A esquerda brasileira já sofreu um abalo sério com a queda do Muro de Berlim, tanto que alguns até mantêm um muro virtual como apoio e estão à espera de outra aplicação prática do marxismo, desta vez com uma prometida experimentação democrática. A queda do Muro os companheiros até podem superar, mas acho que será demais para eles a desmoralização definitiva do livro “As veias abertas da América Latina”. Pois foi isso que aconteceu, com o próprio autor renegando a obra. O uruguaio Eduardo Galeano confessou que o livro é muito fraco e não faz mais sentido nem para ele. Parece até matéria falsa de humor, mas é tudo verdade. Quem trouxe a revelação foi o jornalista Larry Rohter, aquele mesmo do New York Times, que Lula tentou expulsar do país depois dele ter escrito que o então presidente era chegado na cachaça.
Já fui bastante atacado quando eu dizia que o livro "As veias abertas da América Latina" é uma obra muito ruim, com interpretações econômicas e históricas que são até patéticas. Toda vez que eu abria o livro até sentia vergonha pelo autor. Então foi muito bom saber que agora o próprio Galeno tem opinião parecida com a minha. Ele sintetiza muito bem sua obra quando diz o seguinte: “Eu não seria capaz de reler esse livro; cairia dormindo. Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é extremamente árida, e meu físico já não a tolera".
A visão de mundo expressada em “As veias abertas da América Latina” simplifica de forma facilitadora para a esquerda a história deste continente, daí o sucesso, alavancado principalmente pelas militâncias e jornalistas com uma visão parcial e muitas vezes partidária sobre qualquer processo político.
"A realidade mudou muito, e eu mudei muito", disse Galeano, que já está com 73 anos. O livro realmente é excessivamente datado e todos nós mudamos muito. Mas a esquerda continua a mesma. Ainda hoje esta obra é tida pelos companheiros como um guia infalível para a compreensão da colonização do continente latino-americano. E ai de quem trouxer argumentos mais complexos sobre o que ocorreu em nossa história. Tem muito esquerdista que até briga em defesa dessa porcaria. Tal precariedade de conhecimento explica em parte o fracasso da esquerda em nosso país.
Bem lá atrás, há pelo menos três décadas, este foi um dos livros que me abriram os olhos para a má qualidade do pensamento de esquerda que havia no Brasil. Naquele tempo só não dava para prever tanta ladroagem, mas a precariedade técnica e filosófica já era perceptível. O livro de Galeano simboliza bem esta dificuldade de aprofundamento intelectual e político, mas não é o único desastre de interpretação que corria de mão em tempos idos.
Os companheiros ainda vão defender por muito tempo o livro como um item sagrado do sentimentalismo de esquerda. Mas agora temos um argumento definitivo para o debate. Vamos fazer igual ao que acontece num filme de Woddy Allen, quando numa discussão surge uma dúvida sobre a obra de Marshall McLuhan e eles procuram o próprio McLuhan (que está na fila do cinema) para resolver a polêmica. A ideia vem de uma tirada anterior muito melhor do grupo Monty Python, mas não importa. Faremos algo parecido. Vamos procurar o próprio Galeano para que ele confirme ao companheiro que “As veias abertas da América Latina” é um péssimo livro.
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Por José Pires
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