quinta-feira, 31 de agosto de 2017

História que não acaba mais

Nos últimos anos do século passado falou-se bastante do fim da história, assunto fortalecido com a polêmica trazida por um livro muito conhecido do sociólogo americano Francis Fukuyama, “O fim da História e o último homem”. O livro é de 1992. A teoria é antiga – vem do século 19, com Hegel – e não foi por interesse puramente acadêmico que Fukuyama a trouxe de volta. O sociólogo sempre foi alinhado com o conservadorismo, tendo sido ideólogo do presidente americano Ronald Reagan e de Margaret Thatcher, a célebre primeira-ministra da Inglaterra.

Os dois governantes até hoje formam a base do pensamento de direita aplicado a um governo. De lá pra cá não apareceu nada de mais substancial que dê respaldo na prática ao pensamento conservador, que espantosamente passou a ser representado por alguém como Donald Trump, que serve para bagunçar qualquer teoria.

No livro virou best-seller internacional na época, Fukuyama expunha suas ideias acadêmicas em combinação com a experiência dos consagrados governos conservadores de Reagan e Tatcher, aproveitando também a falência do chamado socialismo real. O centro da tese do fim da história era o fim da União Soviética e por extensão a libertação de países do leste europeu, livres do domínio soviético. Nestes países, o comunismo não nasceu da persuasão teórica da literatura marxista. Muito práticos, os russos preferiram canhões. Em resumo, para Fukuyama a derrocada do comunismo estabeleceria por fim o capitalismo liberal como ponto culminante da história. O vitorioso seria o liberalismo político e econômico.

Não foi bem assim, como a realidade mostrou em poucos anos, no decorrer do próprio debate. O próprio Fukuyama já fez uma radical revisão nas suas ideias. E sua opinião hoje em dia não tem tanta importância, até por esta tese furada. A história correu em passos rápidos naqueles anos, ainda que como sempre aos tropeções. Ou explosões, como a do atentado do terrorismo islâmico em 11 de setembro, no World Trade Center. Posteriormente, apareceu a surpresa com Barack Obama e logo depois a complicação da inesperada ascensão de Donald Trump, revelando de duas formas diferentes a incrível ebulição social subterrânea entre os americanos, que acabou por eleger no ano passado o presidente americano mais estapafúrdio que já apareceu na história dos Estados Unidos. Deu chabu na crença do fim da história, até pela dificuldade dos próprios americanos chegarem a um consenso sobre o que é afinal o capitalismo liberal, entendimento que fica ainda mais difícil na hora de resolver que raios afinal é uma democracia.

Pois então, esqueçam o que Fukuyama escreveu. Não tivemos o fim da história. No entanto, com os anos que correram nesse começo do século 21 já foi possível ter experiência suficiente para extrair deste período uma teoria que é o contrário da estagnação das lutas sociais prevista erradamente pelo sociólogo americano. Já adiantados no fechamento das primeiras duas décadas deste terceiro milênio, vivemos ainda na dependência do século anterior. No Brasil isso acontece ainda mais, o que por aqui não é surpresa. Faz tempo que somos prisioneiros do passado. Mas é um processo mundial a espantosa continuidade do século 20, com muita coisa irresolvida, que ocorreu lá atrás, se adensando de forma determinada neste século de agora, que na verdade tem pouca coisa de novo, quase nada. Quando afinal vai começar o Terceiro Milênio? Sobre isso nem Fukuyama arriscaria uma resposta.
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POR José Pires

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