sábado, 30 de julho de 2011

Desmentido

Cada coisa que aparece na nossa frente! Como a internet brasileira é um depositório de superficialidades, a gente procura se esquivar da maioria delas, tarefa bem difícil pois haja paciência para encontrar trigo entre tanto joio.

Agora foi a revista Playboy, que vive atrás de um furo para azeitar suas vendas. Sua última edição trouxe uma declaração da cantora Sandy dizendo que "é possível ter prazer anal".

A declaração saiu nesses dias, mas a Sandy já voltou atrás. Faz todo o sentido.
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POR José Pires

Base aliada

Para o pessoal não ficar dizendo que só critico, vou dar um conselho para o governo nessa crise criada com a gatunagem do PR. Por falar nisso, esse é o partido do vice do Lula, o José Alencar, não? Isso, aquele que foi enterrado como santo.

Mas vamos ao conselho para Dilma Rousseff. Ela deveria maneirar na limeza ética, senão vai afetar com certeza a governabilidade.
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POR José Pires

quinta-feira, 28 de julho de 2011

terça-feira, 26 de julho de 2011

Um lulice de Dilma sobre o Chile

Dilma Roussef segue impávida na linha que marqueteiros a convenceram a seguir. É bem verdade que segue impávida porque a imprensa aceita a farsa da imagem da presidente que assume uma atitude crítica frente à corrupção, de forma diferente de Lula. O destemor também é em razão da falta de uma oposição que lhe puxe as orelhas com rigor.

Mas, enfim, é o que Dilma faz na presidência da República, onde ela se diz espantada de estar cercada de corruptos. E se ela descobriu só agora que está no meio de uma imensa rede de corrupção, então temos mesmo que crer que é uma dos idiotas mencionados por seu ministro da Defesa, Nelson Jobim, em festa de tucanos.

Ontem, seguindo a receita marqueteira, ela disse que "o Brasil ainda tem 'um Chile' de miseráveis". A frase é daquelas que com certeza saiu de um brainstorm em reunião de publicitários. Segundo ela, embora o Brasil tenha conseguido tirar "uma Argentina da miséria" (40 milhões de pessoas), ainda resta "um Chile de miseráveis" (16 milhões).

Chega a ser engraçado. A idéia evidente com esse tipo de conversa é diferenciá-la do Lula. Mas os marqueteiros colocam em sua boca uma frase que lembram as bobajadas que Lula dizia quando era presidente, suas famosas lulices que ele continua soltando mesmo depois de deixar o cargo.

É nessas horas que argentinos e chilenos devem se perguntar o que é que eles tem a ver com o babado e as tretas e mutretas dos petistas no Brasil. Nada, é claro. É só uma frase de efeito construída por marqueteiros. E marqueteiro algum se preocuparia com as consequências externas de suas criações, desde que eles tenham o efeito central perseguido.

O problema é que Dilma não é mais uma candidata. É presidente da República, uma outra dimensão em que as palavras adquirem peso bem diferente do que quando são ditas em palanque. Podem colocar mais esta besteira na balança do mal-estar criado por petistas com países amigos. Mas por que uma pessoa vai se preocupar com Argentina e Chile, sendo de um partido que estragou até as boas relações históricas que sempre tivemos com a Itália só para abrigar aqui um criminoso, que foi o que os petistas fizeram com Cesare Batistti?

Com a estranha citação do Chile — não seria mais simples dizer simplesmente o número de miseráveis que ela acha que tem o Brasil? — Dilma faz lembrar outra menção a aquele país feita pelo Lula. Foi em conversas privadas que Lula disse o seguinte: "O Chile é uma m.... O Chile é uma piada. Eles fazem os acordos lá deles com os americanos. Querem mais é que a gente se f... por aqui".

A história é contada no livro "Viagens com o Presidente - Dois repórteres no encalço de Lula do Planalto ao Exterior", dos jornalistas Eduardo Scolese e Leonencio Nossa, livrinho que, aliás, desapareceu de vista, não é memo? O livro junta uma porção de barbaridades ditas e feitas por Lula na intimidade do poder. O insulto ao Chile teve um destaque na imprensa chilena.

Deixemos pra lá a lorota de que o Brasil tirou "uma Argentina da miséria". Isso só tem credibilidade se a gente acreditar que não passa necessidades alguém que ganha mais de cem, duzentos, ou até quinhentos reais. Mas ela diz que ainda temos "um Chile de miseráveis". Pois o problema é que temos "um Brasil de autoridades políticas".
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POR José Pires

sábado, 23 de julho de 2011

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O revisor da Bíblia

Para o ex-presidente que não desencarna é pouco reescrever a história do Brasil. Agora Lula está reescrevendo a Bíblia. Os brasileiros já sabiam que Lula é professor de Deus, mas revisor de Deus é novidade.

A reforma lulista da Bíblia começou por "essa coisa que inventaram que os pobres vão ganhar o reino dos céus", como ele diz. Isso é bobagem, ele decretou. Mas tudo indica que Lula ainda vai longe nesta copidescada na Biblia, afinal que negócio é esse de no princípio Deus criar os céus e a terra, não é mesmo companheiro? Todo mundo sabe que o PT é que veio primeiro.
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POR José Pires

quarta-feira, 20 de julho de 2011

sábado, 9 de julho de 2011

Quem quer dinheiro?


Tem umas notícias que deixam muito claro a impunidade que os crimes políticos gozam no Brasil. O Ministério Público está precisando definir qual será o destino de R$ 1,7 milhão apreendidos em 2006 com os chamados "aloprados do PT". Os valores são da época. A pacoteira é uma prova substancial de que os responsáveis pelo crime são muito abonados: ninguém reclamou a propriedade da fortuna.

O apelido carinhoso de "aloprados" foi o próprio Lula quem deu. O petista disputava seu segundo mandato na época e seria sem dúvida beneficiado caso o golpe desse certo. A dinheirama seria para comprar um dossiê fajuto sobre o candidato José Serra, que disputava o governo de São Paulo.

Um golpe desses abalaria com certeza a candidatura de Serra, que arruinaria por sua vez a candidatura presidencial de Geraldo Alckmin. Ninguém tem dúvida também de que o golpe dos aloprados teria uma repercussão nas eleições em todos os estados brasileiros, beneficiando toda a companheirada pelo país afora. A eleição então seria uma baba para o PT. Em São Paulo, o beneficiado seria o atual ministro, o irrevogável Aloizio Mercadante, que disputava com Serra o governo paulista.

Mercadante é acusado de ser um dos cabeças do plano, o chefe dos aloprados em São Paulo. Nesses dias a revista Veja reencontrou um dos acusados do crime, o petista Expedito Veloso, que contou agora que a trama tinha como mentor o irrevogável Mercadante, numa aliança ocasional com Orestes Quércia, que também disputava o governo paulista pelo PMDB. Segundo Veloso, PT e Quércia racharam as despesas.

O Brasil é um país sui generis. Aqui investigações que deviam chegar num resultado pelas mãos da polícia têm todo seu desenvolvimento traçado pela imprensa, que revela os planos, desmonta cumplicidades e aponta chefões. Mas tudo acaba em impunidade, pois a polícia e a Justiça não fazem seus serviços. Aí pode ser um problema de falta de leitura também. Talvez não leiam a Veja, ou o Estadão, a Folha de S. Paulo...

E está lá a pacotaço de grana como símbolo da impunidade. São quase dois milhões de reais que seriam uma vergonha para qualquer país sério, mas no Brasil todo mundo faz de conta que não vê. Um bom uso para a dinheirama seria a compra de muito óleo de peroba para a companheirada lustrar as faces para a próxima eleição.
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POR José Pires

quinta-feira, 7 de julho de 2011

E lá vai a Marina campear outro partido

E finalmente Marina Silva saiu do Partido Verde, o PV brasileiro, que nessas plagas tupiniquins é da mesma fisiologia que qualquer partideco de aluguel que o governo petista ou qualquer outro governo compra com emendas orçamentárias ou um mensalão. Digo finalmente em razão da enrolação do processo de saída e deixando pra lá a rapidez de sua estada no partido, que é um recorde ao contrário: ficou menos de dois anos no PV.

Mas Marina está ficando esperta. Desta vez demorou bem menos tempo do que teve no PT para perceber que estava em um partido inadequado para qualquer atividade que implique em decência. No PT foi preciso mais de duas décadas para que a agora sem partido sentisse nas narinas o odor que empesteava todo o país desde que Lula se elegeu presidente e ela foi trabalhar com ele.

Sei bem que nos dois casos a saída de Marina não teve outro motivo senão a ambição pessoal. Mensalão, propinas e até destruição ambiental movida por um presidente megalomaníaco e ignorante sobre qualquer processo moderno em política ou administração, nada disso contou para a saída do PT para o PV. Se Lula indicasse o dedo em sua direção na decisão da candidatura presidencial petista a história seria outra.

Mas a enrolação continua. Marina ainda não sabe onde vai, ou melhor, aonde vai, pois sua impermanência dela não parece ser apenas uma questão de destino físico.

Deve ser duro gravitar em torno de um líder desse tipo. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, também é um desses que acredita que partido bom é aquele no qual seu interesse é privilegiado, mas pelo menos saiu do DEM já com destino certo, seu partido 171 que permite ao político ser tudo, oposição ou situação, e até mesmo sair do partido na hora que o freguês quiser.

Mas é intrigante o que passava pela cabeça de Marina quando ela embicou para o PV, um partido de notória falta de vergonha, sigla que se vende por carguinhos pelo Brasil e mesmo no governo em que Marina foi ministra do Meio Ambiente por quase dois mandatos inteiros.

Se Marina imaginava que ao chegar num ambiente desses todos os caciques se levantariam para ela ocupar o lugar, então graças a Deus (em homenagem à Marina uma ecologista evangélica) que ela não foi eleita presidente. Com esta postura, digamos assim e digamos aspado, “ingênua”, se ganhasse a eleição Marina estaria governando da mesma forma que Dilma Rousseff, tendo que comportar partido com cargos e emendas orçamentárias. Pelo que se vê, para governar Marina teria que comprar até o seu PV.

Outra questão são os verdes hoje indignados, entre eles Fernando Gabeira, que ao menos em tese estão com ela na revolta com os métodos dos caciques do PV. Que diacho de lideranças políticas são essas que querem consertar o mundo, mas têm dificuldades em fazer política interna para dar a um partido um rumo decente?

Marina está saindo do PV com apenas um deputado federal, Alfredo Sirkis, do Rio de Janeiro, que estava no partido desde que ele foi fundado. Fernando Gabeira fica no PV, apesar de ter buscado belas palavras para companheira que sai. Sirkis é aquele deputado que na votação do Código Florestal na Câmara gritava “traidor” para Aldo Rebelo, o que mostra que não é só o PV que ele não compreendia por dentro. Se Sirkis se decepcionou com Rebelo, ele nada sabe também do PCdoB ou de qualquer outro partido brasileiro.

Mas Marina segue praticamente só e imaginando que os mais de 20 milhões de votos que recebeu na última eleição são um patrimônio pessoal intransferível. Se estiver com isso na cachola, vai sofrer ainda mais do que com a decepção que teve com os caciques verdes.

Esta imagem da solidão acompanhada pelo deputado Sirkis dá uma coceira que traz à cabeça uma metáfora vagabunda que vou dispensar. O grande Quixote não merece isso. Ele não entrava em qualquer moinho. E um Quixote precisa de companheiros senão mais gordos, mas pelo menos mais honestos. Porém, Marina podia aproveitar este interregno na sua carreira até a presidência para conversar com o companheiro Sirkis sobre questões de governabilidade, a dignidade do Congresso, essas coisas.

Sei que é difícil para quem faz política temática perceber a amplidão de eventos que desembocam também na política ecológica. Em meses de crise nuclear em Fukushima, a própria Marina não produziu sequer um artigo de jornal sobre a questão. E quando ela foi ministra o governo do PT decidiu implantar mais quatro usinas nucleares por aqui. Mas enquanto Fukushima explodia, ela andava metida nas questões internas do PV. A candidata de sempre só foi acordar na votação do Código Florestal.

Porém, repito que seria bom ela conversar bastante com seu único deputado sobre questões da governabilidade.

Para adiantar o papo, já vou informando que o deputado Sirkis votou favorável ao Regime Diferenciado de Contratações, o RDC de Dilma que passa feito por um trator por cima da Lei de Licitações e instala uma farra de políticos e empreiteiros nas obras da Copa e das Olimpíadas. É um trator preparado inclusive para passar por cima de florestas.
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POR José Pires

terça-feira, 5 de julho de 2011

Código de conduta

No país das mutretas o melhor que apareceu nesses dias foi o código de conduta prometido pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, para corrigir a si próprio. Não é que fosse preciso isso, mas só com a queda de um helicóptero com a morte de sete pessoas foram descobertos os empréstimos de jatinhos feitos ao governador por amigos empresários e as festas luxuosas com os chapas de tantas empreitadas.

Cabral então resolveu criar um código de conduta para dar um jeito nele mesmo. Pois não precisa. Já existe este código e não é a Constituição, nem o código do Governo Federal, nem mesmo o Código Penal.

É algo muito antigo, uma proposta de um artigo único para Constituição Brasileira feita por Capistrano de Abreu, historiador brasileiro que depois virou uma rua em que eu passava muito em São Paulo.

Sua proposta é muito simples, mas daria um jeito no país se fosse aplicada: "Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara".

Mas eu tenho muita dúvida se o governador Sérgio Cabral teria condições de respeitar essa Constituição de um artigo só.
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POR José Pires

Ministro distraído

No Brasil a falta de autenticidade é algo levado muito a sério. Anota-se o que o distinto falou sabendo-se que ele não expressa de verdade o que pensa ou está fazendo de fato e publica-se, leva-se adiante. Às vezes até vira lei. No país da fancaria o que dá encrenca é ser franco. É capaz até do sujeito ser derrubado de um governo. Já imaginou se a presidente Dilma Rousseff pede uma rede nacional de TV um dia desses e diz o que todo mundo já sente, que a coisa aqui está preta?

Bem, o país anda tão fora dos eixos na discussão política que é capaz de ficarem discutindo a frase no contexto racial. Mas não é por causa do otimismo da Dilma que falei sobre autenticidade.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega foi pego pela imprensa hoje para falar sobre a fusão entre o Pão de Açucar e o Carrefour, um negócio que havia deixado bem animados vários integrantes do governo. Um pouco antes de sair do cargo, o multiplicador Antonio Palocci disse que um dos filés das suas consultorias era fusão de empresas. Pelo jeito não é só ele que gosta do negócio.

Mas o ministro Mantega foi entrevistado sobre a fusão entre as redes de supermercado e disse que não está acompanhando o assunto. Que coisa, o Brasil todo segue com atenção a negociação, afinal o resultado vai bater direto em nosso bolso não só porque podemos ter que pagar para o dono do Pão de Açucar ficar mais rico como também pagar mais quando tivermos que comprar algo na coisa monstruosa que pode sair de uma transação dessas.

Todo mundo acompanhando o negócio, menos o nosso ministro da Fazenda. E ainda diziam que autista era a irmã do Chico Buarque. Mas não tem problema, depois a gente conta pro Guido Mantega o que deu o enrosco entre os titãs das gôndolas.
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POR José Pires

domingo, 3 de julho de 2011

Um adeus a Itamar Franco e sua forma de ser que vai fazer muita falta

Infelizmente o ex-presidente Itamar Franco morreu. Mas, este grande político viveu bastante, realizou tarefas importantes para o Brasil. De forma modesta, construiu as bases de uma estabilidade econômica e inclusive política sem as quais o país iria à breca. Não teve em vida o merecido reconhecimento por este feito, porém o Brasil é assim mesmo, um país que despreza de maneira doentia o passado. Não foi só com o Itamar, apesar de que, em relação ao que ele fez pelo país a injustiça acabou sendo bem grande.

Em nossa história recente dois períodos foram difíceis de governar depois da ditadura militar. Um foi após a morte de Tancredo Neves e o outro depois da queda de Collor de Mello por corrupção. No primeiro caso tivemos o fracasso de José Sarney e o segundo foi o período em que Itamar Franco recompôs a governabilidade e criou uma base segura que políticos como Sarney trabalham até hoje para destruir. E, pelo visto, com bastante sucesso.

Ao mesmo tempo em que o ex-presidente Itamar agonizava, os tucanos comemoravam os 80 anos de Fernando Henrique Cardoso. Bem, sem o Itamar Franco uma comemoração dessas teria certamente um menor peso, pelo menos em termos de façanhas econômicas.

Bem que Itamar podia ficar mais um pouquinho. Vai fazer muita falta e não só pela carência de gente digna na política, hoje um problema que está fazendo o Brasil afundar em lama e na precariedade administrativa. É claro que o Senado perde muito com sua morte. Neste sábado deve ter tido muito patife brindando a ausência desta figura que iria encrencar bastante com os esquemas corruptos naquela Casa, alinhados diretamente com o governo.

Quem teve sorte também foi o governo do PT, já na terceira edição, na qual se perdeu até o que eles piratearam do ordenamento econômico que começou com Itamar Franco. Nos poucos meses como senador, Itamar mostrou que o PT teria com ele uma oposição firme, com a calma e obstinação que os companheiros de Lula foram desacostumados por uma oposição frouxa.

Falei disso aqui no blog, analisando a cabulosa sorte às avessas do ex-presidente Lula, este notório pé-frio que azara a vida de qualquer um que se aproxime dele, mas que tem um aproveitamento impressionante da falta de sorte dos outros. E se mesmo com a lista que comprova os danos da má energia do seca-pimenteira alguém achar que é só marcação minha com o Supremo Apedeuta, lembrem o que foi feito de Antonio Palocci. Dava até a impressão de que o Midas-consultor Palocci ia se safar... foi quando Lula entrou em campo para defendê-lo.


Um sentido moral e
uma credibilidade que
vão fazer muita falta

A morte de Itamar tira de cena um político decente e uma voz com credibilidade que iria com toda a certeza ter muita importância na construção de um desvio deste destino desastroso que o PT vem construindo para o Brasil.

Para quem teve tanto poder e em tantas instâncias, Itamar Franco morreu com uma renda modesta. Era um dos poucos integrantes do Senado que dependia do salário de senador. Era um homem honesto. É claro que ter se mantido durante tanto tempo de forma honesta na política é uma qualidade imensa de Itamar, mas não deixa de ser um sintoma da decomposição moral do país que o noticiário tenha que sublinhar na história de um político o fato de ele não ter sido desonesto.

Com sua morte estão relembrando muitas histórias sobre a presidência de Itamar. Uma de destaque é aquela do dia em que o falecido senador Antonio Carlos Magalhães fez um discurso no Senado afirmando que tinha denúncias de corrupção no governo. O presidente então o convidou para levar as denúncias ao Palácio do Planalto. Quando ACM lá chegou, Itamar havia convidado toda a imprensa para acompanhar a reunião. Era mais uma bravata de ACM. O senador baiano tinha em mãos apenas recortes de jornais.

Chega a ser estranho que os brasileiros não tenham compreendido um homem que faz uma coisa dessas, num período em que o senador ACM tinha muito poder — especialmente pela sua ligação direta com a Rede Globo de Roberto Marinho — e usava suas ameaças para ocupar um lugar de destaque como maioral da política.

Sempre tive a impressão de que a má vontade que muitos tiveram com Itamar foi em razão dele viver num tempo muito particular, avesso às solenidades, ocupado com coisas simples. Isso criou antipatias inclusive com jornalistas honestos, que buscaram sempre fazer chacota do presidente que não tomava uísque com eles ou participava de qualquer outro divertimento mais quente nas frenéticas noites brasilienses.

Itamar Franco não fazia concessões a um estilo de vida que infelizmente toma conta do país, esta forma espetacular de trabalhar e ter prazer e também de fazer política, o que não era de seu gosto. E não fosse o Brasil o país dos paradoxos poderíamos até ver uma incongruência num povo que se incomoda de ter um presidente que encarou a vida de forma honesta e simple


O homem que deixou
o poder à espera para
consolar a mãe doente

Um exemplo da extrema franqueza de Itamar pode ser visto numa tentativa de piada que tentaram fazer com ele na televisão. Foi recente, um pouco antes de ele se eleger senador, num desses programas que procuram fazer humor constrangendo alguma personalidade. Neste caso, um cômico (sic) fingia ser um jornalista inexperiente.

O ator faz um papel de trapalhão na entrevista com Itamar e o ex-presidente em momento algum percebe a gozação. E lida com a situação com uma compreensão admirável. Com paciência procura ajudar o “jornalista” a desempenhar o trabalho para o qual parece ter muita dificuldade. Veja aqui o vídeo, mas depois. Agora continue me acompanhando.

Bem, a seriedade anda tão em falta ultimamente que não há estranhamento algum com a falta de protesto com uma farsa em que um ator finge ser um jornalista. Nem os próprios profissionais da imprensa se dão conta da desonestidade dessa confusão deliberada (mesmo que fosse engraçada; e não é o caso). O errado acaba sendo o Itamar Franco, com seu tempo desajustado a esses tempos ditos modernos.

O ex-presidente defendia sua privacidade de uma forma que realmente era difícil de entender numa época em que as pessoas acham que precisam ficar em contato o tempo todo com a vida de políticos e artistas, mesmo que seja em situações criadas de forma artificial e com muito mau gosto. Como eu já disse, ele vivia num tempo à parte. Depois que o corrupto presidente Collor teve que abandonar o Palácio do Planalto às pressas, Itamar, que foi seu vice como todo mundo sabe, adiou a posse para ficar ao lado da mãe, que estava enferma e acabou morrendo.

E as pessoas ficam abismadas que alguém tenha abandonado tudo para ficar ao lado da mãe doente. E dá para entender esta reação. No Brasil qual é político que não abandonaria a própria mãe para pegar o cargo que Itamar deixou à espera?

Para apontar a confusão moral que tem criado uma dificuldade danada para o brasileiro avaliar o que realmente tem importância nesta nossa passagem pela Terra, vou comparar com outro político que abandonou tudo para correr para o enterro de uma pessoa.

Foi o presidente Fernando Henrique Cardoso, que em abril de 1998 cancelou uma importante viagem que fazia à Espanha e voltou correndo ao Brasil para o enterro do deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL, hoje DEM) que teve morte repentina. Magalhães era líder do governo na Câmara, porém, muito mais que isso, era filho do cacique político Antonio Carlos Magalhães, o mesmo ACM que anos antes saiu humilhado do Palácio do Planalto com sua pastinha de recortes de jornais e nunca mais perdoou Itamar Franco.

É claro que não havia outra necessidade da volta repentina de Fernando Henrique Cardoso, a não ser para cativar o poderoso ACM. Mas, poucos colocaram em dúvida esse gesto duvidoso.

Então ficamos assim: FHC foi um estadista por ter voltado correndo da Espanha para o enterro do filho do cacique baiano e Itamar Franco foi um maluco ao adiar a posse como presidente para ficar ao lado da mãe doente.


O dia em que Itamar deu
lição de boas maneiras e de
matemática para Gleisi Hoffmann

Poderíamos passar muito tempo lembrando as histórias de Itamar Franco e não seria nada mal, pois os episódios na sua vida não são banais, mas vamos fechar com um último lance ocorrido no Senado, que mostra de que cepa era feito Itamar.

Aconteceu entre ele e a paranaense Gleisi Hoffmann, quando a atual ministra da Casa Civil era senadora. É uma história que guarda uma moral interessante que a ministra Gleisi terá para contar aos netos como um exemplo do erro de se postar frente as outros com uma arrogância desguarnecida de conhecimento técnico e experiência de vida, neste estilo político tão próprio dos petistas.

Itamar travou um interessante debate com Gleisi Hoffmann, que defendia a alteração no Tratado de Itaipu com o Paraguai. Itamar era contra, no que penso que ele estava muito certo. Essa alteração despeja no Paraguai uma dinheirama que deverá sair pelo ladrão como o líquido de uma caixa d’água muito cheia. E não vai molhar só mãos paraguaias, não.

Mas, vamos ao debate entre a então senadora Gleisi e seu colega mineiro. Numa das vezes em que Itamar Franco falou no Senado contra a proposta do governo de aumentar em 200% o que o Brasil paga ao Paraguai pela energia gerada em Itaipu, a senadora Gleisi Hoffman o aparteou e disse que ele não entendia nada de política energética.

O ex-presidente deixou quieto o caso naquela sessão, para responder dias depois. No plenário do Senado mostrou para a senadora petista uma fórmula matemática bastante complicada e perguntou se ela sabia do que se tratava.

Gleisi Hoffmann não teve outro jeito senão dizer que não sabia. Itamar então explicou para a petista que era uma fórmula matemática criada em seu governo sobre custos para a geração de energia elétrica e a equação de reajustes futuros das tarifas. Era uma fórmula paramétrica. E não me perguntem o que é isso, pois não fui eu que falei que Itamar não entendia de energia.

O debate entre Itamar e a então senadora pode ser lido aqui. Fica o mistério não tão insondável assim sobre quem é que passava a cola para a senadora pelo celular. Itamar estranhou que tendo sido diretora de Itaipu Gleisi Hoffmann desconhecesse a fórmula. No debate, ele ainda diz que era provável que o passador de cola também não tivesse entendido a fórmula matemática.

Mas Itamar se foi e não teremos o prumo moral que ele poderia ajudar a dar ao Senado e à política brasileira. Ficará com certeza seu exemplo na condução de uma vida pública honesta, decente, realizadora, para a qual infelizmente o Brasil só terá olhos quando se elevar dessa sarjeta moral em que foi colocado. Se é que se elevará.

Para terminar, a decisão da família do falecido em evitar o cortejo fúnebre em Brasília e a cerimônia no Palácio do Planalto dá um fecho admirável a este testamento digno, simples, de uma grandiosidade humana que sempre prescindiu de qualquer pompa.
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POR José Pires