sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Cartão da discórdia

O senador Roberto Requião está achando que seu projeto que libera cobrança diferenciada em pagamentos em cartão de crédito pode ser uma boa bandeira nesta eleição, mas as primeiras reações da opinião pública mostram que ele está errado. Porém, quem conhece o senador sabe que ele é cabeçudo e deve levar o assunto adiante, sem avaliar de forma equilibrada o clima negativo criado pela notícia de que o projeto começou a andar. O plenário do Senado aprovou nesta quarta-feira a proposta, que vai para a Câmara.

No popular, Requião deu um tiro no pé que pode afetar sua candidatura ao governo do Paraná. Os próprios senadores da base aliada do governo já haviam percebido a mancada e tentavam empurrar o assunto para o ano que vem. Mas quem segura o Requião? Sua argumentação é a de que o projeto permitirá economia, principalmente para os mais pobres. Ele cria uma estranha distinção nestes supostos descontos, mas não convence nesta divisão de classes na hora da compra. De qualquer modo, a economia prevista pelo senador é muito pequena. Diz ele que será de 3 ou 4%. Creio que o consumidor consegue mais que isso com o cartão e sem o Requião para atrapalhar a negociação.

A proposta do senador derruba uma resolução que proíbe a prática do soprepreço, que vinha acontecendo. Não existe lei que possa proibir desconto. Isso é demagogia. É óbvio que caso vá adiante mais essa loucura do Requião haverá uma desorganização geral em uma relação econômica que já está estabelecida. Se for para ter alguma alteração, ela deve ser feita no âmbito do acordo entre o comerciante e os bancos. Sabemos que os bancos arrocham quem vende pelo cartão, que hoje é a moeda de fato do país. Mas não é sensato jogar para o consumidor a responsabilidade sobre essas dificuldades. Já dá para imaginar a bagunça que vai virar. E ao contrário da alegada boa intenção de Requião, o que virá é o sobrepreço e não descontos na compra a dinheiro.

Tem também o problema da segurança. O governo do PT, do qual Requião faz parte, lançou o país na mais desesperadora violência que já existiu. E por isso não dá para andar com dinheiro em espécie. Por este aspecto, o projeto é até de uma cretinice espantosa. Nem dá para imaginar a população saindo por aí hoje em dia com os bolsos estufados de grana para aproveitar a chance dada pelo senador bonzinho para pechinchar na compras. E creio que nem é preciso dizer nada sobre os riscos de um comerciante cheio de dinheiro em espécie no caixa.

Além de todas essas dificuldades, a alteração de preço para cima continua ocorrendo. É causada pela desastre da política econômica do governo do PT, que Requião defende na base aliada governista, do mesmo modo que se cala quanto aos volumosos escândalos de corrupção. Já vi preço sendo cobrado de forma diferenciada em comércios que fazem recarga de celular. O comerciante cobra a mais se o serviço for pago com o cartão. Ainda dá para reclamar. Mas com a lei do Requião abre-se a oficialização desta prática para todas as compras. E com a crise que vem estourando, já dá para imaginar o que é que pode acontecer. É óbvio que vai bagunçar a vida do consumidor, desacreditando o uso do cartão e lançando os preços ainda mais pra cima.
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POR José Pires

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