terça-feira, 8 de novembro de 2016

Em família

A força eleitoral de Donald Trump mostra que os Estados Unidos estão também com sua democracia em profunda crise, não só pelo discurso agressivo e absolutamente cretino usado por ele e que convenceu tanta gente a levá-lo a um patamar tão alto. Trump aproveitou-se bastante da rejeição de uma parcela enorme de americanos que não suportam o politicamente correto e são atingidos pelos conceitos liberais exatamente no que isso tem de muito chato, subjetivo e sem resultados práticos imediatos. É um eleitorado que quer ir pro pau, isso creio que ninguém duvida. E não importa que sejam islâmicos, mexicanos ou qualquer outro povo que receba no lombo essa nova cultura do big stick pra lá de grossa. Ora esta, onde é que a América foi chegar: comparado com Trump até Richard Nixon tem algum fairplay.

É claro que os problemas dos americanos com sua democracia não terminam no resultado dessa eleição. Ao contrário, tendem a se encaminhar para um agravamento sério, com os Estados Unidos vivendo pela primeira vez um clima político pesado, com uma grande parcela do país não aceitando de forma alguma o presidente eleito, seja Trump ou Hillary Clinton. Qualquer um que chegue ao poder, leva consigo a grave crise de representatividade. A mulher de Bill Clinton, aliás, é outro sintoma do abalo na democracia. É o estado triste a que chegou o país de Thomas Jefferson, Emerson, Lincoln e também de Thomas Payne, além de outros fundadores que devem estar se revirando nas covas. Hillary encarna com perfeição o conceito de clã, o que, cá pra nós, é uma resposta nada liberal ao que o partido Republicano aprontou desta vez.

Em parte, a eleição de Hillary pode dar aos Estados Unidos uma feição de republiqueta da América Latina, onde tantas famílias em vários países dominam o poder em todas as esferas. É o caso de se perguntar o que seria dos democratas se eles não enfrentassem nessa eleição um adversário com defeitos tão grosseiros quanto Trump. Mas como resposta, o partido Democrata acabou repetindo o que os republicanos já haviam feito com a família Bush. E o clã dos Clinton não pretende parar com o jogo na eleição de Hillary. Chelsea já está na fila da republiqueta que os Clinton pretendem fundar nesta eleição.
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POR José Pires

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