segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Governo Bolsonaro: batalhas no Twitter e muita perda de tempo

A equipe do futuro governo Bolsonaro parece que não tem muito o que fazer, pois se ocupa demais com factóides. O presidente eleito, esse com certeza não dá a atenção devida aos chamados assuntos de Estado, pois tem tempo até para intervir com sua autoridade na polêmica bobinha de Jesus Cristo na goiabeira. Ele devia estar, talvez, bastante preocupado é com o nível técnico da ministra nomeada, mas fez uma intervenção no estilo de rede social, entrando nas molecagens que os internautas têm feito com o assunto.

Tudo bem, não fico surpreso com nada disso porque pela carreira de Bolsonaro até agora no baixo clero da Câmara dos Deputados sei que um governo conduzido por ele traz a marca talvez inapagável de uma frase antiga do Barão de Itararé, que diz que “de onde menos se espera, daí é que não sai nada”. O futuro presidente é um iletrado do baixo clero, com dificuldade de se aplicar ao estudo e ao planejamento, mas nem que seja para aliviar a tensão natural sobre um governo que está para começar, ele devia pelo menos fingir que está fazendo alguma coisa.

Olavo de Carvalho, o guru das ideias que deu a base para essa oportunidade da direita ganhar uma eleição costuma atacar seus adversários chamando-os de "analfabetos funcionais". Azar dele, que da sua filosofia tenha surgido um líder que não lidera nada, a não ser o embate histórico com memes de redes sociais. E que pelo jeito tem bastante tempo a perder, em meio a um governo de transição que vai pegar uma máquina de governo que nunca anteriormente esteve tão sucateada ou mal direcionada.

Até agora o governo se contenta com a criação de factóides, com atitudes impensadas em assuntos que exigem até mais ponderação que o normal. Tem coisa que é séria demais para servir de tema de animação da tigrada na internet. A mais recente é esta rusga besta com Nícolas Maduro, o tragicômico ditador bolivarianista. O futuro governo brasileiro se meteu em uma polêmica internacional sobre o convite para a posse de Bolsonaro. Inicialmente o futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fez graça no Twitter, afirmando que Maduro não foi convidado para a cerimônia em Brasília, porque “não há lugar” para ele “numa celebração da democracia”.

Bem, aí entra a falta do que fazer, aquela ausência de questões sérias para serem encaradas, que é a impressão que dá o comportamento de Bolsonaro e sua equipe. E falta também diplomacia e equilíbrio na articulação de uma relação internacional muito difícil, seja qual for o futuro de Maduro. Com todo o respeito ao sofrimento do povo venezuelano, se o governo Bolsonaro tivesse sensatez devia estar torcendo para que Maduro não caia do poder. Neste caso, pensem na carga de compromisso do Brasil com o caos que pode advir na Venezuela. Para quem precisa organizar de forma totalmente diferente a condução da nossa política externa eu creio que no momento não seria uma tarefa muito interessante. Muito menos com os russos fazendo “exercícios militares” ao lado do ditador venezuelano.

Mas durou pouco a dúvida se o Ernesto convidou ou não a Venezuela. De pronto, o governo Maduro informou que o convite foi feito. E eles estavam certos, conforme o Itamaraty explicou nesta segunda-feira. Primeiro o governo eleito recomendou o convite a “todos os chefes de Estado e de Governo”, afirma uma nota do Itamaraty. “Em um segundo momento”, continua a nota, “foi recebida a recomendação de que Cuba e Venezuela não deveriam mais constar da lista”.

Estão aí um caso onde com certeza não existe por detrás uma conspiração antiglobalista. Se vê que o futuro ministro das Relações Exteriores descuidou de uma tarefa que merece toda a atenção de um bom anfitrião: conferir a lista de convidados. Essa desatenção pode ter ocorrido enquanto a equipe de transição se deleitava com as reações à sua bravura nas redes sociais. Mas não vamos mexer com isso. Parece ser uma questão de estilo. Esperemos então novas mensagens no Twitter para ver como ficará este embate da valente equipe com a ditadura venezuelana.
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POR José Pires

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Imagem- O governo Maduro ganhou a parada com o
ministro de Bolsonaro: “Ernesto nos convidou”.
Foto de Valter Campanato, Agência Brasil

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