terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Indo na fonte


Bom dia. Internet é excesso, como já foi repetido até demais. Tem tanta coisa à disposição na WEB que, hoje em dia, uma qualidade essencial é a de seleção. Sem a habilidade de distinguir com rapidez o que realmente interessa, a pessoa pode passar o dia todo na frente de um computador, encontrar muita coisa e acabar sem nada que preste.

Por mais que esta máquina tenha modernizado as relações pessoais e profissionais, continua em voga a velha regra: é importante saber antecipadamente o que queremos, para que nossa busca tenha um bom resultado.

No caso das artes gráficas esta máxima ainda é mais importante, já que estamos em um terreno visual muito rico, com possibilidades técnicas tão amplas que o vivente pode até se encrencar com as ferramentas da computação. Foi o que aconteceu bastante no início da internet, com sites repletos de efeitos, alguns até se lambuzando com criações que nada tem a ver com leitura, como imagens em animação, logotipos girando e... ai, ai, os malditos sites e blogs com som.

Agora as coisas estão se equilibrando. E o interessante é que a cara gráfica da internet volta ao ponto de onde nem deveria ter saído: a da página de papel bem organizada graficamente, com a diagramação ágil e criativa que o meio permite, porém sem abandonar o equilíbrio alcançado em anos de artes gráficas criadas em cartazes, revistas e jornais.

Na área da tipologia, a computação passou a permitir uma variedade de fontes praticamente interminável. Antes do computador era possível conhecer quase todas que existiam. Agora você pode passar a vida olhando fontes tipográficas que vai morrer sem ver todas. E o interessante é que, para fazer uma página bonita e eficiente, em alguns casos basta apenas uma fonte e suas variações de negrito e itálico.

O computador permite também muita interferência nos tipos existentes, como condensações, sombras, brilhos, as distorções e efeitos mais variados. Isso na mão de amadores acaba resultando em crimes inomináveis contra as artes gráficas. Quando o uso do computador estava em seu início, era uma mortandade. Hoje existe um pouco mais de equilíbrio, mas ainda tem muito assassino à solta.

Antes, ficava difícil até para bons profissionais das artes gráficas apresentar ao cliente uma arte simples, de boa apresentação visual, sem nenhum truque banal de cores, distorções ou brilhos, que é como deve ser uma boa peça gráfica. Embasbacados por efeitos de computação, alguns clientes exigiam malabarismos visuais.

A agilidade do computador permite muita coisa na área da tipologia. Vejam esta nova fonte que surgiu recentemente. Evidentemente sem os recursos atuais, a criação de uma letra exótica como essa exigiria dias de dedicação de toda uma equipe. Por isso, é provável que ninguém se dispusesse a investir tempo em algo de pouco uso e esquisito até para fazer algum logotipo exclusivo.

Para que serve uma fonte feita de creme dental? Para pouca coisa, quase nada, até porque se a criação de fontes tivesse parado antes da invenção do computador, não haveria nenhum problema. Tudo que precisamos para fazer uma boa página, seja impressa ou na tela de vídeo, já foi criado antes. Na verdade, uma fonte como essa
que usei para escrever meu nome lá em cima serve para pouca coisa além de servir de exemplo, como uma ilustração do que escrevi até agora.

Mas aí está ela no blog, como um fato curioso e ilustrativo dessa era de excessos que a computação e a internet permitem e incentivam. Ficou feio pra danar, o que fortalece o que expressei com palavras. É um bom exemplo da necessidade de não se perder nas inumeráveis possibilidades que este meio apresenta. Toda navegação exige um rumo, sem o qual a imensidão nos envolve e confunde. As curiosidades encontradas no caminho, como esta divertida fonte feita de creme dental, podem até ser colhidas e usadas enquanto a nau avança. Mas sempre com o cuidado que Ulisses já ensinava lá atrás, para não se perder em seu potencial de sereia.

É preciso manter o sentido do equilíbrio e da ordenação para não se afogar nesta imensidão de possibilidades. Era o que eu queria dizer, até antes de encontrar este site divertido onde uns malucos fizeram fontes não só com creme dental, mas também com ketchup, mel e clacê de bolo. Está aqui, ó.
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POR José Pires

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