terça-feira, 12 de maio de 2015

Muito além da ficção


O PT tem aprontado tanto nesses quase 13 anos de poder que um escritor de livros de crime e mistério teria evitado contar histórias que envolvessem um partido em tantas encrencas e com enredos tão difíceis de acreditar. Até na ficção seria difícil aceitar tamanho drama. Tanto é assim, que os brasileiros demoraram um bom tempo para perceber que o país  estava envolvido pelos tentáculos de uma organização política dominada pela cobiça e tomada pela ambição por dinheiro e poder, com uma cúpula política ávida pelo ganho fácil e o poder permanente e absoluto. Não dava mesmo para crer que estava acontecendo na vida real, até porque, como eu já disse, era algo de difícil convencimento mesmo em livros de crime e mistério, no estilo dos "pulp fiction" inventados pelos americanos.


O esquema criado por aqui extrapola até os limites maleáveis desse tipo de ficção. Não seria verossímil. No enredo dramático desse partido tem de tudo, até cadáveres de políticos graúdos da cúpula, em crimes suspeitíssimos que nunca foram elucidados. Não faltou nem criminoso fugindo com identidade falsa, passando por várias fronteiras para fugir da condenação pela mais alta corte do país. Tem também ligações com ditadores estrangeiros, com passagens inclusive por países exóticos. E a trama traz em papel de destaque um vilão perfeito, encarnado por uma figura mascarada por traços humanistícos, mas que é capaz das maiores maldades, inclusive com seus companheiros.


Parece história do Sombra, lembram dele? Outro dia fuçando dentre coisas antigas da internet, para estudar capas de livros de pulp fiction que trazem sempre ilustrações muito interessantes, encontrei esta capa do Sombra. É de 1934 e não se trata de montagem. A arte é original, assim como a história. É impressionante, não é mesmo? Pois é, o Sombra sabe mesmo.


Os enredos criados pelo PT parecem mesmo coisa para o Sombra. Mesmo quem não é do tempo em que o personagem fez  sucesso — que é o caso da maioria das pessoas de hoje em dia — deve lembrar de seu refrão, que ainda é muito citado na atualidade, quando é descoberta alguma grande trama criminosa: "O Sombra sabe". A afimação era a resposta para a pergunta "Quem pode saber que males oculta o coração dos homens?", que pegou ainda mais força com o tempo. E o Sombra sempre sabe.


O Sombra foi criado em 1930, num seriado radiofônico que logo tornou-se um sucesso nos Estados Unidos e veio em seguida para o Brasil, onde foi também muito popular, com transmissão pela antiga Rádio Nacional, emissora que ainda existe. O rádio é que dominava as comunicações nessa época. Mesmo nos Estados Unidos a popularidade da televisão só começaria a partir de 1945. A voz que deu vida ao Sombra foi a de Orson Welles, que começou sua fama no rádio, antes de dirigir “Cidadão Kane” (de 1941) e com ele fazer uma revolução no cinema.


Apesar do mito de que a criação da personagem e os roteiros eram do cineasta, Welles apenas emprestou sua voz à série. Era o artista que dizia a conhecida frase e dava a famosa gargalhada que passou a ser repetida “por todos os garotos da América”, como ele conta em um livro maravilhoso de entrevista, feito pelo colega cineasta Peter Bogdanovich. Welles fazia a locução do programa junto com vários outros no rádio, numa ocupação que dava bastante dinheiro na época. Ele lembra até quanto ganhava com o Sombra: 185 dólares por semana. Era uma correria entre os estúdios. “Eu nem sabia o que ia acontecer comigo enquanto estava fazendo os capítulos. Quando o Sombra era atirado dentro do poço ou em algum ninho infecto de serpentes, eu nunca sabia como ia sair”.
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POR José Pires


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