quinta-feira, 9 de julho de 2009

Os fantasmas da Fundação José Sarney

Estou quase concordando com o presidente Lula sobre a sua afirmação de que o senador José Sarney não é uma “pessoa comum”. Isso é raro, mas não seria a primeira vez que eu estaria de acordo com Lula. Eu o apoiei imediatamente quando, usando a lógica de um modo admirável, ele disse que sua mãe nasceu analfabeta.

Sarney mostra-se incomum até em comparação com a classe política. Alguém se lembra de um político com tanta falcatrua como o presidente do Senado? Pode-se dizer que é cada dia uma. Pois é, já apareceu outra.

Agora o enrosco é na fundação que leva seu nome, a Fundação José Sarney, uma entidade criada com a justificativa de manter um museu com o acervo do período em que ele foi presidente da República, mas que nada mais é que pura promoção pessoal. É uma instituição para preservar a memória do senador e já começa bem. O homem nem morreu e sua fundação já tem fantasma. E é para lembrar o período em que ele afundou o Brasil? Então deveria se chamar Afundação José Sarney, não? Ui, nem o Sarney merece.

Mas até na vaidade o senador também não é uma pessoa comum. Se pudesse, ele mudava o nome do Maranhão (ou do Amapá) para José Sarney.

Pois a Afundação, isto é, Fundação José Sarney pegou dinheiro da Petrobrás em forma de patrocínio cultural e desviou para empresas fantasmas e da família do senador.

As empresas têm endereços fictícios em São Luís, capital do Maranhão. Pelo menos R$ 500 mil, de um total de R$ 1,3 milhão recebidos da Petrobrás, foram para essas empresas fantasmas e para contas paralelas para lá de suspeitas.

O dinheiro serviu até para uma espécie de metalinguagem da corrupção. Trinta mil reais foram usadas para pagar a veiculação de comerciais sobre o projeto que nunca foi executado. E é claro que a veiculação foi feita nas empresas de comunicação da família Sarney.

O caso é cercado de irregularidades graves e de privilégios. Sarney recebeu a verba em 2005 em ato solene com a participação de José Sérgio Gabrielli, o presidente da Petrobrás que já andou ameaçando a imprensa e a oposição. Foi grana facilitada pela Lei Rouanet. Antes disso, o presidente do Senado já havia até passado bilhete ao então secretário e hoje ministro da Cultura, Juca Ferreira, para apressar a tramitação do projeto da sua Fundação. Bem, se o Juca Ferreira facilita para o Caetano Veloso e a Bethânia, então por que não para o Sarney?

O projeto foi aprovado num dia e no outro a Petrobrás liberou o dinheiro. Além da agilidade na entrega da verba, que raramente beneficia pessoas comuns, Sarney mostrou que é mesmo uma figura especial já que apenas 20% dos projetos da Roaunet conseguem captar recursos.

Mas para Sarney não teve problema. Ele não teve nem que participar de concorrência pública, que a estatal faz para selecionar projetos. Ao jornal O Estado de S. Paulo a estatal explicou que a fundação não teve que passar pelo processo de seleção porque foi incluída como “convidada”. Ah, bom.

É lamentável tanto desvio de dinheiro público. Mais grave ainda por acontecer em um país com tantos problemas como é o nosso e ainda mais terrível por ser no Maranhão, estado que só não é o mais pobre do Brasil porque o Piauí não deixa. Mas não deixa de ser muito interessante, pelo peso simbólico e referencial de um futuro grandioso, que a Fundação José Sarney já comece envolvida em corrupção. Uma fundação que leva Sarney no nome não podia nascer de um jeito melhor.
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POR José Pires

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