu vice Geraldo Alckmin. Já vamos para o final dos 100 dias, que no Brasil é um costume político reservar como um período de espera dos passos fundamentais de um governo novo. Mas com a crise atual, os problemas exigem pressa. Da parte de seus eleitores como também da oposição, agora nós temos um posicionamento diferente, numa pergunta que une a todos: quando afinal Lula vai começar a governar?


Até aqui o que se vê é um festival de cabeçadas, com coisas até muito engraçadas, como a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, atuando como se fosse da oposição, com a suspeita inclusive de ter o plano de derrubar o companheiro Fernando Haddad, que se vê claramente que ela não queria no Ministério da Fazenda. Pode-se assistir também ao ministro da Previdência governando por conta própria, ele que no primeiro turno da eleição era parceiro de Ciro Gomes, que dizia as piores coisas de Lula, alertando até do desastre que seria mais um então provável governo do PT.


E aí estão juntos Luppi e o perigosíssimo Lula, mas, enfim, a política brasileira é assim. E Luppi já vem mostrando serviço. Diga-se a seu favor que é bem no estilo de Ciro Gomes. Nos primeiros dias no Ministério da Previdência, ele apontou a necessidade de rever a reforma da Previdência. Mas não parou aí. E na semana passada, provou que não lhe falta “vontade política”, como a esquerda costuma dizer. Veio com a redução do teto da taxa de juros cobrada em empréstimos consignados de beneficiários do INSS.


De uma hora pra outra, os juros caíram de 2,14% para 1,70% ao mês. Talvez Luppi tenha ficado animado pelas teorias econômicas de seu chefe Lula, que vinha afirmando que a bonança econômica e produtiva depende basicamente de uma canetada mais generosa do presidente do Banco Central. Porém, aqui tivemos um efeito econômico que pode ser bem definido pelo famoso paradigma do craque Garrincha: faltou combinar com quem concede o crédito. De imediato, os bancos fecharam a linha de crédito consignado, medida acompanhada até mesmo por instituições públicas, como o Banco do Brasil e a Caixa.


Então o povo tomou uma rápida lição de macroeconomia, de forma prática e eficaz, o que acaba sendo de utilidade como demonstração das bobagens que Lula anda falando sobre economia, coisa que do mesmo modo que o presidente anterior, Jair Bolsonaro, ele desconhece em profundidade, porém sem a sinceridade do outro, que nunca escondeu essa ignorância.


É possível se alongar no relato dos enganos em que Lula se meteu até agora. Por exemplo, o que falar de um presidente que vê a militância bolsonarista chegando em Brasília em ônibus lotados e sai de viagem deixando o palácio de governo sem nenhuma proteção? É uma enorme quantidade de trapalhadas, algumas até muito suspeitas, como essa do palácio liberado aos vândalos.


Mas eu comentava sobre os 70 dias de governo. Bem, cabe lembrar que o PT teve também um governo de transição que começou no início de novembro do ano passado. Com mais de 900 integrantes, foi um recorde histórico, além de que a imprensa e o próprio PT concederam um prestígio também inédito aos nomes anunciados para uma tarefa, que até então tinha a função ordinária de saber a quantas andava a máquina administrativa.


E o PT, como todos sabem, esteve durante três mandatos no governo federal. Isso não não faz muito tempo, de modo que aumenta a obrigação do conhecimento dos problemas nacionais, até porque, no poder, o partido de Lula contribuiu até com certa animação para piorar o que já estava desagradável e até criar algumas complicações novas.


Os petistas amargam uma herança construída por eles mesmos, que agora vem atrapalhando a antiga tática de colocar a culpa nos outros. Mesmo sucedendo a um governo péssimo como o de Bolsonaro, não existe nenhum problema agravado pelo bolsonarismo nos últimos quatro anos que não tenha origem nos doze anos do PT no poder.


A esta radiografia do histórico desse partido deve ser acrescentada a sua interação com instituições importantes do país, no meio acadêmico com todo o aparelhamento político nas universidades que interfere até na cabeça de quem sai com o diploma, nos sindicatos, igualmente na imprensa, nas entidades privadas e claro que também nas organizações políticas das cidades e do campo, essas mais para fustigar adversários e fazer o elogio do PT por meio da bagunça e da violência. Tudo isso deveria servir para um acompanhamento sobre os problemas brasileiros e o encontro de soluções que possam ser colocadas em prática.


É toda uma teia de relacionamentos e influências que não permite alegar desconhecimento sobre o que se passa na vida nacional. Então cadê os planos de ação? De um partido como esse, o esperado era que já tivessem à mão ao menos o controle sobre os graves problemas do país. Qualquer reação de surpresa não passa de encenação, no engodo para afastar a atenção sobre a responsabilidade histórica do próprio PT e para evitar que a opinião pública faça a cobrança de ações efetivas com o ritmo em consonância com a urgência dos problemas.


Um partido com esta larga experiência tinha a obrigação de ter para aplicação imediata medidas econômicas eficazes para a crise braba que aí está e que tende a piorar. O que ocorre, no entanto, é a correria de Haddad, de um lado para o outro, na tentativa de conquistar a aprovação de Lula e até da Casa Civil — na mão do ex-governador Rui Costa, que da Bahia, onde o PT está no poder há quase vinte anos, trouxe como realização de destaque a nomeação de sua mulher no Tribunal de Contas do estado.


Para um comparativo de competências, lembro que Itamar Franco assumiu o governo em 29 de dezembro de 1992, depois da queda de Fernando Collor. Virou presidente com o país numa situação muito mais complicada, na política e na economia. O estrago era geral, com o poder civil inclusive ameaçado. Não tinha experiência no governo federal, nem era de um grupo político com esta bagagem. Em julho de 1994 o país já tinha uma nova moeda, com o Plano Real em vigor.


Ah, sim: os economistas do Real estão ainda por aí, obviamente mais maduros. À esquerda deles, do ponto de vista da teoria econômica, deve existir também economistas capazes ou pelo menos a esquerda deveria ter gente assim à disposição. E na sociedade brasileira a destruição cultural ainda não é tanta que não permita encontrar muita gente com ideias de qualidade neste e noutros campos. Ora, mas aí o conceito de “frente ampla” teria de ser verdadeiro e não apenas propaganda. A férrea hegemonia petista jamais permitiria algo assim.


Mas, como dizem as notícias, o arcabouço fiscal vem aí. Só não se sabe quando. O que já está certo, pelo modo que a coisa vem sendo tocada, é que quando chegar já não terá o impacto de influenciar formas mais responsáveis de administrar a coisa pública pelo país afora. Nesta toada, diga-se também, Haddad encaixa-se no governo e na sociedade com sua credibilidade ainda menor do que já era quando foi anunciado por Lula.


Ninguém se engana mais. É até patético assistir a Lula e seu partido tentando esconder que não sabem o que fazer. No terceiro governo de Lula, o quinto do PT, o que se vê é que nesse tempo todo não tiveram o trabalho sequer de avaliar os próprios erros. Parecem dispostos a repetir o que comprovadamente não deu certo. Isso pode ser tomado como mera teimosia, que não é exatamente o diagnóstico sobre um comportamento que tem como destino o abismo. O que temos no poder é um método, uma consciência autoritária e inamovível que não permite sequer a confrontação de hipóteses. O que nos salva do pior é que, pelo menos até agora, eles nunca conseguiram os meios que obriguem o país a se sujeitar totalmente aos seus planos.

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Por José Pires

terça-feira, 14 de março de 2023

As meninas debochadas de Bauru e o cancelamento do debate público sério e responsável

Por estes dias corre pela internet um vídeo que serve como exemplo perfeito da consequência de uma metodologia jornalística sobre vários temas sérios da atualidade, que envolve meios de tornar a vida ainda mais chata e também de complicá-la de uma forma que os temas em discussão pioram, ao invés de serem esclarecidos. Como este acontecimento traz algumas variáveis causadoras do próprio problema, achei sua aparição até interessante. Estou falando do vídeo postado por três jovens de uma faculdade da cidade de Bauru, em que comentam sobre uma colega de curso mais velha, que tem 44 anos, mas que para elas já deveria “estar aposentada” e não estudando.


É claro que depois do vídeo espalhar-se começou a lacração e o cancelamento das moças na internet. O que é mais engraçado nessas situações é como surge tanta gente virtuosa, sempre com muita fúria. É no cacete que procuram impor a tolerância. Duvido que exista outro país no mundo com tanta gente bacana como no Brasil, todos de coração aberto, prontos para acender a fogueira. Agora, com as bobagens das moças, a atenção dessa gente boa é com os mais velhos, o que para mim é ainda mais preocupante. Este é o meu “lugar de fala”, como se costuma dizer. Vai que queiram me salvar. Aí é que estarei mesmo lascado.


Mas aqui começa o estudo de metalinguagem. Com o caso envolvendo apenas mulheres, o foco da lacração é o do “etarismo” ou “velhofobia”, que sem trocadilhos, para mim é uma novidade em fobia. O curioso — aqui, com mais metalinguagem — é que nesta situação eu entro como vítima.


Mas, se a agravada fosse negra? Ora, em vez de preocupados com os mais velhos, estaríamos agora sendo obrigados a tratar do “racismo estrutural”, tendo como base tolices ditas por quase crianças. E se fossem três rapazes a debochar de uma colega, o vozerio descalibrado na imprensa e nas redes sociais estaria destacando o “machismo”. Aí, meu velho, eu estaria envolvido em um conceito que já está decidido como algo “estrutural”. Neste caso, meu lugar de fala seria a fogueira. É o que acontece com todo homem, mesmo os que dedicaram a vida aos direitos da mulher, que, modestamente, é uma luta que tem contado com o meu esforço desde os tempos em que isso era bem mais difícil do que hoje em dia.


Mas o tema, vejam só, é uma “velha” de quarenta anos. Que coisa: com essas garotas, o bom e velho Sócrates teria de beber cicuta algumas décadas antes. O vídeo delas debochando da colega mais velha é bem bobinho, como não podia deixar de ser uma conversa de corredor de pessoas desinformadas sobre o que estão falando. Nesta questão do “etarismo”, o problema no Brasil é exatamente o contrário do que elas comentam. Tecnicamente o país não avança e até anda para trás exatamente porque pessoas mais velhas foram tiradas do mercado de trabalho em razão meramente das empresas lucrarem mais e obterem mais controle sobre os profissionais.


Entram os mais jovens com salários mais baixos e menos poder sobre sua profissão, saem os mais velhos que, puxa vida, como dizem os empresários, complicam demais o trabalho e ganham — ou ganhavam — salários que trazem custos que desequilibram nossa economia. É evidente que do ponto de vista tecnológico este raciocínio tem um caráter destrutivo. A desqualificação da mão de obra leva a uma porção de fatores negativos, afetando a qualidade industrial e das empresas.


Mas como explicar isso para um empresariado que tem mais ou menos a compreensão do mundo dessas jovens tolinhas? Nossa classe dirigente é aquela que vive falando do sucesso da Coreia do Sul, enquanto vai atochando o ferro em seus quadros profissionais.


No deboche com a quarentona — quase escrevo “balzaquiana”, mas quem iria entender? —, elas erram inclusive a faixa etária em que ocorre esta exclusão do mercado de trabalho. Não é mais depois dos quarenta. Atualmente a troca já é feita na faixa dos trinta ou menos. Já faz tempo que estagiário era alguém que entrava para adquirir experiência com profissionais mais velhos. Agora o “estagiário” substitui o profissional.


O vídeo foi alçado ao debate nacional, da forma que a imprensa vem fazendo há algum tempo. Pega-se um mal entendido qualquer, seja no Twitter, no Whatsapp, Tik Tok, ou qualquer outra rede social, para fazer do caso uma pauta cuja única evidência é uma conversa fiada que poderia ter sido resolvida simplesmente mandando as alunas para explicarem-se na diretoria da escola. Quando o mundo era adulto, este era o lugar de fala de pirralhas como essas. Com um pito, como se dizia naquela época, liquidava-se o assunto sem a necessidade de discutir com o Brasil inteiro.


É um modo novo de fazer jornalismo, nesta novidade trazida pela internet: cria-se uma debate vazio, com ares de escândalo, envolvendo milhões de brasileiros em um debate vazio, que na maioria das vezes serve mais para piorar a situação, sem que seja possível sequer encaixar um maior esclarecimento sobre o tema criado artificialmente — neste caso, como já falei, como “etarismo”, mas que poderia ser o machismo ou o racismo, até do transexualismo, dependendo da categorização dos envolvidos na encrenca. O tema da lacração pode variar. A leviandade é sempre igual.


Neste jornalismo moderno, uma fofoca de corredor numa faculdade do interior tem uma abrangência enorme como pauta, avançando em tudo que afeta socialmente as nossas vidas, sempre desse jeitão em que o clima de escândalo vale mais que o debate criterioso.


Dessa forma, é evidente que serve muito pouco para desenvolver a consciência sobre graves questões atuais, mas se o assunto traz audiência quem é que se preocupa com isso? Até agora o que esta metodologia de lacração e cancelamento tem alcançado é a banalização de questões muito sérias da atualidade, na maioria das vezes servindo mais para estabelecer uma confusão, que em vez de descomplicar e apontar caminhos para enfrentar os problemas pode até piorar o que já não está fácil de suportar.

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Por José Pires